SbrT – Campinas – Setembro de 2005 INFORMAÇÃO QUÂNTICA: DE EINSTEIN AOS COMPUTADORES QUÂNTICOS Luiz Davidovich Instituto de Física Universidade Federal do Rio de Janeiro Plano da palestra • Informação clássica e quântica; aplicação à criptografia • Computação quântica • Estados emaranhados Informação clássica 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Informação pode ser discretizada: a unidade elementar de informação é o bit (ou cbit, de bit clássico), que tem apenas dois estados 0 e 1 (falso ou verdadeiro, não ou sim, etc) Qualquer texto pode ser codificado por uma seqüência de bits Bits podem ser armazenados fisicamente (estado de carga de um capacitor: 0=descarregado, 1=carregado) São estados macroscópicos distinguíveis, robustos e estáveis Não são destruídos quando lidos e podem ser clonados ou replicados sem problema Além de poder ser armazenada, informação pode ser transmitida (comunicação) e processada (computação) Informação pode ser quantificada (Shannon, 1948). Informação é física (Landauer, 1961): precisa de um meio para ser gerada ou impressa, não pode ser transmitida mais rapidamente que a velocidade da luz, e é governada pelas leis da física A revolução dos quanta Planck Einstein Planck, 1900, Einstein, 1905: Luz é constituída de corpúsculos (fótons), com energia proporcional à freqüência. Luz: Comportamento ondulatório Luz+luz=sombra! Experimento de Young (1800): Luz emitida por uma fonte passa por um anteparo com duas fendas, e produz em outro anteparo franjas claras e escuras. Ondas interferem! Ondas em um tanque com água De Broglie: Ondas de matéria • De Broglie, 1923: Estendeu a dualidade onda-partícula para partículas subatômicas, como os elétrons. • Deve-se associar ondas a partículas! • Como conciliar aspectos ondulatório e corpuscular? Ondas de probabilidade (Born, 1926) • Onda associada à partícula descreve a probabilidade de que a partícula seja encontrada em determinada região. • Dois caminhos possíveis interferência! (ESTADO DA PARTÍCULA) = (CAMINHO 1) + (CAMINHO 2) Interferência de átomos Shimizu, Universidade de Tóquio Curral de elétrons • Átomos de Ferro sobre uma superfície de cobre prendem elétrons dentro de um “curral” • Fotografia feita com microscópio de tunelamento (IBM) Final do século XX: Tecnologia quântica Íons e átomos em armadilhas R. Blatt, D. Wineland R. Blatt Chapman, Haroche, Kimble, Rempe, Walther Átomos e fótons em cavidades Informação quântica: Polarização e polarizadores Polarização de um único luz Descrição clássica: fóton: H 0, V é1 apósBitpolarizador polarizada ao longo do eixo do polarizador, e tem intensidade Estado de polarização: Impossível polarização reduzida, dependendo Especificaçãomedir do Medindo a polarização de um único ângulo requer emfóton! geral um do ângulo (lei de Malus) número infinito de bits Descrição quântica: Fóton não se divide! Cada fóton ou não passa pelo polarizador ou sai polarizado ao longo do eixo do polarizador. Portanto, intensidade se reduz porque cada fóton tem uma certa probabilidade de passar, que depende do ângulo Peculiaridades da informação quântica • Se não conhecemos a priori qual a direção de polarização do fóton, medida modifica a polarização do fóton • Não é possível medir a polarização de um único fóton • Apesar da polarização do fóton depender de um ângulo cuja especificação requer em geral um número infinito de bits, só temos acesso a um bit de informação por fóton (polarização vertical ou horizontal) • Não é possível clonar um fóton (Wooters and Zurek, Nature, 1982) Criptografia quântica Bennett and Brassard, 84 1. Alice envia para Bob sequência de fótons polarizados ao longo de dois sistemas de eixos não ortogonais, escolhidos aleatoriamente 2. Bob mede a polarização de cada fóton, usando aleatoriamente um dos dois sistemas de eixos 3. Alice e Bob comparam suas escolhas de eixos através de um canal de comunicação público, e guardam apenas os resultados que correspondem a escolhas idênticas (cerca de metade dos resultados). Obtêm então uma chave para codificar e decodificar mensagens enviadas através de canais públicos. 4. Se Eva intercepta os fótons e os mede antes de reenviá-los para Bob, ela necessariamente perturba o estado do fóton, alterando assim as correlações entre as medidas de Alice e de Bob. Isso pode ser detectado por Alice e Bob através da comparação pública de um subconjunto de seus dados (essa amostragem é descartada, após a comparação). Criptografia quântica prática Toshiba’s Quantum Cryptography Prototype Os limites da computação clássica Lei de Moore (1965): número de transistores dobra a cada 18 meses! Aprox. 2015: um átomo por bit! Versão Montecito do Itanium2 (2005): 1,72 bilhões de transistores Outras motivações... Problema de fatoração: difícil! Melhor algoritmo de fatoração conhecido: Exponencial no comprimento do número Método criptográfico RSA de chave pública (bancos, embaixadas, internet...) Algoritmo de Shor (computação quântica): O[(comprimento)2+] Quebra de códigos! Busca em banco de dados (dado um número de telefone, encontrar o usuário!): clássico proporcional a N, quântico proporcional a N Computadores clássicos x quânticos • Informação elementar de computadores clássicos: bit ( 0 ou 1) • Análogo quântico de um bit: sistema de dois estados – quantum bit or q-bit. Descrito por vetor unitário em um espaço de Hilbert bi-dimentional. Base: 0 1 • Estado geral: 0 1 0 1 a 0 b 1 , a e b complexos Polarização de um único fóton: Bit quântico ou “q-bit”: H 0, V 1 Princípio da superposição 0 0 1 / 2 1 N átomos: 2N inputs! Dois q-bits: 0 1 0 1 1 0 0 0 1 1 0 1 1 2 2 2 Todos os valores possíveis de dois bits em um único estado! Podemos usar isso para implementar computação paralela: 1 2N 1 i1i2 ...iN 0 i1i2 ...iN U 1 2N 1 i1i2 ...iN 0 f i1i2 ...iN Computação quântica • Paul Benioff (1982), Richard Feynman (1983), David Deutsch (1985) q-bits (estado ) • Portas universais: transformações unitárias sobre um qbit + não controlado (DiVincenzo, 1995) • Não controlado: Bit de controle a 0 b 1 a 00 b 11 0 Bit alvo REVERSÍVEL! Estado emaranhado 00 00 00 01 01 01 00 01 10 11 11 10 11 10 11 10 Candidatos a computadores quânticos Armadilhas de íons Wineland, Blatt Pontos quânticos Junções Josephson Redes óticas Loss, DiVincenzo, Imamoglu, Awschalom Van der Wal, Nakamura Silício I. Bloch + T. Hansch DESCOERÊNCIA Ressonância magnética nuclear I. Chuang, D. Cory, R. Laflamme, E. Knill B. Kane R. Clark Estados emaranhados ( HV ) (VH ) Estado individual de cada parte não é definido: somente estado global Schrödinger (1935): “Eu não diria que o entrelaçamento é um mas o traço característico da mecânica quântica, aquele que leva ao abandono completo do pensamento clássico” Produção de estados emaranhados • Einstein, Podolski and Rosen: Paradoxo EPR (1935); John Bell (1964). Cristal iluminado Estado HV VH / 2 por um laser Duas alternativas! Medida da polarização do fóton 1 determina polarização do fóton 2! Alternativa clássica John S. Bell (1964) • É possível distinguir experimentalmente entre situação quântica e alternativa clássica • Polarização do fóton não é definida antes da medida! • Alan Aspect (Paris, 1982): resultado experimental Teletransporte Apenas dois bits! Alice transmitir parabinárias Bob estado seu Alicequer faz duas medidas sobrequântico seu parem de fótons (exemplo: polarização deapropriadas um fóton). epoder informa Bob, queestado aplicade transformações sobre seucompartilham fóton de modo reproduzir estado original Alice e Bob umaestado emaranhado: HV VH Primeira proposta de realização experimental: L.D., N. Zagury et al (1994) Bennet et al, PRL (1993) / 2 Alice enfrenta sérios problemas! Implementação mais recente Zeilinger et al, Nature 430, 849 (2004) Star Trek? EMARANHAMENTO ROBUSTO? Algumas questões importantes • • • • Novas realizações físicas e novos algoritmos Caracterização, aplicações e implicações do emaranhamento Aplicações em metrologia Como corrigir e controlar a descoerência? - correção quântica de erros - subespaços livres de descoerência - proteção de estados quânticos Conclusões • Informação quântica: novos resultados relacionados com fundamentos da mecânica quântica e da teoria da informação, novas técnicas experimentais, levando ao contrôle e à manipulação de átomos e fótons individuais • Pretensão: Utilização da física quântica para melhorar de forma dramática a aquisição, o processamento e a transmissão de informação • Intensa interdisciplinaridade: física, química, matemática, informática, engenharia • Demonstrações já realizadas: criptografia, teletransporte, protótipos de computadores quânticos • Ainda há um longo caminho a percorrer! Referências L. Davidovich, “Teletransporte: uma solução em busca de um problema”, Ciência Hoje, vol. 23, no. 137, pág. 8 – 12 (Abril de 1998) L. Davidovich, “O Gato de Schrödinger: Do mundo quântico ao mundo clássico”, Ciência Hoje, vol. 24, no. 143, págs. 26 – 35 (Outubro de 1998) Ivan S. Oliveira et al, “Computadores quânticos”, Ciência Hoje, vol. 33, no. 133, págs. 22 – 29 (Maio de 2003) L. Davidovich, “Informação quântica: Do teletransporte ao computador quântico”, Ciência Hoje, vol. 35, no. 206, págs. 24 – 29 (Julho de 2004) Instituto do Milênio de http://www.if.ufrj.br/~infoquan Informação Quântica http://www.qubit.org COLABORADORES Brasil: R.L. de Matos Filho, N. Zagury, B. Koiller Pos-doc: F. Toscano Estudantes: André Carvalho, Marcelo França, Luiz Guilherme Lutterbach, Pérola Milman, Paulo Sá Pires, Dario Tavares, Alexandre Tacla, Miguel Abanto, Fernando Melo, M. Leandro Aolita, Malena Hor-Meyll França: M. Brune, S. Haroche, V. Lefèvre, J.M. Raimond + students OPTICAL LATTICES Hubbard model: I. Bloch and T. Hänsch (Munich) W. Phillips (NIST) T. Esslinger (Zurich) D. Heinzen (Austin) 1 † ˆ H J ai a j i ni U nˆi nˆi 1 2 i i j i Periodic potential Stationary light waves Electrons Atoms Insulator-superfluid Mott transition. Quantum phase transition: Greiner et al, Nature 415, 39 (2002) Transmissão instantânea de informação? • Medida da polarização do fóton por observador A não permite ao observador B saber qual a polarização de seu fóton, até que ele receba uma comunicação de A dizendo qual foi o resultado da medida. • Ao medir a polarização de seu fóton, e obter o resultado H ou V, B não sabe se A fez ou não a medida, pois mesmo sem ela B tem uma chance de 50% de obter H ou V. • Se B pudesse clonar seu fóton, poderia medir seu estado, e determinar se o fóton de A foi medido ou não! Mas isso é proibido na física quântica! • Informação é física!