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O dom do celibato I
História teológica do celibato
eclesiástico
Dom precioso - atacado
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Uma conversa...
Por que tão questionado?
Pastores dabo vobis (29):
“(celibato sacerdotal) constitui
um inestimável dom de Deus à
Igreja e representa um valor
profético para o mundo atual”
Valor profético
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Sinal do Reino que não é deste
mundo
Sinal da completa entrega de
Cristo ao Pai e à Igreja
Enfático estímulo à fidelidade
matrimonial
Tesouro em vasos de barro
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João Paulo II na carta aos
sacerdotes de 1979: “um
tesouro” mas um “tesouro em
vasos de barro”
Passou por vários momentos de
de crise, em que se introduziu o
relaxamento, em que foi duramente questionado
Mas sempre se manteve
Momentos de crise
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Século de ferro (1000) – simonia e nicolaismo. Combatida pela influência de Cluny, terminou
com a reforma gregoriana
Renascimento (1500). Alexandre VI símbolo da época. Ex:
em Bolonha, metade das
legitimações. Escândalo de
Lutero. Trento pôs fim à crise
Momentos de crise
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Iluminismo (culto à razão natural e forte anticlericalismo)
Memorial (Denkschrift) de
professores da universidade de
Friburgo para obter abolição do
celibato, contestado por Johann
Adam Möhler e Kierkegaard.
Modernismo (1900)
Momentos de crise
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Pós-concílio (identidade do
sacerdote)
Queda vertiginosa das vocações
Número elevado de defecções
O caso da Holanda: episcopado
liderado pelo cardeal Alfrink
apresentou ao papa pedido de
abolição
Já melhorou sob João Paulo II
Este Sínodo, nova e veementemente,
afirma tudo quanto a Igreja latina e
alguns ritos orientais preconizam, a
saber, que o sacerdócio seja conferido
somente àqueles homens que receberam de Deus o dom da vocação à
castidade celibatária...
O Sínodo não quer deixar dúvidas na
mente de ninguém sobre a firme vontade da Igreja de manter a lei que
exige o celibato livremente escolhido e
perpétuo para os candidatos à
ordenação sacerdotal no rito latino.
Propositio 11 do sínodo de 1990, em Pastores dabo vobis
Argumentos contra
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Lei meramente eclesiástica,
tardia, violaria o direito ao sacramento da ordem dos que
não querem aderir ao celibato.
Histórico
Não existiria intrínseca conexão entre celibato e sacerdócio.
Faltaria motivação teológica.
Teológico
Argumentos contra
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Impediria o amadurecimento
humano do sacerdote,
condenando-o a carregar um
fardo insuportável. Pedofilia
Psicológico
Exigência do celibato seria a
causa da escassez de vocações
no sacerdócio. Prático, de
conveniência pastoral
Resposta ao argumento
de tipo histórico
Previamente
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Ninguém tem direito à ordenação.
Somente podem ordenar-se os que
Deus chama através da Igreja
E Igreja quer chamar apenas
aqueles que estejam dispostos a um
compromisso celibatário perpétuo,
por terem recebido o dom de Deus
O caso de outros sacramentos
Origem da lei universal
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Curioso que haja tanto
desacordo em matéria fática
tão relevante.
Influência de paixões!
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Relato da intervenção do bispo
eremita Pafnúcio no Concílio de
Nicéia.
Falsificação de texto do Concílio
de Cartago feita pelos padres do
II Concílio Trullano (690).
Data
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Desde 1900 aproximadamente, a
partir de uma famosa disputa entre
G. Bickell (Münster) e F. Funk (Tübingen), prevaleceu a tese de que
lei do celibato surgiu nos anos 300
Atualmente, está cada vez mais
claro que a lei é de tradição
apostólica.
Assim pensam o cardeal Stickler,
Ch. Cochini, Sj, Stefan Heid, et alii
Duas diferentes formas
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1a. A mais antiga corresponde ao
celibato-continência.
Podiam ordenar-se tanto solteiros
como casados, mas depois de
ordenados, os solteiros não podiam
casar-se e os casados não podiam
conviver maritalmente com esposas.
Ordenação de casados exigia prévia
autorização das esposas
Concílio Lateranense II (1139)
Duas diferentes formas
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2a. Proibição da ordenação de
casados e compromisso prévio à
ordenação de não contrair
matrimônio
A criação dos seminários pelo
Concílio de Trento, fez com que em
pouco tempo houvesse um número
suficientemente grande de
candidatos ao sacerdócio célibes
Primeiros documentos
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Datam dos anos 300 e 400 e são:
Atas do Concílio dos bispos
espanhóis em Elvira (306)
Atas do Concílio africano de 390
recolhidas nas do famoso Concílio
de Cartago de 419
Duas cartas do Papa Sirício: uma
dirigida ao bispo de Tarragona
(385) e outra aos bispos africanos,
comunicando-lhes decisões do Sínodo romano de 386 (80 bispos)
Primeiros documentos
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Quatro cartas do papa Inocêncio I
(401-417) sucessor de Sirício
Testemunhos de Santo Ambrósio,
São Jerônimo e Santo Agostinho
A partir de então são freqüentes os
documentos que se referem à
vigência dessa disciplina, até o
Concílio de Trento
No oriente foi abandonada a partir
do II Concílio Trullano (??)
Conteúdo comum
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É vedado a bispos, presbíteros e
diáconos o uso do matrimônio após
a ordenação
Essa disciplina vige desde os
tempos mais antigos, observada
com mais ou com menos rigor,
segundo a época e a região.
Os infratores devem ser excluídos
do estado clerical
Conclusão de Funk
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A disciplina celibatária teria se
originado nos anos 300, o que
acabaria com a pretensão de
uma origem apostólica
O que derrubou essa opinião?
Tomada de consciência de que
a argumentação de Funk
continha dois erros graves bem
apontados por Stickler:
Primeiro
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1o. Apoiava-se fortemente em
um testemunho falso: o relato
da intervenção do bispo
eremita egípcio Pafnúcio no
concílio de Nicéia.
Já na época de Funk esse relato
era suspeito. Recentemente
ficou demonstrada a sua
inautenticidade.
Segundo
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Supor que o fato de a norma do
celibato obrigatório estar documentada só a partir do ano 300 implica
em que antes ela não existisse.
Absurdo!
Antes de 300, poucas normas disciplinares estavam escritas.
Como poderiam o Papa ou um Concílio promulgar uma norma desse
alcance sem provocar uma revolução?
Conclusão
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Evidentemente a disciplina
imposta pelos papas e concílios
da época só poderia consistir
em uma reafirmação de uma
disciplina já anteriormente
consolidada, para coibir abusos
e relaxamentos que, em épocas
de decadência, terão sido
freqüentes
Voltando à questão inicial
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Já sabemos que a disciplina
celibatária era vigente bem antes
dos anos 300
Por outro lado, Jesus Cristo exigiu
dos primeiros sacerdotes (os apóstolos) o celibato-continência
Há algum indício de que essa disciplina não tenha surgido em algum
momento depois da morte de Cristo,
bem antes dos anos 300?
Sim!
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O próprio papa Sirício o utilizou nas
suas cartas para afirmar que a
continência clerical era de origem
apostólica
Testemunho muito significativo: da
Igreja apostólica
Cartas pastorais de Paulo a Tito e a
Timóteo quando falam das condições dos candidatos ao sacerdócio
Maridos de uma só mulher!
Qual o sentido da frase?
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À primeira vista parece que é uma
evidência contra o celibato obrigatório. Mas qual é o sentido exato?
Que só homens casados podiam
ordenar-se? Não!
Que era vedada a ordenação dos
que vivessem em situação matrimonial irregular? Demasiado óbvio!
Que não deviam ser ordenados viúvos que tivessem voltado a casar-se
depois da morte da 1a esposa!
Por que?
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O fato de terem contraído novo matrimônio permitia presumir que teriam dificuldades com a continência após uma eventual ordenação
Finalmente, por que Paulo não se
refere diretamente à continência?
Porque suas orientações dizem respeito apenas à idoneidade para a a
ordenação. Sobre o comportamento
que deveriam ter os já ordenados,
não fala nada.
Resposta ao argumento
de tipo teológico
A questão
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Certamente é possível o sacerdócio não celibatário.
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Praxe das Igrejas orientais (*)
Validade do sacramento requer
apenas: varão e batizado
Mas a vinculação entre sacerdócio e celibato tem uma
profunda raiz teológica...
É particularmente importante que o sacerdote
compreenda a motivação teológica da lei eclesiástica do celibato. Enquanto lei, exprime a
vontade da Igreja, antes mesmo que seja expressa a vontade do sujeito através da sua disponibilidade. Mas a vontade da Igreja encontra
a sua motivação última na conexão que o celibato tem com a Ordenação sagrada, a qual configura o sacerdote a Cristo Jesus, Cabeça e Esposo da Igreja. Esta como Esposa de Cristo quer
ser amada pelo sacerdote do modo total e exclusivo com que Jesus Cristo Cabeça e Esposo a
amou. O celibato sacerdotal, é então, o dom de
si em e com Cristo à sua Igreja e exprime o serviço do presbítero à Igreja no e com o Senhor.
Pastores dabo vobis, 29
A grande motivação
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Cristo foi celibatário!
O nosso sacerdócio está profundamente vinculado ao seu.
É participação do seu no mais
forte sentido ontológico
Somos sacerdotes em Cristo
Cristo foi celibatário
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Fato assente entre os estudiosos
Marco Adinolfi: “Para quem não
confunda a tarefa do exegeta
com a do romancista, nada há
de mais pacífico que o celibato
de Jesus”
Cristo foi celibatário
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K. Barth, eminente teólogo protestante
“É um fato – e a ética protestante
na sua exaltação do matrimônio
nascida da luta contra o celibato
romano dos sacerdotes e dos religiosos descuidou deste ponto com
uma boa dose de leviandade – que
Jesus Cristo não teve outra amada,
noiva, esposa, família, ou outro lar
senão a sua comunidade” (1969)
Cristo foi celibatário
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Hipótese de W. Phipps de que silêncio da Escritura sobre estado matrimonial de Cristo não excluiria a
existência de uma esposa é insustentável (John Meier)
Evangelho fala do ambiente familiar
de Jesus
Na época de Jesus, celibato não era
comum, mas existia entre os
judeus. Essênios, Qumran etc.
Não por “casualidade”
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Porque não era comum, foi
explicitamente querido
Entre os judeus que esperavam
a vinda do Messias, era inconcebível que ele fosse casado.
Continência era ligada à idéia
do martírio
Celibato e Mediação
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Celibato faz de Cristo perfeito
Mediador entre Deus e os homens
Torna possível o seu amor imediato
e indiviso ao Pai
 Cristo amava todas as criaturas,
mas seu amor ao Pai era diferente. O Pai, para Ele, era Tudo
 Homem casado tem o coração de
algum modo dividido
Dá amplitude universal ao seu amor
Celibato e Mediação
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Celibato dilatou o seu coração
Celibato e Disponibilidade
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Só o celibato dá a Cristo a possibilidade de uma dedicação exclusiva
ao cumprimento da Missão confiada
pelo Pai: a Redenção
 Seu único alimento era fazer a
vontade do Pai e completar a
Obra que o Pai lhe confiara
 Não tinha outras pretensões: não
veio para ser servido mas para
servir e entregar a vida...
Cristo Esposo da Igreja
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Seu amor pela Igreja é
esponsal
Na Cruz, Cristo entrega a vida
pela Igreja. (Paulo aos Efésios)
Reflexões de João Paulo II
sobre o caráter esponsal do
amor de Cristo pela Igreja
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