FARMACOLOGIA E TOXICOLOGIA DE PRODUTOS NATURAIS Leonor Monteiro do Nascimento Relação risco/benefício A avaliação da relação risco/benefício é a finalidade dos estudos farmacodinâmicos e toxicológicos pré-clinicos e clínicos de medicamentos. Conceitos bioéticos No Brasil quatro conceitos bioéticos básicos: autonomia, não maleficência, beneficência e justiça. Estudo de Novos Medicamentos 1ª Etapa: Botânica – relacionada à identificação do material de estudo. 2ª Etapa: Farmacêutica – relacionada ao preparo da forma farmacêutica para administração, com a garantia da qualidade e uniformidade da amostra, assim como sua estabilidade durante os testes pré-clinicos e clínicos. 3ª Etapa: Ensaios biológicos pré-clinicos e clínicos – relacionada aos ensaios farmacodinâmicos, farmacocineticos e toxicológicos em animais de laboratório. 4ª Etapa: Clinica – realizada na espécie humana, esta dividida em quatro fases seqüenciais realizadas apenas se existirem indicações seguras de que os benefícios do uso medicinal do novo produto suplantam os riscos de uma possível ação tóxica. Objetivo O objetivo principal da etapa pré-clinica e o determinar experimentalmente o grau de segurança para os testes em seres humanos. A primeira preocupação e a de mostrar a eficácia do material. Comprovada a efetividade, quantificado o efeito principal e eventualmente as ações colaterais, os testes de toxicidade são justificados. Toxicidade 1- Toxicidade – tem o objetivo de detectar reações inesperadas produzidas pelo uso continuado do produto, tanto as desencadeadas pela administração acidental de doses excessivas, como as conseqüentes do acumulo, causado por um desbalanceamento entre a administração e a eliminação do fármaco no organismo. Os estudos toxicológicos devem ser realizados em espécies com processos metabólicos e farmacocineticos do medicamento, de forma a serem avaliadas, cientificamente, a absorção, a distribuição, a metabolizacao e a eliminação do fármaco. Estudos pré-clinico de novos medicamentos 1 – Etapa botânica – Seleção do material de estudo E essencial garantir a uniformidade e a estabilidade. Os efeitos biológicos dependem de fatores do ecossistema: iluminação, calor, constituição do solo, umidade. 2- Etapa farmacêutica – Formulação, produção e controle de qualidade. A opção mais segura seria identificar e determinar a concentração das substancia(s) ativa(s), o que nem sempre e possível frente ao grande numero de componentes presentes no extrato. A utilização de substancias marcadoras, relacionado, p.ex., a concentração das substancias mais abundantes, ou a dos grupos químicos com a atividade biológica, e alternativa a ser validada. O trabalho inicial de validação deve ser realizado com material obtido de uma só coleta. - Etapa de Ensaios biológicos pré-clinicos 1- Estudos farmacodinâmicos Tem por objetivo comprovar o efeito que motivou o estudo do novo medicamento e o perfil dos seus efeitos colaterais, relacionando esses efeitos as doses e a um possível mecanismo de ação em varias espécies de laboratório. Os protocolos experimentais in vivo devem ser realizados em animais anestesiados ou não, e, sempre que possível, nas mesmas condições do uso popular. Devem ser considerados as espécies animais mais sensíveis, as vias de administração, a relação dose-efeito, a latência do efeito, a duração e o espectro das ações, se induzidas diretamente ou se desencadeadas pela estimulação de reflexos. As espécies mais utilizadas são: ratos, camundongos, cobaias, coelhos, cães, às vezes macacos e porcos. As especificidades das ações detectadas em todos os testes devem ser comprovadas frente à agonistas e antagonistas bem conhecidos, de forma a permitir a interpretação dos resultados com base nos conhecimentos científicos atuais. Dessa analise resultara a formulação de um mecanismo de ação hipotético, a ser comprovado com novas experiências. O conhecimento do mecanismo de ação permitira a previsão das ações mais prováveis em outros sistemas vitais, o aparecimento de reações adversas e a forma de tratála. 2- Estudos Toxicológicos Os testes de toxicidade geral devem guardar relação dose-efeito satisfatória e permitir estabelecer relação causa-efeito. A experiência da equipe executora, as condições dos laboratórios, a qualidade dos animais e a definição clara dos objetivos são condições mais importantes do que o cumprimento automático das normas dos protocolos oficiais. Estudos Toxicológicos No Brasil a resol 196/96 do CNS regulamenta a pesquisa em seres humanos. Essas normas estipulam que os testes de toxicidade para avaliação do risco de um novo medicamento sejam realizados e três espécies de mamíferos, uma delas não roedora. O numero de animais em cada teste deve ser suficiente para garantir a analise estatística dos resultados. Grupos experimentais: 10 a 20 ratos/camundongos ♂ e ♀ 6 a 8 cães ou porcos Ambos os grupos são tratados simultaneamente com o veiculo ou com 3-4 doses do produto. Um ultimo grupo controle e deixado sem tratamento (controle negativo). As doses devem ser escolhidas a partir dos testes farmacodinâmicos e espaçadas geometricamente. Testes crônicos Nos testes crônicos, deve ser considerada como maior dose aquela que produzir sinais evidentes de toxicidade, mas sem matar mais que 10% dos animais, e a dose mais baixa deve ser próxima da efetiva, mas sem produzir toxicidade. Testes agudos No estudo de toxicidade aguda os animais são tratados uma unica vez com o produto em teste. A avaliação dos resultados imediatamente após esse período, permitira conhecer a espécie mais sensível e o índice de letalidade. A manutenção de alguns desses animais tratados agudamente por 7 a 14 dias, permitira também verificar os efeitos tardios do tratamento e se a recuperação da ação tóxica ocorre durante este período. Esse teste agudo e obrigatório para todos os tipos de materiais em teste, independente do tempo de uso proposto para a espécie humana, pois evidencia o risco de intoxicações agudas, inadvertidas ou não, e a forma de preveni-las. Os resultados obtidos dão suporte a escolha das doses para os demais testes de toxicidade. Nos estudos de toxicidade com doses repetidas, também chamados estudos a longo prazo ou estudos de toxicidade crônica, o produto e administrado a intervalos regulares durante períodos variáveis de 1 a 2 anos. A finalidade deste teste com múltiplas doses seria descobrir ações qualitativa ou quantitativamente diferentes produzidas pelo maior tempo de exposição ao produto, permitindo também medir a latência para instalação dos efeitos tóxicos e o acumulo da droga no organismo. Uma vez comprovada a relação entre doses e efeitos tóxicos, e possível determinar a maior dose que não produz efeito tóxico detectável, parâmetro importante na avaliação da margem de segurança do fármaco e no qual se baseia o calculo da dose inicial a ser empregada nos teste clínicos. A duração dos testes de toxicidade crônica guarda relação direta com a intenção de uso na espécie humana: Dose única ou dividida em 24h – 14 dias Tratamento 7 dias – 30 dias Tratamento 30 dias ou mais – 90 dias Subagudos ou de doses repetidas – menos de 30 dias de tratamento Sub-cronicos – mínimo de 30 dias Crônicos – mínimo de 90 dias Estudos Farmacocineticos Pré-clinicos A velocidade e a intensidade de absorção, a distribuição no organismo, a afinidade pelos sítios de ligação, as formas de metabolizacao, a velocidade, e os órgãos responsáveis por sua excreção do organismo são todos parâmetros importantes para os estudos de eficácia e toxicidade. Os estudos pré-clinicos devem permitir responder as seguintes questões: As ações são: definidas e desejáveis? constantes e reprodutíveis? as mesmas em diferentes espécies? A relação dose-efeito foi determinada? O mecanismo responsável pelas ações e desejável? As ações são resultantes de interações múltiplas no animal e uma delas e indesejável. Qual o índice terapêutico? As ações colaterais do fármaco são importantes e severas? Qual a margem de segurança do novo fármaco? Etapa Clinica ou Etapa de ensaios na Espécie Humana Tem a finalidade de comprovar o potencial terapêutico do medicamento na espécie humana. Esses estudos devem ser realizados em quatro fases sucessivas. Fase I – N° reduzido de voluntários sadios para a obtenção de dados relativos a farmacodinâmica, farmacocinetica, alterações no local da aplicação, biodisponibilidade (na administração oral) e posologia. E possível confirmar a toxicidade prevista nos testes pré-clinicos, relacionada ou não, ao efeito principal desejado. Estes estudos em geral são realizados em Clinicas Universitárias e/ou Centros Médicos credenciados pelo CNS envolvendo equipe de médicos, farmacologistas, enfermeiros, farmacêuticos, estatísticos e eventualmente outros profissionais que o estudo exija. Fase II – N° reduzido de pacientes (10 a 15), em tratamento de curta duração, para testar a efetividade do medicamento na patologia para o qual ele e proposto. Esses estudos permitem avaliar também a efetividade e a toxicidade do novo medicamento com relação às alterações introduzidas pela doença, ou eventualmente originadas da interação com outros medicamentos de uso simultâneo. Fase III – N° maior de pacientes e tratamentos mais prolongados, visando à comprovação da segurança e da efetividade do tratamento, a determinação da menor dose eficaz e a utilidade do medicamento comparativamente a um placebo e a uma substancia de referencia com atividade semelhante. As conclusões devem ser baseadas em comparações estatísticas. Fase IV – N° grande de pacientes para comprovação clinica da indicação terapêutica do novo fármaco e das doses definidas anteriormente. Esses estudos devem ser realizados simultaneamente com um grupo placebo e um grupo tratado com substancia de referencia (controle positivo). Pelo numero de pacientes, sua execução e cara e difícil. Os ensaios devem ser realizados por especialistas médicos, em estudos cruzados e duplo-cegos, comparando o medicamento em teste, o placebo e o controle positivo. Esses testes permitem a identificação de reações idiossincráticas de baixa ocorrência. Os testes clínicos devem permitir respostas as seguintes perguntas: Os princípios éticos e os direitos dos pacientes foram respeitados? O protocolo experimental foi submetido e aprovado por uma Comissão de Ética independente? O consentimento, após informação dos pacientes, foi obtido por escrito? A liberdade de participar, ou não participar, foi garantida durante todo o ensaio? Os objetivos definidos no protocolo inicial do estudo foram alcançados? A seleção, o numero e a amostragem dos pacientes estudados permite conclusões generalizadas ou elas devem ser particularizadas? Os métodos de analise foram apropriados para obtenção dos resultados? Os dados foram obtidos com técnicas de duplo-cego em ensaios cruzados? A descrição dos dados foi abrangente? Qual o nível de aderência ao tratamento? Qual o nível de desistência durante o estudo? Os resultados foram comparados estatisticamente a um placebo e a um padrão positivo? A conclusão e compatível com os resultados? O novo tratamento e vantajoso comparativamente a outros existentes? No Brasil a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e a Portaria 116/96 da Secretaria de Vigilância Sanitária do MS regulamentam esses estudos. Referencia Bibliográfica Lapa AJ, Souccar C, Lima-Landman MT, Lima TCM. Farmacologia e Toxicologia de Produtos Naturais. P. 181- 196. Farmacognosia: da planta al medicamento. Simões et al. Porto Alegre/Florianópolis : Ed. Universidade?UFRGS/ Ed. Da UFSC, 1999.