Aspectos anatomo-patologicos do Linfoma não Hodgkin na infância e Adolescência Congresso Brasileiro de Oncologia Pediátrica São Paulo 18 de novembro de 2004 INTRODUÇÃO • O linfoma não Hodgkin é uma doença neoplásica sistêmica, constituída por células linfóides cujos precursores ou suas subpopulações sofreram transformação maligna; é uma neoplasia de células do sistema imune, as quais estão distribuídas pelo organismo. Linfoma não Hodgkin na infância e adolescência • LNH no adulto: apresentação de curso indolente, baixo grau ou grau intermediário de malignidade histológica • LNH na criança: apresentação de rápido crescimento, curso agressivo e grande capacidade de disseminação Leucemias 37,2 Tumores do SNC 26,6 LINFOMAS Carcinomas Tumores de partes moles 24 14,5 11 Tumores germinativos 10,5 Tumores ósseos 8,5 Tumores do SNS 8,3 Tumores Renais 6,8 Retinoblastoma 3 Tumores Hepáticos Outros Percentual de incidência de câncer em crianças e adolescentes menores de 20 anos SEER 1975-2000 1,7 0,8 Incidência por 1000 000 Neoplasias malignas diagnosticadas entre 15 e 30 anos de idade U.S. SEER, 1975-1998 Cavidade Oral Partes Ósteo Articular Faringe Moles Sistema 3% 2% 3% Respiratório Digestório 2% 4% Linfomas Mama 20% 5% Leucemias Pele 6% 15% SNC 7% Genital Feminino 10% Sistema Endócrino 11% Genital Masculino 11% Linfomas na infância e adolescência • Classificação REAL 1994 e a Classificação WHO 1995 das neoplasias hematológicas : – “ Combinação de achados morfológicos, imunofenotípicos , genéticos e clínicos, estratificada pela linhagem em: mielóide, linfóide, de mastócitos e histiócitos.” – A classificação das neoplasias linfóides compreende : neoplasias B, T/NK e Doença de Hodgkin Linfomas não- Hodgkin na infância e adolescência • Linfomas de células precursoras (linfoblásticos) – T (Neoplasias de células T precursoras) – B (Neoplasias de células B precursoras) • Linfomas de células periféricas (maduras) –B –T Linfomas não- Hodgkin na infância e adolescência • Linfomas de células B periféricas – Linfoma de Burkitt/Leucemia de células de Burkitt (FAB L3) – Linfoma difuso de alto grau Burkitt-like – Linfoma difuso de Grandes células B – Outros raros: Linfomas foliculares e de Zona marginal (MALT) Linfomas não- Hodgkin na infância e adolescência • Linfoma de Burkitt: – WF: Pequenas células não clivadas – WHO/REAL: Linfoma de células B periféricas de tipo Burkitt – Incidência: 40% dos LNH na infância, 3 a 4 % de todas as neoplasias pediátricas diagnosticadas por ano nos EUA (Cairo & Perkins 2000) Linfomas não- Hodgkin na infância e adolescência • Linfoma de Burkitt: t (8;14)(q24;q32) e suas variantes ou presença de rearranjo c-MYC. Análise citogenética é recomendada em todos os quadros leucêmicos. Os linfomas de Burkitt ou Burkitt-like têm alto índice de Ki67 (próximo a 100%). Linfomas não- Hodgkin na infância e adolescência • Burkitt-like : categoria não reprodutível, com somente 50% de concordância entre os patologistas com achados superponíveis aos do Linfoma de Burkitt e Linfoma difuso de grandes células B. • A distinção entre Linfomas não Hodgkin difusos de grandes células B e os Linfomas Burkitt-like permanece problemática, mesmo em material bem fixado. “ The difficulty in diagnosing high grade Burkitt-like lymphoma has been documented, with only 53% reproducibility among expert pathologists even after consideration of clinical, morphologic, and immunophenotypic variables.” Linfomas não- Hodgkin na infância e adolescência • Crianças: Burkitt-like comportamento biológico similar aos Burkitt • Adultos: grupo heterogêneo. • Proposta de 03 subcategorias: endêmico, não endêmico e associado à imunodeficiência. CD20 Linfomas não- Hodgkin na infância e adolescência • Linfoma difuso de grandes células B – – – – Linfomas grande células B mediastinal/tímico Linfomas do SNC Linfoma com quadro de derrames (efusões) Cutâneo: linfoma centro folicular cutâneo,pode lembrar linfoma nodal de baixo grau ou ter uma população difusa de grandes células. Tipicamente ocorre na cabeça e tronco, com boa resposta à terapia local (excisão e radioterapia) sem disseminação linfática, responsável por 70% dos linfomas B cutâneos, deve ser reconhecido pelo patologista e oncologista para não ser supertratado com uma terapia muito agressiva CD20 CD20 Linfomas não- Hodgkin na infância e adolescência • Linfomas de células periféricas –T • Linfoma T like-Paniculite Subcutânea • Linfoma anaplásico de grandes células, tipo cutâneo primário, de células T/null • Linfoma anaplásico de grandes células, tipo sistêmico primário, de células T/null Linfomas não- Hodgkin na infância e adolescência • Linfoma anaplásico de grandes células – Diagnóstico deve ser feito dentro de um contexto morfológico e imunofenotípico. – Quando está associado à t(2;5)(p23;q35) e/ou revela positividade para ALK (p80) parece ter um melhor prognóstico. – Experiência com anticorpos anti ALK variável. Linfomas não- Hodgkin na infância e adolescência • Linfomas anaplásicos: – Mais comum em crianças, adolescentes e adultos jovens; pode haver distribuição bimodal, sendo os casos em idosos em geral t(2;5) ou ALK negativos. Acomete linfonodos e sítios extra-nodais tais como pele, osso e partes moles Linfomas não- Hodgkin na infância e adolescência • Linfomas anaplásicos de grandes células – – – – – 1982: antígeno K1 1985: Stein reconhece o ALCL 1986: Kadin “casos pediatricos” 1989: t (2;5)(p23;q35) 1994: Morris identificou um gene no cromossomo 2 denominado ALK. Parceiro na translocação gene da nucleofosmina (NPM). Linfomas não- Hodgkin na infância e adolescência • Linfoma anaplásico de grandes células – Reconhecido inicialmente pelos achados morfológicos (invasão sinusoidal) e CD30+ – Subsequentemente pelos achados citogenéticos (t 2;5) que levou a identificação dos genes envolvidos na translocação (NPM/ALK) – Geração de anticorpos monoclonais para a expressão aberrante da tirosina-quinase ou ALK (ALK-1, ALKc) Linfomas anaplásicos Linfomas não- Hodgkin na infância e adolescência • Linfoma anaplásico de grandes células – Tipo cutâneo diferente do sistêmico. Falta t(2;5)(p23;q35) e ALK em geral negativo. – Consenso : o patologista deve denominar o Linfoma anaplásico cutâneo e Papulose linfomatóide como Doenças linfoproliferativas cutâneas CD30 positivas, uma vez que não existe um critério morfológico único para distinguir as duas entidades. Necessário analisar dentro do contexto clínico para evitar tratamentos desnecessários. Linfomas não- Hodgkin na infância e adolescência • Linfoma anaplásico • Tipo comum: células grandes, citoplasma abundante com núcleos em forma de ferradura ou reniforme. • Variante de células pequenas: predomínio de células pequenas com citoplasma claro porém com núcleos irregulares em forma de ferradura. • Variante linfo-histiocítica: mistura de células pequenas e histiócitos. • Hodgkin-like :simula a Depleção linfocitária e a Esclerose nodular Grau 2. Definir por IH se é DH ou ALCL • Variante sarcomatóide: diagnóstico diferencial com Tumor Miofibroblático inflamatório que pode ser ALK positivo. Usar CD30. Linfomas não- Hodgkin na infância e adolescência • Linfomas anaplásicos – Por análise molecular demonstrou-se origem T – Achados IH: CD30 +, CD3 e CD45RO negativos em 50% dos casos (fenótipo T ou null aberrante com perda de expressão de marcadores T usuais), CD43+ , em geral CD4+ e CD8- (apesar do fenótipo CD4+/CD8- exibe positividade para antígenos associados a T citotóxico tais como TIA-1, granzima B e perforina (o que pode auxiliar no DD com D de Hodgkin), EMA+ (correlacionado a expressão do ALK), CD15 – e CD 45+ (DD com D de Hodgkin), ALK+/- (p80) CD30 CD30 Linfomas não- Hodgkin na infância e adolescência • Neoplasias de células precursoras – As leucemias e Linfomas Linfoblásticos são uma doença única com diferentes apresentações clínicas – As anormalidades genéticas devem sempre que possível serem pesquisadas e colocadas no relatório (ex. t(9;22)(q34;q11)) Linfomas não- Hodgkin na infância e adolescência • Linfomas linfoblásticos – Diagnóstico diferencial: Linfoma de Burkitt e leucemia mielóide (Sarcoma granulocítico) – Aspectos IH : TDT útil na determinação dos Linfomas de células precursoras (linfoblásticos T ou B), pode expressar ainda CD34, CD99 e os marcadores específicos da linhagem B (CD20+/-, CD79A+) e linhagem T (CD45RO+/-, CD3+, CD4+ , CD8+ e CD43+) CD3 CD43 CD99 CD4 CD79A TDT Linfoma não Hodgkin na infância e adolescência: experiência no tratamento e correlação clínicopatológica e imunoistoquímica Flavio Augusto Vercillo Luisi 2004 Linfoma não Hodgkin na infância e adolescência • Apesar de todos os avanços mencionados, quase 20% das crianças com linfoma não Hodgkin desenvolvem doença recorrente e não podem ser curadas. • A identificação de aspectos biológicos, que possam predizer falhas no tratamento, pode ajudar no desenvolvimento de terapêuticas mais efetivas. Linfoma não Hodgkin na infância e adolescência • Novas formas terapêuticas poderão surgir para interromper o crescimento dos linfomas, inclusive anticorpos que possam neutralizar esses fatores mencionados. • Essa é a razão de se estudar esses fatores em crianças e adolescentes com linfoma não Hodgkin. Evolução dos pacientes 192 (97%) sobreviveram à indução 204 casos 198 casos 6 (3%) óbitos na indução 6 casos excluídos (outros protocolos) 4/6 toxicidade 2/6 progressão de doença Linfoma não Hodgkin na infância e adolescência: proteínas estudadas Proteínas Intervalos adotados Negativa 77 BCl2 Positiva 6 P53 Neg < 10 % 43 10 a 50% 20 MDM2 < 10% 37 10 a 50 % 12 <10% 77 P21 VEGF Neg 23 Total + até 25% 11 > 50% 25 > 50% 22 >10% 9 de 25 a 50% 13 > que 50% 33 83 88 71 86 80 Ki-67 < 66,18% 40 >66,18% 43 83 PCNA <78,17% 42 >78,17% 38 80 Método Linfoma não Hodgkin na infância e adolescência Fotomicrografia: imunoistoquímica – PCNA aumento 400 x caso 196: LNH Avaliação da positividade imunoistoquímica Fotomicrografia: imunoistoquímica – p21 aumento 400 x caso 12: LNH tipo Burkitt Avaliação da positividade imunoistoquímica Fotomicrografia imunoistoquímica – VEGF 400 x caso 120 LNH de Grandes Células Idade 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Média de 8,1 anos 1a e 4m a 20anos 40% 31% 24% 71% < 10 anos 5% 0 a 5 anos 6 a 10 anos 11 a 15 anos >=16 anos n=204 Desidrogenase Láctica (DHL) • 195/204 realizaram DHL • variação: de 100 a 17540 UI/L • 61% dos pacientes tinham DHL > • 35% dos pacientes tinham DHL > 2 vezes Estádio 140 120 100 82% Estádios avançados 67% 80 60 40 15% 15% 3% 20 0 EI EII EIII EIV n=204 Sítio do tumor primário 53% 24% 14% 7% n=204 2% Abdome C/P Tórax 108 50 28 Osso Pele/SC Total 14 4 204 Tipo histológico 51% Burkitt 105 Grandes Células 43 Linfoblástico 36 Outros 20 21% Total 204 18% 10% n=204 Sobrevida global Sobrevida global 1.0 .9 88% em 5 anos .8 87% em 15 anos .7 .6 .5 .4 .3 .2 .1 0.0 0 24 48 72 96 120 Tempo (meses) 144 168 192 Sobrevida global e Estádio E I e II 1.0 n=37 .9 .8 n=161 .7 E III e IV .6 .5 .4 Teste Log-Rank p=0,013 .3 Estadio III+IV .2 .1 I+II 0.0 0 24 48 72 96 120 Tempo (meses) 144 168 192 Sobrevida livre de doença 1.0 .9 .8 .7 81% em 5 anos .6 78% em 15 anos .5 .4 .3 .2 .1 0.0 0 24 48 72 96 120 Tempo (meses) 144 168 192 Sobrevida livre de doença e lise tumoral 1.0 .9 n=138 .8 .7 n=60 .6 .5 .4 Lise Tumor Teste Log-Rank p=0,008 .3 Sim .2 .1 Não 0.0 0 24 48 72 96 120 Tempo (meses) 144 168 192 Sobrevida livre de doença e Ki-67 1.0 .9 n=42 .8 .7 .6 .5 n=38 .4 Ki-67 ki_67 .3 >66.18 Teste Log-Rank p=0,028 .2 .1 <=66.18 0.0 0 24 48 72 96 120 Tempo (meses) 144 168 192 Conclusões • Pacientes com Ki-67 > 68,18% tiveram maior SLD • Pacientes com Síndrome de Lise Tumoral tiveram 2,8 vezes mais chance de recidivar • Pacientes com Ki-67 < 68,18% têm 4,2 vezes mais chance de recidivar.