ECN - Paulo Margotto

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Citomegalovírus e outras viroses comuns não estão comumente associadas com
Enterocolite necrosante (ECN)
Acta Paediatr. 2016 Jan;105(1):50-2
Apresentação:Lara R. Pereira (R2 em Pediatria)/Coordenação: Paulo R. Margotto
www.paulomargotto.com.br
Brasília, 23 de abril de 2016
Introdução
A microbiota intestinal está cada vez mais implicada na patogenia da Enterocolite necrosante
(ECN). (1) A maioria dos trabalhos atuais foca na larga e variada flora bacteriana intestinal que já
é mais documentada e estudada.
No entanto, os outros membros, não bacterianos, da microbiota intestinal também podem ser
importantes tanto como causas diretas quanto indiretas, por meio de distúrbios no equilíbrio da
microbiota, como fungos(2) e vírus.
Torovírus (3) foi encontrado em 48% de uma série de 44 crianças com ECN em uma única
Unidade ao longo de cinco anos, a uma taxa mais elevada do que nos controles não-ECN, onde
17% abrigavam norovírus. Astrovirus (4) foi igualmente identificado em 19% de uma coorte de 32
casos de ECN em uma única série de casos em uma Unidade ao longo de quatro anos.
O Citomegalovírus (CMV) tem se destacado em alguns relatos de casos com papel importante no
desenvolvimento da ECN.
Tran et al (5) relataram um único bebê de 25 semanas de gestação, que estava participando de
um estudo do microbioma intestinal quando desenvolveu fulminante e letal ECN
No pós-morte, a inclusão CMV foi confirmado com técnicas de imunohistoquímica no tecido
intestinal ressecado.
Introdução
CMV contribui para lesão direta da mucosa da doença intestinal inflamatória, podendo assim
ser uma causa direta no desenvolvimento ECN, ou a presença do vírus pode ter desestabilizado
estruturas das bactérias comensais intestinais.
De modo semelhante, tem sido relatado um caso de gêmeo desenvolver ECN em associação
com a infecção por CMV.(6)
Apesar destas associações relatadas, outros não conseguiram identificar uma ligação viral - um
de 27 casos de ECN, usando o teste de PCR em amostras de tecidos ressecadas,não identificou
quaisquer causas virais comuns de gastroenterite pediátrica, mas CMV não foi especificamente
testado. (7)
Para explorar ainda mais o possível papel do CMV e outros vírus entéricos não previamente
bem exploradas no desenvolvimento da ECN, os autores utilizaram amostras de sangue e de
fezes de estudo anterior SERVIS (8) para procurar evidências,tanto sistêmica ou entérica de
infecções virais
Métodos
177 crianças com <1500g ou < 32 semanas de Idade Gestacional foram selecionadas para o
estudo.
Destas 177, 22 tiveram ECN confirmada com cirurgia ou necropsia ou Pneumatose intestinal +
sinais clínicos confirmadas por dois médicos.
Amostras de sangue e fezes desses 22 neonatos selecionados precisavam ser colhidas o mais
próximo ao diagnóstico da ECN possível. As amostras de fezes precisavam ser obtidas 7dias
antes do diagnóstico até 14 dias depois do início da doença. As amostras de sangue eram
consideradas ótimas quando colhidas 4 dias antes ou até 12 dias depois do diagnóstico. Com
esse critério, dos 22 pacientes apenas 17 tinham as amostras adequadas e foram avaliados.
Métodos
Os casos selecionados seriam comparados com controles de idade gestacional pós- concepção
semelhante, mas por motivos financeiros os controles só seriam testados se os casos fossem
positivos.
As amostras de sangue eram usadas para detectar o CMV por PCR viral, testavam também EBV e
adenovírus.
As amostras de fezes eram usadas para identificas RNA viral(norovírus, astrovírus e rotavírus) e PCR
para detecção do DNA do adenovírus.
Resultados
Os 17 recém –nascidos avaliados tinham:Tabela 1
1.Peso ao nascer: mediana de 830g(500g – 1350g).
2.IG média de 26 semanas(23-29s).
3.O início dos sintomas de ECN: mediana de 16 dias de vida (2 a 46 dias).
Nenhum dos 17 neonatos selecionados e das 31 amostras analisadas foram identificados com
tendo CMV ou outros enterovírus presentes.
NÃO havia nenhuma evidência de infecção viral ativa ou recente e NENHUMA amostra avaliada.
Diante de todos os casos negativos, os controles não foram testados.
Resultados
Discussão
A ECN representa a via comum final de diferentes processos patológicos incluindo a isquemia
mucosa, respostas imunomediadas a microbiota intestinal, componentes alimentares, fatores
genéticos e é provável que esses fatores desencadeantes variem entre os neonatos.
Relatos de casos sugerem a associação de vírus em alguns casos de ECN, baseados na variação
sazonal que ocasionalmente é vista na ECN e em números de casos agrupados que também são
vistos em outros fenômenos mediados por vírus.
No entanto, nesse trabalho onde se fez uma série comparativa com casos confirmados de ECN
não foi possível associar a ECN a infecções virais.
Discussão
O estudo procurou associar a ECN a vírus que são comumente associados a gastroenterites
(adenovírus, norovírus, rotavírus, astrovírus) e tentou explorar ainda mais o papel do CMV,
então o painel viral utilizado foi sensato.
As amostras de sangue e de fezes utilizadas nas análises foram colhidas o mais próximo possível
do início da Enterocolite, então é improvável que tenham ocorrido perdas.
É possível que tenha sido perdido algum caso de CMV, pois o trabalho usou a amostra de sangue
para procurar o vírus e não procurou nas fezes, futuros estudos poderiam usar ensaios com
fezes e histoquímica de tecidos onde ocorre a ressecção cirúrgica.
Discussão
Os futuros esforços para melhor compreender o papel da microbiota intestinal na promoção de
saúde ou de doença em prematuros precisam considerar bactérias, fungos e vírus, além de
aspectos funcionais destes constituintes da microbiota.
Conclusão
Apesar de relatos de casos indicarem uma associação episódica de vírus entéricos na ECN, a
inabilidade de se detectar algum desses vírus nos 17 neonatos estudados nesse estudo sugere
uma improvável etiologia viral como causa da maioria das formas
esporádicas de ECN.
Notas-chave
-A etiologia da ECN permanece desconhecida, o agrupamento de
casos de ECN e relatos de casos de infecção concomitante
sugerem que vírus podem potencialmente desempenhar um papel no aparecimento de
ECN.
-Em uma série de 17 casos de ECN definitiva, nenhum caso de CMV ou vírus entéricos
comuns foram identificados
-Nossa série não identificou patógenos virais contribuindo para o aparecimento de ECN
Nota do Editor do site, Dr. Paulo R. Margotto.
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Autor(es): Paulo R. Margotto (Reunião na Residência Médica em Pediatria do
HRAS/HMIB/SES/DF)
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Drs. Filipe, Ricardo, Paulo R. Margotto, Lara e Camila
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