I Encontro Internacional Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva Universidade Metodista de São Paulo – 22 e 23 de maio de 2014 Apoio: Estudos de Comunicação Social à luz da Interdisciplinaridade: um desafio a ser rompido1 Anelisa Maradei2 Resumo O artigo faz articulações acerca da necessidade de que as pesquisas em Comunicação Social agreguem a seus ferramentais metodológicos informações e instrumentos de verificação de outras áreas do saber. Do ponto de vista metodológico, o texto sustentase em revisão bibliográfica, utilizando-se de autores como: Morin (Teoria da Complexidade), Pombo, Japiassu (Intedisciplinaridade), Baccega (Transdisciplinaridade), entre outros. Perseguimos a ideia de que conseguiremos, por meio de estudos interdisciplinares, entender cientificamente os processos que estruturam sistemas complexos na captação, transmissão e processamento de informações pelo ser humano. Buscamos demonstrar que o campo da Comunicação Social, apesar de suas especificidades, não é um corpo isolado no mundo da investigação científica. Trata-se de um campo interdisciplinar e que emerge como uma ciência que ultrapassa fronteiras para responder questões complexas. Palavras-Chave: Comunicação; Tecnologia; Ciência Cognitiva; Interdisciplinaridade, Complexidade. Introdução: O objetivo do presente artigo é realizar uma análise reflexiva sobre a necessidade de intersecções entre estudos e pesquisas sobre Comunicação Social, Tecnologia e Ciência Cognitiva. Por atuarmos no campo da Comunicação, partimos da perspectiva das limitações de nossa área de atuação para dar conta de alguns fenômenos complexos que se apresentam na contemporaneidade. Um dos pontos centrais de nossas 1 Trabalho apresentado no GT5: Comunicação, Sistemas Complexos e Interdisciplinaridade, do I Encontro Internacional de Tecnologia, Comunicação e Ciências Cognitivas, realizado na Universidade Metodista de São Paulo, de 22 a 23 de maio. 2 Doutoranda em Comunicação pela Universidade Metodista de São Paulo, UMESP; e-mail: [email protected] 1 I Encontro Internacional Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva Universidade Metodista de São Paulo – 22 e 23 de maio de 2014 Apoio: ponderações é a percepção de que, para acompanhar todo processo de evolução tecnológica que vem ocorrendo nas últimas décadas, é fundamental que os pesquisadores da área de Comunicação Social ampliem seus ferramentais metodológicos, adaptando-os aos instrumentos de verificação desenvolvidos em outros campos do conhecimento. Cabe observar, inicialmente, que, durante a II metade do século XX, a sociedade entrou num novo ciclo de desenvolvimento tecnológico, baseado na expansão dos maquinismos informáticos de processamento de dados e geração de comunicação. Esses equipamentos, ancorados nas novas tecnologias, converteram-se em eletrodomésticos, aparelhos portáteis que, cada vez mais, vem norteando nossas atividades no campo pessoal e profissional. Como sugere Rudiger (2011, p. 14), Os negócios, comunicações, pesquisas, lazeres e atividades profissionais, para não falar das relações de poder e dos laços de afetividade, passam agora todos por ele [computador] e, assim formam uma rede de trocas e ações cujo sentido dominante, todavia, não é técnico, mas de ordem social, espiritual e histórica”. Assim, reconhecendo o aumento da capacidade de processamento de dados por microprocessadores, o desenvolvimento de novas linguagens de programação que propiciaram condições estruturais para o aparecimento da internet, da telefonia móvel, de câmeras digitais entre outros aparatos tecnológicos, além de novos contextos de interação entre os sujeitos e entre eles e as instituições, acreditamos que, para acompanhar todo esse processo de modificações estruturais em nossa sociedade, faz-se necessário que as pesquisas em Comunicação Social agreguem a seus ferramentais metodológicos informações e instrumentos de verificação de outras áreas do saber. Perseguimos a ideia de que conseguiremos, dessa forma, entender cientificamente os processos que estruturam sistemas complexos na captação, transmissão e processamento de informações pelo ser humano. Em nosso entendimento, por meio do entrecruzamento de campos de estudo, pode-se ampliar o caráter científico da Comunicação Social. Como sustenta Rafael Virgilli (2011), o ambiente tecnológico pode, por exemplo, ser responsável pelas condições que ameaçam a saúde biológica e mental, bem como a qualidade das 2 I Encontro Internacional Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva Universidade Metodista de São Paulo – 22 e 23 de maio de 2014 Apoio: interações humanas. Nesse sentido, há de se observar, por exemplo, esse outro campo ao se pensar em Ciência da Comunicação. .....estudos relacionados à comunicação que tentam traçar um paralelo com a tecnologia, fundamentalmente precisam abordar o histórico dos objetos de estudo, tendo em vista identificar as intencionalidades colocadas em sua elaboração e, por consequência, as técnicas de apropriação que nela podem ser aplicadas para cumprir sua função. É nesse contexto em que a tecnologia – com seu acelerado processo de incursão na sociedade – será essencial para a mudança da ideia de ciência e contribuição para a melhoria na qualidade de vida das pessoas (VIRGILLI, 2011, p.4) Além disso, vivemos na era da convergência e, como propõe Jenkins (2008, p.43), “a convergência das mídias é mais do que apenas uma mudança tecnológica”. A convergência altera a relação entre tecnologias existentes, indústrias, mercados e públicos. Altera a lógica, segundo o mesmo autor, pela qual a indústria midiática opera e pela qual os consumidores processam a notícia e o entretenimento, o que nos remete a buscar respostas também na Ciência Cognitiva. Do ponto de vista metodológico, o artigo parte de revisão bibliográfica utilizando-se de autores como: Morin (Teoria da Complexidade), Pombo, Japiassu, Walter Teixeira Lima Júnior (Intedisciplinaridade), Baccega (Transdisciplinaridade), entre outros. Exploramos autores de projeção nacional e internacional, obras integrais e artigos acadêmicos publicados em revistas e anais de congressos, para dar sustentação a nossas articulações. No decorrer do texto a seguir, por meio de nossas ponderações teóricas, tentaremos traçar um panorama sobre a necessidade da prática interdisciplinar quando se pensa em estudos em Comunicação Social na contemporaneidade. Partimos da observação de que há uma tradição acadêmica da fragmentação e da compartimentalização dos campos do saber, que vem nos levando há séculos a nos orientar na forma de como interpretamos o mundo. Por essa tradição, na busca pelos detalhes, perdemos a visão do todo. Fechados em determinadas disciplinas não partimos para a busca de respostas em outras áreas do conhecimento, deixando de ampliar nosso olhar e de nos lançar por campos que poderiam trazer respostas e interpretações para questionamentos relevantes, especialmente no campo da Comunicação Social, que é nosso foco neste artigo, e uma ciência ainda em 3 I Encontro Internacional Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva Universidade Metodista de São Paulo – 22 e 23 de maio de 2014 Apoio: amadurecimento. Abrimos mão, muitas vezes, da visão do conhecimento em sua complexidade. Como propõe Paviani (2008, p. 14), “O advento do arranjo disciplinar trouxe consigo a fragmentação de conhecimento e a especialização que perde de vista a visão do todo“. Essa tradição, segundo Paviani, remonta do período de consolidação das primeiras universidades, momento em que as disciplinas passam a ser relacionadas com as estruturas organizacionais que envolviam não apenas critérios epistemológicos, mas também políticos (PAVIANI 2008, p.37). Assim, as disciplinas engessam-se em seus limites, bem como os pesquisadores passam a falar de um espaço institucionalizado. Indo além e fazendo um paralelo com o sistema capitalista, o autor uruguaio Galeano (1990) observa os riscos da compartimentalização, ressaltando que há perdas relevantes ao adotarmos essa forma de conhecimento fragmentado. Ele atribui a perspectiva da fragmentação a interesses de grupos dominantes. No modo de produção capitalista, segundo ele, a compartimentalização estaria diretamente atrelada à alienação do trabalhador, que executa mecanicamente repetidas tarefas, num ofício mecânico, que o limita em sua capacidade de criação e contestação por não ter a compreensão do processo, do todo. De forma análoga, no campo do conhecimento, a fragmentação disciplinar, para o mesmo autor, também seria restritiva ao avanço científico, pois perderíamos na evolução do conhecimento pelo foco exacerbado aos detalhes, às partes, ao que é particular. Galeano atribui essa perspectiva de fragmentação, tanto no campo do saber, quanto no processo produtivo, a interesses dominantes. Seria uma forma de impossibilitar o acesso ao conhecimento em sua complexidade. Acreditamos porém que a raiz da questão vá mais além do que a subjugação do pesquisador ao sistema. A forma como a educação é concebida gera um certo comodismo por parte dos pesquisadores que, muitas vezes se alienam em seus campos de atuação. Além disso, não podemos negar a existência de interesses particulares de pesquisadores que não querem romper com suas linhas de pesquisa ancoradas em teorias já estruturadas. Outro ponto a se ressaltar é que muitas vezes não há esforço consistente para suplantar barreiras rumo a novos e desafiadores horizontes, em busca de práticas interdisciplinares que agreguem competência à Comunicação Social. 4 I Encontro Internacional Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva Universidade Metodista de São Paulo – 22 e 23 de maio de 2014 Apoio: Interdisciplinaridade, Multidisciplinaridade e Complexidade Antes de avançarmos, ressaltamos nossa posição de que não deixamos de acreditar que uma ciência deve possuir definições próprias e sólidas, baseadas em suas atividades e perspectivas futuras. Isto não é diferente no caso da Comunicação Social. Há de existir um núcleo orientador das ações investigativas bem definido para cada ciência em particular, a partir do qual se torna possível o diálogo com outras disciplinas, como a Ciência Cognitiva, Ciência da Informação, Engenharia, Filosofia, Antropologia, Ciências Sociais, Biologia, Matemática, Ciências Sociais etc. Mas, entretanto, reforçamos nossa perspectiva de que, ao adotarmos um olhar que renega a interdisciplinaridade, estamos causando sérios prejuízos aos estudos de Comunicação Social. Isso por entendermos que o campo da Comunicação, apesar de suas especificidades, não é um corpo isolado no mundo da investigação científica. Trata-se de um campo interdisciplinar e que emerge como uma ciência que ultrapassa fronteiras para responder questões complexas. Por isso, tem que se articular com outras áreas do conhecimento. Como propõe Gomes, “O debate científico aberto entre as disciplinas é fundante da verdadeira interdisciplinaridade” (GOMES, 2001, p.4). Mas é preciso atentar que não se trata de uma mera transposição ou incorporação de métodos e conceitos de outras áreas, mas um diálogo concreto entre as disciplinas que se materialize em avanços efetivos para a ciência e para a sociedade. Esse é outro ponto que consideramos fundamental. A busca por conhecimentos em outras disciplinas deve abrir possibilidades para que possamos apurar o olhar e interferir nas intencionalidades das criações tecnológicas. Acreditamos na busca pelo desenvolvimento social por intermédio da tecnologia e da comunicação, como forma de construir uma sociedade mais justa e igualitária Dentro dessa perspectiva, na conformação da ciência contemporânea, surgem os conceitos de interdisciplinaridade e de transdisciplinaridade, que muito nos interessam para avançarmos neste artigo. Com relação à terminologia, os conceitos são empregados na literatura de forma pouco definida. Gómez (2003) observa que não é um ponto 5 I Encontro Internacional Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva Universidade Metodista de São Paulo – 22 e 23 de maio de 2014 Apoio: pacífico para os diferentes autores a distinção entre eles. Embora apresentemos aqui algumas distinções propostas para as duas terminologias, adotaremos interdisciplinaridade no corpo desse trabalho como termo “guarda-chuva” para nos referirmos à interação crescente entre as disciplinas que vem ocorrendo na atualidade. Ainda assim, faremos uma breve reflexão sobre as diferenciações pontuadas por alguns autores. Japiassu e Marcondes (1991), por exemplo, definem interdisciplinaridade como um método de pesquisa capaz de promover a interação entre duas ou mais disciplinas. Esta interação, segundo os autores, pode ir “da simples comunicação das ideias até a integração mútua dos conceitos, da epistemologia, da terminologia, da metodologia, dos procedimentos, dos dados e da organização da pesquisa” (JAPIASSU; MARCONDES, 1991). Para Paviani (2008, p.8), a interdisciplinaridade é construída ao buscar a articulação dos saberes. Já na visão de Gusdorf, “A interdisciplinaridade supõe abertura de pensamento, curiosidade que se busca além de si mesmo” (GUSDORF, 1990 apud POMBO, 1994, p.2). Jean Piaget, por sua vez, aponta que na interdisciplinaridade ocorrem cooperação e intercâmbios reais e, consequentemente, enriquecimentos mútuos (PIAGET, 1972, apud POMBO, 1994). Gonzalez de Goméz opta por definir interdisciplinaridade como: Geração de conhecimentos através de diferentes modalidades de interação visando à integração de conceitos, métodos, dados, ou as abordagens epistemológicas de múltiplas disciplinas em torno de uma ideia, problema, tema, ou questão em particular. A interdisciplinaridade se desenvolveria, assim, dentro do campo científico, buscando a superação e reformulação das fronteiras paradigmáticas (GONZÁLES DE GÓMEZ, 2003, p. 6). Por outro lado, pode-se dizer que a transdiciplinaridade remete não só a um agrupamento de informações entre disciplinas, mas a um pensamento organizador e integrador com o objetivo de gerar informação estruturada. Nas pesquisas de Comunicação Social muito se tem falado sobre transdisciplinaridade na tentativa de compreender fenômenos complexos. Mônica Martinez (2008, p.157) ressalta que “na tentativa de compreender as múltiplas dimensões dos fenômenos, busca transcender as fronteiras disciplinares sem perder de vista o respeito às diferenças de cada uma”. 6 I Encontro Internacional Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva Universidade Metodista de São Paulo – 22 e 23 de maio de 2014 Apoio: Baccega, na mesma direção, discorrendo sobre o conceito de transdiciplinaridade, ressalta a questão da manutenção das especificidades das disciplinas no processo trasdisciplinar. Para ela, há entre as disciplinas intercâmbios, formando novos campos, em outro patamar: As fronteiras entre os campos de conhecimento tornaram-se fluídas. Embora cada um dos campos guarde suas especificidades (Linguagem, História, Sociologia, Antropologia etc), há entre eles um intercâmbio permanente, formando novos campos, em outro patamar. Essa dialética entre intercâmbio e especificidade, entre totalidade e particular, num movimento que impede que as disciplinas se fechem em si mesmas e cada uma se considere a melhor, fragmentando a apreensão científica da realidade (que não é compartimentada), constitui a transdiciplinaridade, e é o grande desafio daqueles que se dispõem a refletir, criticar e construir uma nova variável histórica. (BACCEGA, 1999, p.7) O que nos interessa, entretanto ressaltar é que há uma relação direta entre interdisciplinaridade/transdisciplinaridade e complexidade. A complexidade seria “o tecido de acontecimentos, ações, interações, retroações, determinações, acasos, que constituem o nosso mundo fenomenal” (MORIN, 2003, p.20). Para Morin (2005), um crítico da fragmentação do conhecimento, a interdisciplinaridade seria um dos caminhos para a reforma do pensamento fraturado pela disciplinarização. O autor acredita que a migração de conceitos é um exercício que sempre aconteceu no interior das ciências e sobre a questão pondera: ... os conceitos viajam e é melhor que viajem sabendo que viajam. É melhor que não viajem clandestinamente. É bom também que eles viajem sem serem percebidos pelos aduaneiros! De fato, a circulação clandestina dos conceitos ao menos permitiu às disciplinas respirar, se desobstruir (MORIN, 2005, p.117). Para o autor, o problema da complexidade não é o da completude, mas o da incompletude do conhecimento (Morin, 2013, p.176). A complexidade surge, assim, como dificuldade, como incerteza e não como clareza e resposta. Nesse sentido, como propõe o autor, o pensamento complexo tenta dar conta daquilo que os tipos de pensamento mutilantes se desfazem, excluindo o que ele chama de simplificadores e por isso ele luta, não contra a incompletude, mas contra a mutilação. Ele exemplifica: 7 I Encontro Internacional Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva Universidade Metodista de São Paulo – 22 e 23 de maio de 2014 Apoio: ...se tentamos pensar no fato de que somos seres ao mesmo tempo físicos, biológicos, sociais, culturais, psíquicos e espirituais, é evidente que a complexidade é aquilo que tenta conceber a articulação, identidade e a diferença de todos esses aspectos, enquanto o pensamento simplificante separa esses diferentes aspectos, ou unifica-os por uma redução mutilante. MORIN, 2013, p.176) A complexidade seria, dessa forma, “o tecido de acontecimentos, ações, interações, retroações, determinações, acasos que constituem o nosso mundo fenomenal” (MORIN, 2003, p.20). A complexidade não recusa a ordem, a clareza e o determinismo, mas os considera insuficientes para lidar com a descoberta. Tem por fundamento incitar o pensamento sobre conceitos, sem dá-los por concluídos, a fim de restabelecer articulações entre o que foi separado e não se esquecer das totalidades integradoras. Posto isto, retomo às ponderações sobre a importância da interdisciplinaridade no estudo de Comunicação. Devido à complexidade de seu objeto de estudo, a Comunicação encontra-se em um terreno fronteiriço, em que se situam e se tangenciam diferentes campos do saber: Filosofia, Sociologia, Antropologia, Neurociência, Ciência Cognitiva, Ciência da Informação, Engenharia etc. Assim, pesquisar, por exemplo, as tecnologias de informação e comunicação, tendo como foco seus usos e os impactos na comunicação social por intermédio dos estudos oriundos da filosofia da tecnologia, acarretará, como propõe Lima Júnior (2013, p.104) “melhor entendimento sobre as apropriações e motivações humanas na adoção de uma ou outra tecnologia e ampliará a oportunidade de analisar, com outras perspectivas, os processos de inovação tecnológica sem considerar somente os aspectos mercadológicos”. Se, por muito tempo, as referências relacionadas ao comportamento humano citadas nas pesquisas tiveram como parâmetro as metodologias behavioristas, agora há oportunidade de usar equipamentos tecnológicos, como Functional Magnetic Resonance Imaging (fMRI), entre outros, que permitem conhecer as regiões corticais afetadas por processamento de informações advindas do sistema sensorial. Pode-se, por meio de experiências, demonstrar as áreas afetadas pelo encéfalo quando o ser humano olha certos tipos de imagens ou conteúdos na TV, o que permite o aprofundamento de estudos no campo da Comunicação Social. Trata-se de uma tentativa de construir 8 I Encontro Internacional Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva Universidade Metodista de São Paulo – 22 e 23 de maio de 2014 Apoio: conexões entre tecnologia (ciências da natureza), comunicação (ciências sociais aplicadas) e ciência cognitiva. A integração da Ciência Cognitiva aos estudos de Comunicação, dentro desse contexto, tem se mostrado bastante relevante na contemporaneidade, agregando inúmeras contribuições ao campo da Comunicação Social. Como esclarece Lima Júnior (2013, p, 99), “A Ciência Cognitiva é um domínio do conhecimento humano e nasceu com estrutura transdisciplinar, abarcando as ciências biológicas, por meio da neurociência, além de outras áreas, como a inteligência artificial”. Nos estudos de Comunicação Social, a Ciência Cognitiva vem há cerca de 20 anos contribuindo para desvendar alguns fenômenos. O principais fatores que contribuíram para sua formação foram o reconhecimento da esterilidade do behaviourismo. A Ciência Cognitiva, um dos mais novos campos interdisciplinares do conhecimento, que objetiva analisar a natureza, os componentes, as origens e os processos envolvidos nos mecanismos de funcionamento, representação e manipulação do conhecimento. O cognitivismo é relevante para todas as áreas do conhecimento que se relacionam com o estudo da mente e não só para a Comunicação. Durante as últimas décadas, o desenvolvimento da Ciência Cognitiva evoluiu. A disciplina cruza, de forma estruturada, seis áreas de pesquisa, sem desconsiderar outras, tais como: Filosofia, Psicologia, Linguística, Inteligência Artificial, Antropologia e Neurociência. Para o campo da Comunicação Social, além do entendimento sobre questões concernentes à tecnologia da informação e comunicação, traz contribuições no tocante aos impactos impostos pelas tecnologias nos indivíduos. Pode-se, assim, utilizar os conhecimentos apreendidos na Ciência Cognitiva de forma aplicada na Comunicação, propiciando o desenvolvimento humano, tendo sempre como foco uma sociedade mais justa e igualitária. Atentos a questões de outras disciplinas, como ciência da informação, ciência cognitiva, engenharia, entre outras, acreditamos que poderemos nos aproximar do entendimento científico dos processos que estruturam os sistemas complexos na captação, transmissão e processamento de informações pelo ser humano. Retomando Morin, partindo do exposto, percebe-se que o autor aponta a complexidade como uma teoria que tem por objetivo prestar contas das articulações despedaçadas pelos cortes 9 I Encontro Internacional Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva Universidade Metodista de São Paulo – 22 e 23 de maio de 2014 Apoio: entre disciplinas, entre categorias cognitivas e entre tipos de conhecimento. Assim, a complexidade tende ao conhecimento interdisciplinar, “multidimensional”, como diria o próprio autor (MORIN, 2008, p.177). De qualquer forma, o que fica claro é que a complexidade surge como dificuldade, como incerteza e não como clareza e resposta. O desenvolvimento do conhecimento científico, sempre é relevante recordar, precisa da comunicação entre cultura científica e cultura humanista (filosofia) e da comunicação com a cultura dos cidadãos, que passa pela mídia, o que exige esforços dos pesquisadores. A ciência é uma atividade construída com todos os ingredientes da atividade humana. Não é uma operação de verificação de realidades triviais, mas, sim, uma descoberta de um real a ser explorado e descoberto, de um real escondido. Considerações Finais: Até pouco tempo a tecnologia era vista, e ainda é por muitos, como algo ameaçador para a Comunicação Social, pois embarcada nela estava o “não humano”. Com o desenvolvimento vertiginoso das tecnologias da informação e comunicação (TICs) e o barateamento dos aparatos tecnológicos, com a consequente apropriação por parte do cidadão comum de diversos dispositivos e conteúdos informativos e de entretenimento, a comunidade científica da área, como vimos, passa a ter que adotar outras posturas em suas pesquisas, abarcando conceitos e experiências vindas de outros campos do saber. Pudemos observar no decorrer do presente texto, que a compreensão dos processos tecnológicos e da Ciência Cognitiva é, hoje, de fundamental importância para a composição das pesquisas no campo da Comunicação. Acreditamos que, para a compreensão e estruturação de estudos consistentes na em Comunicação Social há de se realizar, cada vez mais, pesquisas de cunho interdisciplinar, que atentem para a Filosofia, Psicologia, Linguística, Inteligência Artificial, Antropologia e Neurociência etc. Além de a Comunicação dialogar com outras áreas, é necessário inserir no próprio campo de estudo comunicacional características que apontem para a CS como 10 I Encontro Internacional Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva Universidade Metodista de São Paulo – 22 e 23 de maio de 2014 Apoio: uma ciência mais exata, baseada em resultados comprovados, procurando eliminar analogias e erudição que, via de regra, ocultam fragilidades. Mas, se pontuamos a importância da tecnologia para a Ciência da Comunicação, reforçamos também a ideia de que os estudos não podem ser feitos de forma deslumbrada, num tecnicismo sem controle. Como propõe Jenkins (2008), devemos estar atentos ao fato de que ainda que consideremos a importância da tecnologia, precisamos ir além. Estamos vivendo em uma sociedade midiatizada, tecnológica, de convergência, dinâmica e globalizada e os cidadãos são convidados a procurar informações em meio a conteúdos midiáticos dispersos. Além da tecnologia devemos estar, dessa forma, atentos para as práticas emergentes que as novas mídias promovem, práticas de interação em rede online, além de diversas formas de uso da tecnologia em nossa vida e em nosso cotidiano. Creio que, lembrando que a convergência ocorre dentro de nossos cérebros e em nossas interações sociais, teremos mais assertividade em nossos processos de investigação. No mais, é inegável a importância dos meios de comunicação e sua influência na complexa sociedade contemporânea e, dessa forma, concluímos que estudar as mídias passa a ser, hoje, uma prioridade no campo das interações sociais. Assim, precisamos investigar, compreender e formular teorias de Comunicação que possam atender os interesses da sociedade. Só o cruzamento de diversos campos da ciência poderá auxiliar e tornar as pesquisas da área mais precisas, facilitando a compreensão de diversos fenômenos que se impõem aos pesquisadores contemporâneos. Além disso, a interdisciplinaridade pode auxiliar a Comunicação Social a se afastar de erudições vazias e se tornar, cada vez mais, uma ciência com um caráter mais científico e estruturado. Vivemos num ambiente interativo, tecnológico, dinâmico, globalizado e um pensamento complexo, dialógico, que não se limite às fronteiras da Comunicação Social poderá trazer importantes contribuições para as pesquisas e para a sociedade como um todo. Entretanto, temos a consciência de que o trabalho interdisciplinar traz para o pesquisador inúmeros desafios, pois cria isolamento, tendo em vista que os integrantes desse tipo de prática não compartilham de bibliografias e experiências comuns. Exige um esforço de superação muito maior que o imposto ao trabalho especializado e, ainda, 11 I Encontro Internacional Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva Universidade Metodista de São Paulo – 22 e 23 de maio de 2014 Apoio: corre, muitas vezes, o risco de apropriações de conceitos de forma indevida ou mesmo inadequada. Um desafio que, se bem conduzido metodologicamente, vale ser perseguido. 12 I Encontro Internacional Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva Universidade Metodista de São Paulo – 22 e 23 de maio de 2014 Apoio: Referências Bibliográficas: Baccega, Maria Aparecida. Comunicação/Educação e transdiciplinaridade: os caminhos da linguagem. Revista Comunicação & Educação, v. 5, n. 15, 1999. GALEANO, Eduardo. Nós dizemos não. 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