J. Bras. Nefrol. 1996; 18(3): 295-301 295 E. A. Sampaio da Cruz/ J. R. Lugon - Revisão/Atualização em Diálise Revisão/Atualização em Diálise: Prevenção e tratamento da osteodistrofia renal Elisa de Albuquerque Sampaio da Cruz, Jocemir Ronaldo Lugon Disciplina de Nefrologia - Hospital Universitário Antonio Pedro Universidade Federal Fluminense, Niterói, Rio de Janeiro Endereço para correspondência: Dra. Elisa de A. Sampaio da Cruz Rua Visconde de Morais, 126/802, Ingá CEP 24210-140 - Niterói, RJ Tel.: (021) 620-3411 Fax: (021) 717-4459 Introdução Nos últimos 30 anos, um crescente número de pacientes com insuficiência renal crônica (IRC) tem sobrevivido graças à utilização regular de métodos dialíticos. Desde que a diálise corrige apenas alguns dos distúrbios metabólicos da uremia, estes pacientes, a longo prazo, freqüentemente evoluem com diversas complicações clínicas. 1 A osteodistrofia renal (ODR), pela sua freqüência e morbidade, vem ocupando um lugar de destaque entre essas entidades clínicopatológicas. Os mecanismos envolvidos na patogenia da ODR são multifatoriais e, por vezes, controversos. 1,2,3 Hipocalcemia, retenção de fosfato, reduzida produção de 1,25(OH) 2D 3, resistência periférica à ação do PTH e da vitamina D, e intoxicação pelo alumínio dentre outros, são mecanismos sabidamente envolvidos nesta doença. Recentemente, várias substâncias tais como citocinas e seus receptores solúveis, ou antagonistas circulantes e fatores de crescimento têm sido também implicados como participantes na fisiopatogenia da ODR. 4 O diagnóstico específico do tipo de doença óssea associado à uremia pode, algumas vezes, ser sugerido por métodos não invasivos. Os estudos radiológicos e a cintilografia óssea, a dosagem do PTH molécula intacta e da fosfatase alcalina e a dosagem do alumínio sérico (basal e após o teste com desferoxamina), contudo, nem sempre conduzem a um diagnóstico correto. 5,6,7 A biópsia óssea após dupla marcação com tetraciclina continua a ser o melhor método para o diagnóstico do tipo específico de ODR. 4,8 As lesões ósseas relacionadas à ODR podem ser classificadas em 2 grupos, de acordo com os parâmetros dinâmicos da remodelação óssea: as doenças de alto e as de baixo turnover ósseo. 9 As doenças de alto turnover ósseo, decorrentes do hiperparatireoidismo secundário (HPTs), são representadas histologicamente pela osteíte fibrosa que é caracterizada por um elevado índice de formação e de reabsorção óssea e graus variáveis de fibrose medular. As doenças de baixo turnover ósseo caracterizam-se por uma redução na formação óssea e um defeito na mineralização óssea, e são representadas histologicamente pela osteomalácia e pela doença óssea aplástica, ambas com ou sem a presença de alumínio nas superfícies ósseas. Adicionalmente, podemos encontrar as doenças mistas, onde coexistem num mesmo paciente as alterações de alto e de baixo turnover ósseo, geralmente com predomínio de uma sobre a outra. Os progressos no manuseio dos pacientes com IRC, associados a um melhor entendimento dos mecanismos patogenéticos e aos avanços terapêuticos recentes, têm implicado numa mudança do perfil da ODR. 4,10,11 Assim, um melhor conhecimento dos fatores envolvidos no desenvolvimento do HPTs, tem resultado numa terapêutica direcionada ao controle dos níveis séricos do cálcio e do fósforo, à redução da secreção do PTH e à reposição de calcitriol, resultando numa diminuição da freqüência e gravidade da osteíte fibrosa. Além disso, o tratamento adequado da água utilizada na hemodiálise e a substituição dos compostos de alumínio por sais de cálcio, como quelantes de fósforo, têm levado a uma redução significativa da freqüência das doenças ósseas relacionadas ao alumínio (osteomalácia e doença aplástica). 8 A publicação desta seção foi possível graças à colaboração da Cilag Farmacêutica Ltda. 296 J. Bras. Nefrol. 1996; 18(3): 295-301 E. A. Sampaio da Cruz/ J. R. Lugon - Revisão/Atualização em Diálise Entretanto, outros fatores devem estar envolvidos, já que o controle dessas alterações não tem sido seguido de uma histologia óssea normal. Recentemente, tem sido observado um aumento da incidência da doença óssea aplástica não relacionada ao alumínio. 10,11 Este tipo de lesão é encontrada mais freqüentemente em pacientes tratados com diálise peritonial, diabéticos, idosos e, possivelmente, naqueles tratados com doses altas de carbonato de cálcio e ou vitamina D. 2,11,12,13 Infelizmente, nos países em desenvolvimento, como o nosso, ainda é grande a incidência de doença óssea grave associada ao HPTs, 14 já que a maioria de nossos pacientes não tem acesso ao calcitriol, e o uso de quelantes de fósforo à base de sais de cálcio (carbonato ou acetato de cálcio) nem sempre é feito de modo adequado. Além disso, em determinadas regiões desses países, ainda é elevada a freqüência de doença óssea associada ao alumínio. 15 P r e v e n ç ã o e Tr a t a m e n t o d a O D R A ODR progride insidiosamente por vários anos antes que os pacientes tornem-se sintomáticos, já que os fatores responsáveis pelas alterações no metabolismo do cálcio e do fósforo, determinantes da doença óssea, atuam precocemente no curso da IRC. 16 Portanto, medidas preventivas deveriam ser prioridade no seu manuseio. Estas devem ser direcionadas para a correção das conseqüências da falência das funções excretora e endócrina dos rins e, também, para evitar a exposição a agentes tóxicos como, por exemplo, o alumínio. 1 - Controle do Cálcio e Fósforo Séricos Para prevenção do HPTs é essencial a correção da hiperfosfatemia e da hipocalcemia. O controle do P sérico é crucial para a prevenção e tratamento do HPTs e das calcificações metastáticas. 17 O balanço de P do paciente em diálise é determinado basicamente pela quantidade de P ingerida versus aquela removida pela diálise. Como o P inorgânico é removido de modo insuficiente pela diálise, há necessidade de se restringir o P da dieta e de se utilizar quelantes de P na maioria destes pacientes. 18 Idealmente, a ingesta de P na dieta deve estar entre 800-1000mg/dia em adultos com IRC. 17,18 O P sérico deve ser mantido entre 4.5-6.0mg% 17 e o uso de sais de Ca2+, como quelantes de P, somente iniciado quando o P sérico for inferior a 7.0mg%. 19 Desde que a toxicidade pelo alumínio é largamente reconhecida, os compostos de alumínio, como quelantes de P, devem ser usados de modo restrito e, quando necessário, administrado nas menores doses possíveis e por tempo limitado. 19,20 Há longa data, o carbonato de cálcio (CaCO 3) tem se mostrado efetivo no controle do P sérico, 19 porém, seus efeitos colaterais, principalmente hipercalcemia e alterações gastrointestinais como obstipação, tornam seu uso, por vezes, limitado. Mais recentemente, o acetato de cálcio (AcCa) foi introduzido como um quelante de fósforo igualmente eficaz, porém, menos freqüentemente associado à hipercalcemia, já que seu percentual de Ca 2+ elementar é quase a metade daquela do CaCO 3 (25 vs 40%). 18,21,22,23 Independente do sal de Ca 2+ utilizado, o importante é que sua dose seja individualizada, de acordo com o conteúdo de P de cada refeição de um dado paciente. 18,20,24 Quando o objetivo é ofertar Ca 2+ , os sais de Ca 2+ devem ser administrados fora do horário das refeições, em pequenas doses várias vezes ao dia. 9 Eventualmente, os sais de Ca 2+ podem não ser completamente efetivos havendo necessidade de se associar pequenas doses de compostos de Al para um melhor controle do P sérico.19,20 Recentemente, tem sido sugerida a associação de carbonato de Mg com o CaCO3 para pacientes selecionados que desenvolvem hipercalcemia quando em tratamento com calcitriol. 25 Nesse particular, também tem sido aconselhada a redução dos níveis do Ca2+ do banho de diálise de 3,5 para 2,5mEq/ l para um melhor manuseio da hipercalcemia durante o tratamento com CaCO 3 e ou calcitriol. 18,24 Pacientes com HPTs grave apresentam-se, com freqüência, com níveis muito elevados de P sérico que, por vezes, não respondem ao uso de grandes doses de quelantes. Isto ocorre, provavelmente, devido a uma acentuada reabsorção óssea resultando liberação de P do osso para a circulação. Estes pacientes podem evoluir com importante queda do P sérico após paratireoidectomia ou após tratamento com calcitriol venoso. 9 2- Uso de Derivados da Vitamina D Tem sido amplamente relatado que o uso do calcitriol e de outros derivados da vitamina D, são de grande valor no controle do HPTs. O calcitriol e o alfacalcidol podem ser administrados por via oral, subcutânea, intraperitoneal ou endovenosa. 12,26 A administração pode ser diária (em uma ou mais doses por dia), ou intermitente, em grandes doses, usualmente 3 vezes por semana. 26,27 O tratamento intermitente endovenoso é mais convenientemente administrado após as sessões de HD, já o intermitente J. Bras. Nefrol. 1996; 18(3): 295-301 297 E. A. Sampaio da Cruz/ J. R. Lugon - Revisão/Atualização em Diálise oral, talvez administrado antes de dormir, pode alcançar efeito semelhante (supressão do PTH sem hipercalcemia) naqueles em CAPD. 26 Estes compostos têm uma importante ação inibidora sobre a secreção do PTH, principalmente por uma ação direta na transcrição do gene do PTH, 28 mas também por uma ação indireta através da elevação do Ca 2+ sérico, conseqüente ao aumento da sua absorção intestinal. O calcitriol é o derivado da vitamina D mais largamente usado, e, possivelmente o mais potente na supressão da secreção do PTH, 4 porém, como os outros derivados pode causar hipercalcemia. Tem sido sugerido que o tratamento com calcitriol ou o alfacalcidol, em pequenas doses diárias, iniciado em fases de IRC leve a moderada, poderia reverter ou mesmo prevenir o HPTs, sendo raramente associado à hipercalcemia, hiperfosfatemia ou alteração da função renal. 29,30 Assim, principalmente crianças ou aqueles com evolução lenta da insuficiência renal, como nas doenças tubulo-intersticiais, poderiam ser muito beneficiados com a administração desses compostos precocemente. Após o estudo inicial feito por Slatopolsky e col., 31 vários outros estudos demonstraram que o calcitriol endovenoso intermitente é capaz de controlar o HPTs, especialmente, se de grau acentuado, de forma melhor do que o usado diariamente via oral. 24,32,33 Entretanto, outros autores têm relatado que a administração de calcitriol oral intermitente em doses equivalentes à endovenosa é também capaz de controlar a secreção de PTH. 34,35 Todavia, tem sido observado que, com o calcitriol oral, é maior a incidência de hipercalcemia do que com o endovenoso. 36 De qualquer maneira, a resposta ao tratamento com calcitriol depende mais da gravidade do HPTs e da presença de algumas variáveis, como hiperfosfatemia e alterações da função da célula paratireóide, do que do método de administração do calcitriol per se. 24,34,37 Pacientes com HPTs grave podem responder ao calcitriol endovenoso desde que a hiperfosfatemia esteja controlada e uma dose apropriada seja administrada. Além disso, a dose de manutenção, nestes casos, pode ser maior do que aquela usada em pacientes com HPTs moderado. 24 Por outro lado, pacientes com hiperplasia nodular das paratireóides também respondem menos freqüentemente, presumivelmente, devido ao crescimento monoclonal e à reduzida expressão do receptor do calcitriol pelas células paratireóides. 37,38 Outra causa de insucesso ao tratamento com calcitriol é a sua administração de forma irregular devido a episódios repetidos de hipercalcemia. 9 O tratamento com calcitriol, administrado de modo intermitente, a princípio, deveria ser destinado àqueles pacientes com HPTs de graus moderado a grave. O diagnóstico deveria ser feito, preferencialmente, através de biópsia óssea, e quando não possível, pelos níveis séricos do PTH molécula intacta (PTHi), que deveriam ser superiores a cinco vezes o limite superior da normalidade. 9 Os quelantes de P, preferencialmente carbonato ou acetato de cálcio, deveriam ser administrados em esquema posológico adequado para manter os níveis de P sérico inferiores ou iguais à 6mg% e somente após este valor ser alcançado é que o tratamento com calcitriol deveria ser iniciado. A maioria dos estudos sugere que se inicie com 0,5 a 1,0 ug de calcitriol endovenoso por dose, podendo ser alcançada uma dose média máxima de 4ug. 9,24 Durante o tratamento com calcitriol é essencial uma supervisão cuidadosa para se evitar hipercalcemia, hiperfosfatemia e excessiva supressão do PTH. 37 Tem sido proposto, atualmente, que os níveis de PTHi sejam mantidos, nos pacientes em diálise crônica, entre duas a quatro vezes o limite superior da normalidade. 39 O tratamento com calcitriol intermitente estaria contra-indicado nas seguintes situações: 1) evidência clínica e ou laboratorial de intoxicação pelo alumínio até que esta hipótese seja descartada através de biópsia óssea; 2) hipercalcemia mantida (>11mg%); e 3) produto Ca2+ x P maior que 70mg% e ou fósforo sérico maior ou igual a 7mg% de forma persistente apesar do uso adequado de quelantes (devido ao grande risco de calcificações metastáticas). Derivados da vitamina D com menor efeito hipercalcemiante foram recentemente desenvolvidos e um deles, o 22-oxacalcitriol, parece ser promissor para o tratamento do HPTs. 40 3 - Paratireoidectomia (PTX) Apesar dos recentes avanços no conhecimento e prevenção do HPTs, a necessidade de cirurgia das paratireóides ainda existe. Isto ocorre, basicamente, quando o paciente não responde ao tratamento clínico. Assim, a PTX está indicada no HPTs grave, caracterizado por níveis elevados de PTH e osteíte fibrosa à biópsia óssea, quando com hipercalcemia e/ou hiperfosfatemia persistentes e produto Ca 2+ x P constantemente acima de 70mg%, aliado ou não a calcificações metastáticas progressivas. 9,41,42 A resistência ao tratamento clínico parece ser particularmente freqüente nos casos de hiperplasia nodular das paratireóides. 37,38 Na maioria das vezes, a PTX é 298 J. Bras. Nefrol. 1996; 18(3): 295-301 E. A. Sampaio da Cruz/ J. R. Lugon - Revisão/Atualização em Diálise realizada nos pacientes em diálise, mas casos de hipercalcemia pós-Tx renal podem também necessitar desta cirurgia. 9 Deve ser enfatizada, a necessidade de se diagnosticar (e tratar previamente) intoxicação crônica pelo Al através de biópsia óssea. O mais importante para o sucesso terapêutico da PTX é que o cirurgião seja habilidoso e experiente. É imperioso que todas as glândulas sejam identificadas e que todos os sítios possíveis de localização sejam exaustivamente pesquisados. 43 Podem ser empregadas as técnicas de PTX subtotal e PTX total (com ou sem auto-transplante). A PTX subtotal e a total com autotransplante no antebraço são as cirurgias mais freqüentemente utilizadas, e os resultados obtidos com ambas, semelhantes. 41,44 Por outro lado, no caso de recidiva, uma nova intervenção cirúrgica parece mais segura e mais fácil após a PTX total com auto-transplante. 44 Independente da técnica utilizada, o tecido paratireoideano deveria, de rotina, ser estocado por criopreservação devido ao risco de hipofuncionamento da glândula com evolução para uma doença óssea de baixo turnover, quando haveria a possibilidade de um auto-transplante. 45 Tem sido relatado um índice de recorrência do HPTs de aproximadamente 10% com ambas as cirurgias, 42,43 e uma taxa de mortalidade inferior a 1%. 41 A freqüência de recorrência foi significantemente maior quando o tecido auto-transplantado foi do tipo hiperplásico nodular do que hiperplásico difuso, 25% vs 1%. 46 O início da função do enxerto após auto-transplante pode ser mais demorado do que o da glândula residual após PTX subtotal, requerendo suplementos de Ca 2+ e vitamina D maiores e por períodos mais prolongados. 41 Há relatos de ocorrência de degeneração maligna do tecido enxertado, de invasão muscular pelo tecido paratireoideano com hiperplasia nodular recorrente grave e, também, de formação de estruturas tipo adenoma no tecido transplantado. 41 Outra complicação da cirurgia é a lesão do nervo laringeo recorrente em 10% dos casos que, geralmente, ocasiona transtornos transitórios. Alguns autores sugerem a PTX total, principalmente, para pacientes que não têm perspectiva de transplante renal a curto prazo. 47 Acredita-se que áreas residuais de tecido paratireoideano sejam estimuladas e continuem a secretar hormônio mesmo após a aparente remoção total das glândulas. Após PTX os pacientes devem ser acompanhados cuidadosamente, já que existe o risco de evolução para recorrência do HPTs. 42,43,46 Por outro lado, pode haver hipofuncionamento da glândula e, conseqüentemente, doença óssea de baixo turnover relacionada ou não ao alumínio. 48 No pós-operatório, a maioria dos pacientes evolui com hipocalcemia e hipofosfatemia, cujas intensidades têm sido correlacionadas à gravidade do HPTs. Isto ocorre devido à acentuada redução da reabsorção óssea e extensa re-mineralização do osso anormal (hungry bone). 41 Hiperpotassemia é uma outra complicação, de fisiopatologia obscura, que pode ser observada no pósPTX imediato. 41 Assim, após a cirurgia, os pacientes devem receber suplementos de cálcio por via oral e ou endovenosa e calcitriol para reduzir o grau de hipocalcemia, procurando manter o P sérico entre 3,5 a 5,0mg%. Para minimizar a hipocalcemia tem sido proposto administrar calcitriol oral, 0,5 a 1,0ug/dia ou calcitriol. 9 Recentemente, foi relatado uma alternativa ao tratamento cirúrgico das paratireóides que é a injeção percutânea de etanol nas glândulas aumentadas sob guia ultrassonográfico. 49 4 - Intoxicação pelo Alumínio Como mencionado anteriormente, medidas preventivas são essenciais para que haja uma redução efetiva na incidência e gravidade das doenças ósseas relacionadas ao Al (DOA). Estas medidas incluem, basicamente, o tratamento adequado da água utilizada na hemodiálise e a substituição dos compostos de Al por sais de Ca 2+ como quelantes de P. Além disso, atenção especial deveria ser dirigida àqueles pacientes com maior risco para acumular Al, como: crianças, diabéticos, pacientes em diálise que são depletados em ferro (particularmente, quando em uso de eritropoietina), pacientes paratireoidectomizados e transplantados que retornaram para a diálise. 8 No presente, a desferoxamina (DFO) continua a ser a droga padrão no tratamento clínico de quelação do alumínio e ferro, e tem-se mostrado eficaz no tratamento da DOA. 50 A DFO mobiliza o Al dos estoques tissulares aumentando sua concentração plasmática e também a fração de Al que é ultrafiltrável pela formação do complexo aluminoxamina. 8 A remoção desses complexos é substancialmente aumentada pela HD associada a um cartucho de hemoperfusão, ou pela utilização de dialisadores com membranas altamente permeáveis. 51 O tratamento com DFO em doses elevadas (30 a J. Bras. Nefrol. 1996; 18(3): 295-301 299 E. A. Sampaio da Cruz/ J. R. Lugon - Revisão/Atualização em Diálise 60mg/Kg/semana) era associado a diversos efeitos colaterais como: hipotensão, precipitação ou exacerbação da encefalopatia associada ao Al, oto e retinotoxicidade, rash cutâneo, e o desenvolvimento de infecções fúngicas e bacterianas fatais. 8,9 Atualmente, propõe-se que o tratamento com DFO em doses baixas (5mg/Kg/semana) seja suficiente, e associado a um menor risco de efeitos colaterais. 8,52 A DFO pode ser administrada na última hora de HD ou, como sugerido recentemente, pouco antes ou no início da HD. Adicionalmente, o tratamento deveria ser acompanhado com dosagens periódicas de Al basal e após teste com DFO. 8,9,52 Uma nova classe de quelantes de Al e Fe, os derivados da hidroxipiridinona, estão em processo de investigação, sendo observado em um estudo experimental que essas drogas não estimulam o crescimento do Rhizopus in vitro nem agravam a mucormicose experimental. 53 Em resumo, grandes progressos têm sido feitos nos últimos anos no que concerne ao diagnóstico e manuseio da ODR. O tratamento adequado da água e a substituição do emprego dos quelantes de P contendo alumínio resultaram em uma substancial redução da freqüência da doença óssea relacionada ao alumínio. Os derivados da vitamina D passaram a constituir um instrumento precioso no tratamento clínico do hiperparatireoidismo secundário. A biópsia óssea, entretanto, continua como um procedimento importante na identificação do tipo de doença óssea subjacente. Em especial, ênfase deve ser dada a uma intervenção precoce com vistas à prevenção da doença. Referências 1. Malluche H, Faugere MC. Renal bone disease 1990: An unmet challenge for the nephrologist. Kidney Int. 1990; 38: 193-211 2. Sherrard DJ, Hercz G, Pei Y, Maloney NA, Greenwood C, Manuel A, Saiphoo C, Fenton SS, Segre GV. The spectrum of bone disease in end-stage renal failure- An evolving disorder. Kidney Int. 1993; 43: 436-442 6. Qi Q, Monier-Faugere MC, Geng Z, Malluche HH. Predictive Value of serum parathyroid hor mone levels for bone turnover in patients on maintenance dialysis. Am J Kidney Dis. 1995; 26: 622-631 7. Frazao J, Coburn JW. Symptomatic hypercalcemia in a diabetic patient undergoing continuous ambulatory peritoneal dialysis: Value of bone biopsy in the diagnosis and management. Am J Kidney Dis. 1995; 26: 831-835 8. DHaese PC, Couttenye MM, De Broe ME. The diagnosis and treatment of aluminum-related bone disease: A comprehensive review. 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