Estudos de Utilização de Medicamentos Novembro, 2009 Estudos de Utilização de Medicamentos Os EUM vêm sendo desenvolvidos pela indústria farmacêutica durante as últimas décadas e têm como principal função municiar a indústria com informações sobre o consumo dos medicamentos e do comportamento dos prescritores Este tipo de atividade tem sido também chamado de pesquisa de mercado, onde firmas criam banco de dados para vender informações para a indústria farmacêutica BJORNSON, SERRADELL, HARTZEMA, 1999 Em meio acadêmico os EUM começaram a ser desenvolvidos a partir do desastre com a talidomida A partir deste episódio foram desenvolvidos vários trabalhos que buscaram responder diversas questões a respeito de medicamentos, tanto no âmbito da farmacologia clínica, da sociologia, da economia, da política de medicamentos, etc Em 1977 a Organização Mundial de Saúde definiu utilização de medicamentos como sendo: a comercialização, a distribuição, a prescrição e o uso de medicamentos em uma sociedade, com ênfase especial nas conseqüências médicas, sociais e econômicas EUM são ferramentas que servem: para analisar avaliar monitorar as questões relacionadas ao medicamento, não apenas os seus aspectos médicos, mas também seus aspectos sociais e econômicos, subsidiando a discussão de uma política de medicamentos, e em um âmbito mais amplo, de uma política de saúde BAKSAAS & LUNDE, 1986 Os EUM contribuem para a promoção de uma prescrição mais racional na medida em que orientam intervenções educacionais e regulamentadoras baseadas em problemas levantados pelos estudos Os EUM fazem parte dos estudos de fase IV ou de vigilância póscomercialização. Têm-se mostrado adequados para se estimar os riscos a que a população está exposta quando faz uso de medicamentos, bem como os benefícios do seu emprego. Permitem conhecer quais são os fatores que influenciam as atitudes relativas à prescrição ou o consumo de medicamentos Quantificar o uso inadequado de medicamentos Estudar as causas da não adesão ao tratamento Determinar o abuso de medicamentos Estabelecer o resultado de medidas educativas, Estabelecer a relação de custo/ benefício/ segurança de um medicamento Orientar de modo mais eficaz a alocação de recursos orçamentários para uma política de medicamentos. É também uma abordagem que possibilita conhecer, comparar e aprimorar os hábitos de diferentes grupos de prescritores, por meio da análise da escolha do medicamento e da forma com que foi proposto seu uso (indicação, dose, intervalo e tempo de tratamento) Permite conhecer os efeitos adversos a curto e ao longo prazo, quais são os fatores de risco associado com a predisposição genética, as doenças e o meio ambiente, nutrição, sexo, idade, gestação, lactação, etc. Como avaliar medicamentos? O consumo de medicamentos pode ser expresso de várias maneiras: pode-se analisar o número de comprimidos dispensados o número de embalagens vendidas ou dispensadas a dose média de um dado medicamento dispensada por paciente quantificação dos gastos ou custos com medicamentos número de itens em uma prescrição Avaliação da qualidade da oferta, do uso e dos riscos do uso de medicamentos Mas estas medidas permitem comparações? Esses modos de se analisar o medicamento em muitos casos oferecem limitações. Por que? Podem haver mudanças nos mercados ao longo do tempo Comparações entre países podem ser limitadas devido a diferenças nas embalagens, apresentações farmacêuticas disponíveis, etc Por que o Sistema DDD/ ATC? Desenvolvido para que pudessem ser feitas comparações, já que as unidades de medida de consumo de medicamentos podem variar de um local para outro e não permitem a comparação entre grupos distintos. É uma medida arbitrária desenvolvida pelo Nordic Council on Medicines da Noruega, que foi adotada pela Organização Mundial de Saúde como sendo uma medida para a comparação das estatísticas de consumo de medicamentos WHO, 2000 Sistema DDD/ ATC DDD: Defined Daily Dosis ATC: Anatomical Therapeutic Chemical Classification Classificam os medicamentos O objetivo deste sistema é servir como ferramenta para os estudos de utilização de medicamentos para a promoção do seu uso racional. A DDD é uma unidade internacional de medida de consumo que é expressa para cada medicamento na sua a dose média diária na sua principal indicação terapêutica. Diretrizes para a DDD Sempre que possível será expressa na forma do peso de sua substância ativa Devido a razões práticas a DDD se baseia o seu uso em adultos, exceto em medicamentos que somente sejam usados em crianças Quando a dose de um medicamento é diferente da dose de manutenção, observase a última Diretrizes para a DDD Para medicamentos usados em profilaxia e tratamento a DDD se refere à dose terapêutica. Então se a principal indicação do medicamento for profilaxia, a DDD corresponde a esta última Para medicamentos administrados com doses distintas de acordo com a via de administração, serão estabelecidas diferentes DDD de acordo com cada via de administração Em geral o número de DDD consumidas em um país, localidade é expressa por 1.000 habitantes por dia Em hospital é expressa em 100 leitos por dia Exemplo: Diazepam tem a sua DDD de 10 mg. Se um indivíduo usa 2 DDDs, significa que está tomando o dobro da dose diária recomendada, ou seja 20 mg. Agora se a dimensão tempo for adicionada a DDD, um consumo de 2 DDDs de diazepam em uma determinada população por um determinado período de tempo poderá ser ou não considerado alto. Aplicações do Estudo Quantitativo do Consumo de Medicamentos Descrição do consumo de medicamentos em determinada localidade Detecção de desvios de consumo Detecção de diferenças internacionais e nacionais de consumo Avaliação de programas de intervenção (ações regulatórias, informativas) Denominador de consumo para avaliações de relação de risco/ benefício Cálculo do consumo em DDD No. de DDD/ 1.000 hab/ dia: Quantidade de medicament o vendida em um ano (mg) x 1000 DDD (mg) x 365 dias x número de habitantes No. de DDD/ 100 leitos/ dia: Consumo de determinad o medicament o em um período (mg) x100 DDD (mg) x número de dias do período x número leitos x % ocupação Vantagens da DDD Permite comparações de um período para outro dentro de um mesmo país sem que os resultados sejam afetados pela mudança de preços ou apresentações Permite fazer comparações internacionais Dá uma idéia da população que usa o medicamento Limitações da DDD Existe ampla variabilidade inter-individual entre a dose prescrita e a tomada Às vezes um fármaco possui mais de uma indicação, com doses distintas para cada uma Nem todos os fármacos vendidos não consumidos Não equivale a dose média prescrita Não equivale a dose média ingerida Às vezes o denominador não é necessariamente toda a população Limitações da DDD Em comparações internacionais tem que ser levado em conta as diferentes estruturas populacionais distintas É pouco útil para refletir o consumo de medicamentos quando existe as combinação dose-fixa de dois ou mais princípios ativos são parte importante no mercado farmacêutico de um local ATC No sistema de classificação ATC os medicamentos são divididos em diferentes grupos de acordo com órgãos ou sistemas que os medicamentos agem e suas características físicas, farmacológicas e propriedades terapêuticas. Grupos da Classificação Anatômica Terapêutica A – Aparelho digestivo e metabolismo B – Sangue e órgãos hematopoiéticos C – Sistema cardiovascular D – Dermatologia G – Aparelho genito-urinário H – Hormônios de uso sistêmico, exceto os sexuais Grupos da Classificação Anatômica Terapêutica J – Antiinfecciosos de uso geral L – Terapia anti-neoplásica M – Sistema musculoesquelético N – Sistema nervoso central P – Antiparasitários R – Sistema respiratório S – Órgãos dos sentidos V - Vários Codificação de Medicamentos - exemplos Cimetidina A – Aparelho digestivo e metabolismo A02 – Antiácidos, antiflatulentos e antiulcerosos A02B – Antiulcerosos A02BA - Antihistamínicos H2 A02BA01 - cimetidina Codificação de Medicamentos - exemplos Diazepam N – Sistema nervoso central N05 – Psicolépticos N05B – Ansiolíticos N05BA – Derivados Benzodizepínicos N05BA01 - Diazepam Vendas de antihipertensivos na Noruega entre 1971 -1978 90 DDD/ 1.00 hab/ dia 80 70 custo do medicamento 60 50 DDD 40 30 20 10 0 1971 1972 1973 1974 1975 ano 1976 1977 1978 Consumo de antiinflamatórios em vários países europeus 6 DDD/ 1000 hab/ dia 5 4 ibuprofeno cetoprofeno piroxicam 3 2 1 0 1980 1981 1982 1983 Ano 1984 1985 Prevalência de antipsicóticos por 1000 antipsicótico, por ano, Funen, Dinamarca. habitantes, por tipo Tipo de antipsicótico Ano baixa dosagem média dosagem alta dosagem atípico 14 Pr ev alênc ia/100 0 hab 12 1993 Baixa Média Alta Atípico f/ prevalência f/ prevalência f/ prevalência f/ prevalência 3366 3421 4195 258 9.49 9.64 11.82 0.73 3030 3472 3998 254 8.50 9.74 11.21 0.71 2734 3453 3813 263 7.64 9.65 10.65 0.73 2706 3375 3817 315 7.51 9.37 10.60 0.87 2495 3454 3606 393 6.91 9.57 9.99 1.09 2440 3174 3387 553 6.76 8.79 9.38 1.53 2157 2935 3154 780 5.97 8.13 8.73 2.16 10 1994 8 6 1995 4 1996 2 1997 0 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 Ano 1998 1999 de Dose definida diária (DDD/ 1000 hab/ dia) de antipsicóticos de acordo com estratos etários por ano, Funen, Dinamarca. Estratos Etários Ano 20-29 30-39 40-49 50-59 60-69 70-79 80-89 90 1993 2.52 6.16 8.19 9.48 9.61 7.17 8.51 10.81 1994 2.44 5.97 8.61 9.14 9.46 6.94 8.67 9.45 1995 2.63 6.50 8.80 9.33 9.68 7.06 8.78 9.84 1996 2.52 7.16 8.96 9.90 9.36 7.24 8.09 10.23 1997 2.49 7.38 9.83 9.68 9.05 7.64 7.75 11.13 1998 2.62 7.79 11.40 9.73 9.30 7.38 7.94 10.31 1999 2.72 7.70 11.16 9.65 9.06 7.65 7.50 9.03 Distribuição dos antimicrobianos mais dispensados, de acordo com a classe A da classificação ABC, HC UNICAMP, 2007 Consumo Médio Mensal Custo Total Mensal (R$) Cefepima 100mg fr/ amp 1.990 6.553,00 Imipenem 500mg fr/ amp 1823 27.600,00 Vancomicina 500mg fr/ amp 1.642 4.597,00 Ampicilina sódica + inibidor 3g fr/ amp 1.269 Amoxicilina + clavulanato 1g fr/ amp 1.060 Piperacilina 4g + tazobactam 0,5g fr/ amp 771 Levofloxacina 500mg 313 4.059,00 Meropenen 500mg fr/ amp 299 6.136,00 Voriconazol 200mg cap 47 7.466,00 Voriconazol 200mg fr/ amp 39 21.060,00 Medicamento 7.744,00 3.854,00 4.626,00 Distribuição dos antimicrobianos mais dispensados que são de controle pela CCIH e sua DDD/ 100 leitos/ dia, 2007 Medicamento Número de unidades DDD/ 100 leitos/ dia Piperacilina 4g + tazobactam 0,5g fr/ amp 9.340 25,2 Ampicilina sódica + inibidor 3g fr/ amp 15.376 20,5 Ciprofloxacina 500mg fr/ amp 18.788 16,90 Oxacilina 500mg fr/ amp 55.309 12,44 Imipenem 500mg fr/ amp 22.369 5,03 Vancomicina 500mg fr/ amp 20.763 4,67 Amoxicilina + clavulanato 1g fr/ amp 12.079 3,6 Ceftazidima 1g fr/ amp 12.069 2,7 Cefepima 100mg fr/ amp 28.061 1,2 Consumo de medicamentos com potencial de interação medicamentosa, grupo dos antiulcerosos (A02B), expresso em DDD/ 100 leitos/ dia, 2007 Medicamento Omeprazol cápsula Omeprazol injetável Ranitidina injetável Ranitidina cápsula Total Fonte: HC UNICAMP, 2007 A02BC01 DDD/ 100 leitos/ dia 36,77 A02BC01 12,16 A02BA02 70,92 A02BA02 9,71 A02B 129,56 ATC Omeprazol interações Voriconazol, interação risco moderado Metotrexate, interação risco alto Indinavir, interação risco alto Carbamazepina, interação risco moderado Warfarina, interação risco moderado Tacrolimus, interação risco moderado Ciclosporina, interação risco moderado Ampicilina, interação risco moderado Midazolam, interação risco moderado Fonte: Micromedex, 2008 Ranitidina interações Warfarina, interação risco moderado Risperidona, interação risco moderado Cetoconazol, interação risco moderado Midazolam, interação risco moderado Metformina, interação risco moderado Diltiazem, interação risco baixo Fonte: Micromedex, 2008