ENDOCARDITE INFECCIOSA Helio Marzo Zanela-R2 Serviço Cardiologia Santa Casa Ribeirão Preto DEFINIÇÃO A endocardite Infecciosa é uma infecção microbiana do endotélio cardíaco. As valvas cardíacas são comumente envolvidas, porém a infecção pode ocorrer em qualquer estrutura cardíaca, defeitos nos septos, corda tendínea ou até no endocárdio mural e nos shunts arteriovenosos e artério-arteriais EPIDEMIOLOGIA Em torno de 15.000 pacientes, só nos EUA, terão EI com índices de mortalidade em torno de 40%. Em torno de 4,2/100.000 pacientesano. É mais comum em homens, com 1,6 a 2,5 mais casos do que em mulheres. FISIOPATOLOGIA Defeito cardiaco Turbilhonamento sangue Bacteremia Lesão endotelial Deposito plaquetas e fibrinas Formação trombo Colonização bacteriana Vegetação Cardiopatias de Risco para EI ALTO RISCO Cardiopatias Congênitas Cianogênicas Valvulopatia Reumática Valvopatias aórticas P.C.A. e C.I.V. Coarctação da aorta Próteses valvares MÉDIO RISCO Prolapso valva mitral Valvopatia tricúspide Estenose mitral Cardiomiopatia hipertrófica Valvopatia pulmonar Prevalência MICROORGANISMOS Valva Nativa Valva Protética Precoce < 2 m Valva Protética Tardia > 2 m Usuários Drogas EV Estreptococos 55 5 35 7 Viridans, Alfa hemolitico 35 <5 25 5 S. Bovis 15 <5 <5 <5 Outros Strptococos <5 <5 <5 <5 Estafilococos 25 50 30 50 Coagulase + 23 20 10 50 Coagulase - <5 30 20 <5 Enterococos 10 <5 <5 8 Bacilos aeróbios Gram Negativos <5 20 10 5 Fungos <5 10 5 5 Outros microorganismos <1 <5 <10 <20 Infecção Polimicrobiana <1 5 5 5 5 <5 <5 <5 Endocardite com cultura negativa Sinais e Sintomas Endocardites subagudas que se manifestam por febre mais baixa, fraqueza, emagrecimento, mialgias, artralgias, artrites e dores lombares; Os sopros cardíacos estão presentes em mais de 85% dos casos; A esplenomegalia é frequentemente encontrada nas endocardites subagudas de longa duração; A insuficiência cardíaca complicação comum; Os fenômenos embólicos acometem diversos orgãos, mas apresentam especial predileção pelo cérebro, pulmões e coronárias; O envolvimento do sistema nervoso manifesta-se através de síndromes variadas desde acidentes vasculares cerebrais até sintomas psiquiátricos , estados confusionais tóxicos e meningoencefalites; Nas paredes arteriais podem surgir processos inflamatórios decorrentes da resposta orgânica à presença de microêmbolos bacterianos que evoluem para a formação de aneurismas micóticos; Sinais e Sintomas Manchas de Roth Lesão de Janeway Nódulos de Osler Critérios Diagnósticos de Duke Modificados Critérios Maiores: 1. 2. Microbiológicos: isolamento de microorganismos típicos de duas amostras isoladas de hemocultura; ou isolamento de microorganismos de hemoculturas persistentemente positivas; ou simples hemocultura positiva para Coxiella burnetti (ou títulos de IgG > 1:800) Evidência de envolvimento endocárdico: piora ou novo sopro de regurgitação, ecocardiograma positivo (massa intracardíaca, abscesso perianular ou nova deiscência de valva protética) Critérios Menores: 1. 2. 3. 4. 5. Predisposição para EI: EI prévia; uso de drogas injetáveis; valva prostética; prolapso de valva mitral; cardiopatia congênita cianogênica; outras lesões cardíacas que geram fluxo turbulento dentro das câmaras Febre: temperatura > 38°C Fenômeno vascular: evento embólico arterial maior, infarto pulmonar séptico, aneurisma micótico, hemorragia intracraniana, hemorragia subconjuntival e lesões de Janeway Fenômeno imunológico: presença de marcadores sorológicos ( Fator Reumatóide), glomerulonefrite, nódulos de Osler, manchas de Roth Achados microbiológicos que não se enquadram nos critérios maiores Laboratório Anemia normocítca normocrômica caracaterística de doença crônica. O exame da urina pode mostrar hematúria microscópica, proteinúria, cilindros hemáticos, piúria, cilindros leucocitários e bacteriúria. Em 50% dos casos de endocardite subaguda identifica-se a presença do fator reumatóide. VHS e PCR com valores elevados, hipergamaglobulinemia (23 a 30% dos casos), a hipocomplementemia (5 a 10% dos casos). A comprovação da bacteremia através de hemocultura constitui o principal exame diagnóstico quando se suspeita de endocardite bacteriana. Recomenda-se a coleta de 3 a 6 amostras de sangue venoso com intervalo mínimo de 30 minutos entre as coletas. Nos pacientes que não usaram antibióticos previamente isolam-se bactérias em 90 a 95% dos casos. Critérios Ecocardiográficos - EI Lesão Descrição Vegetação Formato irregular, massa com discreta ecogenicidade Aderente à superfície cardíaca. Pode haver oscilação da massa (não mandatório) Abscesso Área espessa, ou massa na região anular do miocárdio. Aparência não homogênea com ecogenicidade e ecoluscência Aneurisma Espaço de ecoluscência limitado por tecido fino Fístula Trajeto entre dois distintos espaços cardíacos por um canal nãoanatômico Perfuração de cúspide Defeito no corpo da cúspide da valva miocárdica com evidência de fluxo pelo defeito Deiscência valvar Movimento da valva protética com extrusão > 15° em pelo menos uma direção Tratamento Patógeno Valva Nativa Prótese Valvar Streptococos viridans, bovis e outros estreptococos sensíveis a Penicilina Penicilina G ou Ceftriaxona Penicilina G + Gentamicina Streptococos com sensibilidade intermediária Penicilina G + Gentamicina Penicilina G + Gentamicina Streptococos resistentes a Penicilinas Penicilina Cristalina ou Ampicilina ou Vancomicina + Gentamicina Penicilina G ou Ampicilina + Gentamicina Stafilococus sensível a Oxacilina Oxacilina + Gentamicina Oxacilina + Gentamicina + Rifampicina Stafilococus resistentes a Oxacilina Vancomicina + Gentamicina Vancomicina + Gentamicina + Rifampicina Grupo HACEK Ceftriaxona ou Ciprofloxacino Ceftriaxona ou Ciprofloxacino Tratamento Cirúrgico EI Complicações hemodinâmicas que podem se beneficiar do tratamento cirúrgico: disfunção valvar aguda acentuada com congestão pulmonar e as fístulas intercavitárias, que são mais raras. Complicações não-hemodinâmicas que podem se beneficiar com tratamento cirúrgico extracardíaco: embolia arterial com isquemia de membros e abscessos esplênicos. Complicações não-hemodinâmicas que podem se beneficiar de tratamento cirúrgico cardíaco: ocorre por falha do tratamento etiológico, sendo mais comum nas infecções de próteses valvares e na valva aórtica nativa. Pode haver extensão do processo infeccioso para os tecidos adjacentes com posterior formação de abscessos e fístulas. São sinais de alerta a presença de febre persistente, anormalidades eletrocardiográficas persistentes da condução elétrica. Complicações não-hemodinâmicas para as quais o tratamento cirúrgico tem eficácia discutida: complicações neurológicas como embolia cerebral, aneurismas micóticos, arterite séptica. Os sintomas podem incluir febre persistente, cefaléia, déficits neurológicos focais, sinais de irritação meníngea e confusão mental. Tais complicações podem ter resolução com a continuidade do tratamento clínico, podendo haver indicação cirúrgica caso haja aumento da lesão ou presença de sangramento. Complicações não-hemodinâmicas que não necessitam ou não se beneficiam de tratamento cirúrgico cardíaco: reação ao tratamento medicamentoso como febre, granulocitopenia, erupção cutânea relacionada ao tratamento prolongado com antibióticos betalactâmicos, glomerulonefrite e falência múltipla de órgãos. Recomendações para Tratamento Cirúrgico da EI em Valva Nativa Indicação Classe Insuficiência aórtica aguda ou insuficiência mitral aguda, associadas à insuficiência cardíaca I Insuficiência aórtica aguda, com taquicardia e fechamento prematuro da valva mitral I Endocardite fúngica I Evidência de abscesso anular ou aórtico, aneurisma do seio de valsalva verdadeiro ou pseudo-aneurisma I Evidência de disfunção da valva e infecção persistente, após período prolongado (7 a 10 dias) de terapia antibiótica apropriada, indicada devido a presença de febre, leucocitose e bacteremia, desde que não haja causas não-cardíacas para a infecção I Êmbolos recorrentes após terapia antibiótica apropriada IIa Infecção com organismos Gram-negativos ou organismos com baixa resposta a antibióticos, em pacientes com disfunção valvar IIa Vegetações móveis > 10 mm IIb Infecções na valva mitral em fase inicial, que podem, provavelmente, ser corrigidas por cirurgias conservadoras III Febre persistente e leucocitose com culturas sanguíneas negativas III Profilaxia para EI Procedimentos dentários, trato respiratório e esôfago: Geral: Amoxicilina 2g ou 50mg/Kg VO/1 hora antes do procedimento ou Ampicilina 2g (IM/EV) ou 50mg/kg 30 minutos antes do procedimento. Alérgicos: Clindamicina 600 mg ou 20mg/kg VO 1h AP ou IM 30 min AP, Cefalexina 2g ou 50mg/Kg 1h AP, Azitromicina ou Claritromicina 500 mg 1 h AP Procedimentos gastrointestinais (exceto esôfago) e genitourinários: Alto Risco: Ampicilina ( 30 min AP e 6h após) + Gentamicina (30 min AP) Alto Risco e Alérgico: Vancomicina ( 30 min AP infundir em 1 h) + Gentamicina ( 30 min AP) Risco Moderado: Amoxicilina ( 1h AP ) ou Ampicilina ( 30 min AP ) Risco Moderado e Alérgico: Vancomicina ( 30 min AP infundir em 1 hora) Classificação de Risco: Alto risco - Próteses valvares, endocardite infecciosa prévia, cardiopatias congênitas cianóticas, shunts arteriovenosos produzidos cirurgicamente. Risco moderado - outras cardiopatias congênitas, disfunções valvares reumáticas ou de outras etiologias, cardiomiopatias hipertróficas, prolapso de valva mitral com insuficiência.