Slide 1 - Colégio Cor Jesu

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CAP. 32 – O MÉTODO DAS
CIÊNCIAS HUMANAS
Pela imprevisibilidade, a escultura de
Calder tem como objetivo
proporcionar surpresa e prazer.
Deve ser apreciada no seu todo e
não em partes.
Nas ciências humanas, a disposição
de avaliar o todo e a atenção para
com a imprevisibilidade dos
comportamentos são fundamentais
para que o método adotado tenha em
vista não apenas explicar, mas
compreender.
•
A aranha. Alexander Calder, 1940.
1. EXPLICAR E COMPREENDER
• Apenas no século XIX as ciências humanas começaram a se
desligar da filosofia, buscando seu próprio método.
• Surgiu, então, um problema: como abordar essas questões com
objetividade? Testando hipóteses pela experimentação?
Generalizando experiências até descobrir leis gerais?
• Novo objeto das ciências: o ser humano.
• A explicação é causal, explica-se um fato indicando sua
causa.
Foi assim que Galileu chegou à lei da queda dos corpos e
Newton à teoria da gravitação universal.
• A compreensão depende de interpretação, encontra-se
vinculada com a intencionalidade dos atos humanos,
sempre voltados para motivações diversas, valores e
finalidades, já que o ser humano é consciente de si.
2. DIFICULDADES METODOLÓGICAS DAS CIÊNCIAS HUMANAS
a) Complexidade - o comportamento humano resulta de múltiplas
influências, como hereditariedade, meio, impulsos, desejos,
memória, bem como da ação da consciência e da vontade, o que o
torna extremamente complexo.
b) Experimentação – é sempre difícil identificar e controlar os diversos
aspectos que influenciam os atos humanos.
A motivação dos sujeitos também é variável e as instruções do
experimentador podem ser interpretadas de maneiras diferentes.
c) Matematização - se a passagem da física aristotélica para a física
clássica de Galileu deu-se pela transformação das qualidades em
quantidades, poder-se-ia concluir que a ciência será tão rigorosa
quanto mais ela for matematizável.
Esse ideal é problemático com relação às ciências humanas, cujos
fenômenos são essencialmente qualitativos.
d) Subjetividade - se o sujeito que conhece é o objeto que se quer
conhecer, parece ser difícil contornar a subjetividade, porque o ser
humano não é estranho para outro ser humano.
e) Liberdade - se as leis das ciências da natureza
supõem o determinismo - ou seja, na natureza tudo
o que existe tem uma causa - , como fica a questão
da liberdade humana?
O método utilizado depende, de certa maneira, dos
pressupostos filosóficos que embasam a visão de
mundo do cientista.
3. O NASCIMENTO DAS CIÊNCIAS HUMANAS.
• As ciências humanas se tornaram autônomas a partir do século XIX.
• Destacam-se duas tendências: a positivista e a hermenêutica.
• A tendência positivista remonta a Augusto Comte e a Stuart Mill
(séc. XIX) e influenciou o surgimento das primeiras ciências
humanas, cujos procedimentos pretendiam ser semelhantes aos das
ciências da natureza.
• A tradição positivista tem como princípio a explicação causal.
• A tendência hermenêutica procede à interpretação do que
pensamos conhecer, a fim de decifrar o sentido oculto no sentido
aparente, o que significa compreender as peculiaridades únicas de
seus objetos.
• Hermenêutica ( arte de interpretar).
A PSICOLOGIA
• O início da psicologia como ciência foi marcado pela tendência
positivista.
• Tratava-se de uma psicofísica, em que o método visava a
quantificar e generalizar a relação entre as mudanças do estímulo e
os efeitos sensoriais correspondentes.
• Quanto ao esforço dos primeiros estudiosos da psicologia de se
restringirem aos fenômenos psíquicos – como a percepção visual - ,
por poderem ser quantificados, os filósofos da corrente humanista
respondem que não há fatos com a objetividade pretendida, pois
não percebemos o mundo como um dado bruto, desprovidos de
significados.
4. A PSICOLOGIA COMPORTAMENTALISTA
• A psicologia comportamentalista ou behaviorismo
nasceu nos Estados Unidos e até hoje é uma das
tendências importantes da investigação científica .
PAVLOV: O REFLEXO CONDICIONADO
• O médico russo Ivan Pavlov (1849-1936) encontrava-se
inicialmente interessado no funcionamento dos fenômenos da
digestão e salivação, mas as experiências com cães levaramno à explicação da aprendizagem pelo reflexo condicionado.
ESQUEMA:
• Se associarmos os dois eventos, sempre que apresentar o alimento
fazer soar a campainha, depois de um tempo, apenas o som
provocará salivação, sem a presença do alimento. Isso significa que
o som, antes um estímulo neutro para a salivação, passou a ser um
estímulo eficaz: criou-se um reflexo condicionado, houve
aprendizagem.
• O estímulo alimento é chamado reforço positivo, pois é ele que torna
a reação mais frequente, garantindo a manutenção da resposta.
• Se o reforço não for mais apresentado, a tendência é a extinção da
resposta.
SKINNER: O CONDICIONAMENTO OPERANTE
• Todos nós sabemos que desde a infância estamos submetidos
a diversos condicionamentos: aprendemos desde o controle da
micção, passando pelo controle de reações emocionais como
medo e raiva, até hábitos como dirigir um carro.
• Daí ser importante conhecer que estímulos são determinantes
para a aquisição de comportamentos desejados ou para a
extinçao dos indesejados.
• O behaviorismo pretende atingir o ideal positivista pelo qual a
psicologia, para se tornar ciência, precisaria seguir o exemplo das
ciências naturais, tornando-se materialista, mecanicista, determinista
e objetiva.
• São abandonadas todas as discussões a respeito da consciência,
conceito filosófico considerado impróprio para uso científico.
• A introspecção é rejeitada, e o único objeto digno de estudo é o
comportamento, em toda sua exterioridade.
• Os comportamentalistas costumam se referir à consciência como
sendo uma “caixa-preta”, inacessível ao conhecimento científico.
O PSICÓLOGO BURRHUR SKINNER FAZENDO EXPERIÊNCIA
COM RATO NA “CAIXA DE SKINNER”, 1964
•
Na “Caixa de Skinner” é colocado um animal
faminto: depois de, casualmente, esbarrar diversas
vezes em uma alavanca, percebe
que o
alimento aparece sempre que a aciona; assim,
realiza a associação entre alavanca e alimento.
Apertar a alavanca é a resposta, dada antes do
estímulo, que é o alimento. Skinner criou inúmeras
variantes dessas caixas, inclusive aquelas em que
o animal age visando a evitar uma punição, como
saltar para outro local depois de “avisado” por um
sinal luminoso ou sonoro, antes que um choque
elétrico seja acionado.
CAMPOS DE APLICAÇÃO
• As descobertas de Skinner foram amplamente utilizadas nos
Estados Unidos em diversos campos da atividade humana. Por
exemplo, a instrução programada: o aluno recebe um texto com
uma série de espaços em branco para serem preenchidos em nível
crescente de dificuldade.
• Partindo do princípio de que o reforço deve ser dado a cada passo
do processo e imediatamente após o ato, a cada momento o aluno
pode conferir o erro ou acerto de sua resposta.
• O processo foi aperfeiçoado na “máquina de ensinar”, que substitui o
professor em várias etapas da aprendizagem.
• Também é utilizado em empresas, com o intuito de estimular o
aumento da produção. A cada meta atingida, atribuem-se pontos, que
são acumulados e transformados em benefícios para os
considerados melhores.
• As técnicas skinnerianas usadas na educação familiar visam a criar
bons hábitos e corrigir comportamentos.
• No tratamento psicológico de certos comportamentos, a terapia
comportamental ou reflexologia visa a descondicionar os maus
hábitos, levando, por exemplo, um alcoólatra a deixar de
ingerir bebida alcoólica.
FILME LARANJA MECÂNICA, DE 1971
• No filme, o diretor Stanley Kubrick critica o
behaviorismo, ao mostrar o processo de
descondicionamento de um indivíduo
violento: ele é induzido quimicamente a ter
náuseas enquanto assiste a cenas de
violência.
• Os terapeutas comportamentais discordam
desse método, explicando que ele, além de
ser baseado no pouco eficiente
condicionamento pavloviano, não costuma
ser usado por questões éticas.
AFIRMAÇÃO DE SKINNER (WALDEN II: UMA SOCIEDADE DO
FUTURO):
• “Eu nego que liberdade sequer exista. Devo negá-lo, ou meu
programa seria absurdo. Não se pode ter uma ciência sobre
um assunto que salte caprichosamente. Talvez não possamos
nunca provar que o homem não é livre; é uma suposição. Mas
o sucesso crescente de uma ciência do comportamento torna
isto cada vez mais plausível.”
A PSICOLOGIA DA FORMA
• Os teóricos da psicologia da forma, ou Gestalt, sofreram
explicitamente a influência da fenomenologia e, nesse sentido,
opõem-se às psicologias de tendência positivista.
• Seus principais representantes foram os alemães Wolfgang
Köhler (1887-1967) e Kurt Kofka (1886-1941).
Gestalt - forma, configuração
A PERCEPÇÃO
• A psicologia derivada da tendência empirista reduzia a
percepção a uma análise rigorosa, até encontrar o “átomo”
psíquico fundamental.
• O mundo percebido seria inicialmente uma grande confusão
de sensações, cujos fragmentos se organizariam
trabalhosamente pelo processo de associação, da qual,
resultam por fim as percepções e depois as ideias.
• Os gestaltistas, em oposição, afirmam que não há excitação
sensorial isolada, mas complexos em que o parcial é função do
conjunto. Isso significa que o objeto não é percebido em suas partes,
para depois ser organizado mentalmente, mas se apresenta primeiro
na totalidade, e só depois o indivíduo atentará para os detalhes.
• No dia a dia encontramos inúmeros exemplos da tendência à
configuração: sempre identificamos formas nas nuvens (rosto,
cachorro, dragão...);
• As constelações representam a cruz, o escorpião;
reconhecemos um rosto familiar, mas longe dele muitas vezes
não nos lembramos bem dos detalhes.
• Já pensaram como é difícil descrever alguém para um retrato
falado? Isso porque percebemos o rosto no seu conjunto, e
não nos detalhes.
O COMPORTAMENTO
• Há que partir da admissão de um campo total em que o organismo e
o meio entram como dois polos correlativos que constituem o
verdadeiro ambiente da ação.
• Assim, um mesmo espaço se estrutura de forma diferente se o
percorro como faminto, fugitivo ou artista.
• Köhler fez diversas experiências com chimpanzés (alcance de uma
banana inacessível – deve perceber como um todo o campo onde
se situa, ele só tem o insight quando estabelece a relação frutacaixote ou fruta-bambu).
• A Gestalt estuda, na percepção, as figuras ambíguas. No
primeiro desenho vemos ora uma taça, ora dois perfis;
• No segundo, um triângulo branco sem contorno ou outra figura;
• Dependendo da função que damos às linhas, alteramos a
relação entre figura e fundo.
A GESTALT TERAPIA
• Foi desenvolvida pelo psicanalista alemão Friederich Perls (18931970), mais conhecido como Fritz Perls.
• Entendia a ação humana como uma totalidade, em que ações
mentais e físicas estão entrelaçadas, assim como o organismo e o
ambiente que o circunda.
• O ser humano é, portanto, um ser de relação.
• Por exemplo, ao observarmos uma sala cheia de gente,
percebemos o local como uma unidade, nas quais alguns aspectos
sobressaem enquanto outros ficam em segundo plano (conceito de
figura e fundo).
• Essa perspectiva pode ser alterada se outros aspectos passarem a
ser pregnantes, situação em que a forma do ambiente se altera.
• Preocupado em privilegiar o que acontece “aqui e agora”, Fritz
Perls não faz, como Freud, um retorno à história passada, mas
prefere focar na experiência de viver no presente.
• Ciente de que o neurótico não se sente como uma pessoa total, a
terapia visa a recuperar seu sentido de totalidade, já que o
equilíbrio psíquico foi quebrado pela neurose, impedindo que o
indivíduo se relacione com o meio e se autoregule.
• O tratamento gestáltico consiste em restabelecer a capacidade do
neurótico de discriminar, encaminhando-o para a integração: ao
facilitar que gestalts inacabadas emerjam à consciência, elas
poderão ser completadas.
• No Brasil, um dos importantes representantes da Gestalt terapia foi
o psiquiatra e escritor Roberto Freire (1927-2008).
FREUD E O INCONSCIENTE
• O conceito psicanálise possui três sentidos: é um método
interpretativo (hermenêutica), um tratamento psicológico
(psicoterapia) e uma teoria, ou seja, um conhecimento que o método
produz.
• A principal novidade dessa teoria encontra-se na hipótese do
inconsciente e na compreensão da natureza sexual da conduta.
• Usando de uma metáfora, poderíamos dizer que a vida consciente é
apenas a ponta de um iceberg, cuja montanha submersa simboliza
o inconsciente.
• A energia que preside os atos humanos é de natureza
pulsional, e Freud põe em relevo a energia de natureza sexual
chamada libido.
• Mas a sexualidade não deve ser identificada à genitalidade;
seu significado é muito mais amplo, abrangendo toda e
qualquer forma de gratificação ou busca do prazer.
AS TRÊS INSTÂNCIAS DO APARELHO PSÍQUICO
• Freud delimita três instâncias diferenciadas: o id, o ego e o
superego.
• O id (do latim, “isto”) constitui o polo pulsional da personalidade, o
reservatório primitivo da energia psíquica.
• O ego (do latim, “eu”) é a instância que age como intermediária
entre o id e o mundo externo; o ego enfrenta conflitos para adequálas pela razão às circunstâncias.
• O superego (ou supereu) é o que resulta da internalização das
proibições impostas pela educação, de acordo com os padrões da
sociedade em que vivemos.
• A relação entre essas três instâncias é dinâmica. O id orienta-se pelo
princípio do prazer e evita a dor. Porém, em contato com as normas
sociais forma-se o superego, que interioriza as forças inibidoras do
mundo exterior.
• O conflito entre as duas forças antagônicas – a busca do prazer e a
exigência dos deveres – é resolvido pelo ego a partir do princípio da
realidade.
• Ao levar em conta as condições impostas pelo mundo exterior,
aprende a lidar com o desejo, decidindo sobre a conveniência de
realizá-lo, proibir sua satisfação ou apenas adiá-la.
• Quando o conflito é muito grande e o ego não suporta a consciência
do desejo, este é rejeitado, o que determina o processo chamado
repressão.
• No entanto, o que foi reprimido não permanece no inconsciente,
pois, sendo energia, precisa ser expandido.
• Reaparece, então, sob a forma de sintoma.
• Os sintomas devem ser decifrados na sua linguagem
simbólica.
• Enquanto os sintomas permanecem obscurecidos pelo
desconhecimento das causas, tem-se como consequência as
neuroses ou até desordens mais graves.
A ASSOCIAÇÃO LIVRE
• Há várias maneiras de sondagem do inconsciente, mas, para Freud,
os sonhos são a “via régia”, o caminho real e privilegiado.
• O que recordamos de um sonho é o seu conteúdo manifesto que às
vezes nos parece incoerente e absurdo, há um conteúdo latente, a
ser descoberto pela decifração do seu simbolismo.
• Para tanto, Freud propõe a técnica da associação livre, pela qual o
próprio indivíduo, seguindo o fluxo espontâneo das ideias, dá as
pistas para descobrir o sentido oculto.
• Além dos sonhos, há outros fenômenos psíquicos privilegiados
por Freud, como os atos falhos e os chistes.
• Os atos falhos são pequenos deslizes, como esquecimentos,
troca de nomes ou lapsos.
• O chiste consiste em gracejos feitos sem aparente intenção de
ofender ou seduzir, mas que revelam forças agressivas ou
eróticas reprimidas.
PSICANÁLISE E CULTURA
• Em Mal-estar na civilização, escrito em 1930, Freud reflete sobre o
efeito da repressão dos instintos agressivos e sexuais e seus
resultados na civilização.
• Com pessimismo conclui que é alto o preço pago pelo indivíduo para
se tornar civilizado. Assim diz:
“A civilização consegue dominar o perigoso desejo de agressão do
indivíduo enfraquecendo-o, desarmando-o e estabelecendo no seu
interior um agente para cuidar dele, como uma guarnição numa cidade
conquistada.”
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