SOCIOLINGUÍSTICA Emílio Gozze Pagotto Marcos L. Wiedemer - Discente Dr. Roberto G. Camacho - Docente Introdução Social + linguístico = Diversas abordagens Reação ao pensamento estruturalista e gerativista Esse modelo teórico-metodológico rompe com correntes anteriores (estruturalismo e gerativismo) que analisavam a língua como uma estrutura homogênea, resultante da aplicação de regras categóricas, passível de ser estudada fora de seu contexto social. A Sociolinguística permitiu uma nova abordagem, mostrando a variação sistemática motivada por pressões sociais e também linguísticas, e postulando que é na heterogeneidade da língua que se deve buscar a estrutura e o funcionamento do sistema. Objetivo do autor, “Pretendo apenas fazer o exercício de descrever determinadas práticas científicas normalmente cobertas pelo rótulo sociolinguística procurando ver o que elas têm em comum e o que as diferencia” (p. 51). Por que diferentes abordagens são reunidas sob o rótulo de sociolinguística? Um dos traços fundamentais da sociolinguística: “pressupõem a autonomia do sistema linguístico para depois proporem a inter-relação com o mundo social” (p.51). Como é possível o sistema linguístico ser, ao mesmo tempo, autônomo e dependente com relação à estrutura social na qual está engendrado? 1 O objeto de estudo Linhas de pensamento usualmente reunidas sob rótulo sociolinguística se estabelecem a partir do lugar que privilegiam para as intersecções entre língua e sociedade: Teoria da Variação e Mudança Etnografia da Fala Sociologia da Linguagem Dimensões do trabalho em sociolinguística: Linguística Extra-linguística Plano espacial Plano social Plano contextual Plano temporal Plano histórico 2 Formas variantes linguísticas “Toda língua é heterogênea, o que significa que toda língua comporta no seu interior formas em variação. O que são formas em variação? A grosso modo, formas em variação são maneiras diferentes de dizer” a mesma coisa” (p. 54). Para Labov (1978): “Trata-se de diversas maneiras de dizer a mesma coisa em um mesmo contexto e com o mesmo valor de verdade, ou com o mesmo sentido referencial”. “Essa constatação leva à conclusão falsa de que a língua é um fenômeno de tal sorte heterogêneo que se tornaria praticamente impossível estudar tal heterogeneidade de maneira sistemática e conseqüente” (p. 55). Esse novo modo de “olhar” a língua permitiu analisar e descrever o uso de variáveis linguísticas pelos indivíduos em uma determinada comunidade de fala, como também mostrou que a presença da heterogeneidade governada por regras variáveis é o que permite ao sistema linguístico se manter em funcionamento mesmo nos períodos de mudança linguística. Dessa forma, para WLH (1968, p. 100, tradução nossa) “é necessário aprender a ver a linguagem do ponto de vista diacrônico e/ou sincrônico, como um objeto possuidor de heterogeneidade sistemática”. 2.1 Significação social das formas variantes “O momento da enunciação é aquele em que para cada lugar de variação da língua o falante faz uma escolha. Essa escolha se dá em função da relação de interlocução na qual é posto. Em função dela, o falante revela quem ele é (ou quem ele quer parecer que é), para alguém que ele imagina ser, em função do lugar onde se encontraram. Aqui é importante lembrar que a enunciação não interessa pelo que tem de particular, o momento único na vida dos interlocutores, mas pela maneira como o que está antes determina a maneira pela qual se dá a relação” (p. 57) 2.1.1 A noção de comunidade linguística ...como enfatiza Labov (1972) o sistema variável que coloca à disposição do falante as formas em variação. Podemos pensar o conjunto de falantes de uma língua como a comunidade linguística, ou podemos pensar apenas os surfistas da praia da Joaquina como uma comunidade linguística. (p. 57) A sociolingüística, ao trabalhar com o conceito de comunidade de fala, procura estabelecer que características um grupo de falantes compartilha para então embasar suas pesquisas e relacionar quais fatores estariam atuando na variação e na mudança da língua. Com isso, busca definir as semelhanças e as diferenças lingüísticas de um grupo, e a razão pela qual certos grupos de falantes compartilham traços lingüísticos que os distinguem de outros grupos, voltando-se ao exame da língua tal como ela é produzida por estes. Para Labov (1968) “A comunidade de fala não se define por nenhum acordo marcado quanto ao uso dos elementos da língua, mas sobretudo pela participação em um conjunto de normas estabelecidas. Tais normas podem ser observadas em tipos claros de comportamento avaliativo e na uniformidade de modelos abstratos de variação, que são invariantes com relação aos níveis particulares de uso” (grifo nosso). Baseado na proposta laboviana, Guy (2000; 2001) apresenta algumas propriedades frequentes na literatura sociolinguística sobre CF, que podem ser assim resumidas: a) Características linguísticas compartilhadas: isto é, palavras, sons ou construções gramaticais que são usadas na comunidade, mas não fora dela. b) Densidade de comunicação interna relativamente alta: isto é, as pessoas normalmente falam mais com outras que estão dentro do grupo do que com aquelas que estão fora dele. c) Normas compartilhadas: isto é, “atitudes em comum sobre o uso da língua, normas em comum sobre a direção da variação estilística, avaliações sociais em comum sobre variáveis linguísticas”. 2.1.2 A dimensão espacial Uma comunidade linguística pode ser concebida espacialmente. Dessa forma, há a possibilidade de relacionar cada uma das variantes a uma determinada região geográfica do Brasil. Áreas de estudo: Dialetologia Geografia linguística Ver transparência 2.1.2.1 O conceito de dialeto Na moderna dialetologia, é uma noção relativa, tanto do ponto de vista geográfico quanto do ponto de visa linguístico. Do ponto de vista geográfico, falaremos sempre de um dialeto com relação a um outro. Do ponto de vista linguístico, um dialeto seria um sistema caracterizado por um conjunto de variantes linguísticas específicas – em contraste com outro (s) dialeto (s) que se caracterizariam por outras variantes. 2.1.2.2 A dimensão espacial e a identificação do sujeito Determinados traços linguísticos, quando de natureza dialetal geográfica, tendem a marcar profundamente os falantes. De um outro lado, mesmo que um falante rejeite conscientemente uma determinada característica de seu dialeto, costuma ser muito difícil o abandono completo de tal característica, especialmente, quando se trata de marca fonológica. Assim, no processo de interação social, nos momentos de enunciação, tais marcas linguísticas aparecerão, no jogo da interlocução, como características definidoras de cada interlocutor. 2.1.3 A dimensão social Os significados sociais que decorrem dos papéis sociais podem determinar o funcionamento das formas linguísticas, quando se trata de partes da língua cuja função é, por exemplo, a referência aos participantes da enunciação. Esse tipo de investigação é predominantemente abordado pelas teorias ligadas à etnografia da fala, área na qual a preocupação central é justamente o conjunto de “regras sociais” que determinam funcionamentos linguísticos, o qual faria parte do conhecimento linguístico do falante. 2.1.4 A dimensão temporal Variação: Variação estável Mudança em progresso 3 Metodologia Paradoxo do observador Idealmente, queremos saber como as pessoas utilizam a língua quando não são observadas, pois, quando os falantes sabem que são observados, produzem um troca para um estilo mais formal. F1 F2/O G 1) Os dados deverão estar disponíveis, o que implica algum tipo de registro; 2) O grau de interferência do observador deve ser o menor possível; 3) O falante precisa saber que está sendo gravado e que será objeto de análise; 4) O anonimato do falante deve ser preservado. Assuntos: Namoro/casamento Sonhos. Religião. Jogos. Escola. Língua. Família. Comida. Relatos de fatos passados. Trabalho.