HEPATITES VIRAIS Eduardo F. Flores DMVP-CCR-UFSM Histórico 1953 OMS: - Hepatite A: Hepatite Infecciosa picornavírus; RNA; fecal-oral - Hepatite B: Hepatite Sérica hepadnavírus; DNA; sangue e derivados - 1955: Hepatite E: Nova Deli, Índia calicivírus; RNA; fecal-oral - 1970 :Antígeno nuclear Delta; 1983: Hepatite D deltavírus; RNA; HBV - 1989: Hepatite C: flavírus; RNA; sangue e derivados Segundo informações do Ministério da Saúde, divulgadas Dia 28/7, Dia Mundial de Combate as Hepatites, as hepatites virais mataram mais de 20 mil pessoas no Brasil em dez anos. De 2000 a 2010, foram registradas 20.771 mortes pelos cinco tipos de hepatites (A, B, C, D e E), num total de 307.446 casos. Mais de 70% dos casos foram provocadas pela hepatite C, a mais agressiva. Nesse período, houve aumento de 460% no número de casos no país. A hepatite B aparece em segundo lugar das estatísticas. HEPATITES VIRAIS - Importante problema em Saúde Pública - Bilhões de pessoas já tiveram contato com os agentes - HBV e HCV – 500 milhões de portadores - 5 principais tipos – A, B, C, D e E (F, G, TT e SEN) - Semelhanças clínico-patológicas -Diferenças - etiologia, epidemiologia, prognóstico, controle - HAV e HBV – vacinas disponíveis Família Gênero Espécie Genoma Picornaviridae Hepatovirus Hepatite A RNAss+ Hepadnaviridae Hepadnavirus Hepatite B DNAfd incompleta Flaviridae Hepacavirus Hepatite C RNAss+ Deltaviridae Deltavirus Hepatite D RNAss- Caliciviridae Hepevirus Hepatite E RNAss+ HEPATITES A, B e C - Etiologia - Epidemiologia - Patogenia - Diagnóstico - Tratamento - Controle e profilaxia Hepatite A - Etiologia - Vírus da hepatite A (HAV) - PICORNAVIRIDAE, gênero hepatovírus - Vírus pequenos (27nm), sem envelope - Genoma RNA de fita simples, sentido + - Codifica 4 proteínas (VP1-4) - Apenas 1 sorotipo (4 genótipos) - Muito resistente no ambiente, a T e desinfetantes Epidemiologia - Ocorrência mundial - Mais frequente em países subdesenvolvidos - No Brasil – 40 % dos casos de hepatite - População adulta - > 65% já teve contato (imunes) - Associado a falta de higiene e de saneamento básico - Mais comum em crianças e população de baixa renda Alta incidência - > 8% Média - 2 a 7% Baixa - < 2% Brasil (2000 -2009): 16 a 20.000 casos anuais* Transmissão - Vírus excretado nas fezes (por até 3 semanas) - Transmissão fecal-oral - Mais frequente entre crianças/maus hábitos de higiene - Transmissão direta ou indireta (água, alimentos) - Legumes, frutos do mar (mariscos), hortaliças - Epidemias associadas a enchentes, catástrofes naturais - O vírus é muito resistente sob condições ambientais Patogenia e sintomatologia - O vírus penetra e replica na mucosa orofaríngea (ou ID) - Viremia transitória /tropismo por hepatócitos /Kupfer - Período de incubação: 2 a 6 semanas - Infecções subclínicas são comuns (+ em crianças) - Sinais mais comuns: fadiga, febre, dor abdominal, náuseas, anorexia, icterícia, urina escura, fezes claras - Curso clínico: inferior a 2 meses (raro: até 6 meses) Diagnóstico - Clínico-epidemiológico - presuntivo - Confirmatório – ELISA p/ IgM - IgM surgem 1 a 2 semanas p.i. e duram até 14 semanas - Alanine transferase (ALT) geralmente elevada - Diferencial para as outras hepatites (B e C) Tratamento - Não há tratamento específico - Repouso, alimentação leve, hidratação - Anti-eméticos - Analgésicos e antitérmicos - Prognóstico favorável – mortalidade < 0.4% (> em idosos) Controle e profilaxia - Medidas básicas de higiene - Saneamento básico - Cozinhar bem alimentos - Vacinação (proteção > 95% - dura até 20 anos) - Vacina inativada - Duas doses (6 – 12 meses intervalo) - Crianças, jovens (em áreas de risco) VÍRUS DA HEPATITE B (HBV) - Um dos mais importantes vírus humanos - Agente da hepatite viral mais importante - Mais de 300 milhões com infecção persistente - Hepatite, cirrose, HCC - Pouco estudado durante anos: - Host range restrito - Não replica bem em cultivo - Durante anos: descrições morfológicas, resposta imunológica, antígenos, etc... HEPATITE B - Infecção aguda – (subclínica, clínica suave ou severa) - > 95% erradicam a infecção - <5% ficam portadores (replicação hepática), viremia - Portadores subclínicos - Hepatite crônica (grau variável) - HCC freqüente nesses pacientes - Portadores - fontes de infecção, maior causa de morbidade e mortalidade, HCC - Infecção neonatal: 80 a 90% resulta em persistência HBV - O agente - Família HEPADNAVIRIDAE - Vírions envelopados, 40-50nm - DNA circular, 3-3.3kb, dupla fita - Três tipos de partículas víricas - Produção de excesso de partículas lipoprotéicas - Host range restrito – apenas humanos - Hepatotrópico, produz infecções persistentes - Pouco resistente a desinfetantes e condições ambientais HBsAg Epidemiologia - Distribuição mundial (incidência varia muito entre países) - > 2 bilhões de pessoas já foram infectadas - 350 milhões de portadores - 50 milhões de novos casos por ano - China, sudeste da Ásia, África do Sul – 10 – 25% de portadores - América Latina, Japão, Ásia Central – 2 a 5% - Europa, USA, Canadá - < 1% - Cirrose, HCC – 0.8 a 1.2 milhão de óbitos anuais - Brasil – 15% já foram expostos, 1% portadores Transmissão - Portadores sadios – principais fontes de infecção - Transmissão indireta (sangue contaminado) – transfusões, agulhas contaminada, drogas injetáveis, instrumentos cirúrgicos - Transmissão direta – relação sexual, perinatal, amamentação (-). - Vírus resiste até 7 dias no ambiente -Possível – manicure, piercing, etc. - 10 – 15% dos casos – transmissão indeterminada! Patogenia - Hepatite aguda – 70% dos casos são subclínicos - Curso clínico – 1 a 3 meses (mal estar, anorexia, náuseas, fadiga, dor abdominal, icterícia). - Hepatite fulminante – < 0.5% dos casos - > 90% erradicam o vírus e ficam imunes - 3 a 8% ficam portadores – hepatite crônica -Maioria é assintomática – tbém fadiga, anorexia, emagrecimento - Hepatite crônica ativa - propensão a cirrose e HCC - Neonatos infectados – infecção persistente em 90% Diagnóstico - Clínico-epidemiológico – presuntivo - Laboratorial – sorologia + função hepática (ALT) - Marcadores – antígenos HBsAg, HBeAg - Marcadores – anticorpos HBsAg, HBcAg - Indicam: - Infecção passada – anti-HBsAg e HBcAg - Vacinação – anti-HBsAg - Infecção aguda – HBsAg, HBeAg, IgM anti-HBc - Infecção crônica ativa – HBsAg, HbeAg - PCR – acompanhamento da replicação viral Aguda Crônica ativa Crônica inativa Curada Pós vacina HBsAg + + + - - HBeAg + + - - - Anti-HBc IgG - + + + - Anti-HBc IgM + - - - - Anti-HBs IgG - - - + + Tratamento - Hepatite aguda – repouso, alimentação e suporte - Hepatite crônica (diferentes indicações) - Interferon-alfa - Lamivudina – análogo de base, inibe RT - Adefovir dipivoxil - IFN peguilado – em estudo - Tratamento de longa duração (meses) - Reduzem a replicação viral e o dano hepático Terapia Interferon Categoria ALT normal ALT elevado (> 2x normal) HBeAg positivo HBeAg negativo Lamivudina ALT normal ALT elevado (> 2x normal) HBeAg positivo HBeAg negativo Cirrose Recomendações Nenhum tratamento. Observar. IFN-alfa 5 MU diário ou 10 MU 3 vezes/semana 16 semanas IFN-alfa 5 MU diário ou 10 MU 3 vezes/semana 12 meses Nenhum tratamento. Observar. Lamivudina 100 mg diário 1 ano* ou até desaparecimento do HBeAg Lamivudina 100 mg diário > 1 ano** Lamivudina 100 mg diário*** Interferon + Lamivudina Não há vantagem comprovada em relação à monoterapia Interferon peguilado Em estudo Prevenção - Evitar práticas de risco – sexo desprotegido, compartilhar agulhas, etc. - Vacinação - Vacina recombinante - Três doses - > 95% de proteção - Imunidade dura > 10 anos - Indicações: crianças e adolescentes até 18 anos - Adultos de grupos de risco - Recém-nascidos de mães + - vacina e soro imune HEPATITE C - Principal hepatite transmitida por transfusões - Conhecida por anos como hepatite não-A, não-B - Agente identificado em 1989 - HCV - Testes diagnósticos em doadores/bancos de sangue - Redução na transmissão por transfusões - Mesmo assim: 3% da população é portadora (170milhões) - Principal causa de transplante hepático - Responsável por 60% das hepatopatias crônicas - 70% dos casos > infecção crônica (cirrose, HCC) O agente - Vírus RNA +, envelopado - Flaviviridae, Hepacivirus - Seis genótipos, vários sorotipos - Infecta apenas humanos (?) - Não replica bem em cultivo celular - Resiste 16h – 4 dias no ambiente - Faz viremia persistente Epidemiologia - Distribuição mundial (170 milhões infectados) - Prevalência varia entre países Prevalência da hepatite C França Egito / África do Sul Canadá / Norte da Europa Brasil - Norte - Nordeste 3,0% 30,0% 0,3% 1,2-2,0% 2,1% 1% - Centro-Oeste 1,2% - Sudeste 1,4% - Sul 0,7% Nordeste4 10 a 19 anos – 0,94% 20 a 69 anos – 1,88% Centro Oeste4 10 a 19 anos – 1,05% 20 a 69 anos – 1,89% OMS 2007 – mundo1 3% da população mundial Município de Salvador3 1,5% Distrito Federal4 10 a 19 anos – 1,13% 20 a 69 anos – 1,54% 1. WHO, 2007 2. Focaccia et al, 1998 3. Zarife et al, 2006 4. Hepatites Virais – o Brasil está atento, 2008. No prelo Município de São Paulo2 1,43% Epidemiologia Fatores de maior risco para hepatite C Usuários de drogas endovenosas risco 80% Receptores de fatores de coagulação antes de 1987 risco 90% Receptores de transfusão sangüínea ou transplante de órgãos antes de 1992 risco 6% Hemodiálise risco 20% Filhos de mães positivas risco 5% Parceiros de portadores do HIV - Crianças com 12 meses de idade com mãe portadora do HCV - Profissionais da área da saúde vítimas de acidente com sangue contaminado - Transmissão - Portadores – principal fonte de infecção - Viremia persistente - Transmissão indireta – sangue contaminado Transfusão, agulhas, material cirúrgico, transplantes, hemodiálise - Maior risco – usuários de drogas injetáveis - Sexual e leite – pouco provável - Transmissão vertical (perinatal)– 4 a 5% (até 35%) - Muitos casos – forma de transmissão indeterminada! Usuário de drogas EV 60% Sexual 15% Transfusão 10% (Antes da triagem) Outros* 5% Desconhecido 10% Fonte: CDC *Hospitalar; Diálise; Perinatal Modos de Transmissão da hepatite C Comuns Incomuns Uso de drogas endovenosas Cocaína intranasal Transfusões de sangue antes de '92 Piercing Acidentes com agulhas Tatuagens Transmissão perinatal Transmissão sexual Fatores de risco para o contágio da hepatite C Transfusão de sangue ou derivados (atualmente baixo) Uso de drogas injetáveis (+++) Hemodiálise (++) Exposição a sangue por profissionais da área de saúde (+) Receptores de órgãos ou tecidos transplantados (+) Recém-nascidos de mães portadoras (+) Contatos sexuais promíscuos ou com parceiros sabidamente portadores (-) Baixo risco Exposição a sangue por material cortante ou perfurante de uso coletivo sem esterilização adequada: •procedimentos médico-odontológicos •tatuagem •acupuntura •manicure / pedicure •body piercing •contato social ou familiar com material de uso pessoal ( barbeadores, escovas dentais, etc ) •"medicina" folclórica ( inclui "cirurgias espíritas" ) •barbeiros e cabelereiros Patogenia - Período de incubação: 15 a 60 dias (45-55) - Hepatite aguda: 85% assintomática - Clínica: febre, náuseas, fadiga, vômitos, dor abdominal, icterícia (duram 2 a 10 semanas) - Cura espontânea: 15 a 30% dos casos - Infecção crônica: 70 – 85% dos casos - Maioria dos portadores permanece saudável - Viremia, dano hepático, fibrose hepática - Cirrose em 20 a 30% dos portadores crônicos - HCC (10 – 20 anos) Diagnóstico - Sorologia- ELISA (>95% esp/sensibilidade) - Anticorpos surgem entre dias 20 e 120 pi (50) - Dosagem ALT – teste auxiliar/prognóstico Anti-HCV Elisa 3a. geração Falsos-negativos Falsos-positivos Hepatite C aguda Alcoólatras Imunodepressão ( transplante, SIDA ) Doenças autoimunes Populações de baixa prevalência - RT-PCR (sangue) detecção e quantificação - Biópsia hepática – avalia grau de lesão > tratamento Tratamento Indicações -RNA viral detectável, ALT elevada , fibrose portal - Portadores de cirrose compensada; -Usuários de álcool ou drogas; -Portadores de doença mais leve, transplantados (exceto fígado) ; - Portadores de co-infecção HCV-HIV. Tratamento -Interferon (IFN) – alfa -Ribavirina (análogo da Guanina) - Tratamento longo (> 6 meses) - Requer acompanhamento clínico/virológico - Reduz a replicação viral – pode erradicar Prevenção - Redução de práticas de risco - Monitoramento de doadores/bancos de sangue - Vacina sem perspectiva a curto prazo Família Deltaviridae Gênero Deltavirus RNA fita simples , polaridade negativa (-ssRNA) Vírus delta: vive em função do HBV Vírus defectível que exige a presença obrigatória do HBV Transmissão semelhante ao HBV: sexual e vertical No Brasil: surtos epidêmicos na bacia amazônica Padrões de infecção › Co-infecção › Super-infecção › Piora o prognóstico da Hepatite B Tropismo › Co-infecta ou super-infecta portadores do HBV Sintomas › Mais severos do que apenas com HBV › Maior risco de hepatite fulminante e desenvolvimento de cirrose Tratamento › Não há tratamento específico TIPOS A B C D E Via de transmissão Fecal -Oral Sangue e derivados Sexual Sangue e derivados Sexual (-) Sangue e derivados Fecal -Oral Infecção crônica não sim sim sim não Lavagem de mãos Modificação comportamentos de risco Triagem doação de sangue Prevenção Ingestão de água tratada e alimentos cozidos VACINA VACINA Modificação comportamentos de risco Modificação comportamentos de risco Medidas De higiene Ingestão de água tratada e alimentos cozidos HEPATITES VIRAIS Eduardo F. 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