transtorno de personalidade borderline

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O tratamento do transtorno da
personalidade borderline por
meio da terapia dialética
comportamental
Azucena García Palacios
Universidade Jaume I, Castellón (Espanha)
Alunos:
Aline Costa
Marine Queiroz
Paulo Henrique
Rafaela Garcia
Introdução
O transtorno da personalidade borderline
(TPB): um dos desafios mais complexos
que um clínico pode enfrentar.
 Instabilidade na: cognição, afetividade,
atividade interpessoal e controle dos
impulsos.
 Instabilidade emocional
estado de
sofrimento quase constante.
 Impulsividade
sentimentos de culpa.

Parece que esses indivíduos não puderam
formar um conjunto integrado de esquemas
sobre si mesmos (Caballo,2001b).
 Desvalidos e incapazes de assumir as
rédeas de suas vidas
Altamente
competente.
 Dicotomia cognitiva e emocional.
 Constitui um problema muito difícil de
tratar. As conquistas terapêuticas são
lentas e acontecem abandonos e recaídas
com muita frequência.
Terapia dialética
comportamental: desenvolvida
pela dra. Marsha Linehan da
Universidade de Washington,
nos EUA.
Teoria dialética do TPB:







Linehan propõe uma abordagem biossocial
para explicar o TPB, enfatizando a interação
entre influências biológicas e da aprendizagem
social.
Reorganiza os critérios diagnósticos do DSM-IV,
com as seguintes áreas problemáticas:
1.Disfunção emocional
2. Disfunção interpessoal
3.Disfunção comportamental
4.Disfunção cognitiva
5.Alteração da identidade
A perspectiva dialética



Essência da terapia: o paciente e o terapeuta se
encontram nos extremos opostos de uma
gangorra e estão conectados pela prancha,
conforme essa gangorra.
Problema dos pacientes borderline: a gangorra
é uma vara de bambu sobre um cabo no alto do
cânion do Colorado, onde terapeuta e paciente
estão nos extremos.
O terapeuta deve ir para o centro , buscando a
integração entre os pólos.
Três características principais:





1.O princípio da inter-relação e globalidade
2. O princípio da polaridade
3. O princípio da mudança contínua
O TPB pode ser entendido como um fracasso dialético.
Eles costumam se mover entre tese e antítese, e não
conseguem integrar, fazer a síntese. Mantêm posições
rígidas e contraditórias. A terapia dialética
comportamental busca integrar esses padrões opostos.
Fracassam no princípio de globalidade e inter-relação,
sentindo-se separados do ambiente, com problemas de
identidade.
Passividade ativa
X
Competência aparente
O modelo biossocial





Possuem uma disfunção do sistema de
regulação emocional.
Baixo limiar para reagir emocionalmente.
O medo se transforma em pânico e a vergonha
em humilhação.
Dificuldades em identificar e rotular as emoções,
apesar de experimentá-las de forma muito
intensa.
Isto leva à esquiva que leva a um
desconhecimento das próprias emoções.
O ambiente que invalida: padrões
de criação que não validam as
expressões emocionais da criança
vulnerável. Ambientes intolerantes
à expressão de afeto negativo.
Consequências para o indivíduo
vulnerável:
1.Pede-se que mude, mas não se ensina
como.
2.“Não é tão difícil”. “Se quiser, pode
controlar”.
 3. Pune emoções negativas e reforça
emoções muito extremas.
 4. A criança não aprende a confiar em
suas próprias emoções para interpretar
acontecimentos pessoais.

O modelo de Linehan se fundamenta na relação
entre uma alta vulnerabilidade emocional e um
ambiente que invalida como mecanismo chave do
desenvolvimento de um TPB. Essa interação
produz uma instabilidade emocional. As
disfunções nas áreas comportamental,
interpessoal, cognitiva e de identidade são
tentativas de controlar a emoção ou de conseguir
o apoio do ambiente.
A Terapia Dialética Comportamental
Centra-se no treinamento de habilidades e na
validação das capacidades do paciente.
 Objetivos:
- Modulação da emotividade intensa e redução
dos
comportamentos
não
adaptativos
relacionados à variação do humor.
- Confiança
e
validação
das
próprias
experiências:
reconhecer
e
validar
as
capacidades, crenças, emoções e recursos que o
paciente possui.


Aspecto inovador da terapia:
diferentemente da TCC clássica, que visa
a mudança comportamental e cognitiva, a
TDC enfatiza a aceitação e validação para
conseguir a mudança desejada. Segundo
a autora, os indivíduos com esse
transtorno são frequentemente incitados à
mudança no ambiente em que vivem e um
tratamento que enfatizasse a mudança
poderia não surtir os efeitos desejados.
TCC = Mudança
Mudanças cognitivas
Mudanças
Mudanças comportamentais
emocionais
TDC
Aceitação
Mudança
Exemplo: No suicídio, não adianta enfatizar os
aspectos positivos da vida, pois muitas vezes
eles não existem na vida conturbada do
paciente. Demonstrar entendimento e valorizar o
sofrimento podem ser mais eficazes. Pode-se
explicar ao paciente que, para ele, o suicídio
pode ser uma solução, mas que existem outras
possíveis.
 Não se trata de uma atitude paternalista.
 A colaboração ativa do paciente é
imprescindível.
 A validação e aceitação são aspectos usuais
para o estabelecimento da boa relação
terapêutica. O diferencial da TDC é que torna
esse processo uma estratégia fundamental para
o programa de tratamento.
Visão geral do tratamento
1.
2.
3.
4.
5.
Preparar o cenário
estabelecer metas e relação
terapêutica.
Estratégias essenciais
estratégias de
validação e solução de problemas. Outras estratégias
também são usadas de acordo com as necessidades do
paciente.
Equilibrar estilos de comunicação
estilo
recíproco X estilo irreverente. Manifestação de empatia
e argumentos absurdos até alcançar o equilíbrio.
Combinar intervenção terapêutica
intervenção
com o paciente e no ambiente. Ex.: família.
Tratar o terapeuta
sessões clínicas em equipe
para lidar com a complexidade dos casos.
Aplicação do tratamento




O modo de aplicação básico é a terapia
individual.
Cada paciente terá um terapeuta que o
acompanhará.
Sessões semanais de duração entre 50 e 60 min
ou podem chegar de 90 a 110 min, dependendo
das técnicas que forem treinadas.
Como complemento da terapia individual realizase sessões em grupo com o objetivo de treinar
habilidades. O treinamento consta de 8 sessões,
uma por semana com duração de 2:30h. O grupo
é constituído por 6 a 8 pacientes e 2 terapeutas.




Após o treinamento em grupo, o paciente pode
optar por participar de grupos de apoio junto a
outros pacientes concomitantemente ao
tratamento individual.
São estabelecidas também consultas telefônicas
visando reduzir o risco de comportamentos
suicidas, aumentar a generalização de habilidades
comportamentais e reduzir sentimentos de
distância ou confrontação com o terapeuta.
Pode-se utilizar tratamentos auxiliares como o
farmacológico e internações hospitalares.
O tratamento de problemas auxiliares, como vícios,
problemas familiares e transtornos alimentares,
podem também ser necessários.
Acordos entre paciente e terapeuta



Compromisso de frequentar a terapia durante um
ano. No final, discute-se a necessidade de
continuar.
Compromisso de frequência às sessões. Se o
paciente faltar a mais de 4 sessões sem
justificativa, considera-se encerrada a terapia até
o final do ano inicialmente acordado, podendo-se
negociar o retorno após esse período.
Compromissos com as metas do tratamento:
diminuição de comportamentos suicidas,
diminuição de comportamentos que interferem na
terapia e na qualidade de vida do paciente e
treinamento de habilidades sociais.




Não cumprir compromissos é uma característica dos
indivíduos com TPB, por isso, tem-se com eles uma
certa flexibilidade avisando-os quando não estão
cumprindo os compromissos.
O terapeuta também assume o compromisso de se
esforçar no tratamento, mas deixa claro que seu
objetivo não é “salvar” o paciente. O paciente deve se
esforçar e fazer sua parte.
Deve-se abordar quais as expectativas do paciente
em relação à terapia. O paciente com TPB podem,
assim como fazer com as pessoas ao seu redor, ser
pouco realistas e ser excessivas.
O terapeuta deve declarar que seguirá condutas
éticas, confidencialidade e respeito. Compromete-se a
comparecer às sessões e a atender os telefonemas
do paciente.
Estrutura do Tratamento




O tratamento consiste em 1 pré-tratamento e 3 fases
de tratamento.
Pré-tratamento: estabelecimento de relação
terapêutica e orientação ao paciente sobre a terapia.
Primeira fase: duração de 1 ano. Estudo das metas do
tratamento. Terapias individual, em grupo e por
telefone. Diminuição de comportamentos que
interfiram na terapia e qualidade de vida.
Segunda fase: sem duração determinada. Destinada
ao tratamento do estresse pós-traumático causado
por: perdas emocionais, maus-tratos sofridos, abuso
sexual. São usadas técnicas cognitivocomportamentais.

Terceira fase: consolidação de tudo o que foi
aprendido visando prevenção de recaídas.
Nesse momento o paciente já terá tido uma
melhora e já é capaz de se comportar de uma
maneira mais adaptativa. Momento de fazer
planos realistas em variados âmbitos da vida
como profissional, acadêmico, familiar.
Redução de Comportamentos Suicidas







Atos suicidas.
Comportamentos parassuicidas: causar dano a si
mesmo, sem intenção de morte.
Idéia Suicida e comunicação da intenção de
fazê-lo.
Meta primária da terapia: Redução do suicídio.
Entender que o paciente vê o suicídio como
solução de seus problemas.
O terapeuta deve fazê-lo entender que o suicídio
não é uma solução, mas problema a mais.
A terapia oferece ajuda ao paciente para
construir uma vida que valha a pena ser vivida.

As habilidades que serão aprendidas na terapia
ajudarão o paciente a substituir formas
desadaptativas de solução dos problemas por
maneiras mais eficazes.

Substituir o valor reforçador das contingências do
comportamento suicida por outras que
pertençam às habilidades treinadas na terapia.

Quando a terapia é aceita como solução
alternativa ao suicídio, afirma-se o compromisso
de que, durante o tempo da terapia, o paciente
deve tentar respeitar o acordo de não cometer
comportamentos suicidas.

Três regras básicas com relação à
intervenção de crises suicidas:
- Os atos sempre devem ser analisados em
profundidade;
- O paciente que realiza um ato suicida não
pode chamar o terapeuta dentro de 24
horas. Mas pode recorrer aos serviços de
urgência;
- Aos pacientes potencialmente suicidas não
serão prescritos medicamentos
potencialmente perigosos.
Após ocorrer um ato suicida:
- O comportamento não pode ser reforçado com o
apoio imediato (dentro de 24 horas) do
terapeuta, já que isso poderia produzir um
aumento desses atos.
- Discute-se sobre possíveis comportamentos
alternativos que poderiam ter sido realizados.
- Atenção aos efeitos negativos do ato.
- Ressaltar que ele não serviu para solucionar
problemas.
- Validar o sofrimento do paciente e analisar os
antecedentes e conseqüentes do ato, com a
intenção de preveni-lo no futuro.

Ameaça de um ato suicida
- Avaliar fatores como disponibilidade de meios.
- Pedir para desfazer de objetos letais
(medicamentos, álcool).
- Instruir de forma enfática para que não se realize o
ato (aspectos negativos e soluções alternativas)
“Agora é uma boa oportunidade para pôr à prova o
que você está aprendendo em terapia. Vamos
analisar o que você pode fazer...”

Comportamento parassuicida na presença do
terapeuta
- Chamar a emergência, se necessário.
- Manter o contato até chegar o suporte médico.
- Manter a regra de não contatar o terapeuta em 24
horas.

Redução de Comportamentos que
Interferem no Processo de Terapia







Não comparecimento a sessões.
Não colaborar com os conteúdos da sessão.
Não cumprir com as tarefas para casa.
Na terapia em grupo, comportamentos que prejudicam
outros pacientes.
Ligações inoportunas para o terapeuta e exigências
excessivas.
Esclarecer que eles são problemas do próprio
tratamento e não são evidências de traços
indesejáveis no paciente.
Ressaltar que para o bom funcionamento da terapia é
necessário solucionar esses problemas.







Definir o comportamento que interfere;
Analisar fatores relacionados ao comportamento;
Planejar a solução do problema.
Se o paciente não estiver disposto a modificar,
discutir novamente os objetivos da terapia.
Se não for possível solucionar, encaminhar o
paciente ou abandonar a terapia por um certo
tempo.
Não culpar o paciente ou inferir que ele não quer
melhorar.
Avaliar possíveis responsabilidades do terapeuta.
Redução de Comportamentos que Interferem
na Qualidade de Vida




Avaliar os Eixos I e IV do DSM
Se problemas nesses eixos ameaçarem a
terapia, planejar tratamentos auxiliares.
Problemas econômicos, profissionais, familiares.
Abuso de álcool e outras substâncias,
comportamentos sexuais de alto risco,
comportamentos ilegais, problemas alimentares,
depressão, ansiedade, transtorno do controle
dos impulsos, etc.
Treinamento de Habilidades Comportamentais

Aprender a aplicar na vida diária novas habilidades, com
o fim de mudar padrões comportamentais, interpessoais,
emocionais e cognitivos, que causem mal-estar ao
paciente.

É realizado durante a primeira fase do tratamento.
Pode ser em grupo ou individual.





É muito difícil para esses pacientes levar o que
aprendem na terapia para a vida diária.
A instabilidade emocional pode prejudicar o processo de
aprendizagem.
Objetivo do treinamento: generalização das destrezas
adquiridas.
Praticá-las em diversos contextos.
Habilidades de Tomada de Consciência


Baseadas na filosofia oriental Zen.
Meta: aprender a assumir o controle de sua mente.
Técnicas “Que”
- Observar acontecimentos, emoções, comportamentos,
experiências.
 Técnica: Perceber o frio/quente com o tato, centrar-se na
respiração.
 Perceber os dois primeiros pensamentos que venham à mente
como em uma esteira rolante, observando sem descrevê-los e
sem parar a esteira.

- Descrever o que se observa.
 Diferenciar e classificar as experiências.
 Continuar com o exercício da esteira. Experiências similares
seguem um caminho diferente das outras e são armazenadas em
caixas diferentes.
- Participar da experiência. Tomar consciência de que é agente dos
pensamentos, sentimentos e ações.
Técnicas “Como”
Aplicadas ao mesmo tempo que as “Que”
 Como observar, descrever e participar?
- Sem julgar
- Experimentando os acontecimentos um a um.





Diferenciação julgamento/realidade.
Destacar as vantagens de ser mais consciente de
nossas experiências para poder aceitá-las ou mudar o
que trouxer problemas.
Praticadas durante todo o treinamento em habilidades.
Sempre no fim das sessões, visto que têm um efeito
benéfico sobre a ativação emocional e produzem um
estado de bem-estar, adequado para finalizar a sessão
de terapia.
Habilidades para Tolerar o Mal-Estar






Encontrar significado também no sofrimento. Ele
faz parte da vida e não aceitá-lo traz mais
sofrimento.
Se nego, inibo ou evito o mal-estar, não posso
conhecê-lo, nem conhecer os fatores associados
a ele, portanto, não poderei mudá-lo.
Perceber o que rodeia sem a pretensão de que
seja diferente.
Aceitar a realidade não é o mesmo que aprovála.
Meta: Tolerar o que ocorre em ocasiões em que
é muito difícil que elas mudem.
Aprender a enfrentar uma situação negativa sem
piorá-la.

-

-
Tática de distração
Reduz o contato com os estímulos emocionais
para poder tolerar melhor a resposta emocional.
Confortar a si mesmo
Autocuidado, explorando os sentidos.
-
Melhorar o momento
Reestruturar o significado do que aconteceu.

Analisar prós e contras de tolerar x não tolerar

Habilidades de Regulação Emocional
Conhecer e compreender as emoções
- Identificar a emoção
- Entender a utilidade e as funções da emoção


Identificar obstáculos para a mudança emocional
Reduzir a vulnerabilidade emocional
- Mudança de hábitos disfuncionais
- Aumentar emoções positivas

Reduzir o sofrimento emocional
- Utilizar as técnicas de tomada de consciência.
- Mudar as emoções dolorosas mediante comportamentos
opostos.

Habilidades Sociais


Os pacientes possuem boas habilidade sociais,
mas possuem expectativas errôneas sobre
como ele e os outros têm que se comportar nas
relações sociais.
O tratamento visa questionar as expectativas
negativas que os pacientes têm sobre a vida ao
seu redor, suas relações sociais e sobre eles
mesmos.
- Ocupar-se das relações com os outros;
- Equilibrar desejos e obrigações;
- Respeitar a si mesmo;
- Aumento da competência social.
Conclusões






O modelo biossocial indica como mecanismo etiológico
chave do TPB a interação entre uma vulnerabilidade
emocional e um ambiente invalidante.
Ele é descrito como um fracasso dialético.
Aspecto inovador do tratamento: validar as experiências
dos pacientes.
Forma: tratamento em formato individual, grupal, grupos
de auto-ajuda, consultas telefônicas e tratamentos
auxiliares.
Conteúdo: tratam da vulnerabilidade e instabilidade
emocionais, dos comportamentos suicidas e impulsivos,
as relações interpessoais, da rigidez cognitiva e das
alterações na identidade.
Esta terapia recebeu apoio empírico e existem alguns
estudos que comprovam sua eficácia. Mas é
recomendável que se realizem mais estudos sobre sua
eficácia em outros ambientes terapêuticos.
Um Caso de Transtorno de Personalidade
Borderline Atendido em Psicoterapia Dinâmica
Breve
Paulo Jannuzzi Cunha
Universidade de São Paulo
Maria Alice Salvador B. de Azevedo
Universidade Estadual Paulista - Bauru
RESUMO - Trata-se de um caso de Transtorno de Personalidade
Borderline, encaminhado para a área de Psicoterapia Dinâmica Breve
(PDB) do Centro de Psicologia Aplicada da UNESP - Bauru/SP. O foco
delimitado consistiu em trabalhar as características depressivas do
paciente, buscando ajudá-lo a elaborar o luto pela perda de sua mãe. A
análise deste caso veio corroborar a hipótese de que pacientes com
transtorno de personalidade borderline também podem ser
beneficiados com a PDB. A peculiaridade desta modalidade de
atendimento está relacionada ao estabelecimento de objetivos
terapêuticos (foco) condizentes com as reais possibilidades e limites
de cada paciente.
Palavras-chave: psicoterapia dinâmica breve; transtorno de
personalidade borderline.

O que permitiu o desenvolvimento da psicoterapia
psicanalítica (Alexander & French, 1946/1965) e,
posteriormente, da psicoterapia breve de orientação
psicanalítica ou Psicoterapia Dinâmica Breve (PDB) foram
os avanços dos estudos psicanalíticos (Knobel, 1986),
aliados às mudanças sociais e econômicas, que exigiram
uma maior flexibilidade nos modelos de assistência à saúde
mental estabelecidos até então (Azevedo, 1988).

A PDB, no entanto, não pode ser considerada uma
psicanálise abreviada, já que as suas características
configuram-lhe uma estrutura própria (Azevedo, 1983). É
uma técnica psicoterápica ativa, de objetivos e tempo
limitados, com a aplicação consciente e planejada de
conceitos psicanalíticos, dentro de uma abordagem flexível
e individualizada (Azevedo, 1985).

Mas, quem pode ser beneficiado com a PDB? Para vários
autores, há critérios psicodiagnósticos específicos,
indicando os que podem ou não ser beneficiados com uma
psicoterapia breve (Yoshida, 1990).
Relato do Caso
Identificação e descrição geral do
paciente
- Batista (os nomes são fictícios), 21 anos,
mulato, brasileiro, solteiro, cursava o
terceiro grau, era prestador autônomo de
serviços, de origem católica. O paciente
tinha estatura e peso médios e,
geralmente, vestia-se com simplicidade.

Motivo da consulta e sintomas
apresentados

Batista apresentava as seguintes queixas:
sentia-se deprimido, caótico e um "vazio";
auto-agredia-se, chegando a machucarse; mudava de estado de ânimo sem
razão aparente; indecisão; falhas de
memória e atenção; dificuldade em lidar
com as perdas; buscava uma razão para
tudo isso.
Resumo da história pregressa e atual

Batista era um menino que se considerava feliz até os 4
anos, época de muitas brigas entre seus pais. Sua mãe,
após trair seu pai, apanhou do mesmo e foi expulsa de
casa. O paciente disse que não conseguia sentir nada
ao lembrar de tudo isso, mas pensava que deveria
sentir.

O paciente tinha o costume de brincar com insetos
mortos, os quais gostava de enterrar. Quando criança
ajudava seu pai no trabalho, a quem gostava muito de
fazer perguntas. Batista era chamado de "CDF" pelos
colegas e outros garotos da escola, fato que odiava. Até
uma certa idade, urinava na calça, o que fazia-o sentirse inferior ao seu irmão. Nesta época, seu pai penteava
o seu cabelo com bastante força, para que ele não fosse
discriminado na escola por sua ascendência materna
negra.
Evolução do paciente durante o processo





O paciente veio ao CPA por iniciativa própria. No início, mostrava-se
pouco cooperativo. (...)
O primeiro objetivo psicoterapêutico foi, basicamente, conscientizar
Batista sobre a sua necessidade de atendimento e os benefícios que ele
poderia ter com a psicoterapia. Após este objetivo ter sido alcançado, o
processo transcorreu melhor e, a cada sessão, o paciente mostrou-se
mais envolvido com o tratamento.
As expectativas imediatistas de cura do paciente foram trabalhadas, e as
intervenções do psicoterapeuta pautavam-se na clarificação de que a
psicoterapia não é como um tratamento médico tradicional. É um
processo, que se constrói com o decorrer do tempo, no qual se
reelaboram aspectos da vivência pessoal, e para atingir tal objetivo ela
exige esforço, paciência e empenho do paciente.
A participação de Batista foi modificando-se, desde o início até o final da
psicoterapia. Num processo lento e gradual, sua participação e seu
envolvimento no trabalho foram aumentando; o paciente foi "abrindo"-se,
soltando-se e colaborando com a psicoterapia.
O paciente demonstrou possuir uma boa capacidade de insight durante o
processo psicoterápico

A questão da ambivalência, sempre presente no discurso do
paciente, foi trabalhada também: ele amava, mas odiava; ele
queria, mas não queria; ele gostava, mas não gostava; não
sabia se era negro ou branco: Eu sou sempre
indefinido...quando o assunto é de raça, me incomoda:
porque eu não sou nem preto, nem branco; psicologicamente,
eu não sei quem sou.

Ele era mestiço, filho de uma mãe negra e de um pai branco.
Além deste aspecto, a sua história de vida mostrava indícios
de como isso foi sendo construído. Sua mãe foi uma mãe boa
e carinhosa no início (Eu era o xodó dela e ela me defendia),
mas Batista também achava que ela foi muito má, por ter
traído o pai e abandonado os filhos (minha mãe aprontava
com um vendedor que passava lá em casa, por isso fiquei do
lado do meu pai e é como se ela tivesse merecido o que
aconteceu). Por outro lado, o seu pai foi mau, pois não
perdoou a sua mãe, expulsando-a de casa, e, ainda, porque
não tinha Batista como seu xodó; mas, também foi muito
bom, pois foi ele quem cuidou dos filhos.


Apresentava em certos momentos idéias confusas e
lapsos de memória, principalmente quando o assunto
era um pouco mais delicado para ele: Onde é que eu
estava? ou Por que eu estava falando disto?. O curso do
pensamento era então interrompido, e isto ocorria mais
no início da terapia, ao falar do abandono da sua mãe
e/ou de brigas com a namorada atual. Foi-lhe apontado
que este bloqueio cognitivo parecia estar mais ligado a
uma defesa, ao deparar-se com situações e vivências
difíceis de suportar, intervenção esta que lhe trazia
maior controle e permitia uma continuidade da reflexão.
Da mesma forma, suas ideações paranóides vinham em
momentos em que o paciente falava de assuntos mais
profundos e ansiógenos, porém à medida em que estas
questões eram clarificadas, o paciente voltava à
realidade.
Era também nos momentos mais complicados da vida
de Batista que suas "crises" apareciam, como após uma
discussão com a namorada. Relatava ter dificuldade em
descrever o que sentia em suas "crises".
Término do processo


A visão de Batista sobre a terapia foi se
modificando com o decorrer das sessões. Eis o
que ele verbalizou no final:
“É bom fazer terapia, pois nessas horas eu me
sinto melhor. Agora, eu sei mais quem eu sou.
Eu me apoiei em alguma coisa...e isso me dá
alívio; Eu estou contente por ter passado um
tempo e agora eu vir para cá, sem ficar achando
que não vale a pena. Antes, eu entendia bem
menos o que estava fazendo aqui. Você vai se
descobrindo.”
Tratamentos psicodinâmicos para
os pacientes borderline

Hegenberg (2000) considera a psicanálise uma
esperança para os borderline. Embora a psicanálise
seja uma possibilidade de atendimento, nem todos
os pacientes têm condições econômicas para se
submeter à mesma. Os profissionais que têm
experiência de trabalho em clínicas comunitárias em
nosso país conhecem a realidade brasileira e a
dificuldade de uma grande parcela da população
para pagar um atendimento psicológico. Muitos dos
pacientes atendidos nessas clínicas têm dificuldade
financeira até para pagar a condução para poderem
comparecer às suas sessões.
Conclusões


Como foi possível observar neste relato, o atendimento ao
paciente borderline é desafiante. Coloca em xeque a capacidade
técnica, teórica e de tolerância do terapeuta, bem como o próprio
sistema de atendimento em saúde mental. Como afirma
Hegenberg (2000), o paciente borderline tem algo a nos ensinar,
colocando uma lente de aumento nos problemas humanos e
sabendo como ninguém o que é o intangível e assustador "nada"
(ídem). Não raramente, o borderline induz o profissional ao
enfrentamento de suas próprias situações-limite, em que os seus
sentimentos vêm à tona de um modo muito intenso e particular,
proporcionando-lhe uma experiência clínica e de crescimento
pessoal incomparável.
A análise deste caso veio corroborar a hipótese de que é possível
atender pacientes com transtorno de personalidade borderline
dentro da PDB. No caso relatado foram alcançados vários
objetivos, dentre os quais destacam-se: 1) a conscientização do
paciente no tocante a sua patologia e necessidade de tratamento;
2) elaboração da perda de sua mãe; 3) compreensão de alguns
aspectos significativos de sua história de vida
TRANSTORNO DE PERSONALIDADE
BORDERLINE:
ESTRATÉGIAS NÃO MEDICAMENTOSAS EM UM
CASO DE DIFÍCIL CONTROLE
MARCELO NIEL TEIXEIRA , MAURO ARANHA DE LIMA. , MARSAL SANCHES.
RESUMO:
Objetivo: Os autores relatam a experiência de manejo em
enfermaria de um caso de transtorno de personalidade
borderline.
Método: Foram adotados padrões de conduta no manejo da
paciente durante a internação, tais como: (a) ênfase em
atividades extra hospitalares visando estimular condutas
saudáveis; (b) não supervalorização das atuações da paciente;
(c) estimular a expressão das emoções da paciente em
substituição às atuações.
Resultados: As técnicas empregadas se demonstraram eficazes na
evolução da paciente.
Conclusões: Diante dos resultados positivos, os autores propõem
que tais técnicas de manejo possam ser utilizadas em outros
pacientes
Relato do caso

Paciente de 25 anos, sexo feminino, raça amarela,
segundo grau completo e com formação técnica em
instrumentação cirúrgica, com diagnóstico de Transtorno
de Personalidade Borderline, segundo os critérios
diagnósticos do DSM-IV. Embora houvesse relatos de
padrões disfuncionais desde o início da adolescência, a
mesma foi encaminhada para seguimento psiquiátrico
apenas aos 18 anos, em razão de cefaléias crônicas
sem etiologia orgânica explicável. Na época, foi
submetida a exaustiva investigação diagnóstica,
inclusive com realização de tomografia computadorizada
de crânio e punção liquórica. Passado algum tempo,
evoluiu com atitudes pueris, crises de choro freqüentes,
dificuldade de deambulação (passando a engatinhar
pelo chão constantemente) e ideação suicida constante.
Sua primeira internação psiquiátrica se deu aos 19 anos,
após episódio de intoxicação exógena auto infligida com
ácido valpróico.
Última internação
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Em outubro de 2000, a paciente foi trazida ao
pronto-socorro de nosso serviço por policiais e
pela família após auto-lesão intencional em
punhos com objeto cortante. Apresentava
aparência pessoal descuidada, higiene precária,
discurso perseverante com idéias autoagressivas, agitação psicomotora importante.
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Tão logo a paciente foi internada, diversos
comportamentos disfuncionais passaram a ser
observados pela equipe. No período da noite, a
paciente sistematicamente acordava outros
pacientes para que a auxiliassem a conseguir seu
intento, que informava ser o de se enforcar
utilizando o lençol. Uma postura de excessiva
dependência da paciente às demais pessoas,
particularmente à equipe, foi constatada, com a
paciente se recusando a realizar atos de higiene
pessoal (apenas tomava banho se auxiliada pela
equipe de enfermagem) e se recusava a comer
caso não lhe dessem a comida na boca. Além
dessas atitudes, a paciente batia constantemente
a cabeça contra a parede, e também engolia
objetos metálicos. Em razão de tais crises de
agitação, constantemente a paciente recebia
medicações injetáveis (midazolan)
Estratégia de Manejo
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Nas reuniões clínicas com a equipe multidisciplinar, optou-se por
adotar algumas condutas que facilitassem o manejo da paciente:
(1) não supervalorizar as suas atuações no momento em que
ocorressem e em momento oportuno interpretar o significado
“oculto” dessas atuações; (2) estimular a sua autonomia,
diminuindo sua dependência em relação às outras pessoas; (3)
valorizar os aspectos positivos, saudáveis do seu comportamento
e estimular a perpetuação desses, através de “reforço positivo”.
Como forma de colocar em prática essas novas condutas de uma
forma mais dinâmica com a paciente, optou-se por dar preferência
a atividades externas ao hospital, procurando deslocar a paciente
da posição de paciente psiquiátrico, estimulando atividades de
uma pessoa normal, através de idas ao supermercado, realização
de atividades culinárias, passeios em parques e avenidas, sempre
valorizando os seus comportamentos saudáveis.
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Quando a paciente insistia com a temática das
auto-lesões intencionais como forma de prazer,
procurava-se ressaltar outras atividades
prazerosas que estavam acontecendo naquele
momento e que poderiam substituir as atitudes
que a paciente sugeria.
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Outro fator importante foi a conduta de não
supervalorizar suas atuações, pois percebia-se
que, quanto mais importância a elas, mais ela
atuava.
Evolução e Resultados
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Com as técnicas empregadas no manejo desse caso,
pode-se verificar resultados excelentes da evolução da
paciente: (a) a paciente não precisou mais receber
medicação injetável; (b) foi possível a diminuição gradual
das medicações em uso, como a suspensão da
Gabapentina e do Clonazepam.; (c) houve diminuição da
freqüência e da duração das atuações;(d) ocorreu
aprimoramento na expressão verbal das suas emoções,
dificuldades e angústias; (e) houve um progresso
importante na participação da família, que foi a
aproximação do pai da paciente, outrora ausente, que
passou a realizar tais atividades junto da paciente, onde foi
possível mostrar atitudes positivas e saudáveis da
paciente, ressaltar a sua condição real de autonomia e
fortalecer um vínculo saudável com alguém da sua família.
Conclusão
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O caso descrito acima ilustra a
importância de se elaborar uma estratégia
terapêutica adequada para o paciente,
procurando sempre conservar a clareza
dos propósitos na instituição do
tratamento.
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