HIPERPROLACTINEMIA CAEM - 2014 Giovanna Balarini [email protected] Professora Adjunta de Endocrinologia HIPERPROLACTINEMIA 1. Introdução 2. Quadro clínico 3. Causas 4. Diagnóstico 5. Tratamento medicamentoso 6. Gravidez Biologia da prolactina Macroprolactina 150 kDa Big prolactina 50 kDa (PRL dimérica) Prolactina sérica total Prolactina monomérica 23 kDa Regulação do Eixo Hipotálamo-hipófise-prolactina HIPERPROLACTINEMIA Alteração endócrina mais comum do eixo hipotálamo-hipófise Mais comum em mulheres na menacme Causa mais frequente de hiperprolactinemia não-fisiológica é o uso de medicamentos HIPERPROLACTINEMIA 1. Introdução 2. Quadro clínico 3. Causas 4. Diagnóstico 5. Tratamento medicamentoso 6. Gravidez Quadro clínico da hiperprolactinemia HIPOGONADISMO PRL GnRH LH e FSH hipogonadismo hipogonadotrófico Adaptado de Tolis G. Prolactin: physiology and pathology. Hosp Pract 1980;15:85-95 Quadro clínico da hiperprolactinemia GALACTORREIA Secreção inapropriada de leite, ou substâncias leite-símile, dos mamilos de homens ou mulheres Nas mulheres, pode persistir por até 6 meses após interrupção do aleitamento materno Mulheres (30-80%) e homens (14-33%) Pode acontecer sem hiperPRL associada n= 22 pacientes com prolactinoma pré- e pós-tratamento com AD por 6 meses Prevalência de obesidade: 45% IBGE: 13,9% Após 6 meses de tratamento: - não houve redução de peso - houve redução do HOMA-IR, glicemia, LDL e TG Maior período de tratamento é necessário para avaliar reflexos no peso corporal? HIPERPROLACTINEMIA 1. Introdução 2. Quadro clínico 3. Causas 4. Diagnóstico 5. Tratamento medicamentoso 6. Gravidez CLASSE EXEMPLOS Antipsicóticos típicos - Fenotizinas (clorpromazina) - Butirofenonas (haloperidol) Antipsicóticos atípicos - Risperidona - Molindona Antidepressivos - Tricíclicos - ISRS - iMAO Medicações gastrointestinais - Metoclopramida, domperidona - Bloqueadores H2 ? Anti-hipertensivos - Metildopa - Reserpina - Verapamil Opiáceos e cocaína - Codeína - Morfina Anticonvulsivantes - Fenitoína Outros - Estrogênios - Sibutramina ? - Inibidores da protease ? Caso clínico 1 Mulher, 24 anos Assintomática Encaminhada por PRL = 59,2 ng/mL (check up) Fez uso de cabergolina (CAB) durante 6 meses com da PRL PRL voltou a subir após suspensão da medicação O que fazer? Caso clínico 1 1. Retornar CAB 2. Solicitar RM de sela túrcica 3. Pesquisar macroprolactina Causas de Hiperprolactinemia Macroprolactina: - agregado: IgG + PRL monomérica - baixa biodisponibilidade - capacidade limitada em atravessar o endotélio vascular menos disponível para a ligação com os receptores específicos - clearence lentificado (Vieira JG, ABEM 46, 2002; Gibney J et al, Clin Endocrinol 2005; 62:633) Causas de Hiperprolactinemia Macroprolactina - diagnóstico: Precipitação por PEG (polietilenoglicol): - método de triagem simples, boa reprodutibilidade - permite a definição da condição em 85% dos casos Método da precipitação por PEG Exposição de IgG a concentrações definidas de PEG levam à sua insolubilização e precipitação PEG precipita a macroPRL PRL= 59,2 (ng/mL) PRL= 12 (ng/mL) (12/59,2)= 20,3% % de recuperação= 20,3% Causas de Hiperprolactinemia Macroprolactina - diagnóstico: Precipitação por PEG – interpretação dos resultados: - recuperação > 60%: predomínio de formas monoméricas - recuperação ≤ 40%: predomínio de macroPRL - valores entre 40-60% de recuperação: indeterminado realizar cromatografia numa coluna de gel filtração para melhor definição Caso clínico 1 Mulher, 24 anos Assintomática Encaminhada por PRL = 59,2 ng/mL (check up) Fez uso de cabergolina durante 6 meses com diminuição da PRL PRL voltou a subir após suspensão da medicação Pesquisa de macroprolactina positiva (% de recuperação= 20,3%) Macroprolactina – tranquilizar a paciente Causas de Hiperprolactinemia Macroprolactina - diagnóstico: Cromatografia em coluna de gel filtração: - método de referência para diagnóstico - trabalhosa, demorada e de alto custo MACROPROLACTINA – O problema Y Todos os imunoensaios detectam macroprolactina PRL Y Y PRL PRL Etapas: Incubação Lavagem Dependendo do imunoensaio: erro do Dx de hiperprolactinemia pode chegar a 26% dos casos Produtores dos kits devem tentar minimizar a interferência da macroPRL nos seus ensaios Boas práticas atuais: submeter toda amostra com hiperPRL à precipitação por PEG MacroPRL pesquisada sistematicamente em 2089 pacientes com hiperPRL atendidos em Hospital vinculado à Universidade, Irlanda 22% dos casos de hiperPRL foram explicados por macroPRL (141 ng/mL) (33 ng/mL) VR: 500 (mulher) e 290 (homem) Maior % de macroPRL em pacientes com hiperPRL leve Sintomas: - foram mais comuns na hiperPRL monomérica - devem ser explicados por outra causa MacroPRL é um achado e não deve ser tratada! HIPERPROLACTINEMIA 1. Introdução 2. Quadro clínico 3. Causas 4. Diagnóstico 5. Tratamento medicamentoso 6. Gravidez Diagnóstico da hiperprolactinemia PRINCÍPIO DOS IMUNOENSAIOS DE DOIS SÍTIOS (SANDUÍCHE) Geração e quantificação do sinal Y P R L Y P R L PRL (ng/mL) Diagnóstico da hiperprolactinemia NÍVEL SÉRICO versus CAUSA (Am J NEJM 1997, Clin Ther 2000, J Clin Endocrinol Metab 1976, J Clin Endocrinol Metab 1982, JAMA 1978, J Clin Endocrinol Metab 1985) Diagnóstico da hiperprolactinemia DADOS DA HISTÓRIA CLÍNICA E EXAME FÍSICO Uso de medicamentos que causam hiperPRL? Uso de drogas ilícitas (ex: cocaína)? Descartar gravidez! Afastar hipotireoidismo primário Afastar insuficiência renal e cirrose Pesquisar lesões traumáticas ou irritativas da parede torácica Diagnóstico da hiperprolactinemia EXAME DE IMAGEM Somente após a exclusão de hiperPRL de causa fisiológica, farmacológica ou decorrente de doenças sistêmicas EXCEÇÃO: pacientes com manifestações neuro-oftalmológicas indicativas da presença de um tumor na região selar Diagnóstico da hiperprolactinemia NÍVEL SÉRICO versus CAUSA PROLACTINOMA: correlação entre nível de PRL e tamanho tumoral Exceções: - efeito gancho (hook effect) - macroprolactinomas císticos Diagnóstico da hiperprolactinemia EXAME DE IMAGEM Pseudoprolactinomas: - tumores da região hipotálamo-hipofisária que causam hiperPRL por compressão da haste hipofisária - os níveis de PRL geralmente são <150-200 ng/mL PROLACTINA NORMAL OU POUCO AUMENTADA Y Y Y Y P R L P R L P R L P R L EFEITO GANCHO (HOOK EFFECT) Y Y Y Y P R L P R L P R L P R L P R L P R L P R L P R L P R L P R L P R L P R L P R L Solução: solicitar dosagem de prolactina diluída 1:100 Caso clínico 2 Homem, 61 anos Galactorreia Hemianopsia bitemporal PRL= 143 ng/mL Prolactinoma ou compressão da haste? Caso clínico 2 Homem, 61 anos Galactorreia Hemianopsia bitemporal PRL= 143 ng/mL PRL diluída= 14324 ng/mL Efeito gancho Caso clínico 3 Mulher, 22 anos Amenorreia + Galactorreia Cefaleia PRL= 160 ng/mL Macroprolactinoma cístico HIPERPROLACTINEMIA 1. Introdução 2. Quadro clínico 3. Causas 4. Diagnóstico 5. Tratamento medicamentoso 6. Gravidez Tratamento do Prolactinoma OBJETIVOS Reverter os sinais e sintomas (alterações menstruais, infertilidade, redução de libido, galactorréia) Reverter os efeitos da massa tumoral (macroadenomas) Tratamento do Prolactinoma Medicamentoso - Agonistas dopaminérgicos (AD) - Tratamento de escolha Cirúrgico - Via transesfenoidal ou transcraniana Radioterapia Quimioterapia - Tumores hipofisários agressivos, carcinomas - temozolamida Tratamento do Prolactinoma AGONISTAS DOPAMINÉRGICOS Bromocriptina e Cabergolina Atuam sobre os receptores da dopamina nos lactotrofos Síntese de PRL volume tumoral Tratamento do Prolactinoma AGONISTAS DOPAMINÉRGICOS Efeito Queda das concentrações de PRL Redução do volume tumoral Melhora do campo visual Tempo 2-3 semanas 6 semanas – 6 meses Dias – 2 meses PROLACTINOMA Melhora do campo visual com AD 2 meses PROLACTINOMA Redução do volume tumoral com AD 1 ano PROLACTINOMA Redução do volume tumoral com AD Desaparecimento da imagem tumoral em 26-57% dos pacientes BRC vs CAB: normalização da PRL BRC vs CAB: galactorreia e amenorreia BRC vs CAB: menstruação e ovulação BRC vs CAB: eventos adversos É possível suspender a Cabergolina ? Estudo prospectivo: seguimento > 2-5 anos Coorte: 70 macroprolactinomas, 105 microprolactinomas Duração do tratamento: 2-3 anos Critérios para suspensão da CAB: - prolactinomas tratados adequadamente por > 2 anos - normalização da PRL: < 25 ng/mL (♀); < 15 ng/mL (♂) - desaparecimento do tumor ou redução > 50% no seu volume - tumor distante > 5 mm do QO e sem invasão de áreas críticas Recorrência RM + RM - p Microprolactinoma 42% 26% 0,001 Macroprolactinoma 78% 33% 0,02 Estudo prospectivo: seguimento 2-8 anos Coorte: 79 macroprolactinomas, 115 microprolactinomas Duração do tratamento: 3-4 anos Critérios para suspensão da CAB: - prolactinomas tratados adequadamente por > 2 anos - normalização da PRL: < 25 ng/mL (♀); < 15 ng/mL (♂) - desaparecimento do tumor ou redução > 50% no seu volume - tumor distante > 5 mm do QO e sem invasão de áreas críticas - dose de CAB antes da suspensão: ≤ 0,5 mg/sem Recorrência < 20% Recorrência = 40-50% Recorrência = 90% Taxa de recorrência foi menor se no momento da suspensão da CAB: PRL < 5,4 ng/ml Diâmetro máximo do tumor < 3,1 mm Agonistas dopaminérgicos e risco de doença valvar cardíaca Estudos observacionais: doença valvar cardíaca em pacientes com doença de Parkinson tratados com altas doses de AD - regurgitação moderada a grave com CAB: 23,8% - dose cumulativa média: 4.015 mg Efeito dos AD nas valvas cardíacas Dissertação de Mestrado – Aline Moraes 9 estudos, todos com CAB 639 pacientes Dose cumulativa média: 300-400 mg 6 estudos: não encontraram risco aumentado de regurgitação valvar associado ao uso de CAB 3 estudos: maior risco de regurgitação tricúspide leve a moderada Um estudo sugeriu relação com dose cumulativa de CAB Safety of long-term treatment with cabergoline on cardiac valve disease in patients with prolactinomas. Estudo prospectivo, 40 pacientes, Itália Seguimento: 5 anos Dose cumulativa: 48-1260 mg Nenhum paciente desenvolveu valvulopatia clinicamente significativa 20% 10% Auriemma RS, EJE 2013;28:169. 2,5% 40% Agonistas dopaminérgicos e risco de apoplexia hipofisária 3 casos de apoplexia 7, 12 e 32 semanas apos início do TTO com cabergolina Macroprolactinomas císticos: áreas císticas refletem hemorragia intratumoral prévia HIPERPROLACTINEMIA 1. Introdução 2. Causas 3. Quadro clínico 4. Diagnóstico 5. Tratamento medicamentoso 6. Gravidez Caso clínico 4 Mulher, 27 anos, com amenorréia, PRL inicial de 64 ng/ml RM com imagem de 7 mm compatível com microadenoma Iniciado CAB 0,5 mg/sem Após dois meses, ciclos menstruais regulares e no 4º mês: gestação Qual a conduta mais apropriada para o caso? Caso clínico 4 1. Manter a cabergolina para evitar o crescimento tumoral durante a gestação . 2. Reduzir a dose de CAB e suspender após o parto para permitir a amamentação. 3. Trocar a CAB por BRC e manter a droga durante a gestação. 4. Suspender a CAB e acompanhar a paciente durante toda a gestação. Tratamento dos prolactinomas PROLACTINOMAS E GRAVIDEZ Crescimento tumoral: - hipófise normal cresce durante a gravidez prolactinomas podem crescer também Riscos potenciais para o feto: - bromocriptina versus cabergolina - suspender versus manter o AD PROLACTINOMA Crescimento tumoral significativo durante a gravidez Mulheres com prolactinoma que engravidaram em uso de AD: CAB versus BRC Tratamento dos prolactinomas PROLACTINOMAS E GRAVIDEZ Tratamento durante a gravidez: Microprolactinoma - risco de crescimento tumoral com sintomas compressivos: < 5% - descontinuar AD assim que houver confirmação da gravidez - monitorar clinicamente a cada trimestre - não avaliar níveis séricos de PRL rotineiramente - RM se cefaleia grave e/ou queixas visuais - Se crescimento tumoral significativo: reintroduzir AD Caso clínico 4 Mulher, 27 anos, com amenorréia, PRL inicial de 64 ng/ml RM com imagem de 7 mm compatível com microadenoma Iniciado CAB 0,5 mg/sem Após dois meses, ciclos menstruais regulares e no 4º mês: gestação Qual a conduta mais apropriada para o caso? Caso clínico 4 1. Manter a cabergolina para evitar o crescimento tumoral durante a gestação 2. Reduzir a dose de CAB e suspender após o parto para permitir a amamentação. 3. Trocar a CAB por BRC e manter a droga durante a gestação. 4. Suspender a CAB e acompanhar a paciente durante toda a gestação. Tratamento dos prolactinomas PROLACTINOMAS E GRAVIDEZ Macroprolactinoma - risco de crescimento turmoral com repercussão clínica: até 22,9% - garantir sensibilidade aos AD antes da gravidez: > 1 ano de TTO - sem redução tumoral com AD: TTO cirúrgico antes de engravidar - suspensão vs manutenção do AD: não há consenso ⌘ se suspender o AD: - avaliação a cada 1-3 meses: sinais/sintomas de expansão tumoral - retornar AD se houver sintomas compressivos Tratamento dos prolactinomas PROLACTINOMAS E GRAVIDEZ Amamentação: - não aumenta o risco de crescimento tumoral - permitido em pacientes com micro ou macroadenoma que permaneceu estável durante a gravidez manter sem AD - contraindicada em mulheres com sintomas neurológicos na época do parto retornar AD Gravidez e remissão da hiperprolactinemia Estudo retrospectivo, 1997-2008, Itália 78 micro, 10 macro, 5 hiperPRL não tumoral CAB descontinuada < 6 sem de IG Seguimento até 60 meses pós-parto Remissão da hiperPRL após gravidez 100% 70% 66% Remissão da hiperPRL após gravidez – Literatura até 2013 Resumindo … Todos os imunoensaios detectam macroprolactina Macroprolactina não deve ser tratada Desproporção entre tamanho tumoral e nível de PRL: efeito gancho ? Cabergolina é o AD de escolha para o tratamento da hiperPRL Suspensão do AD após 2 anos de TTO pode ser viável em casos selecionados Não está esclarecido se existe associação entre o uso de AD no TTO dos prolactinomas e doença valvar cardíaca Após confirmação da gravidez, o AD pode ser suspenso na maioria dos casos – acompanhamento clínico Gravidez pode levar à remissão da hiperPRL