Esclerose Tuberosa Disciplina de Genética II Aline Bertoni S. Jorge Introdução Esclerose tuberosa - ou complexo esclerose tuberosa (TSC) - doença genética rara, multi-sistêmica que causa tumores benignos no cérebro, rins, coração, olhos, pulmões e pele Herança Autossômica Dominante, com alta penetrância e ampla variabilidade fenotípica Histórico 1835 e 1850: dermatologistas descreveram a erupção cutânea facial distintiva 1862: Von Recklinghausen identificou tumores no coração e no cérebro de um RN 1880: Bourneville é creditado por ter caracterizado a doença primeiro (doença de Bourneville ) 1908: o neurologista Vogt estabeleceu uma tríade diagnóstica de epilepsia, idiotice, e adenoma sebáceo (um termo obsoleto para angiofibroma facial) Histórico Epônimos do TSC: doença de Bourneville, síndrome de Bourneville, doença de Bourneville-Pringle, adenoma sebáceo de Bourneville, adenoma sebáceo de Pringle, doença de Bourneville-Brissaud, síndrome da hamartomatose sistêmica múltipla, neuromatose universal, esponglioblastose circunscrita, Désiré-Magloire Bourneville neurosponglioblastose difusa ou epilóia Histórico 1979: Gomez descreve a doença como atualmente entendida 1993: descoberta do envolvimento do loci TSC2 1997: descoberta do envolvimento do loci TSC1 2002: tentativas de tratamento com rapamicina para encolher tumores associados ao TSC Epidemiologia Incidência: 1:6000 a 1:10000 Sem predileção por raça ou gênero Não se pode prever a gravidade da doença ou quais órgãos serão atingidos Etiologia Herança Autossômica Dominante Mutações nos genes TSC1 e TSC2 Mutação de novo em 2/3 dos casos 70% das mutações detectadas estão no gene TSC2 e 30% no gene TSC1. Isto se deve possivelmente ao maior tamanho do gene TSC2, aumentando a probabilidade de sofrer uma mutação aleatória Os Genes TSC1 e TSC2 são ambos genes supressores de tumor que funcionam de acordo com a hipótese "dois golpes “ TSC1 codifica para a proteína hamartina TSC2 codifica para a proteína tuberina Os Genes TSC1: Localizado no braço longo do cromossomo 9 (9q34) TSC2: Localizado no braço curto do cromossomo 16 (16p13.3) Codificam as proteínas hamartina e tuberina, respectivamente, que atuam como supressoras tumorais Os Genes Gene TSC1 Gene TSC2 Os Genes: mutações Fisiopatologia A mutação, nova ou herdada (1º evento mutacional), não é suficiente para o desenvolvimento do TSC O segundo evento mutacional ocorre em células somáticas do alelo que já tinha uma mutação (par de alelos inativados) Para cada tumor, é necessário um novo evento mutacional (somático) Não é possível controlar quando irá ocorrer o segundo evento mutacional (é aleatório). Desta maneira, os pacientes desenvolvem diferentes tumores e têm apresentações clínicas variáveis Manifestações Clínicas Acomete cérebro, coração, rins, pulmões, pele, olhos Podem experimentar nenhum (forma frustra) ou todos os sintomas clínicos Primeiras manifestações: tumores benignos cardíacos, máculas hipomelanocíticas, espasmos infantis, ataques epilépticos Manifestações Clínicas Manifestações no SNC Tuberosidades corticais: malformações originando nódulos na substância cinzenta; responsável pelas crises convulsivas, retardo mental e distúrbios de comportamento que podem ser observados nos pacientes com TSC Os distúrbios de comportamento, como irritabilidade, agressividade, déficit de atenção, movimentos repetitivos, exclusão social podem se relacionar ao TSC mesmo se não se identificam as lesões cerebrais Manifestações no SNC Nódulos subependimários: sofrem com frequência calcificação nos primeiros anos de vida Astrocitoma gigante subependimário: podem crescer causando obstrução no ventrículo e hidrocefalia. Seu crescimento, acontece mais comumente até o final da segunda década de vida A E, notam-se áreas mais esbranquiçadas no córtex, que correspondem aos túberes, constituídos por células gliais ou neurônios anômalos. Alguns causam alargamento dos giros. A D, cérebro de paciente com esclerose tuberosa cortado em plano axial (horizontal), mostrando massa tumoral bem delimitada, acinzentada, no foramen de Monro E, causando hidrocefalia bilateral. Trata-se de um astrocitoma subependimário de células gigantes. Manifestações Cardíacas Rabdomioma: tumor do músculo cardíaco, ocorre com maior freqüência entre o terceiro trimestre pré-natal e o primeiro ano de vida, podendo haver um aumento de freqüência na puberdade. Normalmente assintomático, mas pode causar arritmias cardíacas. Tende a regredir e desaparecer Tumor raro é um indicador forte de TSC na criança Manifestações Renais Angiomiolipoma: tumor de células musculares, vasos sanguíneos e adipócitos, mais freqüente no adulto, podendo afetar outros órgãos do abdômen Cistos múltiplos: pequenas dilatações dos túbulos renais, tendem a se manifestar mais cedo, na infância. Poucos pacientes apresentam um grande número de cistos, em ambos rins, podendo levar à insuficiência renal Manifestações Pulmonares Linfangioleiomiomatose (LAM): proliferação difusa de células musculares, vasos sanguíneos e linfáticos, acometendo em geral ambos pulmões de algumas mulheres em idade reprodutiva. Pode levar à insuficiência respiratória e óbito Manifestações em Pele Angiofibromas faciais: nódulos avermelhados nas maçãs do rosto, surgindo na puberdade Espessamento da pele na região frontal do rosto (testa) ou na região lombar Fibromas ungueais ou periungueais não traumáticos Manifestações em Pele Máculas hipomelanóticas Lesões “em confete” hipercrômicas Marcas de 'peau chagrin' ou 'shagreen patch‘: placa de fibrose subepidérmica mais freqüente na região lombo-sacra. Área levemente elevada, com superfície comparada a pele de porco ou de elefante, ou a casca de laranja As lesões faciais características da esclerose tuberosa são pápulas e nódulos numa distribuição em asa de borboleta, conhecidas como 'adenoma sebáceo de Pringle'. São, na realidade, minúsculos angiofibromas. Estão presentes em mais de 90% dos pacientes acima dos 4 anos de idade e podem também envolver o queixo e a testa. Manifestações Oftalmológicas Hamartomas: nódulos na retina Acromia: Despigmentação na retina Manifestações Oftalmológicas Lesões não-retinais associadas com TSC incluem: Coloboma Angiofibromas das pálpebras Papiledema (relacionada a hidrocefalia) Prognóstico Indivíduos com sintomas moderados geralmente vivem bem e têm vidas produtivas, enquanto os indivíduos com a forma mais severa podem ter inaptidões sérias Causas principais de morte: doença renal, tumor no cérebro, limfangiomiomatose pulmonar, e estado epilético ou broncopneumonia em pacientes com impedimento mental severo Fracasso cardíaco devido a rabdomiomas é um risco no feto, mas um problema raramente é subseqüentemente Prognóstico Complicações no rim como angiomiolipoma (AML) e cistos são comuns, e mais freqüente em mulheres que homens e em TSC2 que TSC1 Linfangioleiomiomatose (LAM) é um risco para mulheres com AML Os nódulos subependimais ocasionalmente se degeneram a astrocitoma subependimal de células gigantes(ASCG). Estes podem bloquear a circulação de líquido cefalorraquidiano, conduzindo a hidrocefalia Diagnóstico Não há sinais clínicos patognomônicos para esclerose tuberosa Em crianças, a primeira pista é freqüentemente a presença de ataques apopléticos, desenvolvimento atrasado ou remendos brancos na pele Diagnóstico Clínico Levantamento do histórico familiar Examinar a pele debaixo do abajur de Wood (máculas hipomelanóticas), os dedos do pé (fibroma ungual), a face (angiofibroma) e a boca (covas dentais e fibroma gengival) TC de crânio ou, preferivelmente, RMN (tubérculo cortical e nódulos de subependimal) USG renal (angiomiolipoma ou cistos) ECO em crianças (rabdomioma) Fundoscopia (hamartomas nodular retinal) Diagnóstico Clínico Diagnóstico Laboratorial Permite o aconselhamento genético e, em alguns indivíduos, diagnóstico pré-natal 15% de falso-negativos e alta taxa de mosaicismo somático (10% -25%) O teste genético molecular é complicado pelo grande tamanho dos dois genes, o que torna o exame demorado e oneroso Esses exames não são realizados ainda no Brasil Diagnósticos Diferenciais NEM1,Síndrome de Birt-Hogg-Dube (BHDS) Neurofibromatose tipo I Doença Policística Renal Autismo Vitiligo, Exostose subungueal, Nevo do tecido conectivo, Hiperplasia de glândulas sebáceas Tratamento É sintomático e dirigido a cada tipo de lesão, em geral com efeitos benéficos ao controle do sintoma ou mesmo da função do órgão Alguns tumores têm indicação cirúrgica Assistência médica durante toda vida: risco aumentado de desenvolver os tumores característicos da doença Acompanhamento multidisciplinar Aconselhamento Genético Herança Autossômica Dominante Cerca de um terço dos probandos com TSC têm um pai afetado Dois terços dos indivíduos têm o gene alterado TSC1 ou TSC2, como resultado de uma mutação de novo Aconselhamento Genético Aconselhamento Genético Irmãos de um probando: O risco para os irmãos do probando depende do status genético dos pais: Se um dos pais é afetado ou se a mutação que causa a doença for identificada na família, o risco para os irmãos é de 50%. Se nenhum dos pais tem achados indicativos de TSC ou se nenhum dos pais tem a mutação detectáveis no DNA (somático), o risco é de 1% a 2% do risco de recidiva, devido à possibilidade de mosaicismo germinal. Aconselhamento Genético Prole do probando: Cada criança de um indivíduo com esclerose tuberosa tem 50% de chance de herdar a mutação. Outros membros da família do probando: O risco para os outros membros da família depende do status genético dos pais dos probandos. Se um pai é afetado ou tem a mutação causadores de doenças, os membros da sua família estão em risco. Espasmos Infantis http://www.youtube.com/watch?v=MUXJbg4dI_4 Referências Bibliográficas http://www.ncbi.nlm.nih.gov/bookshelf/br.fcgi?book=g ene&part=tuberous-sclerosis http://genoma.ib.usp.br/pesquisas/doencas_escleros e-tuberosa.php http://www.medscape.com/viewarticle/495642 http://abet.org.br/jla2/index.php?option=com_content &view=article&id=22&Itemid=29 http://ghr.nlm.nih.gov/gene/TSC1 http://anatpat.unicamp.br/bineuescletuber.html http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid =S0004-282X1998000400026&lang=pt