POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A INFÂNCIA E JUVENTUDE Significado da política social e conceitos correlatos: • Não é fácil conceituar e definir política social(Titmuss,1981;Romero,1 998) – porque existem tantas definições quantos autores ou atores que tentam compreendê-la e coloca-la em prática – torna-se imperioso fazê-lo sob parâmetros não apenas científicos, mas também éticos e políticos. • Não podemos esquecer que, mediante a política social, é que direitos sociais se concretizam e necessidades humanas (leia-se sociais) são atendidas na perspectiva da cidadania ampliada. • Para conceituar e definir política social implica reconhecer que existem paradigmas ou estatutos epistemológicos competitivos e rivais colocados à disposição desse processo ___ já que não há unanimidade no campo do conhecimento , principalmente nas ciências sociais___ e que é preciso eleger um deles. • Quando definimos política social, esta estará permeada por ideologias , valores e perspectivas teóricas competitivas. • Ao conceituar existe a necessidade de se eleger a perspectiva teórica pela qual a compreensão da política social deverá se pautar.(Pereira e Pereira,2008,p.165) • A política social,aqui,tratada é aquela que apreende essa política como produto da relação dialeticamente contraditória entre estrutura e história e , portanto , de relações __ simultaneamente antagônicas e recíprocas __ entre capital x trabalho , Estado x sociedade e princípios da liberdade e da igualdade que regem os direitos de cidadania. • A política social se apresenta como um conceito complexo que não condiz com a idéia pragmática de mera provisão ou alocação de decisões tomadas pelo Estado e aplicadas verticalmente na sociedade. • Tal política jamais poderá ser compre –endida como um processo linear, de conotação exclusivamente positiva ou negativa, ou a serviço exclusivo desta ou daquela classe. • Na realidade,ela tem se mostrado simultaneamente positiva e negativa e beneficiado interesses contrários de acordo com a correlação de forças prevalecente. • É isso que torna a política social dialeticamente contraditória. • E é essa contradição que permite à classe trabalhadora e aos pobres em geral também utilizá-la a seu favor. • Dada essa característica complexa e contraditória da política social , ela pode ,de fato, assumir vários papéis, mas sem que estes deixem de se guiar por um paradigma comum. • A política social se refere tanto a uma disciplina acadêmica, que é estudada em estabelecimentos de ensino, quanto ao conteúdo dessa disciplina. • Ela é identificada como uma política de ação , que tem perfil , funções e objetivos próprios e produz impactos no contexto em que atua. • Como política de ação tem forte traço empírico, embora não se reduza a ele , visto que , como política , ela também é fruto de escolhas e de decisões definidas nas arenas conflituosas de poder. • Trata-se, portanto, a política social, de uma categoria acadêmica e política , de constituição teórica e prática, que não apenas se dispõe a conhecer e explicar o mundo real, mas também a agir neste mundo, visando mudanças (Pereira e Pereira,2008,p.166) • A política social possui identidade pró –pria e refere-se à política de ação que visa , mediante esforço organizado e pactuado , atender necessidades sociais cuja resolução ultrapassa a iniciativa privada,individual e espontânea, e requer deliberada decisão coletiva regida por princípios de justiça social que, por sua vez, devem ser amparados por leis impessoais e objetivas,garantidoras de direitos. (Pereira e Pereira,2008,p.171) • A política social está inextrincavelmente relacionada ao Estado,governos, políticas e aos movimentos da sociedade. • Ela envolve o exercício do poder prati –ticado, concomitantemente , por indivíduos, grupos, profissionais, empresários,trabalhadores, entre vários segmentos sociais que tentam influir na sua constituição e direção. (Manning,1999,apud Pereira e Pereira, 2008,p.172) • A política social tem que ser vista como uma política que, antes de interrogar sobre os recursos a serem distribuídos, leva em conta as posições desiguais dos cidadãos na estrutura de classes da sociedade. • Deve contemplar o conhecimento de como se criam as necessidades e de como estas se distribuem, com o objetivo de modificá-las. Políticas Públicas : • Ao contemplar todas as forças e agen –tes sociais, comprometendo o Estado , a política social se afigura uma políti –ca pública, isto é, um tipo, dentre outros , de política pública. • Ambas as designações: política social e política pública são políticas de ação • Só que a política social é uma espécie do gênero política pública. • Fazem parte desse gênero relativamente recente na pauta dos estudos políticos, todas as políticas(entre as quais a econômica) que requerem a participação ativa do Estado, sob o controle da sociedade, no planejamen –to e execução de procedimentos e metas voltados para a satisfação de necessidades sociais. • Logo, pelo fato de a política social ser uma política pública,faz-se necessário definir o termo público que a qualifica • O termo público,associado à política , não é uma referência exclusiva ao Estado. • Refere-se,antes, à coisa pública, do latim res(coisa), publica(de todos), ou seja, coisa de todos, para todos, que compromete todos __ inclusive a lei que está acima do Estado __ no aten – dimento de demandas e necessidades sociais, sob a égide de um mesmo direito e com o apoio de uma comunidade de interesses.(Pereira e Pereira, 2008,p.173) • A política pública é regulada e provida pelo Estado, mas ela também engloba demandas, escolhas e decisões privadas, podendo(e devendo) ser controla –da pelos cidadãos. • Isso é o que se chama de controle democrático As políticas públicas em pauta voltadas a infância e a juventude : • O Brasil ocupa uma posição de vanguarda no ordenamento jurídico da problemática infanto-juvenil pela via do ECA. • O ECA preve a garantia dos direitos básicos de crianças e adolescentes de qualquer origem social, com absoluta prioridade. • O ECA propõe o rompimento com uma política social : • - com a ótica e prática estigmatizantes e excludentes que incidiam, em ampla escala, sobre a infância pobre, objeto precípuo das políticas de controle social; • - com o fim de políticas de controle social, exercitadas com o auxílio de asilos,preventórios,internatos,patronatos e presídios, como registra, fartamente, a historiografia sobre o tema. • Porém, vivemos cotidianamente com reiteradas violações dos direitos de crianças e adolescentes.(Rizzini e Pilo –tti,2009,p.323) • É como se existissem duas sociedades: • - Uma que se indigna com este estado de coisas e ruidosamente reclama e obtém a reforma do discurso oficial, inclusive em um dos domínios mais bem guardados e estruturados da tra –dição institucional brasileira : o domínio jurídico-judiciário. • - Enquanto isso, a outra resiste, subreptícia e obstinadamente ao novo mo –delo, acusado, velada ou abertamente, de proteger “menores”,”pivetes”, “trombadinhas”.Quantos a estes, não os reconhece como legítimas crianças e adolescentes,considerando-os, ao contrário, inimigos precoces do bem público, que é preciso conter precoce –mente, tirando-os de circulação, não importa como(Rizzini e Pilotti,2009,p. 324) • O ECA constitui um novo significado para a fase de vida ___ a infância e a adolescência ___, em contraposição a atribuição depreciativa que incidia sobre a sua condição de “menor”,”infrator” ou “delinquente”. • A situação da infância e da juventude precisa ser compreendida como expressão da questão social,logo em conexão com os demais desafios societários do país. • São um dos segmentos sociais que mais exprimem o estado da cidadania e do tratamento dos direitos humanos no Brasil hoje. • São alvo de uma violência social, expressa na falta de projetos de vida, no desemprego, nas dificuldades de acesso a serviços públicos de educação,saúde,cultura,esporte e lazer de qualidade.(Minayo,1994,apud Sales,20 06,p.211) • O ECA constitui um paradigma jurídico, político e administrativo, destinado à resolução da problemática da infância e da juventude no Brasil. • O atendimento a crianças e adolescen -tes é considerado parte integrante das políticas sociais. - O ECA introduz o paradigma de proibição do trabalho infantil , reforça uma política de profissionalização e de proteção ao trabalho juvenil com todos os direitos. • Estas reflexões mostram a diversidade de correlações em que se pode pensar a formulação de políticas para a infância e a juventude sem que se reduzi-la a um único fator determinante . • Devemos considerar o processo, a história, as lutas entre os agentes e as forças . • As estratégias que destacamos são questões em conflito. Referências : • PEREIRA e PEREIRA,Potyara Amazoneida.Política social:temas & questões São Paulo:Cortez,2008. • RIZZINI,Irene e PILOTTI,Francisco .(orgs.)2 ed.A Arte de governar crian –ças:a história das políticas sociais, da legislação e da assistência à infân- cia no Brasil.São Paulo:Cortez,2009. • SALES,Mione Apolinário.Política e direitos de crianças e adolescentes:entre o litígio e a tentação do consenso. In :Política social, família e juventude :uma questão de direitos/Mione Apoli –nario Sales, Maurílio Castro de Matos, Maria Cristina Leal.(organizadores).2 ed.São Paulo:Cortez,2006.