Por uma Análise do Comportamento aplicada à educação “A educação é aquilo que sobrevive depois que tudo o que aprendemos foi esquecido.” (B. F. Skinner) No mês em que comemora-se o dia da educação, vamos reportar-nos a uma relação ainda superficial no Brasil, que refere-se à aplicação dos pressupostos teóricos da Análise do Comportamento e de suas pesquisas no âmbito da Educação Infantil, do Ensino Fundamental e Médio. A educação, leia-se a pedagogia é imersa em práticas fundamentadas nos constructos teóricos de Piaget, Vygotsky, Paulo Freire, Fernando Hernandez e tantos outros. São muitas as teorias que acabam refletindo-se em práticas, que são mais “modismos”, que efetivamente a aplicação de intervenções: gamificação, understanding by design, ensino híbrido, construtivismo, sócio construtivismo, ensino tradicional ou montessoriano. São tantos os estudos, teóricos e metodologias que embasam a aprendizagem e a educação no Brasil continua ocupando os piores lugares nas avaliações internacionais, tendo como reflexo a ignorância (no sentido de ignorar) de um povo que sofre todos os dias as consequências de não ser politizado, leia-se educado. Mais ainda, os alunos acabam transformando-se em “cobaias” em salas de aula imersas em práticas das quais os professores sabem discursar muito bem, mas que pouco sabem defender ou embasar teoricamente. Eu, Kellen, nasci pessoa, aprendi a ser educadora e, olhar para toda essa realidade (das teorias e métodos disponibilizados), ao mesmo tempo que me encanta ainda provoca muita angústia pois, não é o que é efetivamente desenvolvido nas salas de aula da maioria das escolas do país, consequência do trabalho “não realizado” na formação de professores em muitas universidades; reflexo de um retrato de um país que apresenta inúmeras dificuldades na rede de relações entre o sistema político-econômico e aqueles que englobam o sistema educacional. Como Analista do Comportamento sinto-me ainda mais angustiada. Existe, na maioria das escolas, uma barreira, diria que um muro quando fala-se em Análise do Comportamento. Ao mencionar o nome de Skinner em aulas que envolvem a formação de professores, posso discriminar imediatamente a cara feia e o comportamento de muitos alunos, tentando buscar alguma distração na sala. Ao tentar estabelecer alguma contingência para aproximar-me e ter a certeza de que a “cara feia” envolve o estímulo discriminativo Skinner, ouço avaliações do tipo “aquele cara dos ratinhos” ou “aquele que queria provar que as pessoas comportam-se como ratos”. O que de fato pode-se afirmar é que notoriamente, existe muito equivoco entre o que é ensinado nas universidades sobre a Análise do Comportamento e sobre o que efetivamente ela propõe. Mais ainda, na maioria das escolas, o que é observado é uma concepção de um ensino que se contrapõe aos pressupostos da Análise do Comportamento. Essa contraposição acontece pela própria definição de ensino, que para a pedagogia é a aquisição de um conjunto de conteúdos quando, para a Análise do Comportamento, ensinar significa promover, disponibilizar, organizar contingências que estabeleçam como consequência a mudança de comportamentos. Outros pontos que também merecem destaque envolvem a história da Pedagogia no Brasil; da própria Análise do Comportamento; da falta de formação do professor; dos processos de ensino-aprendizagem; das precariedades da estrutura educacional; falta de investimentos, pesquisas aplicadas e interesses nessa área. Há também que se levar em consideração a própria história do Behaviorismo Radical no Brasil, amplamente associado a pesquisas aplicadas no âmbito universitário. É preciso lembrar da abrangência das propostas behavioristas e desconstruir o equívoco de que ela é uma área da Psicologia por si só, lembrando que a Análise do Comportamento produz conhecimento frente ao comportamento humano, o que propicia sua aplicação no campo educacional. São muitos os pesquisadores brasileiros que tem desenvolvido métodos de ensino, que tem como base a filosofia Behaviorista Radical. Estas pesquisas têm demonstrado amplamente a sua efetividade quando comparadas ao que é chamado de ensino tradicional. Mas é preciso destacar que o objetivo deste artigo não é afirmar que a psicologia comportamental é melhor que as teorias ditas “pedagógicas”. Pelo contrário, o principal objetivo é chamar a atenção dos Analistas do Comportamento, dos Behavioristas ou Comportamentalistas (escolham como desejam ser chamados) para que empreguem seus trabalhos e suas pesquisas em escolas regulares, aproximando a Análise do Comportamento do ensino infantil e de adolescentes. Mais ainda, que colaborem com a pedagogia no que se refere a formação de professores para que possam conhecer pressupostos que apresentam uma consistência teórica validada por pesquisas e estudos que comprovam efetivamente a sua eficácia. A educação está carente dessa relação! O mais importante é entender que os objetivos da Análise do Comportamento e da sua relação com a educação estão fundamentados em algumas reflexões de Skinner que envolvem “agir sobre o mundo e modifica-lo, sendo também modificado pelas consequências de suas ações.” Neste sentido, espero como educadora, que tenha disponibilizado reflexões que promovam mudança de comportamento. Se você, ao finalizar esse texto, sentir o desejo de saber um pouquinho mais ou até mesmo de confrontar o que foi escrito, sentiremo-nos afetadas pelas consequências de tê-lo escrito. Kellen Martins Escaraboto Fernandes iniciou sua vida profissional no Colégio Interativa de Londrina quando o local ainda chamava-se Gente Pequena. Foi professora na Educação Infantil e encantou-se pelo desenvolvimento das crianças. Querendo entender melhor como elas pensavam e aprendiam, buscou uma graduação em Psicologia, onde apaixonou-se pela Análise do Comportamento e pela clínica de crianças e adolescentes. Nos últimos anos de faculdade voltou para a escola, que já era um Colégio, dividindo, por 15 anos seu tempo entre a escola e a clínica. Aprofundou seus conhecimentos em Psicopedagogia, Educação Especial, em Psicologia Comportamental e sua última formação foi em Neuropsicologia Clínica. Contribuiu com a formação de professores e futuros psicólogos e há 3 anos recebeu o convite para assumir o desafio de tornar-se Diretora Educacional do Colégio Interativa, lugar que tanto ama e onde quer permanecer pois, acredita que nasceu mais que psicóloga, uma pessoa que ama estar com outras pessoas, contribuindo para que elas possam ser mais felizes! Fui ajudada pela futura Psicóloga Lilian Juliani, graduanda do terceiro ano de Psicologia na Universidade Estadual de Londrina- UEL. Atualmente estagiária do IACEP – Instituto de Análise do Comportamento em Estudos e Psicologia e colaboradora voluntária do projeto de extensão “Sensibilizarte: a arte como instrumento para humanização na formação e no cuidado em saúde” atuando na frente de Contação de Histórias. Membro da comissão de estudantes do Conselho Regional de Londrina (CRP).