Epistemologia e Loucura 1 - psiclin

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XXXVIII REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE
BRASILEIRA DE PSICOLOGIA
UBERLÂNDIA – OUT 2008
CAMINHOS EPISTEMOLÓGICOS NA
ELUCIDAÇÃO DA LOUCURA:
Contribuições da Psicologia Existencialista
Profa. Dra. Daniela Ribeiro Schneider
Depto de Psicologia / UFSC
Núcleo de Pesquisas em Psicologia Clínica
[email protected]
www.psiclin.ufsc.br
Para iniciar a reflexão...
- “A política nacional de saúde mental corre
muitos riscos, entre os quais reduzir o processo
de reforma psiquiátrica a uma mera mudança de
modelo assistencial.
- Trata-se de um processo social complexo, no
qual é necessária uma reflexão sobre o modelo
científico da psiquiatria, que não consegue ver
saúde nas pessoas, apenas doenças.
- A dimensão sociocultural também é muito
importante, pois trabalhamos para transformar a
relação da sociedade com as pessoas em
sofrimento mental”.
(Amarante, 2006: 35)
Reforma Psiquiátrica Brasileira
Bases epistemológicas
•
Segundo Basaglia, desinstitucionalizar não é
somente modificar as formas de atenção à
loucura, mas produzir modificações na cultura,
na
sociedade
exclusora
das
diferenças,
portanto,
produzir
modificações
na
racionalidade social sobre este fenômeno.
•
Sendo assim, a Reforma Psiquiátrica não
pode
deixar
de
lado
as
questões
epistemológicas que a geraram.
O fenômeno da loucura
•
A
loucura
enquanto
fenômeno
psicossocial
acompanha o homem em sua trajetória histórica.
•
Em quase todas as sociedade há indícios da
existência de pessoas que perderam o controle de
suas emoções e alteraram o seu comportamento a
ponto de causar estranheza em seus semelhantes.
•
Como afirma Jaspers (1979), a loucura é um
fenômeno tipicamente humano, pois é somente
quando afetado em seu devir que o sujeito põe em
questão seu ser, constituindo a psicopatologia.
O fenômeno da loucura
•
Nos
animais
pode
haver
alteração
de
comportamento, de hábitos, mas não psicopatologia.
•
O animal não põe em questão seu ser, não havendo,
portanto, aquilo que caracteriza as complicações
psicológicas no homem: o arrependimento, a culpa,
o inconformismo, o ódio, o vazio, enfim, o
sofrimento psíquico
Loucura e História
•
Cada época histórica vai tratar deste fenômeno
de um modo característico, marcado pelo
horizonte racional, cultural, social, político
predominante no momento.
A Loucura na Idade Média
Eixo central = Religião

Loucura como possessão demoníaca;

Loucura cuidada pela Igreja;

Tratados pela caridade;

Loucos errantes, nau dos loucos.
A Loucura na Idade Moderna
Eixo central = Racionalismo e Empirismo

Loucura como desrazão;

Cuidado passa a ser médico
Psiquiatria;

Início Séc XVII - Grande Internação – mendigos,
pobres, bêbados, loucos, deficientes;

Final Séc XVII e início do XVIII – Rev. Indust.
Internação somente dos improdutivos (loucos e
deficientes) – início da era manicomial.

Era das grandes classificações psicopatológicas;
A Loucura na Idade Contemporânea
Eixo central = Ciência

Loucura como problema social e sociológico;

Cuidado passa a ser interdisciplinar;

Questionamento
do
modelo
manicomial
(Reforma Psiquiátrica)

Movimento Antipsiquiátrico;
;
O caminho dialético da
compreensão da loucura:
TESE - Psiquiatria
ANTÍTESE - Antipsiquiatria
SÍNTESE - Pós-psiquiatria
Raízes da
Reforma Psiquiátrica Brasileira
Modelo Psiquiátrico Tradicional (TESE):
1.
Noção de “doença mental” – dimensão epistemológica
2.
Perspectiva organicista – dimensão epistemológica
3.
Loucura enquanto transtorno individual – dim. epist.
4.
Modelo hospitalocêntrico – dimensão técnica/prática
5.
Tratamento centralmente farmacológico - camisa de
força química – dimensão técnica/prática
6.
Retirada da voz e cidadania do louco – dim. política
7.
Poder centrado no médico – dim. técnica e política
8.
Psiquiatrização do social – dim. técnica e política
Origens da
Psiquiatria Tradicional - 1
•
Pinel – Primeira Reforma Psiquiátrica:
-Espaço próprio para a loucura, desenvolvimento
de saber psiquiátrico, implicaram a apropriação da
loucura pelo saber e práticas medicas.
- Doença mental como de ordem moral – inaugurase o tratamento moral;
•
Esquirol, Kraeplin - Racionalidade da medicina
mental: descrição de sintomas - classificação –
lógica empirista.
Origens da
Psiquiatria Tradicional - 2
•
Psiquiatria – imperativo de ordenação dos sujeitos.
•
Higienização social.
Orientação das ciências naturais – predomínio da
medicina biológica.
Intermináveis debates sobre
organogênese X psicogênese...
A pretensa neutralidade e objetividade da
psiquiatria dita científica encobre valores e poderes
no cotidiano dos atores sociais.
Modelo tão amplamente difundido que influencia até
hoje em dia.
•
•
•
•
As Reformas da Reforma ou a
Psiquiatria Reformada
- As reformas posteriores à reforma de Pinel
procuraram questionar o papel e a
natureza, ora da instituição asilar, ora do
saber psiquiátrico, surgindo após a
Segunda Guerra, quando novas questões
são colocadas no cenário histórico mundial.
Movimentos reformistas da
psiquiatria na
contemporaneidade
Crítica à estrutura asilar:
1. Comunidade terapêutica – Inglaterra
2. Psicoterapia institucional – França
Extensão da Psiquiatria ao espaço público:
1. Psiquiatria de setor (França);
2. Psiquiatria comunitária ou preventiva
(EUA).
Ruptura com o modelo
psiquiátrico clássico
1.
2.
Antipsiquiatria (Inglaterra e EUA- Szasz)
Psiquiatria de tradição basagliana
(Itália)
- Olhar crítico sobre a constituição do
saber/prática psiquiátricos: epistemologia e
fenomenologia.
Raízes da Reforma
Psiquiátrica Brasileira
Proposições da ANTÍTESE (antipsiquiatria):
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
“Doença mental” como mito – dim. epistemológica
Perspectiva Psicossocial – dimensão epistemológica
Loucura enquanto fenômeno social – dim. epist.
Rede de Saúde Mental e CAPS – dim. técnica/prática
Clínica ampliada e reinserção social – dim. téc/práti
Reconhecimento da voz e da cidadania do louco –
dim. política
Equipes multiprofissionais e relações
horizontalizadas - dim. técnica e política
Despsiquiatrização do social – dim. técnica e
política
Raízes da
Reforma Psiquiátrica Brasileira
Reforma Sanitária – brasileira
Implantação do SUS
Reforma Psiquiátrica Brasileira
Conceitos Fundamentais RPB




Rede
Território
Acolhimento
Clínica Psicossocial
Diretrizes
da Política de Saúde Mental










Redução progressiva dos leitos psiquiátricos
Expansão, qualificação e consolidação dos CAPS
Inclusão das ações de saúde mental na atenção básica
Consolidação do Programa De Volta para Casa
Expansão das Residências Terapêuticas
Formação e qualificação de recursos humanos
Promoção dos direitos dos usuários e familiares e
incentivo à participação no cuidado à saúde
Reorientação dos Manicômios Judiciários
Consolidação da Política para Atenção Integral a Usuários
de álcool e outras drogas
Inclusão da estratégia de Redução de Danos nas ações de
saúde mental
Expansão da Rede CAPS
(1989 a agosto de 2006)
900
850
800
750
700
650
600
550
500
450
400
350
300
250
200
150
100
50
0
882
738
605
500
424
295
179
208
148
92
80-88
10
12
15
23
34
1989
1990
1991
1992
1993
51
63
1994
1995
1996
112
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
Redução de leitos psiquiátricos
(1996 a 2005)
75000
70000
65000
Número de leitos
60000
55000
50000
45000
40000
35000
30000
25000
20000
15000
10000
5000
0
1996
1997
1998
1999
2000
2001
Ano
2002
2003
2004
2005
Gastos Programa de Saúde Mental
Gastos¹ Programa de Saúde Mental
1998
2004
2005
Ações e programas extra-hospitalares²
Ações e programas hospitalares
Total
35.066.789,72
407.182.059,49
442.248.849,21
269.363.103,20
463.152.462,20
732.515.565,40
362.834.216,07
451.952.551,18
814.786.767,25
92,07
7,93
63,23
36,77
55,47
44,53
% Gastos Hospitalares/Gastos Totais
% Gastos Extra Hospitalares/Gastos Totais
Desafios –
Política de Saúde Mental

Acesso ao tratamento

Qualidade da atenção
Referências Bibliográficas










Amarante, P. (1995). Loucos pela Vida: a trajetória da reforma
psiquiátrica no Brasil. Rio de Janeiro. Fio Cruz.
Amarante P. (1997). Loucura, Cultura e Subjetividade: Conceitos e
Estratégias, Percursos e Atores da Reforma Psiquiátrica Brasileira. In:
Fleury, S. (org). Saúde e democracia: a luta do CEBES. São Paulo:
Lemos Editorial.
Amarante, P. (2006). Rumo ao fim dos manicômios. Revista Mente &
Cérebro. São Paulo: Duetto Edit. Set.
American Psychiatric Association. DSMIV. Porto Alegre: ArtMed, 2002.
Brasil. Ministério da Saúde. Coordenação Geral de Saúde Mental.
(2005). Reforma psiquiátrica e política de saúde mental no Brasil.
Documento apresentado à Conferência Regional de Reforma dos
Serviços de Saúde Mental : 15 anos depois de Caracas. OPAS. Brasília
Declaração de Caracas, 1990.
Foucault, M . História da Loucura. São Paulo: Perspectivas, 1991.
Grigolo, T (2007). Quem tem medo da Reforma? Aprese ntação (Não
publicada.
Pessoti, I. (1999). Os Nomes da Loucura. São Paulo: Editora 34.
World Health Organization. (1993). CID-10. Porto Alegre: ArtMed.
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