Histeria: somatização, conversão e dissociação

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Histeria: somatização, conversão e dissociação
Os novos manuais de classificação da Associação Psiquiátrica Americana
(APA) DSM III e IV e CID 10 desmembraram a antiga classificação da
Histeria categorizando-a conforme a localização e origem dos sintomas.
Assim:
1. Transtornos histéricos de natureza física (sensitivo-motor) = transtornos
somatoformes (incluindo-se aqui a conversão e somatização)
2.
Transtornos histéricos de natureza psicológica = Transtornos Dissociativos
ou Conversivos.
Histeria: somatização, conversão e dissociação
O termo “Conversão” deriva dos estudos sobre a histeria realizados por
Freud e Breuer em 1893 que, por sua vez, extraíram da conceituação
original sobre histeria feita pelo médico francês Pierre Briquet, em 1859.
Somatização
Em 1943 o médico Stekel utiliza este têrmo para definir “um transtorno
corporal que surge como expressão de uma neurose profundamente
assentada, uma doença do inconsciente”.
Histeria: somatização, conversão e dissociação
Somatização
Pode ser compreendida como:
• Sintomas somáticos ou queixas físicas inexplicáveis
• Preocupação somática excessiva ou hipocondríaca
• Apresentação somática clínica de um transtorno de humor, de ansiedade
ou outro transtorno mental
• Sintomas somáticos no contexto de uma síndrome clínica funcional
(fibromialgia, cólon irritável, fadiga crônica).
Transtornos Somatoformes
Os indivíduos devem ter passado por pelo menos três filtros obrigatórios:
1.
Busca pelo auxílio médico mediante a presença do sintoma;
2.
Reconhecimento como quadro de natureza psíquica pelo médico;
3.
Encaminhamento para serviço de saúde mental.
Subtipos segundo classificação do CID-10:
•
Transtornos da Somatização (F45.0)
•
Transtorno Hipocondríaco (CID 10) ou Hipocondria (DSM-IV)
•
Transtorno Dismórfico Corporal (DSM-IV) ou Dismoforfobia (CID-10)
•
Transtorno Somatoforme Doloroso persistente (CID-10) ou Transtorno Doloroso( DSM-IV)
•
Transtorno Neurovegetativo Somatoforme (CID-10)
•
Transtorno Somatoforme Indiferenciado, outros Transtornos Somatoformes (CID-10) e Transtorno
Somatoforme sem outra especificação.
•
Síndromes Funcionais
Transtornos Somatoformes
Transtornos da Somatização (F45.0)
A. Historia de um ou mais anos de queixas físicas múltiplas e ausência
de doenças físicas que justifiquem os sintomas ou o grau de
prejuízo a eles associados.
B. Angústia com os sintomas leva a uso repetido de serviços de saúde
formais ou alternativos;
C. “B” se mantém mesmo com o reasseguramento médico;
D. Seis ou mais sintomas em dois ou mais grupos diferentes
(gastrintestinais,
cardiovasculares,
geniturinários,
cutaneodolorosos).
E. Os sintomas não são explicados por outro transtorno mental.
Transtorno Hipocondríaco (F45.2)
A. Crença por seis meses ou mais na presença de até duas doenças físicas
sérias.
B. Preocupação com “A” causam angústia ou interferência na vida diária e
levam á busca por ajuda de serviços de saúde formais ou alternativos.
C. Recusa ou relutância em aceitar o reasseguramento médico.
D. Os sintomas não são explicados por outro transtorno mental.
Dismoforfobia (F45.2)
(incluído no Transtorno Hipocondríaco)
A. Preocupação persistente com deformidade ou desfiguração presumida
B e D: ídem ao Transtorno Hipocondríaco.
Transtornos Somatoformes
Transtorno Doloroso SF persistente (F45.4)
A.
B.
Dor persistente, grave e angustiante por, pelo menos seis meses e continuamente
na maioria dos dias, sem explicação adequada pela evidência de processo
fisiológico ou distúrbio físico e que é o principal foco de atenção do paciente,
Os sintomas não são explicados por outro transtorno mental.
Transtorno Neurovegetativo Somatoforme (CID-10)
A.
B.
C.
Aerofagia, colón irritável, diarréia crônica, dispepsia, disúria, flatulência,
hiperventilação, piloropasmo, polaciúria, soluço, tosse, neurose gástrica.
Em geral, os quadros são polisintomáticos e vêm acompanhados por sintomas
neurovegetativos ou queixas difusas.
Não pode haver queixas de lesão orgânica e não é exigida, embora comum, a
relação com fatores psicossociais.
Transtornos Somatoformes
Transtorno Somatoforme Indiferenciado, outros Transtornos
Somatoformes (CID-10) e Transtorno Somatoforme sem outra
especificação.
Essas três categorias representam “residuos” não alcançados pelos
diagnósticos anteriores.
Transtornos Somatoformes Indiferenciados
Apresentação somatoforme polissintomática e causadora de
sofrimento e busca de auxílio médico, porém sem preencher os
critérios para transtorno de somatização ou para outros transtornos
somatoformes. Forma mais branda de Transtorno da Somatização,
porém sem a mesma consistência conceitual que justifique
empiricamente os critérios que a definem.
Transtornos Dissociativos (ou conversivos)
Fenômenos Dissociativos
As características em comum compartilhadas pelos transtornos dissociativos (ou
conversivos) (TDCs) são a perda parcial ou completa da integração normal entre
memória, consciência da própria identidade, sensações e controle dos
movimentos corporais (WHO, s/d).
O termo foi popularizado por Pierre Janet por volta de 1880, para designar
“desagregações psicológicas” = perda da unidade de funcionamento da
personalidade humana, com o desprendimento de uma parcela autônoma que
originaria diversos automatismos motores ou sensorias fora do controle
consciente (Janet, 1889).
Transtornos Dissociativos (ou conversivos)
Conceito (DSM-IV)
A mente é composta por um sistema com vários módulos em constante interação,
originando a unidade da consciência. Em situações normais, há integração entre
esses módulos, mas na dissociação esses sistemas cognitivos começam a perder
sua conexão e podem funcionar de modo autônomo.
(DSM-IV): “uma ruptura nas funções habitualmente integradas da consciência,
memória, identidade ou percepção do ambiente” (APA, 1994).
Transtornos Dissociativos (ou conversivos)
Conceito
Cardeña (1994):
•
•
•
Dissociação como módulos mentais semi-independentes: coexistência de
sistemas mentais separados que deveriam ser integrados na consciência, na
memória ou na identidade do indivíduo: transtornos de personalidade
múltipla, estados de transe e flashbacks de memórias traumáticas.
Dissociação como perda da conexão entre o indivíduo e o ambiente ou o “eu”:
desrealização e despersonalização.
Dissociação como mecanismo de defesa inconsciente: amnésia dissociativa, la
belle indiference e fuga dissociativa.
Transtornos Dissociativos (ou conversivos)
Características clínicas
•
Origem Psicogênica apresentando estreita relação temporal com eventos
traumáticos, problemas insolúveis ou intoleráveis ou relações pessoais
deterioradas de forma grave. O termo “conversão” relaciona-se ao princípio de
que problemas psíquicos não solucionáveis foram “convertidos” em sintomas
físicos. Tais pacientes costumas apresentar a marcante negação de problemas e
dificuldades pessoais que são evidentes para os outros. (WHO, s/d; Hurwitz, 2004).
CID-10: o início e o término dos estados dissociativos são comumente súbitos,
tendem a remitir em horas, dias ou em poucas semanas, particularmente se o
início se associou a situações traumáticas.
Transtornos Dissociativos (ou conversivos)
Sintomas Conversivos mais comuns:
1.
Motores: afonia, anormalidades da marcha, crises convulsivas, distonias,
fraqueza, movimentos involuntários, paralisias, quedas, tiques.
2.
Sensitivos: alucinações, anestesias (especialmente das extremidades),
anestesia da linha média, cegueira, surdez.
3.
Vicerais/autônomos: diarréia, retenção urinária, sincope, vômitos
psicogênicos.
Transtornos Dissociativos (ou conversivos)
Sintomas dissociativos mais comuns:
Amnésia
Confusão/alteração da identidade
Desrealização
Despersonalização
Fuga
Transe/possessão
Transtornos Dissociativos (ou conversivos)
Subtipos:
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
Amnésia dissociativa (F44.0)
Fuga Dissociativa (F44.1)
Estupor Dissociativo (F44.2)
Transtornos de Transe e Possessão (F44.3)
Transtornos Dissociativos do Movimento e Sensação (F44.4 a 44.7)
Síndrome de Ganser (f44.80)
Transtorno de Personalidade Multipla ( F44.81)
Sindrome de Despersonalização-Desrealização (F48.1)
Transtornos Dissociativos (ou conversivos)
Fatores predisponentes:
Experiências traumáticas em fases precoces da vida como na infância
e a presença de estressores recentes como problemas psicossociais,
dilemas ou conflitos insolúveis têm sido implicadas na gênese do
aparecimento de sintomas conversivos e dissociativos, bem como na
perpetuação destes na ausência de resolução dos estressores
envolvidos. A presença de ganhos secundários deve ser sempre
investigada.
Critérios Diagnósticos para o Transtorno Conversivo (DSM-IV, APA, 2000)
1. Um ou mais sintomas ou déficities afetando a função motora ou sensorial
voluntária, que sugerem condição neurologica ou outra condição médica geral.
2. Fatores psicológicos são julgados como associados ao sintoma ou déficit, uma vez
que o início ou a exacerbação do sintoma ou déficit é precedido por conflitos
estressores.
3. O sintoma ou déficit não é intencionalmente produzido ou simulado (como no
transtorno factício ou na simulação)
4. O sintoma ou déficit não pode, após investigação apropriada,ser explicado por
uma condição médica geral, pelos efeitos de uma substância ou por um
comportamento ou experiência culturalmente aceita.
5. O sintoma ou déficit causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no
funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do
indivíduo, ou indica avaliação médica.
6. O sintoma ou déficit não se limita a dor ou disfunção sexual, não ocorre
exclusivamente durante o curso de um transtorno de somatização, nem é mais
bem explicado por outro transtorno mental.
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