Partilha da Palavra CARTA AOS EFÉSIOS

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 Partilha da Palavra
CARTA AOS EFÉSIOS
1. A cidade
Éfeso estava situada na foz do rio Caistro na Ásia
Menor, quase em frente da ilha de Samos. Era um
importante centro de tráfego, terrestre e marítimo entre
o Ocidente e o Oriente.
Os primeiros habitantes da região parece terem
sido os Cários. Logo depois, os fenícios teriam fundado
no local um santuário em honra de uma divindade
feminina adorada sob o símbolo da lua. Esse santuário
começou a atrair gente de vários países que ali achavam
o direito de asilo. Sob o domínio dos Jônios, Éfeso
tornou-se a principal das doze cidades que formaram a
Confederação Jônica. Passou depois para o domínio dos
Persas e depois Alexandre Magno a conquistou em 334
a.C.. Lisímaco, general de Alexandre, recebeu-a em
herança na morte desse. Mas foram os Átalos de
Pérgamo que a embelezaram e enriqueceram.
Em 129 a.C. passou ao domínio romano. Tornouse a capital da Província Romana da Ásia. De fato, na
época era a maior metrópole da Ásia. No tempo de Paulo
a população da cidade era de aproximadamente de 225
mil habitantes, que viviam do comércio e do turismo.
Éfeso era essencialmente uma cidade religiosa. Ali estava
o templo da grande Mãe Diana ou Artêmis, divindade da
fecundidade. O templo, uma das maravilhas do mundo
antigo, foi construído no século VI a.C.. Em 356 a.C. foi
destruído pelo fogo ateado por um certo Erostrato, que
desejava tornar-se célebre.
Existia, também, em Éfeso um grande número
de bruxos e feiticeiros. Muitos deles se converteram ao
cristianismo (At 19,19).
Embora sede de um procônsul, Éfeso era
administrada por um conselho de cidadãos aos moldes
de Atenas. Em Éfeso existia uma considerável colônia de
judeus.
2. A comunidade de Éfeso
Paulo passou a primeira vez por Éfeso, no final
de sua segunda viagem missionária (At 18,19ss). Por
pouco tempo pregou na sinagoga e prometeu voltar. Ali,
separou-se de seus companheiros Áquila e Priscila. Ao
voltar na sua terceira viagem missionária, Paulo já
encontrou um pequeno núcleo cristão, provavelmente
obra de Áquila e Priscila e possivelmente também de
Apolo. Permaneceu na cidade por longo tempo, por
quase três anos. (At 20,31).
Começou pregando na sinagoga por três meses.
Diante da incredulidade dos judeus, passou a pregar na
escola de um senhor chamado Tirano, entre as 11 e 16
horas. Sua pregação alcançou grande êxito, pois muitos
dos bruxos e feiticeiros da cidade se converteram e
queimaram seus livros mágicos em praça pública. At
19,11ss fala de milagres que confirmaram sua pregação.
Durante sua permanência em Éfeso, Paulo escreveu a
Primeira Coríntios, Gálatas e provavelmente Filipenses.
Sua atividade missionária provocou o surgimento de
comunidades cristãs nas cidades da região, não
diretamente por ele, mas através de seus colaboradores.
Conhecemos um deles, Épafras, um colossense de
origem pagã que foi convertido por Paulo em Éfeso.
Épafras é o fundador das Igreja de Colossos e Laodicéia.
Paulo foi ajudado em sue ministério por Timóteo e
Erastro (At 19,22), Gaio e Aristarco (At 19,29) e Tito.
O apostolado de Paulo foi interrompido pela
revolta dos ourives em Éfeso, liderados por Demétrio (At
19,24ss). De fato os artesãos, fabricantes de templos de
prata da deusa Artêmis (Diana) se sentiram prejudicados
pela pregação de Paulo contra a deusa. A revolta
conseguiu contagiar toda a cidade que gritava: “Grande
é a Artêmis dos Efésios” (At 19,28).
Embora, os Atos dos Apóstolos, não mencionem
nenhuma prisão de Paulo, em Éfeso, a maioria dos
autores admitem sua possibilidade. Durante esse
cativeiro, que não deve ter sido muito longo, Paulo teria
escrito a carta aos Filipenses.
A conseqüência da revolta dos ourives foi a
partida de Paulo da cidade (At 20,1).
3. Destinatários
O título “aos efésios” (1,1) não consta em
nenhum manuscrito anterior ao século IV. O papiro P46,
o mais antigo que temos e que é datado em torno ao
ano 200 dC., traz o seguinte destinatário: “àqueles que
são santos e fiéis em Cristo Jesus”. O título “as efésios”
também está ausente nos códices Vaticano e Sinaítico e
autores antigos como Orígenes, Basílio, Pelágio e outros.
Em todos esses textos encontramos apenas: “aos santos
e fiéis”. De outro lado, é a carta “mais fria” de São Paulo.
Não contém saudações pessoais nem referências a
circunstâncias concretas da estadia do Apóstolo em
Éfeso.
Foram feitas três propostas a respeito dos
destinatários:
a) Efésios seria a carta de Paulo aos Laodicenses
(Cl 4,16). Essa destinação é conservada no cânon de
Marcião (140 dC). O texto da Carta é o mesmo, mas a
destinação de Ef 1,1 é aos Laodicenses. Sabemos que a
igreja de Laodicéia não foi fundada por Paulo, mas por
seu colaborador Épafras. Isso explicaria o caráter
impessoal da carta e a ausência de saudações e notícias
pessoais. Mais tarde o nome dos destinatários teria sido
apagado por causa da condenação do bispo de Laodicéia
em Ap 3,14-19. Porém, convém notar que também o
bispo de Éfeso é repreendido (Ap 2,4-6).
b) Efésios seria uma Carta circular a várias
Igrejas da Ásia. A Carta seria dirigida a todas as Igrejas da
Ásia: Éfeso, Laodicéia, Pérgamo, etc. No primeiro
versículo teria se deixado em branco o nome dos
destinatários que seria preenchido por cada comunidade
onde a carta fosse lida. Assim se explicaria o caráter
impessoal da carta. A carta seria posteriormente
denominada “aos efésios”, porque a Igreja de Éfeso era
a mais importante de toda a Ásia. Alguns autores
pensam que o próprio Tíquico, portador desta carta,
como também aquelas de Colossenses e Filemon, fosse
o encarregado de colocar o nome de cada comunidade
ao enviar-lhes uma cópia da mesma.
Essa hipótese remonta ao século XVI embora
com formulações diferentes. Porém, pode-se questionar
por que Paulo não escreveu “às Igrejas da Ásia” como
escreveu “às Igrejas da Galácia” (Gl 1,2) ou “aos santos
que se encontram na Acaia inteira” (2Cor 1,1)?
Alguns autores chegaram a supor que Paulo
teria escrito “na Ásia”. Mas o erro de um copista teria
transformado “na Ásia” em “tois ousin” = “os que
estão”.
c) A carta é destinada à Igreja de Éfeso. A maior
parte dos manuscritos contém a inscrição “em Éfeso”; e
mesmo aqueles que omitem concordam com a
destinação efesina da carta.
A falta de notícias no final da carta seria
compensada pela presença de Tíquico encarregado disso
(Ef 6,21-22). Tíquico terá a mesma missão em Colossos
(Cl 4,7-8).
Mas como explicaria o caráter genérico e
impessoal da carta, pois Paulo viveu três anos em Éfeso
(At 20,31)? Textos como 1,15; 4,21; 3,2 parecem supor
que o autor não evangelizou os destinatários da carta.
d) Opinião atual: hoje, a maioria dos críticos da
carta optam pela destinação circular da Carta ou a
destinação aos laodicenses. A afinidade doutrinal entre
Colossenses e Efésios; o pedido de Paulo em Cl 4,16b; o
mesmo portador das cartas, Tíquico (Ef 6,21; Cl 4,7),
orientam para a destinação de “aos laodicenses”.
Alguns autores que admitem a hipótese de uma “carta
circular”, pensam na destinação a um número restrito
de comunidades, tais como Éfeso, Laodicéia e uma ou
outra igreja da região.
4. Autenticidade paulina
Na antigüidade, a paternidade paulina de Efésios
foi aceita unanimemente. O próprio texto se refere a
Paulo várias vezes (1,1; 3,1; 4,1), além da menção de
Tíquico, conhecido colaborador de Paulo. Também essa
Carta é colocada entre os escritos paulinos nos cânones
mais antigos da Igreja, inclusive no cânone de Marcião,
embora com o título “aos laodicenses”. Entretanto no
final do século XVIII a autenticidade paulina foi colocada
em dúvida pelos motivos seguintes:
a) Diferenças na língua e no estilo: Em Efésios
encontramos cerca de 50 vocábulos que não são
encontrados nos demais escritos paulinos (exceto as
cartas pastorais); cerca de 40 vocábulos não aparecem
em outros textos do NT, muitos destes se encontram na
LXX e nos escritos dos Santos Padres. Alguns vocábulos
presentes nos escritos autênticos de Paulo, aparecem
aqui com significado diverso, como: Igreja, mistério,
plenitude... Por outro lado, faltam alguns termos
tipicamente paulinos, como: irmãos, justo, justificar... O
termo justiça, mesmo presente, é utilizado para indicar
uma virtude moral.
b) O estilo é mais pesado, com frases longas, repetições,
redundâncias, verbos com muitos complementos... (1,314; 1,15-23; 2,1-10; 3,1-6). É próximo ao estilo dos hinos
de Qumrã e da LXX.
c) No campo doutrinal, a Igreja não é mais a comunidade
local, mas o conjunto de todos os fiéis, os quais formam
um corpo de quem Cristo é a cabeça. Cristo vem
apresentado em força da sua ressurreição, como o
pantokra,twr (Onipotente, Senhor do Universo,
Soberano Universal...), deixando em segundo lugar sua
morte na cruz. A relação entre Israel e os pagãos são
vistos com outra luz. A escatologia é apresentada como
uma realidade já realizada na vida atual dos fiéis. O AT é
apresentado de forma nova, dando espaço a longas
citações.
5. Semelhança com Colossenses
Dos 115 versículos de Efésios, 73 possuem
paralelo exato em Colossenses. Um terço das palavras
de Colossenses estão em Efésios. Apenas três perícopes
não possuem nenhum paralelo em Colossenses: Ef 2,6-9;
4,5-13; 5,29-33.
Os paralelos mais evidentes são:
Efésios
Colossenses
1,6-7
=
1,13-14
1,15
=
1,9
2,1.5
=
2,13
2,15
=
2,14
3,1-13
=
1,14-29
4,15-19
=
2,19
4,22-24
=
3,9-10
5,6
=
3,6
A impressão que se tem é que Efésios é simplesmente
Colossenses ampliada. Nota-se também, que o autor de
Efésios emprega, às vezes, palavras usadas por Paulo em
outras cartas, mas com sentido diferente. Por exemplo:
musth,rion “mistério” em Cl 1,26; 2,2; 4,3 indica o
“Cristo em vós”, a pessoa de Cristo escondida na sua
igreja. Mas em Ef 1,9 e 3,4 a mesma palavra indica o
plano salvífico de Deus no qual judeus e pagãos serão
unidos em Cristo.
6. Diferença de conteúdo
O acento de Efésios é posto principalmente
sobre o Cristo ressuscitado e exaltado, enquanto que a
morte é somente um pressuposto (2,13-16). Existem
poucas referências à Parusia, em relação a outras cartas.
Já não se espera uma volta iminente de Jesus.
A Igreja é mais universal que nas outras Cartas.
Em Rm 12,5 e 1Cor 12,12-27 o “Corpo de Cristo” se
refere à igreja local, mas em Ef 4,1-16 todos os cristãos
são membros de Cristo. Ele é o chefe da Igreja universal.
A Igreja inteira é a “esposa de Cristo” (5,23-32).
Também a doutrina sobre o matrimônio em
5,21-23 é mais desenvolvida.
Tudo isso favorece aos defensores da não
autenticidade paulina a Carta. Por outro lado, os
defensores da autenticidade podem se utilizar também
destes
argumentos.
Paulo
costuma
se
inculturar,adaptar-se às novas realidades, aos novos
ambientes. A realidade da região de Éfeso era diversa e
Paulo utiliza o linguajar local, e podia muito bem ter o
auxílio de alguém que conhecesse a cultura e este
linguajar. E também poderíamos encontrar aqui a
evolução do pensamento Paulino sobre alguns temas,
como por exemplo: Igreja, justiça, ressurreição...
Nenhum dos argumentos, isoladamente, são
suficientes para negar a autoria paulina de Efésios.
Todavia, tomados em conjunto, deixam, segundo muitos
autores, sérias dúvidas sobre a paternidade paulina.
Efésios é, certamente, um desenvolvimento mais
maduro da teologia de Paulo. Efésios estaria para
Colossenses, assim como Romanos está para Gálatas.
Também a Tradição é unânime na atribuição da carta a
Paulo. É, ainda, muito difícil supor que igrejas paulinas
aceitassem calmamente um escrito não paulino com
falsificação de seu nome.
Os que não aceitam a autoria paulina, atribuem
a Carta a um seu discípulo que teria escrito algum tempo
após sua morte. Porém, é bastante fantasiosa a hipótese
de que a Carta teria sido escrita por Onésimo para servir
de introdução à coleção das Cartas Paulinas.
Entre os que admitem a paternidade paulina,
existem também os que acham que Paulo pediu a um
secretário que escrevesse a carta baseada em
Colossenses.
7. Data e lugar de composição
Admitindo que Efésios seja de Paulo, deve-se
colocar sua composição durante a prisão romana do
Apóstolo, entre os anos 61-63. Efésios é contemporânea
de Colossenses e Filemon.
8. Divisão da carta
ENDEREÇO (1,1-2)
I - O MISTÉRIO DA SALVAÇÃO (1,3–3,21)
1) Hino de louvor a Deus pelos
benefícios concedidos aos fiéis (1,3-14)
a. eleição (4-6a)
b. redenção (6,b-7)
c. conhecimento do mistério (810a)
d. chamado dos judeus à fé (10b12)
e. o chamado dos pagãos (1314).
2) Agradecimento e reflexão (1,15–2,22)
a. a supremacia universal de
Cristo (1,15-23)
b. também os gentios foram
ressuscitados em Cristo (2,1-10)
c. Cristo derrubou o muro que
separava judeus e gentios (2,11-22).
3) Solene oração de Paulo (3,1-21)
a. introdução (3,1)
b.
parênteses
explicativo:
conhecimento do mistério de Cristo (3,2-13)
c. oração para obter o pleno
conhecimento de Cristo (3,14-21).
II – EXORTAÇÃO (4,1–6,20)
1) Apelo à unidade e carismas (4,1-16)
2) A nova vida em Cristo (4,17–5,20)
3) Conselhos sobre a vida doméstica
(5,21–6,9)
4) O combate espiritual (6,10-20).
CONCLUSÃO (6,21-24)
9. Mensagem
É considerada a “Carta Magna da Igreja”; a
síntese completa e mais desenvolvida da mensagem
paulina. Não é uma carta polêmica, mas solene e
litúrgica. Porém, essa carta contém uma reflexão
aprofundada sobre o mistério da salvação, concebido
desde a eternidade em Deus e atuado em Cristo Jesus e
na Igreja.
Por obra de Cristo os judeus são os primeiros a
receber esta mensagem, pois eles esperaram por ela.
Mas agora ela é dirigida também aos gentios. Antes
havia entre eles a barreira da Lei. Os gentios não são
mais estrangeiros nem hóspedes, mas cidadãos dos
santos edificados sob o fundamento dos Apóstolos e dos
Profetas, tendo Cristo como pedra angular. Nele são
edificados para tornar-se morada de Deus por meio do
Espírito Santo (2,19-22).
Esta reconciliação se atua na Igreja, que é o
corpo de Cristo, que possui a plenitude de toda a
divindade (1,22-23). Os cristãos devem viver vida nova,
inclusive nas relações familiares (5,21–6,9), pois
abandonaram o homem velho e os seus vícios e se
revestiram de homens novos (4,20-24).
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