A Gramática do Tempo: para uma nova cultura política Boaventura de Sousa Santos (2008) Julho/2009 Boaventura de Sousa Santos Boaventura de Sousa Santos Professor catedrático na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, nascido em 1940, em Coimbra, é Diretor do Centro de Estudos Sociais (C.E.S.) e da sua revista, a Revista Crítica de Ciências Sociais. Tem-se debruçado sobre as questões da cidadania, dos modos de produção de poder social, da análise da sociedade portuguesa e da globalização. RESUMO Esse volume trata da reconstrução da tensão entre regulação social e emancipação social como condição para voltar a pensar e querer a transformação social emancipatória. Com base no que é designado por “epistemologia do sul”, propõe-se um pensamento alternativo de alternativas. Ante o colapso do contrato social da modernidade ocidental capitalista e colonial e a proliferação de fascismos sociais, é necessário reinventar a democracia, a cultura política e o próprio estado, em alternativa à democracia de baixa intensidade que hoje domina. São propostas formas de democracia de alta intensidade através das quais é possível expandir os espaços públicos, tanto estatais como não estatais. As análises neste volume centram-se em articulações entre os espaços-tempo local, nacional e global 1ª PARTE: A construção intercultural da igualdade e da diferença. Kênia e Newton Introdução O significado da Desigualdade e Exclusão na Modernidade Ocidental; Princípios Emancipatórios da vida social: A Igualdade, a liberdade e a cidadania; A desigualdade e a exclusão: incidentes do processo societal que não tem legitimidade, onde a única política social legítima é a que define os meios para minimizar uma e outra. As Sociedades sujeitas ao Colonialismo Europeu; O paradígma da modernidade ocidental; Contradição: Princípios da Emancipação X Princípios da Regulação; O Autor se ocupa neste capítulo dessa segunda contradição. A Desigualdade e a Exclusão na Modernidade Ocidental Desigualdade e Exclusão: Sistema Hierárquico Desigualdade ---- quem está em baixo ------- está dentro Exclusão ------ quem está em baixo ------- está fora Para Boaventura, os grupos sociais inserem-se simultaneamente nos dois sistemas em combinações complexas. Teorizador da Desigualdade Karl Marx --- Fenômeno sócio-econômico Teorizador da Exclusão Foucault --- Fenômeno cultural e social Outras formas de Hierarquização: o Racismo e o Sexismo Para Boaventura o racismo e o sexismo são dispositivos de hierarquização que combinam a desigualdade e a exclusão. A Escravatura --- grau extremo da desigualdade O Extermínio --- grau extremo da exclusão A desigauldade, exclusão, o racismo e sexismo --- construídos socialmente início expansão capitalista: o sistema mundial. “ A Regulação Social na Modernidade Capitalista, ao mesmo tempo que gera desigualdade e exclusão, estabelece mecanismos que visam uma gestão controlada do sistema de desigualdade e de exclusão, e com isso a redução das possibilidades de emancipação social, sendo que no campo social tiveram sempre que se defrontar com os movimentos anti-sistêmicos e sua proposta de radical igualdade e inclusão. No início os movimentos concentram-se na desigualdade entre patrão e operário e entre senhor e escravo, logo em seguida as lutas contra a exclusão: a luta feminista, a luta anti-racista e a luta anti-colonialista”. A Biodiversidade e a Biotecnologia Irracionalidade e inferioridade dos povos não europeus em relação aos europeus ---- conhecimentos científicos ocidentais. Paradoxo: conhecimentos não científicos dos povos indígenas e camponeses A biodiversidade --- Asia, Africa e América do Sul Paradígma das Relações: conhecimentos e povos O Novo reconhecimento do outro ---- velho processo colonial de exploração Contribuição das comunidade indígenas e camponesas Surgimento das Multinacionais -- Apropriação sem contrapartida – Patentes Resultado: 70% concentrado nos países centrais Países do Sul global X Países central O discurso da proteção da biodiversidade – A culpa do Sul – a solução do probl. Discurso colonial: “imperialismo ecológico ou verde” ou “bio-imperialismo” Propriedade Industrial: conhec. das empresas x conhec. Indígenas O debate sobre as condições de acesso aos medicamentos Consequ6encias: o genocídio e a integração dos territórios e conhecimentos Universalismo do Desenvolvimento e da Exclusão A gestão moderna e capitalista da desigualdade da exclusão é um processo político multidimensional. O dispositivo ideológico da gestão da desigualdade e da exclusão é o universalismo que assumi duas formas contraditórias: Universalismo antidiferencialista – que opera pela negação das diferenças; descaracterização das diferenças e identidades absolutizando uma delas e ignorando as demais dessa forma, intensifica as hierarquias que existem entre as diferença ; Universalismo diferencialista – que opera pela absolutização das diferenças; intensificação abstrata de várias diferenças e identidades perdendo de vista os fluxos desiguais. O Universalismo antidiferencialista confrontou a desigualdade através das políticas sociais de Estado-Providência nos países centrais, através das políticas desenvolvimentistas os países periféricos e semi-perifericos, e nus e noutros através da política assimilacionista. Gestão da Desigualdade O modelo de regulação social esta em crise Modelo: gestão controlada das desigualdades e da exclusão nomeada através da social- democracia e do EstadoProviência. Estado-Providência: as políticas sociais e econômicas centram-se na desigualdades, e as políticas culturais e educacionais, na exclusão. As políticas sócias assentam-se em dois fatores: Processo de acumulação capitalista – exige integração pelo consumo dos trabalhadores e das classes populares. Confrontação no campo social – proposta alternativa mais igualitária e menos excludente. Social-Democracia: Assenta-se num pacto social. Ex: trabalhadores e patrões renunciam reivindicações e lucros com o fim de promover a distribuição mínima de riqueza. Transformações que desestrutura os protoganistas sociais democráticos. Esta regulação está a ser posta em causa por qualquer das duas características de transformação do Estado. Desnacionalização do Estado: esvaziamento da capacidade de regulação do Estado sobre a economia política nacional. Desestatização do Estado nacional: uma nova divisão de trabalho regulatório entre o Estado, mercado e comunidade., o ocorre tanto nas políticas econômicas, quanto nas sociais. Essa transformação do Estado são causas da crise da social democracia, mas por outro lado, alimenta-se dela. As Metamorfoses do Sistema de Desigualdade e do Sistema de Exclusão Tais metamorfoses são em grande medida produzidas ou condicionadas pela intensificação do processo de globalização, tanto no domínio da economia quanto na cultura. As relações imperiais organiza-se desigualmente ao longo de dois eixos: Eixo Norte - Sul: imposição da cultura ocidental; sistema de exclusão começa a dominar e pela forma mais extrema, o extermínio das culturas que não se adaptam as referências européias. Depois do extermínio, a segregação, e, portanto o sistema de igualdades Eixo Ocidente-oriente: Ao contrario da colonização européia foi mais fragmentarias e a modernidade capitalista teve mais dificuldade de se impor com o paradigma cultural. A emergência de blocos internacionais UE, ALCA, MERCOSUL- esta nova economia duplica-se no modelo neoliberal. Os impactos dessa economia política no sistema de desigualdade é devastador , transformando-o em sistema de exclusão A Articulação Entre Políticas de Igualdade e Políticas de Identidade Os sistemas de Desigualdade e Exclusão: a sua constituição, a sua consolidação e suas metamorfoses ocorrem no campo das relações conflituosas, onde intervêm grupos sociais. Fator classe possui papel preponderante; há crescimento quando associado a raça, etnia e sexo; A gestão controlada das desigualdades e exclusão não foi uma iniciativa autônoma do Estado capitalista, foi antes o produto de lutas sociais que impuseram ao Estado políticas redistributivas e formas menos extremas de exclusão. Políticas Redistributivas + Políticas Assimilacionista = POLÍTICAS UNIVERSAIS. Essa subordinação desqualificou e descaracterizou todas diferenças pela qual sustentava a Identidade Nacional. 2ª PARTE: A crise do contrato social da modernidade e a emergência do fascismo social. Márcio Vieira e Maria Regina Borges O Contrato Social na Modernidade. Tensão dialética entre regulaçaõ social X emancipação social Polarização VONTADE INDIVIDUAL X VONTADE GERAL INTERESSE PARTICULAR X BEM COMUM – Público e o Privado) CONTRAPOSIÇÃO Estado de natureza/ Estado natural. Concepção de Contrato social na Modernidade de : HOBBES – LOCKE e ROUSSEAU Comum entre eles: ” È a idéia de que a opção de abandonar o estado natural para constituir a Soc. Civil e o Estado Moderno é uma opção irreversível” Contrato social - como qualquer outro tem critérios de inclusão/exclusão. 1º - inclui apenas os indivíduos e suas associações. 2º - Cidadania e territorialidade: só os cidadãos ( homens) fazem parte do contrato social. (mulheres, estrangeiros, imigrantes, minorias (e, as vezes, maiorias) étnicas – são deles excluídos (vivos em regime de morte civil e estado de natureza) 3º - Comércio público dos interesses (interesses exprimíveis na sociedade civil). Separação entre o público e privado A CONTRATUALIZAÇÃO SOCIAL – assenta em 03 pressupostos metacontratuais 1. REGIME GERAL DE VALORES - idéia de bem comum e vontade geral. 2 – SISTEMA COMUM DE MEDIDAS – diferenças relevantes entre natureza e sociedade – vai além dinheiro e mercadoria 3 – ESPAÇO –TEMPO PRIVILEGIADO - - da ´política, proc. Judicial e burocracia O Contrato Social vem criar um paradigma sócio-político que produza bem os bens públicos: 1 - LEGIMIDADE DE GOVERNAÇÃO 2 - BEM-ESTAR ECONÔMICO E SOCIAL 3 - SEGURANÇA 4 – IDENTIDADE COLETIVA Os bens públicos resultam em 03 grandes constelações institucionais: SOCIALIZAÇÃO DA ECONOMIA – Economia não só formada por capital, mas também de trabalhadores. POLITIZAÇÃO DO ESTADO – Estado providência. E o estado desenvolvimentista NACIONALIZAÇÃO DA IDENTIDADE CULTURAL – grupos sociais territorializadas e temporalizadas / reforça critério exclusão/inclusão. CRISE DO CONTRATO SOCIAL: Valores da modernidade ocidental – significados diferentes para pessoas ou grupos liberdade; igualdade; autonomia; subjetividade; justiça; solidariedade. Cita as 3 constelações – Crise do paradigma mais acentua. A predominância da exclusão se apresenta sob duas formas – excluem e lançam as pessoas em um estado de natureza : 1. Pós – Contratualismo 2. Pré – Contratualismo Para Sousa Santos o status pós-moderno manifestase como um contrato leonino. Hoje vivemos um estado de natureza; não existe contrato, na medida em que predomina a lógica da exclusão. “Na sociedade pós-moderna do fim do século, o Estado de natureza é a ansiedade permanente em relação ao presente e ao futuro, o desgoverno iminente das expectativas, o caos permanente nos atos mais simples de sobrevivência ou de convivência.” A crise ainda decorre: CONSENSO LIBERAL 1º. CONSENSO ECONÔMICO LIBERAL (Consenso de Washington). 2º. CONSENSO DO ESTADO FRACO (o Estado deixa de ser o espelho da sociedade civil para passar a ser seu oposto e a força do Estado passa a ser a causa da fraqueza e da desorganização da sociedade civil) ...é um Estado repressivo, ineficiente e predador, pelo que seu enfraquecimento é precondição para o fortalecimento da sociedade civil. ( ultrapassa o domínio econômico e social) 3º. CONSENSO DEMOCRÁTICO LIBERAL: não preocupação com a soberania do poder estatal. ( ancorada na própria origem da modernidade política) 4º. CONSENSO DO PRIMADO DO DIREITO E DOS TRIBUNAIS (é a soma dos três consensos anteriores) prioridade a propriedade privada; prioridade às relações mercantis; prioridade ao setor privado. . “A estabilidade de que fala o consenso neoliberal é sempre a dar expectativas dos mercados e dos investimentos, nunca é dar expectativas das pessoas”. Fascismo Social Polarização da Riqueza Colapso das expectativas (amanhã estará vivo ou não, se terá liberdade, emprego) Não é produzida por um estado Fascista, o mesmo continua democrático (com partidos, assembléias, leis), porém a população cada vez menos tem acesso a estes direitos. Fascismo Social Este fenômeno foi originado pois a democracia perdeu a capacidade de redistribuição. Não se trata de um regime político e sim social. Fascismo Social Apartheid social Fascismo paraestatal – contratual e territorial Fascismo da insegurança Fascismo financeiro 3ª parte: A reinvenção solidária e participativa do Estado. Dorismar Caribé e Josefa Lima PARADIGMAS DE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL DA MODERNIDADE OCIDENTAL: REVOLUÇÃO – pensada contra o Estado REFORMISMO – exercida pelo Estado. Para o reformismo a sociedade é entidade problemática. O Estado foi sujeito da reforma e a sociedade o objeto. Se o Estado agora se constitui em objeto de reforma, quem é o sujeito? Princípios da institucionalidade reformista: Do Estado Do mercado Da comunidade O princípio do Estado e do mercado saem reforçados A questão social é submetida a critérios não-capitalistas somente no sentido de minorá-las. O reformismo assenta na idéia de que só é normal a mudança social que pode ser normalizada. Lógica da normalização: Repetição – condição da ordem Melhoria – condição do progresso ESTRATÉGIAS DO ESTADO NA MUDANÇA SOCIAL REFORMISTA ACUMULAÇÃO HEGEMONIA CONFIANÇA A CRISE DO REFORMISMO PRIMEIRA FASE: O ESTADO IRREFORMÁVEL SEGUNDA FASE: O ESTADO REFORMÁVEL A REFORMA DO ESTADO E O TERCEIRO SETOR DEFINIÇÃO/DESIGNAÇÃO ORIGEM REEMERGÊNCIA DOS PAÍSES CENTRAIS POSICIONAMENTO DE ROUSSEAU INÍCIO DA FASE DO ESTADO REFORMÁVEL IMPACTO NA PRODUÇÃO DOS QUATRO BENS PÚBLICOS: LEGITIMIDADE BEM ESTAR SOCIAL E ECONÔMICO SEGURANÇA IDENTIDADE CULTURAL DEBATES PARA ESCLARECIMENTO SOBRE AS CONDIÇÕES PARA UMA REFUNDAÇÃO OU REINVENÇÃO SOLIDÁRIA E PARTICIPAVA DO ESTADO: LOCALIZAÇÃO ESTRUTURAL ENTRE O PÚBLICO E O PRIVADO ORGANIZAÇÃO INTERNA, TRANSPARÊNCIA E RESPONSABILIZAÇÃO REDES NACIONAIS E TRANSNACIONAIS RELAÇÕES COM O ESTADO. RELAÇÕES POSSÍVEIS: INSTRUMENTO DO ESTADO AMPLIFICADOR DE PROGRAMAS ESTATAIS PARCEIRO NAS ESTRUTURAS DE PODER E DE COORDENAÇÃO DEMOCRACIA REPRESENTATIVA X DEMOCRACIA PARTICIPATIVA O ESTADO-NOVÍSSIMO-MOVIMENTO-SOCIAL NECESSIDADE DE UMA REFORMA SIMULTÂNEA INICIATIVA DO ESTADO DE PROMOVER A CRIAÇÃO DO TERCEIRO SETOR CRIAÇÃO DE UM NOVO TIPO DE ESTADO PROVIDÊNCIA DEMOCRACIA PARTICIPATIVA FISCALIDADE PARTICIPATIVA E ESTADO EXPERIMENTAL