Educação nutricional com pré-escolares em creche baseado no

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Educação nutricional com pré-escolares em creche baseado no pensamento
sociointeracionista
Nutrition education with preschoolers in daycare based on social interactionist thought
Educación nutricional con niños en edad preescolar en guarderías basados en pensamiento
interaccionista social
Elizabeth Azevedo de Azeredo. Nutricionista, Mestre em Ciências da Saúde pela
Universidade Federal Fluminense/UFF. Niterói (RJ), Brasil. E-mail: [email protected]
Selma Petra Chaves Sá. Enfermeira. Professora Titular da Escola de Enfermagem Aurora de
Afonso Costa/EEAAC-UFF. Coordenadora do Programa de Extensão a Enfermagem no
Programa Interdisciplinar de Geriatria e Gerontologia/UFF, Niterói (RJ), Brasil. E-mail:
[email protected]
Autora correspondente:
Selma Petra Chaves Sá
Universidade Federal Fluminense
Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa
Rua Dr. Celestino, 74 – Centro- Niterói- RJ. CEP: 24020-091
Tel: 2629-9478
Resumo
Objetivo: relatar a experiência de implantação e implementação das ações preconizadas
pela Política Nacional de Nutrição visando à educação nutricional de pré-escolares em
creche no Rio de Janeiro. Metodologia: relato de experiência sobre a aplicação das
atividades práticas de Educação Nutricional com pré-escolares de creche universitária
fundamentadas no pensamento sociointeracionista de Vigostsky. Resultados: Realizaram-se
modificações estruturais, físicas, de recursos humanos e elaboração de atividades por meio
de ações lúdicas, além dos cardápios planejados em conformidade com a prática alimentar
saudável pensando-se na sociointeração para a apresentação de diversos grupos alimentares
como frutas e hortaliças. Conclusão: é fundamental a reformulação das práticas
alimentares assim como, a implementação de atividades educativas sistematizadas no
espaço escolar com vista à promoção da saúde e melhoria da qualidade de vida.
Descritores: crianças; educação; alimentação.
Abstract
2
Objective: To report the experience of deployment and implementation of actions
recommended by the National Nutrition Policy aiming to nutrition education of preschool
children in daycare in Rio de Janeiro. Methodology: experience report on the application of
practical activities with Nutrition Education preschool daycare university grounded in the
thinking of social interactionist Vigostsky. Results: There were structural, physical, and
human resources development activities through playful actions beyond the menus planned
in accordance with practice healthy eating yourself thinking in sociointeração for the
presentation of diverse groups such as fruits and vegetables nourish . Conclusion: it is
fundamental recasting of feeding practices as well as the implementation of systematic
educational activities within the school to promote health and improve quality of life.
Descriptors: children; education; food.
Resumen
Objetivo: Presentar la experiencia de la implementación y aplicación de las medidas
recomendadas por la Política Nacional de Nutrición, con el objetivo de la educación
nutricional de los niños en edad preescolar en guarderías de Río de Janeiro. Metodología:
relato de experiencia sobre la aplicación de las actividades prácticas con la Universidad de
Educación en Nutrición guardería preescolar basada en el pensamiento de Vigostsky
interaccionista social. Resultados: No hubo estructural, físico y las actividades de
desarrollo de recursos a través de acciones lúdicas más allá de los menús planificados de
acuerdo con las prácticas de alimentación saludable pensando en sociointeração para la
presentación de diversos grupos, como las frutas y verduras nutrir. Conclusión: es la
refundición fundamental de las prácticas de alimentación, así como la aplicación
sistemática de las actividades educativas dentro de la escuela para promover la salud y
mejorar
la
calidad
de
vida.
Descriptores: niños; educación; alimentación.
Introdução
De acordo com o Ministério da Saúde1 (MS), a saúde da criança tem sido enfocada nas
Políticas Públicas em nosso país em face ao complexo quadro social, doenças e a
mortalidade infantil nacional. Observa-se que a Política de Alimentação e Nutrição (PNAN),
homologada em 1999, integra a Política Nacional de Saúde, fazendo parte da Segurança
Alimentar e Nutricional, compondo o conjunto de políticas de governo voltadas para a
3
concretização do direito humano universal à alimentação, nutrição e cuidado adequados à
saúde.
Compreendendo que a creche é um espaço de suma importância na vida da criança,
onde ela passa no mínimo, 6 horas por dia e, considerando as recomendações do Ministério
da Saúde por meio das Políticas direcionadas à saúde das crianças brasileiras, é que
considera-se que a educação nutricional deve ser trabalhada em faixas etárias iniciais com
crianças de pequena idade e que tais ações devem ser realizadas considerando a interação
social que ocorre no espaço em que as mesmas estão e das Políticas Públicas vigentes no
país.
A partir das considerações acima é que, neste artigo, será tratada a educação
nutricional com pré escolares em creche universitária considerando o pensamento
sociointeracionista de Vigostsky.2
Não se pretende desconsiderar a participação e influência da família neste contexto
até porque o comportamento alimentar do pré-escolar é determinado em primeira instância
pela família da qual ela é dependente e, secundariamente, pelas outras interações
psicossociais e culturais da criança, neste caso as interações no espaço como de uma
creche.
Na infância, a obesidade se manifesta, principalmente, pelo balanço energético
positivo dado pelo consumo de alimentos com alto valor calórico e baixa qualidade
nutricional associado, ainda, ao sedentarismo. Nas últimas décadas, verifica-se que, devido
à falta de tempo dos pais, sempre atarefados com o trabalho, e à facilidade de obtenção de
produtos industrializados, as crianças tendem a se alimentar mal, além de permanecer, nas
horas vagas, em frente à televisão, jogando videogame, contribuindo para o sedentarismo. 3
É notória a relação, por vezes contraditória, que é vinculada na mídia sobre alimentação e
o que é considerado saudável pelas Políticas de Saúde para crianças em creche. Sabemos
que muitos trabalhos vêm sendo desenvolvidos com o objetivo de conscientizar e promover
hábitos alimentares saudáveis, diante dos distúrbios nutricionais decorrentes de uma
alimentação característica da vida contemporânea. O estilo de vida e a mídia influenciam,
por vezes, práticas alimentares prejudiciais à saúde e, a população infantil é afetada
recebendo influências severas impostas pela “Sociedade do fast food” através da cozinha
compartimentada.
4
Diante deste contexto, o ensino das boas práticas da alimentação saudável na escola,
deve visar à capacitação do individuo quando adulto, para agir conscientemente diante de
situações novas da vida, levando-os a inspirar-se nas possibilidades do homem como ser vivo
e ater-se às condições fundamentais da sobrevivência biológica, bem como atuar para que
essa sobrevivência se efetive nas melhores condições possíveis. Com inúmeras influências,
por vezes desfavorável que as crianças recebem acerca das opções alimentares é que,
considera-se que a sociointeração que ocorre na creche, deve ser explorada e pode ser um
meio de promover a Educação nutricional dos pré-escolares.
Para Vigotsky 2 a historia do comportamento da criança nasce do entrelaçamento de
duas linhas: os processos elementares, que são de origem biológica e as funções
psicológicas superiores de origem sociocultural. Estas duas linhas fazem parte das raízes do
desenvolvimento infantil.4
A escola como ambiente institucional é um espaço socializador e de interação social
e assim o diálogo deve ser reconhecido como necessário para o desenvolvimento do
processo educativo, bem como condição para a construção do conhecimento, como forma
de problematização dos conteúdos do saber.5 A idéia é explicitada em Vigostsky, em sua
abordagem sociointeracionista, que reforça que o Homem é um ser social, pois se constitui
nas e pelas relações que estabelece com outros homens e com a natureza, sendo produto e
produtor destas relações num processo histórico.6
A escola, instituição social por natureza, sofre influencias e, também interfere na
comunidade. Portanto a escola não é neutra, mas resulta da totalidade de atos, ações,
valores e princípios da realidade histórica. Pode-se afirmar então, que a escola é um espaço
educativo, necessário, que complementa a atuação do homem enquanto ser históricocultural e consciente em sua evolução individual e social.7 A partir da influência
sociointeracional da creche na vida do pré-escolar é que levou-se em consideração ser o
espaço possível para promoção da saúde nutricional com os pré escolares.
Considerando o espaço socializador e de interação social da creche é que neste
artigo, o objetivo é relatar a experiência de implementação e implantação de Educação
Nutricional com pré-escolar em creche universitária na perspectiva vigotskiana. Neste
sentido a educação em saúde deve estar ancorada na concepção da educação como
potencial para contribuir para o desenvolvimento do individuo, de modo a estimula-lo a
5
refletir, desenvolver a consciência crítica, exercer a sua autonomia e cidadania, e criar,
possibilitando-lhe transformar a realidade e escrever a sua própria história.8
Metodologia
Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência, em que se pretende
abordar a experiência de implantação e implementação de ações educativas nutricionais
desenvolvidas pelo serviço de nutrição e aplicadas às crianças pré-escolares matriculadas
em uma Creche Universitária no Rio de Janeiro, visando alcançar hábitos alimentares
saudáveis
durante
a
prática
das
ações
educativas,
pautada
na
abordagem
sociointeracionista de Vigostsky.
A creche, cenário deste relato, destinada-se à crianças de 0 a 6 anos, funciona no
Campus da própria universidade e surgiu a partir da demanda da comunidade universitária e
pela mobilização de alguns de seus componentes.
Como proposta pedagógica, a Creche realiza várias oficinas entre elas a de educação
nutricional preparada pela nutricionista com a intenção de implementar as Políticas
direcionadas para alimentação de crianças.
Vale ressaltar que em todas as oficinas, acontece a participação das crianças, dos
professores e funcionários que fazem parte do serviço de nutrição da creche. Além disso,
todas as atividades e ações pedagógicas na creche estão pautadas no pensamento
sociointeracionista de Vigostsky. Assim, o relato será apresentado e entrelaçado com o
pensamento de Vigostsky e autores que coadunam com o seu pensamento.
Relato
Preparação estrutural e dos profissionais
Sabe-se que para implementar ações educativas visando à mudança de hábitos
alimentares em crianças, não basta apenas apresentar os alimentos e/ou modificar o
cardápio da instituição. Há necessidade de uma série de ações que efetivem
recomendações que garantam a promoção das práticas alimentares saudáveis, prevenção
dos distúrbios nutricionais bem como, o estímulo às ações intersetoriais que beneficiem o
acesso aos alimentos de maneira universal1.
Visando o estabelecimento das ações educacionais saudáveis e a Política direcionada
para Educação Nutricional foi preciso primeiramente, reformular as práticas alimentares na
Creche em estudo, reorganizar e implantar o Serviço de Nutrição.
6
Neste sentido, o Serviço de Nutrição da creche universitária, se preparou
teoricamente e, para a implementação das ações, se apoderou do referencial instituídos
pelas políticas públicas direcionadas à nutrição, da experiência vivenciado por outras
instituições educacionais e do que é preconizado por Vigostsky sobre os aspectos
sociointeracionista que, já era o referencial utilizado em outras práticas educacionais na
creche. Assim, foram necessárias mudanças estruturais e físicas no Serviço de Nutrição,
preparação dos profissionais do serviço de nutrição e dos professores e a mais difícil, que
foi a elaboração e aplicação das ações de educação nutricional com as crianças préescolares.
Então, as rotinas do serviço de nutrição da creche foram normatizadas a partir da
portaria No 02/2004 da Cantina Saudável, sendo feitos memorandos e reuniões comunicando
aos pais e a toda comunidade escolar que, a partir da utilização desta portaria, seriam
estabelecidos parâmetros de uma alimentação saudável. Com isto o cardápio e os eventos
na escola como pic-nic, festas de aniversário dentre outros, passaram a seguir
rigorosamente tais recomendações.
Vale ressaltar que, todas as ações elaboradas e aplicadas para educação nutricional
na creche, tiveram como princípio contribuir para a formação de sujeitos críticos sem
deixar de lado os aspectos psicossociais e culturais que envolvem os pré-escolares. Sabe-se
que são vários os fatores que influenciam os hábitos alimentares, destacam-se: os fatores
culturais, fatores econômicos, fatores sociais e fatores psicológicos. A educação nutricional
deve permitir a construção de sujeitos autônomos e críticos, favorecendo as praticas que
possibilitem a promoção da saúde.
Outro aspecto também observado foi à capacitação de pessoal o que proporcionou
conscientização da necessidade de adoção de medidas que dizem respeito as boas praticas
da manipulação de alimentos e em relação à higiene em geral, uso da paramentação
adequada (uniforme), manuseio e acondicionamento correto dos alimentos, importância do
cumprimento do cardápio para saúde da criança e mudança de atitude em relação à
clientela atendida no tocante a estimulá-las ao novo padrão alimentar oferecido.
Um dos grandes desafios a serem vencidos é a modificação da preparação da
alimentação enviada para as crianças da creche que era preparada em cozinha industrial do
restaurante universitário, composta em sua maioria, das mesmas preparações que atendiam
o refeitório institucional e preparadas com poucas hortaliças. Quanto ao prato protéico este
7
também sofria interferência do sistema de compras sendo oferecido, às vezes, uma
preparação não recomendada para o consumo infantil. Na medida em que a alimentação
chegava pronta na escola, algumas preparações tinham que ser manipuladas novamente
para tornar os pratos mais aceitáveis pelas crianças, com a intenção de melhorar a ingestão
e diminuir a sobra de alimento no prato.
Para mudar este quadro foi necessário o trabalho efetivo do serviço de nutrição e
também a sensibilização dos gestores da própria creche e de outras instâncias da
universidade pontuando a importância da preparação dos alimentos serem realizados na
própria escola.
Então, ocorreram mudanças administrativas feitas pela nutricionista, nas quais todo
o preparo das refeições passou a ser realizado na própria unidade da creche e com isto, o
processo produtivo de todas as refeições pôde ser monitorado pela nutricionista o que
provocou um melhor controle da qualidade das refeições produzidas. A reorganização do
sistema de preparo das refeições, influenciou sobremaneira a otimização dos serviços
prestados aos pré- escolares, uma vez que trouxe mudanças radicais e melhoria substancial
na oferta de alimentos tanto qualitativa como quantitativamente. Além disso, várias outras
ações administrativas como contratação de funcionários, aquisição de equipamentos e
utensílios, treinamento de pessoal dentre outras foram implementadas pela nutricionista da
creche.
Com a questão do preparo dos profissionais e da preparação dos alimentos resolvidos,
partiu-se para o planejamento dos cardápios. Tal planejamento e a previsão de gêneros
foram realizados de acordo com os preceitos da alimentação saudável e direcionados a
clientela infantil. A escola passou a receber então, gêneros estocáveis e perecíveis como
frutas, carnes, laticínios com qualidade e, sobretudo em grande variedade. Partiu-se então,
para a educação nutricional com os pré-escolares uma vez que já havia uma excelência na
oferta da alimentos saudáveis em todas as refeições.
A atuação junto aos pré- escolares - as oficinas visando à Educação Nutricional.
Portanto, a aplicação das oficinas de Educação Nutricional na Creche pôde ser
iniciada de forma mais intensa pela nutricionista uma vez que, a reformulação das práticas
alimentares e a implantação do Serviço de Nutrição foram concluídas, havendo otimização
na oferta de alimentos em qualidade e variedade, contando também, com um
planejamento adequado de cardápios voltados para a clientela infantil. Esta etapa também
8
se constituiu em grande desafio, pois, a dificuldade é fazer com que a criança aceite uma
alimentação variada, aumentando suas preferências e adquirindo um hábito alimentar mais
adequado, uma vez que muitas crianças têm medo de experimentar novos alimentos e
sabores, fenômeno este denominado neofobia alimentar.9:230
A interação do serviço de nutrição com os pré-escolares visando a educação
nutricional foram mediadas pela contação de historias, pelas oficinas de culinária e por
varias outras atividades onde houve também, interação das crianças, a nutricionista e os
professores.
O trabalho para melhorar a aceitação das crianças nos aspectos direcionados a nova
proposta alimentar da creche foi pensado e deveria ter ações que pudessem ser
confrontadas com o que é dominante no mundo exterior, na mídia e pela própria família. As
origens das formas superiores de comportamento consciente deveriam ser achadas nas
relações sociais que o individuo mantém com o mundo exterior. Mesmo sabendo da
influência da família e da mídia nos hábitos alimentares dos pré-escolares, este sujeito
pode ser considerado um agente ativo e influenciar estes hábitos. Corroborando com o
pensamento de Vigotsky de que o homem, não é apenas um produto de seu ambiente sendo
também um agente ativo no processo de criação deste meio.2
As ações educativas começaram então, a serem planejadas e desenvolvidas
utilizando-se de recursos variados como: a contação de várias histórias com a coleção no
Reino da Hortolândia e no Reino da Frutolândia; oficinas de culinária apresentando o
preparo de receitas inusitadas que aguçavam a curiosidade das crianças; apresentação de
vídeos e DVDs; feira de alimentos e cartazes sobre a Pirâmide e os Grupos dos Alimentos;
jogo da saúde, além da fala cotidiana do cardápio estimulando as crianças na hora das
refeições. Algumas oficinas foram elaboradas e realizadas com os pré escolares visando o
seu envolvimento e transcurso de forma lúdica.
Durante as atividades, os professores também eram estimulados a falarem em sala
de aula sobre o cardápio do dia, citando os alimentos oferecidos fazendo com que fossem
multiplicadores deste esforço em educar e que tais atividades fossem fixadas pelas
crianças. Para que ocorra a sustentabilidade das ações de promoção da alimentação
saudável é imprescindível o envolvimento da comunidade.10
Na linha vigotskiana encontra-se a valorização da escola, do professor, da
intervenção pedagógica e do papel do educador na formação do sujeito, neste caso das
9
crianças, em relação às opções alimentares. O autor considera que a escola é uma
instituição fundamental para a definição do sujeito e para o seu funcionamento psíquico.
Pode-se considerar que com crianças pré-escolares, este processo interacional, pode ser
marcante uma vez que se leva em conta o seu desenvolvimento psíquico, os elementos que
vêm de dentro da própria criança e os elementos que vêm dos diversos ambientes com os
quais convive.11
As crianças apresentam certa resistência ao consumo de frutas. Para minimizar tal
situação e, trabalhar este grupo alimentar preparou-se diversas atividades para que o
assunto fosse abordado de forma prazerosa e a culinária foi a atividade educativa que mais
atraiu e estimulou as crianças como a preparação do sorvete de pinha, na vitamina de
morango, visualização de DVD em que a Turma do Cocoricó aborda um clipe intitulado
“Morango de pertinho”, a oficina de barrinha de banana e a oficina de preparo do suco de
frutas com clorofila. A culinária pode ter o papel de organizar a sociedade na medida que
introduz responsabilidades,laços sociais e compartilhamentos ao se preparar uma comida.12
Para Fieldhouse a comida de um grupo pode ser caracterizada pelo estilo ou a
forma como
este grupo cozinha pó prepara suas refeições.13 No ato de cozinhar está
incluída a seleção de alimentos e a frequência de seu uso14 assim como as técnicas de
preparo e a criação de sabores ditadas pela aceitabilidade das pessoas.
Várias vezes nas atividades de educação nutricional, o signo da linguagem foi
explorada por meio da contação de historias onde as crianças puderam de forma lúdica
receber noções sobre a importância dos alimentos saudáveis na aquisição da saúde. No
pensamento vigotskiano a relação do homem com o mundo não é uma relação direta, mas,
fundamentalmente, uma relação mediada. As funções psicológicas superiores apresentam
uma estrutura tal que entre o homem e o mundo real existem mediadores, ferramentas
auxiliares da atividade humana. Estes mediadores foram distinguidos por Vigotsky como:
instrumentos e signos.4
No pensamento vigotskiano, os signos podem ser a linguagem, a escrita, o sistema de
números e o sistema de instrumentos que são criados pelas sociedades e estes são
considerados como objetos sociais e mediadores da relação do individuo com o mundo ao
longo do curso da historia humana e estão ligados ao trabalho e a transformação da
natureza.4
10
Pode-se perceber que nos momentos de contação de histórias em que a linguagem foi
extremamente explorada, um elo foi estabelecido entre criança e a história contada: há
envolvimento emocional, algumas vezes, por meio da identificação com os personagens e,
muitas vezes, da projeção da criança dentro da narrativa. A linguagem é destacada no
pensamento vigotskiano como um instrumento básico criado pela humanidade sendo
importante na organização e desenvolvimento dos processos de pensamento.2
Outra estratégia para educação nutricional foi realização de uma Feira de hortaliças
de Dona Maricota onde a nutricionista da creche montou uma feira com 24 tipos de
hortaliças. Nestas atividades teve-se a oportunidade de abordar o assunto específico de
cada uma hortaliça, exercitando-se o diálogo com as crianças, ou seja, promovendo-se a
troca de saberes. Na educação baseada no diálogo oportuniza-se o intercâmbio entre o
saber científico e o popular onde cada um deles tem muito a ensinar e aprender.
Com isto, teve-se a oportunidade de ouvir a fala espontânea das crianças, das suas
vivências trazidas do espaço fora da escola e da nutricionista aproveitar este momento para
interagir com as crianças sobre diversos aspectos direcionados a este grupo alimentar
principalmente os seus componentes e a importância para a saúde.13 A linguagem possui
três fases: social, egocêntrica e interior.14 Estas oficinas tiveram como propósito atingir
todas as fases onde foram adequadas as oficinas de acordo com a faixa etária para que com
isso houvesse um maior aproveitamento pelas crianças das mensagens e do conteúdo
exposto tentando se aproximar ao máximo daquele universo infantil.
A familiaridade com os alimentos é o primeiro passo para a criança aprender sobre o
gosto e a importância dos alimentos. A exposição repetida e/ou mera exposição são os
processos de familiarização com alimentos que se iniciam com o desmame e a introdução
dos alimentos sólidos, durante o primeiro ano de vida da criança.9:231 Pode-se dizer então
que, é no primeiro ano de vida que a criança começa gradativamente, a exercitar seu
paladar através da oferta de diversos sabores onde aprende a experimentar os alimentos e
neste contexto as crianças menores quando expostas cedo as praticas saudáveis tendem a
ter maiores possibilidades de aceitação alimentar pois aprendem cedo a se alimentarem
melhor.
Considera-se que a exposição rotineira das crianças a uma alimentação saudável na
escola favorece a mudança de hábitos alimentares adequados e com isto, o reforço das
oficinas de educação nutricional aplicadas pela nutricionista, favoreceram o aprendizado
11
das crianças por meio de atividades que se repetiram a todo momento sobre a importância
dos alimentos para a nossa saúde e que incentivassem o experimento do alimento novo para
que elas comecem a exercitar o aprendizado dos sabores.
Sendo a creche um local onde as crianças passam grande parte do tempo, senão o dia
todo, a promoção da educação nutricional atua de maneira significativa na construção de
conceitos novos, na formação de opiniões e de hábitos. Além disso, o espaço deve ser visto
como local apropriado para a implantação de programas educativos que formam barreira às
doenças mais comuns que surgem em crianças e adolescentes, tais como a obesidade, a
desnutrição inespecífica, as doenças cardiovasculares e também a cárie que caracterizam
problemas de saúde pública.15
Outras oficinas e atividades foram realizadas como: Pôster da Pirâmide dos
alimentos; oficina de pastas de espinafre, de cenoura, dentre outras, onde foram montadas
bandejas de canapés em formato de borboletas e libélulas.
Utilizou-se como tema a higiene corporal associada ao Jogo da Saúde, preparando o bolo de
granola e o de agrião com gergelim colorido, a pizza no palito de inhame e mussarela e a
mandala de leguminosas.
Desta maneira as receitas selecionadas pela nutricionista para serem feitas nas
oficinas foram escolhidas de forma que provocassem interesse,curiosidade e motivassem as
crianças em um preparo inusitado como foi o caso do bolo de abobrinha verde, o bolo de
agrião, a barrinha de cereais, da pizza de massa de inhame, do sorvete de beterraba,
dentre outras. A culinária na escola é uma atividade extremamente mediada pelo prazer de
brincar, remete uma lembrança ao brincar de panelinhas e assim proporciona a vivência do
cozinhar como experiência lúdica, criativa e compartilhada, pois as crianças criam juntas
pratos saudáveis cuja degustação coletiva é a atividade seguinte, entremeada pela troca de
ideias sobre a experiência vivida.16
Tais trocas de experiências e entrelaçamento de idéias dos pré-escolares com os
profissionais envolvidos nas atividades de educação nutricional foram fundamentais na
perspectiva vigotskiana pois, segundo a teoria as funções psicológicas superiores são de
origem sociocultural e surgem de processos psicológicos elementares, de origem biológica,
através da interação da criança com membros mais experientes da cultura.
O desenvolvimento da espécie humana é, portanto, o resultado de uma interação
entre o programa de maturação e a estimulação social e pessoal que a criança recebe das
12
pessoas que a cuidam.17 Outro aspecto a ser considerado foi a participação dos pré
escolares na educação nutricional favorecendo a sua saúde. A Educação em Saúde
configura-se
como
um instrumento eficaz para o processo de promoção da saúde,
tendo em vista que favorece a autonomia e formação cidadã do indivíduo.18
Assim, os aspectos psicológicos do desenvolvimento não são predeterminados, mas
são adquiridos mediante a interação com o meio físico e social que envolve as crianças
desde o seu nascimento. Nesta perspectiva foram elaboradas e implementadas todas as
atividades e estratégias direcionadas a educação nutricional na creche universitária.
Considerações finais
Considera-se a creche um cenário interessante para implementação de diversas
atividades direcionadas para Educação Nutricional já que esta vem se tornando uma
necessidade significativa para as famílias e exercendo marcante papel social. O estimulo
para a aquisição de hábitos saudáveis com crianças de creche pode demandar mudança
estrutural e física da instituição além de estimular os profissionais e familiares para que
tais ações se efetivem ou possam ser iniciadas.
Como se pode observar, não é possível realizar educação nutricional em creche sem
que ocorra uma atuação gerencial em todos os aspectos no que diz respeito à preparação
do espaço físico, humano, tanto dos profissionais que trabalham na instituição quanto dos
familiares das crianças. Assim, inicialmente, com as ações acima, buscou-se trabalhar nos
aspectos mencionados para a partir daí, iniciar ações educativas com as crianças usuárias
da creche.
No espaço escolar todos desempenham um papel fundamental já que são difusores de
informações e, da mesma forma, familiares e profissionais devem envolver-se na construção
de melhores condições de saúde, na busca de estilos de vida mais saudáveis e na formação
dos valores de suas crianças.
Uma vez que, hábitos alimentares se formam pela frequência do consumo de certos
alimentos, observou-se que as ações de Educação Nutricional aplicadas de forma
sistemática na creche funcionou como alavancas na transformação de hábitos alimentares.
A educação nutricional deve, então, começar bem cedo, pois é na infância ou na préescola, que se fixam a atitude e prática alimentar difíceis de serem modificadas. É preciso
transmitir noções adequadas, estimulando a formação de atitudes positivas que irão
contribuir para a formação de um comportamento alimentar desejado.
13
A promoção da saúde tem que ser sustentada em todos os espaços sociais e a creche
é um espaço onde a alimentação tem grande importância na construção de hábitos
alimentares saudáveis e no desenvolvimento de ações na reformulação das práticas
alimentares.
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