Desenvolvimento de protocolos de pesquisa com EEG Edgard Morya1, Koichi Sameshima1,2, Daniel Yasumasa Takahashi1,2, Renato Anghinah3 1 Laboratório de Neurociência. Associação Alberto Santos Dumont para Apoio à Pesquisa. Instituto de Ensino e Pesquisa Hospital Sírio Libanês. São Paulo – SP. Brasil. 2 Dep. Radiologia. Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. São Paulo – SP. Brasil. 3 Dep. Neurologia. Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. São Paulo – SP. Brasil. Eletroencefalograma (EEG) é definido como uma atividade elétrica registrada na superfície do escalpo por meio de eletrodos e material condutivo. Somente grandes populações de neurônios ativos podem gerar atividade elétrica registrável no escalpo. Essa fraca atividade elétrica é amplificada antes de ser apresentada no papel ou armazenada no computador. Berger um dos pioneiros no registro da atividade elétrica do cérebro humano, em 1929, já enfatizava que os padrões de atividade mudavam de acordo com o estado funcional do cérebro, ou seja, a atividade elétrica cerebral se altera de forma consistente e reconhecível quando o estado geral da pessoa muda, como do estado de relaxamento ao alerta, no sono, anestesia, hipóxia e em certas doenças, como na epilepsia. Devido a sua capacidade de refletir a atividade elétrica normal e anormal do cérebro, EEG tem sido uma importante ferramenta de pesquisa em neurologia, neurofisiologia e neurociência. Duas classes gerais de ativação podem ser evidenciadas considerando o registro de atividade elétrica cerebral no escalpo: atividade elétrica espontânea e contínua da ativação cerebral refletida pelo EEG e potencial de campo promovido por uma demanda de processamento interna (evento relacionado a evento - ERP) ou de estimulação sensorial (potencial evocado – EP). Desta forma o EEG pode ser utilizalado no estudo do estado global do cérebro e da atividade contínua do cérebro durante longos períodos, enquanto o estudo da atividade evocada fornece meios de compreender o processamento sensorial ou cognitivo enquanto uma pessoa está realizando uma tarefa experimental. Protocolos de pesquisa e aplicações clínicas do EEG em humanos e animais podem ser empregados para investigar percepção, memória, atenção, linguagem, emoção, sono, vigília, epilepsia, localizar áreas, etc. Os dados eletrofisiológicos são registrados a partir de pontos definidos no escalpo e o uso de canais múltiplos permitem investigar a distribuição topográfica da atividade elétrica cerebral em intervalos de tempo ou em função da freqüência. Dentre as vantagens do EEG, tais como um processo indolor e não invasivo, podemos ainda salientar a alta resolução temporal para estudar processos cerebrais em tempo real, a possibilidade de caracterizar o padrão da seqüência de ativação, a sensibilidade às mudanças de estado e processamento do sistema nervoso. Em geral, experimentos de pesquisa em neurofisiologia utilizam análise topográfica do EEG para determinar relações entre condições experimentais manipuladas pelo pesquisador e características dos potenciais de campo registrados no escalpo. Nestes estudos há um esforço para identificar atividades elétricas cerebrais que são definidas em termos da latência em relação a algum evento externo ou interno. Além disso, a análise torna-se ainda mais rica ao acoplar o imageamento a partir da distribuição topográfica dos padrões no escalpo que é um modo de caracterizar a atividade elétrica cerebral em função de freqüência, força da resposta neural, tempo de processamento, e localização das áreas ativadas. Protocolos de pesquisa com EEG comumente desenvolvidos investigam populações de neurônios em diferentes condições experimentais como por meio da alteração dos parâmetros de um estímulo, seja visual, auditivo, somatosensorial, e/ou aliado a diferentes estados cognitivos. Portanto, variações sistemáticas da atividade elétrica cerebral provocadas por estímulos internos ou externos podem ser investigadas de forma não invasiva e em tempo real com esta metodologia que enriquece os estudos de aspectos do processamento cognitivo. Apoio Financeiro: AASDAP, IEPHSL, CNPq, Fapesp, CAPES