Correio Braziliense/DF, 05 de outubro de 2008 Colunas e editoriais Brasil fora do vendaval OPINIÃO Maurício Corrêa Advogado A maior economia capitalista do planeta estremece diante da passagem do monstro. Se não o contiverem, nenhuma nação se salvará de suas garras. Como acredito na capacidade do povo americano de extrair soluções das piores crises, não tenho dúvida de que também agora será encontrado desfecho para a ameaça. É do coronel Henry Knox, livreiro, combatente na Guerra da Independência dos EUA ( 1776) e subordinado do general George Washington, a seguinte frase de inspiração evocativa: "Queremos", disse ele, "grandes homens que, quando o destino se zanga, não se sentem desencorajados. " Esse mesmo espírito, transposto para o clima da Grande Depressão, permitiu aos estados da Federação americana participação, a partir de 1933, no esforço coletivo do New Deal do presidente Franklin Roosevelt, com base no qual foi possível promover a reabilitação da economia americana. Em função dessas circunstâncias, os ânimos esquentaram nos EUA. Seu povo foi capaz de suportar os ônus materiais que logo advieram da declaração de guerra contra os nazistas e contra os que com eles se aliaram. Efervescente indústria bélica mobilizou o país de norte a sul. A fabricação de submarinos, navios, tanques, aviões, helicópteros e infinidade de armas menores passaram a sair dos estaleiros e arsenais para abastecer tropas americanas e aliadas, notadamente da então União Soviética e da Inglaterra. Em 1941, por ocasião do ataque japonês a Pearl Harbor, os EUA foram compelidos a declarar guerra ao Eixo, fato que deixou Winston Churchill feliz da vida, pois há muito tempo esperava o auxilio americano no conflito. Governo e povo se uniram em feéricas tastf.empauta.com refas sobre-humanas, com sacrifício de cada cidadão, com o que foi possível arrostar os infortúnios da conflagração. A indústria da guerra tomou conta da vida econômica do país, ocupando-se seu povo na produção de recursos para mantê-la. Seria repetitivo dizer sobre as inúmeras vezes em que os americanos tiveram de agir com idêntico desprendimento, contornando crises econômicas que se abateram sobre o povo. Em todas elas sempre prevaleceu espírito de abnegação de cada um em benefício da segurança e invulnerabilidade do país. Não será diferente agora, no instante em que, mais uma vez, a economia do país submete-se ao vendaval de quebradeira de instituições financeiras. O povo dos EUA, por meio do Congresso Nacional, haverá de encontrar meios que, mais uma vez, coloquem o país nos trilhos da tranqüilidade. Por mais desastrado que seja o governo de Bush, nem por isso deixará a maioria consciente do Congresso de aprovar medidas que viabilizem a restauração da paz econômica. Com a aprovação do pacote no Senado, não foi surpresa para mim o mesmo ocorrer na Câmara dos Representantes. É hora de fazer justiça a Fernando Henrique Cardoso no período dos dois mandatos na Presidência da República. A ele se deve o empenho na obtenção dos instrumentos legais que possibilitaram elevar o Estado ao patamar em que se acha. Com visão prospectiva do futuro, apesar das dificuldades impostas por um Congresso renitente, mesmo assim logrou ver aprovadas leis que hoje formam a base de uma nação mais moderna, de que é usufrutuário Lula. O maior mérito de Lula está no fato de não ter interrompido a obra de FHC, mas a complementado com o que foi feito até aqui. Sagaz e perceptivo, viu que esse era o caminho certo. Deixou de lado o catecismo do PT e seguiu a rota do programa de seu antecessor. pg.1 Correio Braziliense/DF, 05 de outubro de 2008 Colunas e editoriais Continuação: Brasil fora do vendaval É injustiça achar que só a Lula se deve a arrumação normativa do Estado naional. Foi FHC quem teve a coragem de propor a quebra do monopólio do petróleo para que o setor pudesse se expandir com a presença de empresas diversificadas; foi ele quem ousou propor a alteração do sistema constitucional que emperrava o funcionamento das telecomunicações no país; foi ele quem apresentou projeto e lutou pela instituição da Lei de Responsabilidade Fiscal, instrumento normativo de extraordinária relevância, mediante o qual se pôs cobro à desenfreada gastança de entidades e agentes do poder público. Poder-se-ia citar muito mais. Esses temas por serem delicados exigiram audácia e firmeza na sua reformulação. FHC as teve. stf.empauta.com Pode ser que haja necessidade de o país se prevenir, tomando providências de ajuste à crise. Nada que seja estrutural. Não acredito que o problema da bancarrota bancária dos EUA vá afetar em maior grandeza o país. Há oxigênio suficiente que garante o fim da jornada. No instante em que ameaças externas dão o sinal de advertência para o mundo, é bom lembrar que a saúde do Brasil vai bem. É justo ter em mente que, sem as medidas adotadas por FHC, quem diria que hoje não estivéssemos em maus lençóis? Opinião / Pág 25 pg.2