Cartas aos Efésios

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CARTA AOS
EFÉSIOS
Cidade de Éfeso
Texto do padre Antônio Luiz Catelan Ferreira
1. A cidade
Éfeso estava situada na foz do rio Caistro na Ásia Menor, quase em
frente da ilha de Samos. Era um importante centro de tráfego,
terrestre e marítimo entre o Ocidente e o Oriente.
Os primeiros habitantes da região parece terem sido os Cários. Logo
depois, os fenícios teriam fundado no local um santuário em honra
de uma divindade feminina adorada sob o símbolo da lua. Esse
santuário começou a atrair gente de vários países que ali achavam o
direito de asilo. Sob o domínio dos Jônios, Éfeso tornou-se a
principal das doze cidades que formaram a Confederação Jônica.
Passou depois para o domínio dos Persas e depois Alexandre
Magnoa conquistou em 334 a.C.. Lisímaco, general de Alexandre,
recebeu-a em herança na morte desse. Mas foram os Átalos de
Pérgamo que a embelezaram e enriqueceram.
Texto do padre Antônio Luiz Catelan Ferreira
Éfesos – Biblioteca
Texto do padre Antônio Luiz Catelan Ferreira
Em 129 a.C. passou ao domínio romano. Tornou-se a capital da
Província Romana da Ásia. De fato, na época era a maior metrópole
da Ásia. No tempo de Paulo a população da cidade era de
aproximadamente de 225 mil habitantes, que viviam do comércio e
do turismo. Éfeso era essencialmente uma cidade religiosa. Ali
estava o templo da grande Mãe Diana ou Artêmis, divindade da
fecundidade. O templo, uma das maravilhas do mundo antigo, foi
construído no século VI a.C.. Em 356 a.C. foi destruído pelo fogo
ateado por um certo Erostrato, que desejava tornar-se célebre.
Existia, também, em Éfeso um grande número de bruxos e feiticeiros.
Muitos deles se converteram ao cristianismo (At 19,19). Embora sede
de um procônsul, Éfeso era administrada por um conselho de
cidadãos aos moldes de Atenas. Em Éfeso existia uma considerável
colônia de judeus.
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Éfesos – Templo a Artemis
Texto do padre Antônio Luiz Catelan Ferreira
2. A comunidade de Éfeso
Paulo passou a primeira vez por Éfeso, no final de sua segunda
viagem missionária (At 18,19ss). Por pouco tempo pregou na
sinagoga e prometeu voltar. Ali, separou-se de seus
companheiros Áquila e Priscila. Ao voltar na sua terceira viagem
missionária, Paulo já encontrou um pequeno núcleo cristão,
provavelmente obra de Áquila e Priscila e possivelmente
também de Apolo. Permaneceu na cidade por longo tempo, por
quase três anos. (At 20,31).
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Ruínas da Cidade de Éfeso
Texto do padre Antônio Luiz Catelan Ferreira
Começou pregando na sinagoga por três meses. Diante da
incredulidade dos judeus, passou a pregar na escola de um senhor
chamado Tirano, entre as 11 e 16 horas. Sua pregação alcançou
grande êxito, pois muitos dos bruxos e feiticeiros da cidade se
converteram e queimaram seus livros mágicos em praça pública.
At 19,11ss fala de milagres que confirmaram sua pregação.
Durante sua permanência em Éfeso, Paulo escreveu a Primeira
Coríntios, Gálatas e provavelmente Filipenses. Sua atividade
missionária provocou o surgimento de comunidades cristãs nas
cidades da região, não diretamente por ele, mas através de seus
colaboradores. Conhecemos um deles, Épafras, um colossense de
origem pagã que foi convertido por Paulo em Éfeso. Épafras é o
fundador das Igreja de Colossos e Laodicéia. Paulo foi ajudado em
sue ministério por Timóteo e Erastro (At 19,22), Gaio e Aristarco
(At 19,29) e Tito.
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O apostolado de Paulo foi interrompido pela revolta dos
ourives em Éfeso, liderados por Demétrio (At 19,24ss). De fato
os artesãos, fabricantes de templos de prata da deusa Artêmis
(Diana) se sentiram prejudicados pela pregação de Paulo contra
a deusa. A revolta conseguiu contagiar toda a cidade que
gritava: “Grande é a Artêmis dos Efésios” (At 19,28).
Embora, os Atos dos Apóstolos, não mencionem nenhuma
prisão de Paulo, em Éfeso, a maioria dos autores admitem sua
possibilidade. Durante esse cativeiro, que não deve ter sido
muito longo, Paulo teria escrito a carta aos Filipenses.
A conseqüência da revolta dos ourives foi a partida de Paulo da
cidade (At 20,1).
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Éfesos – Lojas de Artesãos
Texto do padre Antônio Luiz Catelan Ferreira
3. Destinatários
O título “aos efésios” (1,1) não consta em nenhum manuscrito
anterior ao século IV. O papiro P46, o mais antigo que temos e que é
datado em torno ao ano 200 dC., traz o seguinte destinatário:
“àqueles que são santos e fiéis em Cristo Jesus”. O título “as efésios”
também está ausente nos códices Vaticano e Sinaítico e autores
antigos como Orígenes, Basílio, Pelágio e outros. Em todos esses
textos encontramos apenas: “aos santos e fiéis”. De outro lado, é a
carta “mais fria” de São Paulo. Não contém saudações pessoais nem
referências a circunstâncias concretas da estadia do Apóstolo em
Éfeso.
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Foram feitas três propostas a respeito dos destinatários:
a) Efésios seria a carta de Paulo aos Laodicenses (Cl 4,16). Essa
destinação é conservada no cânon de Marcião (140 dC). O texto
da Carta é o mesmo, mas a destinação de Ef 1,1 é aos Laodicenses.
Sabemos que a igreja de Laodicéia não foi fundada por Paulo,
mas por seu colaborador Épafras. Isso explicaria o caráter
impessoal da carta e a ausência de saudações e notícias pessoais.
Mais tarde o nome dos destinatários teria sido apagado por causa
da condenação do bispo de Laodicéia em Ap 3,14-19. Porém,
convém notar que também o bispo de Éfeso é repreendido (Ap
2,4-6).
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b) Efésios seria uma Carta circular a várias Igrejas da Ásia. A Carta seria
dirigida a todas as Igrejas da Ásia: Éfeso, Laodicéia, Pérgamo, etc. No
primeiro versículo teria se deixado em branco o nome dos destinatários
que seria preenchido por cada comunidade onde a carta fosse lida. Assim
se explicaria o caráter impessoal da carta. A carta seria posteriormente
denominada “aos efésios”, porque a Igreja de Éfeso era a mais
importante de toda a Ásia. Alguns autores pensam que o próprio
Tíquico, portador desta carta, como também aquelas de Colossenses e
Filemon, fosse o encarregado de colocar o nome de cada comunidade ao
enviar-lhes uma cópia da mesma.
Essa hipótese remonta ao século XVI embora com formulações
diferentes. Porém, pode-se questionar por que Paulo não escreveu “às
Igrejas da Ásia” como escreveu “às Igrejas da Galácia” (Gl 1,2) ou “aos
santos que se encontram na Acaia inteira” (2Cor 1,1)? Alguns autores
chegaram a suporque Paulo teria escrito “na Ásia”. Mas o erro de um
copista teria transformado “na Ásia” em “tois ousin” = “os que estão”.
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c) A carta é destinada à Igreja de Éfeso. A maior parte dos
manuscritos contém a inscrição “em Éfeso”; e mesmo aqueles que
omitem concordam com a destinação efesina da carta.
A falta de notícias no final da carta seria compensada pela presença
de Tíquico encarregado disso (Ef 6,21-22). Tíquico terá a mesma
missão em Colossos (Cl 4,7-8).
Mas como explicaria o caráter genérico e impessoal da carta, pois
Paulo viveu três anos em Éfeso (At 20,31)? Textos como 1,15; 4,21;
3,2 parecem supor que o autor não evangelizou os destinatários da
carta.
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d) Opinião atual: hoje, a maioria dos críticos da carta
optam pela destinação circular da Carta ou a destinação
aos laodicenses. A afinidade doutrinal entre Colossenses
e Efésios; o pedido de Paulo em Cl 4,16b; o mesmo
portador das cartas, Tíquico (Ef 6,21; Cl 4,7), orientam
para a destinação de “aos laodicenses”. Alguns autores
admitem a hipótese de uma “carta circular”, pensam na
destinação a um número restrito de comunidades, tais
como Éfeso, Laodicéia e uma ou outra igreja da região.
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4. Autenticidade paulina
Na antigüidade, a paternidade paulina de Efésios foi aceita
unanimemente. O próprio texto se refere a Paulo várias vezes (1,1; 3,1;
4,1), além da menção de Tíquico, conhecido colaborador de Paulo.
Também essa Carta é colocada entre os escritos paulinos nos cânones
mais antigos da Igreja, inclusive no cânone de Marcião, embora com o
título “aos laodicenses”. Entretanto no final do século XVIII a
autenticidade paulina foi colocada em dúvida pelos motivos seguintes:
Diferenças na língua e no estilo: Em Efésios encontramos cerca de 50
vocábulos que não são encontrados nos demais escritos paulinos
(exceto as cartas pastorais); cerca de 40 vocábulos não aparecem em
outros textos do NT, muitos destes se encontram na LXX e nos escritos
dos Santos Padres. Alguns vocábulos presentes nos escritos autênticos
de Paulo, aparecem aqui com significado diverso, como: Igreja,
mistério, plenitude... Por outro lado, faltam alguns termos tipicamente
paulinos, como: irmãos, justo, justificar... O termo justiça, mesmo
presente, é utilizado para indicar uma virtude moral.
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b) O estilo é mais pesado, com frases longas, repetições,
redundâncias, verbos com muitos complementos... (1,3-14; 1,15-23;
2,1-10; 3,1-6). É próximo ao estilo dos hinos de Qumrã e da LXX.
c) No campo doutrinal, a Igreja não é mais a comunidade local, mas o
conjunto de todos os fiéis, os quais formam um corpo de quem Cristo
é a cabeça. Cristo vem apresentado em força da sua ressurreição,
como o pantokra,twr (Onipotente, Senhor do Universo, Soberano
Universal...), deixando em segundo lugar sua morte na cruz. A
relação entre Israel e os pagãos são vistos com outra luz. A
escatologia é apresentada como uma realidade já realizada na vida
atual dos fiéis. O AT é apresentado de forma nova, dando espaço a
longas citações.
Texto do padre Antônio Luiz Catelan Ferreira
5. Semelhança com Colossenses
Dos 115 versículos de Efésios, 73 possuem paralelo exato em
Colossenses. Um terço das palavras de Colossenses estão em Efésios.
Apenas três perícopes não possuem nenhum paralelo em
Colossenses: Ef 2,6-9; 4,5-13; 5,29-33.
Os paralelos mais evidentes são:
A impressão que se tem é que
Efésios é simplesmente Colossenses
Efésios
Colossenses
ampliada. Nota-se também, que o
1,6-7
=
1,13-14
autor de Efésios emprega, às vezes,
palavras usadas por Paulo em outras
1,15
=
1,9
cartas, mas com sentido diferente.
2,1.5
=
2,13
Por exemplo: musth,rion “mistério”
em Cl 1,26; 2,2; 4,3 indica o “Cristo
2,15
=
2,14
em vós”, a pessoa de Cristo
3,1-13
=
1,14-29
escondida na sua igreja. Mas em Ef
Etc...
4,15-19
=
2,19
1,9 e 3,4 a mesma palavra
indica o
plano salvífico de Deus no qual
4,22-24
=
3,9-10
judeus e pagãos serão unidos em
5,6
=
3,6
Cristo.
Etc...
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6. Diferença de conteúdo
O acento de Efésios é posto principalmente sobre o Cristo
ressuscitado e exaltado, enquanto que a morte é somente um
pressuposto (2,13-16). Existem poucas referências à Parusia, em
relação a outras cartas. Já não se espera uma volta iminente de
Jesus.
A Igreja é mais universal que nas outras Cartas. Em Rm 12,5 e 1Cor
12,12-27 o “Corpo de Cristo” se refere à igreja local, mas em Ef 4,116 todos os cristãos são membros de Cristo. Ele é o chefe da Igreja
universal. A Igreja inteira é a “esposa de Cristo” (5,23-32).
Texto do padre Antônio Luiz Catelan Ferreira
Também a doutrina sobre o matrimônio em 5,21-23 é mais
desenvolvida.
Tudo isso favorece aos defensores da não autenticidade
paulina a Carta. Por outro lado, os defensores da autenticidade
podem se utilizar também destes argumentos. Paulo costuma
se inculturar,adaptar-se às novas realidades, aos novos
ambientes.
A realidade da região de Éfeso era diversa e Paulo utiliza o
linguajar local, e podia muito bem ter o auxílio de alguém que
conhecesse a cultura e este linguajar. E também poderíamos
encontrar aqui a evolução do pensamento Paulino sobre
alguns temas, como por exemplo: Igreja, justiça, ressurreição...
Texto do padre Antônio Luiz Catelan Ferreira
Nenhum dos argumentos, isoladamente, são
suficientes para negar a autoria paulina de Efésios.
Todavia, tomados em conjunto, deixam, segundo
muitos autores, sérias dúvidas sobre a paternidade
paulina. Efésios é, certamente, um desenvolvimento
mais maduro da teologia de Paulo. Efésios estaria
para Colossenses, assim como Romanos está para
Gálatas. Também a Tradição é unânime na atribuição
da carta a Paulo. É, ainda, muito difícil supor que
igrejas paulinas aceitassem calmamente um escrito
não paulino com falsificação de seu nome.
Texto do padre Antônio Luiz Catelan Ferreira
Os que não aceitam a autoria paulina, atribuem a Carta a um
seu discípulo que teria escrito algum tempo após sua morte.
Porém, é bastante fantasiosa a hipótese de que a Carta teria
sido escrita por Onésimo para servir de introdução à coleção
das Cartas Paulinas. Entre os que admitem a paternidade
paulina, existem também os que acham que Paulo pediu a
um secretário que escrevesse a carta baseada em Colossenses.
Texto do padre Antônio Luiz Catelan Ferreira
7. Data e lugar de composição
Admitindo que Efésios seja de Paulo, deve-se colocar
sua composição durante a prisão romana do Apóstolo,
entre os anos 61-63. Efésios é contemporânea de
Colossenses e Filemon.
Texto do padre Antônio Luiz Catelan Ferreira
8. Divisão da carta
Endereço (1,1-2)
I - O Mistério da Salvação (1,3–3,21)
1) Hino de louvor a Deus pelos benefícios concedidos aos fiéis
(1,3-14)
a. eleição (4-6a)
b. redenção (6,b-7)
c. conhecimento do mistério (8-10a)
d. chamado dos judeus à fé (10b-12)
e. o chamado dos pagãos (13-14).
2) Agradecimento e reflexão
(1,15–2,22)
a. a supremacia universal de
Cristo (1,15-23)
b. também os gentios foram
ressuscitados em Cristo (2,1-10)
c. Cristo derrubou o muro que
separava judeus e gentios (2,11-22).
Texto do padre Antônio Luiz Catelan Ferreira
3) Solene oração de Paulo (3,1-21)
a. introdução (3,1)
b. parênteses explicativo: conhecimento do mistério de Cristo (3,2-13)
c. oração para obter o pleno conhecimento de Cristo (3,14-21).
II – Exortação (4,1–6,20)
1) Apelo à unidade e carismas (4,1-16)
2) A nova vida em Cristo (4,17–5,20)
3) Conselhos sobre a vida doméstica (5,21–6,9)
4) O combate espiritual (6,10-20).
Conclusão (6,21-24)
Texto do padre Antônio Luiz Catelan Ferreira
9. Mensagem
É considerada a “Carta Magna da Igreja”; a síntese
completa e mais desenvolvida da mensagem paulina. Não
é uma carta polêmica, mas solene e litúrgica. Porém, essa
carta contém uma reflexão aprofundada sobre o mistério
da salvação, concebido desde a eternidade em Deus e
atuado em Cristo Jesus e na Igreja.
Texto do padre Antônio Luiz Catelan Ferreira
Por obra de Cristo os judeus são os primeiros a receber esta
mensagem, pois eles esperaram por ela. Mas agora ela é dirigida
também aos gentios. Antes havia entre eles a barreira da Lei. Os
gentios não são mais estrangeiros nem hóspedes, mas cidadãos dos
santos edificados sob o fundamento dos Apóstolos e dos Profetas,
tendo Cristo como pedra angular. Nele são edificados para tornarse morada de Deus por meio do Espírito Santo (2,19-22).
Esta reconciliação se atua na Igreja, que é o corpo de Cristo, que
possui a plenitude de toda a divindade (1,22-23). Os cristãos
devem viver vida nova, inclusive nas relações familiares (5,21–6,9),
pois abandonaram o homem velho e os seus vícios e se revestiram
de homens novos
4,20-24).
Texto do padre Antônio Luiz Catelan Ferreira
Créditos
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Coordenação geral da Produção: Irmã Bernadete Boff, fsp
Texto: Padre Antônio Luiz Catelan Ferreira
Arte do power point: Irmã Matilde Aparecida Alves, fsp
Irmã Ivonete Kurten,fsp
Bianca Russo
Fotos: Arquivo Paulinas – Proibida a reprodução e cópia de
imagens - Direitos reservados
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