William Barros Fraga INSUFICIENCIA RENAL AGUDA EM

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Mestrado Profissionalizante em Terapia Intensiva
Sociedade Brasileira
de Terapia
William Barros
FragaIntensiva
INSUFICIENCIA RENAL AGUDA EM PACIENTE NA
UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA: uma revisão de
literatura
Distrito Federal-DF
2011
Mestrado Profissionalizante em Terapia Intensiva
Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva
William Barros Fraga
INSUFICIENCIA RENAL AGUDA EM PACIENTE NA
UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA: uma revisão de
literatura
Dissertação de mestrado apresentada na
forma de artigo científico ao IBRATI para o
título de Mestre em Terapia Intensiva
Orientador: Dra
Gonçalves Fraga
Distrito Federal-DF
2011
Elisangela
Aparecida
INSUFICIENCIA RENAL AGUDA EM PACIENTE NA UNIDADE DE TERAPIA
INTENSIVA: uma revisão de literatura
WILLIAM BARROS FRAGA
RESUMO
A IRA pode ser definida como perda da função renal, de maneira súbita, e
potencialmente reversível independentemente da etiologia ou mecanismos,
provocando acúmulo de substâncias nitrogenadas (uréia e creatinina),
acompanhada ou não da diminuição da diurese (COSTA, NETO e VIEIRA
NETO, 1998). O presente estudo foi desenvolvido com o intuito de fazer um
levantamento bibliográfico sobre IRA em pacientes em unidade de terapia
intensiva com enfoque para incidência, diagnóstico e tratamento por
hemodiálise. Trata-se de uma pesquisa do tipo descritiva de apanhado
bibliográfico realizado a partir de um busca em livros, revistas, teses de
mestrado e doutorado, dissertações e bancos de dados como BIRENE,
PUBMED e SCIELO. Foi observado que a IRC é caracterizada pela perda
progressiva da filtração glomerular (CARVALHO e MELO, 2001); revelou em
trabalhos realizados como o de Souza (2010) a elevada incidência de IRC em
29% do total de pacientes em indivíduos admitidos na UTI; o melhor
tratamento é a prevenção e que a hemodiálise deve ser iniciada o quanto
antes.
Palavras chaves: Insuficiência Renal Aguda. Incidência. Unidade de Terapia
Intensiva.
SUMMARY
The IRA can be defined as loss of kidney function, so sudden, and potentially
reversible aetiology or mechanisms, leading to accumulation of nitrogenous
substances (urea and creatinine), with or without a decrease in diuresis (COSTA
NETO and Vieira Neto, 1998). This study was developed in order to make an
IRA in the literature on patients in intensive care unit with a focus on incidence,
diagnosis and treatment by hemodialysis. It is a descriptive type of research
conducted bibliographic caught from a search in books, magazines, Master's
and doctoral dissertations and databases as Biren, PUBMED and SciELO. It
was observed that CRF is characterized by progressive loss of glomerular
filtration rate (Carvalho and Melo, 2001), as revealed in the work of de Souza
(2010) the high incidence of CRI in 29% of all patients admitted to the ICU in
individuals; the best treatment is prevention and that hemodialysis should be
initiated
as
soon
as
possible.
Keywords:
Acute
1 INTRODUÇÃO
Renal
Failure.
Incidence.
Intensive
Care
Unit.
O rim é um dos órgãos que mais freqüentemente falha em pacientes
críticos, com conseqüências graves. A insuficiência renal aguda (IRA) está
associada ao aumento de 3 a 6 vezes da mortalidade hospitalar.
Para Costa, Neto e Vieira Neto (1998):
A IRA pode ser definida como perda da função renal, de
maneira
súbita,
e
potencialmente
reversível
independentemente da etiologia ou mecanismos, provocando
acúmulo de substâncias nitrogenadas (uréia e creatinina),
acompanhada ou não da diminuição da diurese
Já para SOUZA (2010) “a IRA é uma complicação freqüente de
indivíduos internados em Unidade de Terapia Intensiva (UTI)”.
Outros autores mencionam a IRA como sendo a redução aguda da
função renal em horas ou dias. Eles referem-se principalmente à diminuição do
ritmo de filtração glomerular, porém referem também as disfunções no controle
do equilíbrio hidroeletrolítico e ácido-básico. Relatam que podem ocorrer
alterações hormonais, deficiência de eritropoetina e de vitamina D (COSTA e
YU L, 1997; THADHANI et al., 1996).
Detalhando, a IRA é uma síndrome proveniente das mais variadas
causas, podendo ocorrer em diversas camadas da população e também em
todos os setores de um hospital inclusive em UTI; estão associados ao alto
índice de mortalidade (por volta de 50%), tempo de internação, alto custo e
terapias trabalhosas (SANTOS, BOIM e SHOR 1996; SHOR, BOIM e SANTOS,
1997). Tem como características uma redução abrupta da função renal que se
mantém por períodos variáveis, resultando na impossibilidade dos rins em
exercer suas funções básicas de excreção e manutenção da homeostasia
hidroeletrolítica do organismo (SHOR e SROUGI, 1998).
Para Durão, Schor e Santos (1998); Bismuth (2004) a IRA geralmente é
acompanhada por oligúria (eliminação de um volume urinário igual ou abaixo de
400ml por dia), anúria (volume inferior a 100 ml por dia) ou anúria absoluta, que
seria um termo reservado apenas para casos nos quais o volume urinário fosse
realmente nulo, e algumas vezes por poliúria, com distúrbios eletrolíticos e
acidose metabólica.
Dentre as várias formas de tratamentos para a enfermidade o mais
empregado em UTI é a hemodiálise, sendo a hemodiálise intermitente a mais
conhecida e utilizada (SCHOR, BOIM e SANTOS, 1997; BURDMANN e
OLIVEIRA, 1997).
Dada a relevância desse tema, o presente estudo foi desenvolvido com
o intuito de fazer um levantamento bibliográfico sobre IRA em pacientes em
unidade de terapia intensiva com enfoque para incidência, diagnóstico e
tratamento por hemodiálise.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Achados sobre a IRA
Historicamente o estudo da nefrologia é uma especialidade médica
direcionada ao estudo e tratamento de doenças que prejudicam as funções
renais. O surgimento da nefrologia confunde-se com a história da
humanidade.
Complicações renais já foram identificadas em múmias do
antigo Egito e podem ter contribuído para o óbito desses indivíduos
(DOMINGOS e SERRA, 2004; PORTH, 2004).
Anatomicamente o aparelho urinário é formado pelos rins, ureteres,
bexiga urinária e uretra. Em conjunto, tem a função de eliminar as escórias
nitrogenadas e as substâncias em excesso no organismo humano, sendo os
rins os órgãos efetivamente filtrantes (VAN de GRAAFF, 2003).
Além da importante função dos rins de depurar o sangue, também
são responsáveis pela manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico e ácidobásico, excreção de
reguladora
catabólitos,
controle da pressão arterial e função
hormonal (VAN de GRAAFF, 2003).
Para a manutenção da
homeostase, os rins retiram do sangue a uréia e o ácido úrico, reabsorvem a
albumina,
o sódio,
o
potássio
e
o
cálcio,
excretam substâncias
indesejáveis como o fósforo e o hidrogênio, e secretam hormônios para
o controle da pressão arterial, do cálcio e fósforo, e participam do mecanismo
de eritropoiese (RIBEIRO, 2005; MORAES e COLICIGNO, 2007).
A perda progressiva da capacidade excretória renal resulta em IRC,
que
se
caracteriza
avaliada pela medida
pela redução da capacidade de filtração glomerular,
do clearance
de
cratinina em urina de 24 horas
(CARVALHO, MELO e RAUS, 2001).
Na insuficiência renal, ocorre uma deterioração repentina (aguda), o
que explica o desequilíbrio na concentração hidroeletrolítica do organismo
(PEREIRA et al., 2003; BASTOS, 2004).
2.2 Incidência de insuficiência renal aguda em unidade de terapia
intensiva
A IRA é considerada como uma doença do paciente hospitalizado.
(HOU et al., 1983; ANDERSON, ROSEN e EPSTEIN, 1998; HUMES, 1988).
Desde o ano de 1983 já se falava em incidência de IRA em UTI, como
mostra o trabalho realizado por Hou e colaboradores (1983) em que naquela
época a incidência podia variar entre 2 a 5%. As Unidades de Terapia Intensiva
tinha uma incidência elevada de IRA, podendo, em alguns casos, chegar a
23%, mas, em geral, tinha incidência similar à do hospital como um todo
(WILKINS e FARAGHER, 1983). A mortalidade era alta, especialmente nos
casos em que havia a necessidade de diálise, com índices que variavam de
37% a 88% (SCHWILK et al., 1997).
Atualmente a mortalidade de um episódio isolado de IRA fica entre 10%
e 15%, mas quando associada à disfunção de múltiplos órgãos pode chegar a
taxas que variam de 40 a 90% (METITZ et al., 2002; HOSTE et al., 2003).
Já em pacientes críticos, 90% dos episódios de IRA são devidos à
Necrose Tubular Aguda (NTA) resultante de isquemia renal, agentes tóxicos ou
ambos. É interessante considerar que estes pacientes morrem com IRA e não
da IRA. O conceito é importante, pois nos pacientes críticos em UTI as
situações adversas representam fatores de gravidade somados e não a IRA
isolada (METITZ et al., 2002; HOSTE et al., 2003).
Lage (2005) lembra que infelizmente, apesar dos esforços preventivos
é comum que a IRA se instale, especialmente nos pacientes críticos em UTI.
Quando isso ocorre é muito importante estar atento para a piora progressiva e
tentar minimizar sua evolução.
2.3 Causas (BÖHLKE, 2003)
- Pré-renal: redução da perfusão sangüínea sem dano celular;
-Intrínseca: insulto isquêmico ou tóxico aos túbulos renais (necrose tubular
aguda - NTA); processo tubulointersticial com inflamação e edema (nefrite
intersticial); dano ao glomérulo com redução de sua capacidade de filtração
(glomerulonefrite aguda);
- Pós-renal: obstrução do trato urinário. Cerca de 70% dos casos comunitários
e 40% dos casos hospitalares de IRA tem causa pré-renal; IRA pré-renal pode
levar a NTA quando o fluxo sangüíneo estiver suficientemente comprometido a
ponto de provocar morte das células tubulares.
Estes achados podem ser melhores observados na tabela 1 abaixo:
Tabela 1. Achados urinários típicos em condições que causam IRA
condição
teste de fita da
urina (dipstuck)
Sedimento
urinário
IRA Pré-renal
normal
Cil hialinos
NTA
Prot leve à
moderada
Cil granulosos,
pegmentados
Nefrite
intersiticial
aguda
Prot,
Hb,
leucócitos
Leucócitos e cil
leucocitários,
hemácias
<350
Glomerulonefrite
aguda
Prot moderada à
severa, Hb
Hemácias
dismórficas e cil
hemáticos
.500
Hb (possível)
Cristais,
hemácias e
leucócitos
<350
IRA pós-renal
Osmolalidade de
urinária
(mOsm/Kg)
>500
Fração de
excreçãode
sódio (%)
<1
<350
>1
>1
<1
>1
Fonte: (YU et al., 2002).
2.4 Diagnóstico clínico
Para Pereira et al., (2003) o diagnóstico clínico da IRA pode ser
realizado através da história clínica da doença e o exame físico, como é
especificado nos sub-itens abaixo:
2.4.1 História Clínica (COSTA e YU, 1997; THADHANI et al., 1996; PEREIRA,
et al., 2003)
È importante identificar as causas (perda de volume extracelular), os
fatores de risco (drogas, contrastes radiológicos) e severidades da IRA. As
manifestações clínicas como febre, mal-estar, “rash” cutâneo e sintomas
musculares
ou
articulares
podem
estar
associados
a
vasculites
ou
glomerulonefrites. Dores lombares ou supra púbicas, dificuldade de micção,
cólicas nefréticas e hematúria podem sugerir IRA.
2.4.2 Exame físico (THADHANI R et al., 1996; COSTA e YU, 1997)
Deve-se procurar sinais associados com a etiologia e repercussão da
IRA. Sinais de hipovolemia e hipotensão arterial ou sinais de obstrução do trato
urinário para diferenciar IRA. Presença de livedo reticular e micro-infartos
digitais podem sugerir doença renal tromboembólica.
2.5 Diagnóstico laboratorial
O diagnóstico laboratorial da IRA está especificado pode ser observado
com:
I.
Exames de Sangue: uréia, creatinina, bicarbonato de sódio e potássio,
ácido úrico, cálcio e fósforo;
II.
Urinálise: sedimento urinário, sódio, creatinina, osmolaridade;
III.
Exame por imagem: ultrassonografia e tomografia computadorizada
(tamanho, forma, ecogenicidade, simetria e número de rins);
IV.
Biópsia renal: casos selecionados (causa desconhecida, evolução
atípica e/ou prolongada, nefrite intersticial por drogas, necrose cortical,
doença ateroembólica).
2.6 Prevenção (BERSTEN e HOLT, 1995; BARRI e SHAH, 1998)
O nível basal de função renal por dosagem de creatinina sérica ou
depuração de creatinina é de grande importância. Pacientes com creatinina
elevada apresentam maior possibilidade de desenvolver lesão renal após
procedimentos de risco ou uso de drogas nefrotóxicas. A otimização das
condições clínicas do paciente é crucial também;
A medida mais importante é assegurar que o volume intravascular
esteja convenientemente expandido. Mantendo a pressão arterial média acima
de 80 mmHg (ou mais, se o paciente for hipertenso), hematócrito acima de
30% e oxigenação tecidual adequada;
Evitar o uso de drogas nefrotóxicas em pacientes com função renal já
comprometida;
Corrijir as doses das drogas de acordo com a função renal, mantendo o
paciente adequadamente hidratado e monitorizado em relação à função renal;
Evitar associação de drogas nefrotóxicas;
Não utilizar diuréticos de alça para prevenção de nefrotoxicidade;
Em caso de mioglobinúria e hemoglobinúria, o uso de solução
expansora com bicarbonato de sódio e manitol reduz a prevalência e a
gravidade da lesão renal.
2.7 Tratamento (STAR, 1998; DRUML e MITCH, 1999)
É sabido que a melhor forma de tratamento é a prevenção, porém
várias formas de tratamento podem ser realizadas. Neste trabalho será
especificado o tratamento dialítico, como foi mostrado nos objetivos.
Como sempre é lembrado pelos autores se a sobrecarga de volume for
um problema não contornável clinicamente, inicie diálise precocemente ou a
intensifique.
2.7.1 Diálise (STAR, 1998; DRUML e MITCH, 1999)
Mesmo com os consideráveis avanços no tratamento dialítico, nas
últimas décadas, o prognóstico de pacientes com IRA, necessitando de
tratamento
dialítico,
continua
sombrio,
com
taxas
de
mortalidade
freqüentemente superiores a 50% (42 a 75%). O momento ideal para iniciar o
tratamento dialítico dos pacientes portadores de IRA, e o método dialítico a ser
utilizado depende das características clínicas do paciente; do tipo e da
gravidade da IRA; e da experiência do nefrologista e dos equipamentos
disponíveis para implementá-lo.
2.7.2 Indicações de diálise
Hiperpotassemia;
Hipervolemia: edema periférico, derrames pleural e pericárdico, ascite,
hipertensão arterial e ICC;
Uremia: sistema nervoso central (sonolência, tremores, coma e
convulsões), sistema cardiovascular (pericardite e tamponamento
pericárdico), pulmões (congestão pulmonar e pleurite), aparelho
digestivo (náuseas, vômitos E hemorragias digestivas);
Acidose metabólica;
Outras: hipo ou hipernatremia, hipo ou hipercalcemia, hiperuricemia,
hipermagnesemia, hemorragias devido a distúrbios plaquetários, ICC
refratária, hipotermia e intoxicação exógena.
Tabela 2: Métodos dialíticos utilizados em hemodiálise
MÉTODOS DIALÍTICOS
MÉTODOS INTERMITENTES
Diálise peritoneal intermitente
MÉTODOS CONTÍNUOS
DP ambulatorial contínua
Ultrafiltração contínua lenta
Hemofiltração A-V contínua
Hemodiálise intermitente
Hemofiltração V-V contínua
Hemodiálise A-V contínua
Hemodiálise V-V contínua
Hemofiltração intermitente
Hemodiafiltração A-V contínua
Hemodiafiltração V-V contínua
A-V: artério venoso; V-V: veno-venoso
FONTE: Sociedade Brasileira de Nefrologia
Tabela 3. Escolha inicial do método dialítico para o tratamento da insuficiência
reanl aguda
ESCOLHA INICIAL DO MÉTODO DIALÍTICO PARA O TRATAMENTO DA IRA
Indicação
Condição clínica
Método preferencial
IRA não complicada
Nefrotoxidade
DP, HD
Sobrecarga de volume
Choque cardiogenico
UF, HF, DP, HDC
Uremia
IRA complicada
HD, HDF
Hipertenção intracraniana
AVCH, sins. Hepato-renal
HDC, HDF, DP
Choque
sepsis, SARA
HF, HDF, HDC, DP
nutrição
Queimados
HD, HDF, HF
Intoxicação
Barbitúricos, teofilina
Hemoperfusão, HD, HDF
Alterações eletrolíticas
Hiperpotassemia grave
HD, HDF
IRA na gravidez
Uremia no último trimestre
DP
Abreviações: HD-hemodiálise.
DP- diálise peritonial
UF- ultrafiltração
HF- hemofiltração contínua
HDC- hemodiálise contínua
HDF-hemodiafiltração contínua
FONTE: Sociedade Brasileira de Nefrologia
3 METODOLOGIA
Para a realização desta pesquisa do tipo descritiva de apanhado
bibliográfico foi realizado uma busca a partir de livros, revistas, teses de
mestrado e doutorado, dissertações e bancos de dados como BIRENE,
PUBMED e SCIELO.
O estudo bibliográfico se baseia em literaturas estruturadas, obtidas de
livros e artigos científicos provenientes de bibliotecas convencionais e virtuais.
O estudo descritivo visa à aproximação e familiaridade com o fenômeno-objeto
da pesquisa, descrição de suas características, criação de hipóteses e
apontamentos, e estabelecimento de relações entre as variáveis estudadas no
fenômeno.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ficou evidente na pesquisa realizada que a IRC é caracterizada pela
perda progressiva da filtração glomerular (CARVALHO e MELO, 2001).
È consenso entre os autores que contribuir para a manutenção da
homeostasia corpórea é a função básica dos rins. Com a perda das funções
regulatórias, excretórias e endócrinas ocorre o comprometimento de todos os
sistemas corpóreos (DRAIBE e AJZEN, 2002).
Este estudo, embora de revisão bibliográfica, revelou em trabalhos
realizados como o de Souza (2010) a elevada incidência de IRC em 29% do
total de pacientes em indivíduos admitidos na UTI. Esses dados também
foram encontrados por Garcia e colaboradores (2005) que encontraram
resultados semelhantes em seu estudo retrospectivo realizado em um hospital
de base.
Visando a redução da incidência de insuficiência renal aguda em
indivíduos sob terapia intensiva algumas medidas preventivas devem ser
adotadas, como a manutenção da pressão arterial média acima de 80 m
m/Hg (a fim de evitar a hipoperfusão renal), hematócrito superior a 30% e
oxigenação adequada, buscando assim a manutenção da homeostasia renal
e evitando-se a evolução para os estados de insuficiência funcional (PINTO,
1997; ZAITUNE, 2006).
Foi encontrado nos trabalhos realizados por D’avila, Traezel e Glock,
1997; Romão Jr, 2000; que a I RA apresentou uma freqüência de 21% dos
pacientes internados na UTI.
Apesar de não ser objetivo desta pesquisa Garcia, (2005) ao
abordar a classificação da IRA, identificou-se que 84,8% dos pacientes
desenvolveram IRA pré-renal durante sua internação na UTI, concordando com
o que afirma Miriam F. Weiss (2001) que relata a incidência de IRA pré-renal em
70% dos casos, e explica ainda que a IRA renal ou parenquimatosa seja
responsável por cerca de 25% dos pacientes, que em sua maioria
desenvolvem necrose tubular aguda. Nesse aspecto se faz necessário a
realização de novas pesquisas locais que busquem esclarecer este resultado
(HRICIK, SEDOR e GANZ, 2001)
Ao considerar a mortalidade por IRA, esta permanece maior que 50%
nas unidades hospitalares, podendo chegar até 80% em unidades de terapia
intensiva. O prognóstico da IRA continua sombrio, e um dos fatores
responsáveis
é
o aumento
da
gravidade
dos
doentes
nas
últimas
décadas(D’avila, Traezel e Glock, 1997; NASH, HAFEEZ e HOU, 2002; Yu et
al., 2002; KATZ, TROSTER e VAZ, 2003). Garcia (2005) obteve uma
incidência de 58% de óbitos.
A chance de sobrevivência de um paciente com IRA é muito variável,
isso depende de fatores não diretamente relacionados à própria doença renal. A
mortalidade desses pacientes mantém- se em níveis ainda altos na maioria das
séries publicadas, que mostram também o aumento da gravidade das
doenças e da idade dos pacientes (SCHOR, BOIM e SANTOS, 1997;
BURDMANN e OLIVEIRA, 1997). Esse alto índice de mortalidade reforça a
necessidade de uma prevenção efetiva da IRA com monitorização clínica
cuidadosa, controle do balanço hidroeletrolítrico, especialmente hipercalemia e
hiponatremia, correção de fatores contribuintes, como hipovolemia e hipertensão,
interromper a exposição ao(s) agente(s) desencadeante(s), monitorização
cuidadosa das doses de drogas potencialmente nefrotóxicas, de preferência em
uma unidade especializada (D’avila, Traezel e Glock, 1997; BURDMANN e
OLIVEIRA, 1997; Yu et al., 2002).
A literatura mostrou que as pesquisas realizadas com prognóstico de
IRA referem-se predominantemente à mortalidade e, menos frequentemente,
a recuperação da função renal durante a internação hospitalar (SALES JR,
2006).
Garcia e colaboradores (2005) evidenciam a chance de sobrevida de
um paciente com IRA sendo muito variável e que isso depende de fatores que
não estejam relacionados à doença renal onde a mortalidade desses
indivíduos acometidos vem se mantendo elevada no decorrer dos anos. O
mesmo autor ainda lembra que para a redução desse alto índice de
mortalidade, mostra-se necessária a criação de programas eficazes de
prevenção da IRA e, com monitorização clínica cuidadosa, observandose adequadamente o controle do balanço hidroeletrolítico, em especial o
relativo à hipercalemia e hiponatremia, além da correção de alguns fatores
que contribuem para a piora.
Os pacientes com creatinina elevada têm maior possibilidade de
desenvolver IRA, por isso na prevenção deve então considerar a dosagem de
creatinina sérica, já que bioquimicamente, esta doença é caracterizada pela
elevação da concentração de uréia sanguínea e pelo aumento da concentração
da creatinina sérica acima de 1,8 mg/dl.
Bismuth ( 1 9 9 5 ) esclarece a importâncias das medidas preventivas que
devem ser adotadas quanto à procedimentos de risco, uso de drogas
nefrotóxicas, manutenção da pressão arterial media acima de 80 mm Hg,
hematócrito acima de 30%, oxigenação adequada e não utilização de diuréticos
de alça.
Com relação ao tratamento dialítico durante o período de internação
em UTI, G a r c ia (2 0 0 5 ) a f i rm a q u e variou de um a três dias (45,3%). Já
para MEHTA et al. (2001) o tempo médio de tratamento de diálise em
pacientes de UTI, registrado foi de sete dias.
A
hemodiálise
é
a
modalidade
de
purificação
sanguínea
extracorpórea mais empregada para o tratamento da IRA, sendo a
hemodiálise intermitente a técnica mais conhecida e utilizada, porque tem
como princípios a remoção de solutos por meio da membrana semipermeável
que separa os compartimentos sanguíneos e de dialisato, banho de diálise, no
dialisador se faz por difusão e convecção (SANTOS, BOIM e SHOR, 1996).
O tratamento dialítico deve ser iniciado o mais rápido possível, enquanto
os problemas clínicos e bioquímicos são menores, algumas indicações para o
inicio da diálise são: níveis de uréia e creatinina plasmáticos elevados, em geral
superiores a 200 mg/dl, e ou creatinina maior que seis mg/dl; hiperpotassemia;
hiperidaratação; acidose metabólica (CENDORAGLO, SANTOS e DRAIBE,
(1997); NADALETTO, CENDORAGLO NETO e DRAIBE (1997).
Cabe destacar: o tratamento clínico deve evitar hiper-hidratação,
prevenir processos infecciosos, pesquisando cuidadosamente a presença de
focos e evitar antibioticoterapia desnecessária (YU et al., 2002; LIMA,
BURDMANN e YU, 2003).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
 A IRA complica o curso clínico de 5% dos pacientes internados em
hospital geral. Os doentes críticos são mais suscetíveis à síndrome,
com grande impacto na morbidade e mortalidade;
 A monitorizarão diária da função renal no paciente crítico, a detecção
precoce de sua falha e uma maior atenção dos profissionais da saúde
a esses pacientes é a melhor opção para reduzir as complicações
da IRA e, consequentemente, diminuir sua morbimortalidade;
 A literatura atual é escassa no que se refere à existência de trabalhos
epidemiológicos que
avaliem
a
prevalência de emergências
nefrológicas nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) (PEREIRA, et
al, 2003) . Realizar levantamentos pidemiológicos com respeito à
prevalência das principais complicações nefrológicas que necessitem
de acompanhamento nas UTIs e
também das mais relevantes
doenças de base que podem evoluir para insuficiência renal poderia
trazer
benefícios às
unidades hospitalares, assim como aos
pacientes acometidos (SOUZA et al., 2010).
 Em relação ao diagnóstico o melhor a ser realizado é a observação
dos parâmetros renais em pacientes em UTI;
 A hemodiálise deve ser iniciada o quanto antes;
 A prevenção é a melhor opção.
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