Excelência em serviços: o valor percebido pelo cliente Ronaldo Carvalho Pinto Mestre em Administração - Universidade Salesiana de Americana Especialista em Marketing - Pontifícia Universidade Católica de Campinas Professor da Faculdade Comunitária de Campinas - Unidade 2 e-mail: [email protected] Resumo O crescimento do setor de serviço tem evidenciado a importância das empresas dedicarem maior atenção à qualidade com que seus serviços são prestados. As atividades de prestação de serviço ao cliente a cada dia adquirem mais complexidade. De um lado o consumidor final fica mais exigente e no outro extremo as empresas se empenham para a conquista da vantagem competitiva. A utilização dos serviços ao cliente como uma estratégia de diferenciação das empresas cresce em importância à medida que os produtos se tornam mais semelhantes e as empresas estabelecem seus diferenciais a partir do valor que agregam à oferta. A confiança do consumidor após a reclamação é influenciada diretamente pelo nível de satisfação final alcançado e pelas experiências anteriores do consumidor com a empresa. Este artigo tem a finalidade de demonstrar a importância do setor de serviços na economia e suas especificidades no relacionamento com os clientes. O estudo aborda tema relevante e atual no contexto da competitividade empresarial e do pensamento estratégico. O conhecimento do valor percebido pelo cliente comparativamente a concorrência, e a adoção de estratégias que contemplem esse valor permite a empresa obter as vantagens competitivas necessárias para a obtenção de relações estáveis e duradouras. Palavras-chave: cliente, valor, satisfação, atendimento, estratégia, serviços, vantagem competitiva e relacionamento. 58 Abstract The constant growing in the customer service sector has led companies to face the importance of the quality of this service offered to the customer. The customer service activities are more complex nowadays. The customer demands more from the supplier; on the other hand, companies are trying to conquer the competitive advantage. The implementation of the customer service department trying to attract customers is growing while the products are more similar and companies are adding value to the product. The customer reliability after the complaint is directly influenced by the level of final satisfaction reached and by previous experiences of this customer. This paper aims to show the importance of the service sector in the economy and its peculiarities related to customer relationship. This work broaches relevant and updated issue related to business competivity and strategic thinking. The knowledge of the added value by the customer regarding competitivity and the use of strategies to cover this value enables the company to obtain necessary competitive advantages in order to obtain stable and enduring relationship. Key-words: customer, value, satisfaction, service, strategy, competitive advantage and relationship. Excelência em serviços: o valor percebido pelo cliente Introdução O relacionamento tem sido apontado nos últimos anos, como o conceito mais viável a ser adotado por organizações que têm como meta superar os constantes desafios ambientais aos quais são submetidas, mantendo uma sólida relação de fidelidade com os clientes. Posicionar-se em níveis elevado de competitividade é imprescindível para as empresas que estão no mercado de serviços, e uma das maneiras encontradas para isso é o estabelecimento de relações duradouras. Em tempos de rápidas mudanças, globalização e grande competição, as empresas de serviços necessitam buscar estratégias que lhes propiciem vantagens competitivas em ambientes de negócios crescentemente complexos e dinâmicos. Maior diversidade de produtos e serviços, competição intensa, lançamento de novos produtos em ciclos cada vez menores, ciclos de vida mais acelerados de produtos, reestruturações e fusões organizacionais, avanços tecnológicos permitindo novas formas de relacionamento entre consumidores e fornecedores, novos hábitos e comportamentos de compra de consumidores são características que constituem grandes desafios gerenciais, levando a adoção de novos paradigmas e alterando a postura estratégica das empresas. Ao longo do tempo as empresas bem sucedidas foram deslocando seu foco da visão interna de melhoria de seus processos para a abordagem voltada para o mercado, objetivando atender as necessidades e desejos de consumidores e entregar valor superior a seus clientes, descobrindo que efetivamente é o cliente quem determina o valor do produto ou serviço. Participação, integração e conectividade tornaram-se palavras-chave na criação e manutenção de um relacionamento de longo prazo entre empresas e clientes. O conceito de relacionamento como alternativa estratégica para conquistar e manter clientes relevantes para a empresa, tornando-os clientes fiéis ou leais, firmou-se a partir da década de 90. A tecnologia de informação, propiciando grandes melhorias em comunicação (a internet) e disponibilizando software de apoio ao relacionamento com clientes (o CRM Customer Relationship Managemente e o DMB Database Marketing), municia as empresas com importantes ferramentas para uma melhor compreensão do comportamento dos consumidores e a geração de ofertas de produtos e serviços que contenham vantagem competitiva, em termos de valor percebido pelo cliente. A estratégia de retenção dos clientes pode ser incrementada erguendo-se barreiras para dificultar a troca de fornecedor ou entregando valor aos clientes. Esta segunda abordagem é duplamente superior, pois evita que a concorrência supere as barreiras à entrada simplesmente oferecendo preços menores e contribui para criar forte lealdade dos clientes. No seu relacionamento com os clientes, as empresas líderes passam a focar o valor percebido, acreditando ser ele, ao invés da satisfação dos consumidores, o impulsionador da lealdade dos clientes, conduzindo-os à escolha e à recompra. O relacionamento permite a empresa conhecer melhor os clientes e o mercado e adequar a abordagem junto ao consumidor, centrando os argumentos de venda no valor em lugar de preço. Manter clientes tem se tornado cada vez mais importante e desafiante, a acirrada competição tem feito com que muitos clientes passem a ser ao mesmo tempo mais exigentes e menos leais. A medida que produtos e clientes vão ficando mais sofisticados, produtores e fornecedores competem em serviços e qualidade, bem como em termos de características, preço e prazos de entrega do produto. Felizmente, as novas tecnologias também têm permitido que as empresas possam fazer um acompanhamento mais direto das necessidades de seus clientes, podendo desenvolver operações mais eficientes visando satisfazer tais necessidades. A prestação de serviços A prestação de serviços ao cliente cresce em importância, pelo fato dos produtos estarem cada vez mais semelhantes em razão ao acesso pelas empresas às novas tecnologias disponíveis no mercado. Diante desta situação, os preços tornam-se parecidos e o consumidor passa a ser a peça chave neste processo por ter várias opções. As empresas para conseguirem conquistar e manter clientes, precisam estabelecer seus diferenciais a partir do valor que agregam à oferta de seus serviços. Os clientes são muito exigentes e, para atendê-lo é necessário conhecer melhor cada cliente com suas necessidades e desejos. Faz-se necessário, portanto, repensar também a estratégia de comercialização tradicionalmente praticada, buscando maior 59 Excelência em serviços: o valor percebido pelo cliente produtividade e qualidade no atendimento. O cliente por ter muitas opções de escolha, opta pela empresa que lhe forneça o melhor atendimento através do preço, da qualidade do produto, da condição de pagamento, do prazo de entrega e outros itens. O que se percebe em alguns casos é que as expectativas dos clientes não são atendidas, causando insatisfação, e ,conseqüentemente troca de fornecedor. Tal situação está exigindo que as empresas sejam mais competitivas. Uma das estratégias de competitividade é, sem dúvida, oferecer um atendimento de qualidade e conquistar relações duradouras. Se o cliente estiver satisfeito com o atendimento, ele será fiel e trará mais clientes, caso contrário, procurará outra empresa que o atenda melhor. Na opinião de Gianesi & Corrêa (1996, p.13) o segmento de serviços vem ganhando importância cada vez maior em várias cidades que tiveram sua economia fortemente baseada na atividade industrial. A urbanização das populações, o desenvolvimento de novas tecnologias e o aumento do nível de renda são alguns dos fatores que contribuíram para o crescimento do setor. Quando se faz referencia a serviços, estes são em um primeiro momento, relacionados com bancos, seguradoras, distribuidoras, transportadoras, turismo, negócios imobiliários, etc. mas essa é uma visão muito limitada de serviços. Todas as empresas, de alguma maneira, prestam serviços, pois sempre existem os momentos em que a organização atende o seu cliente, e se o atendimento não for bom, a percepção desse cliente sobre a qualidade do serviço recebido também não será boa. Solomon (2002, p.210) afirma que os passos na tomada de decisão são seguidos pelos consumidores em algumas compras; tal processo não é uma imagem precisa de muitas decisões de compra e que simplesmente os consumidores não passam por todas as etapas em suas decisões. Segundo Solomon se o fizessem, passariam a vida inteira tomando essas decisões, o que lhes deixariam pouco tempo para apreciar o que finalmente decidiriam comprar. Na figura 1, estão relacionadas todas as etapas utilizadas pelo consumidor em seu processo de decisão de compra. 60 Alguns fatores influenciam as expectativas do serviço desejado pelo cliente; esses fatores, de acordo com Hoffman & Bateson (2003, p.350) são as promessas de serviço que abrange a propaganda, as vendas pessoais, os contratos e outras formas de comunicação da empresa. Outro fator refere-se às comunicações boca-a-boca que representam um papel fundamental na formação das expectativas, pois os clientes tendem a confiar mais em fontes pessoais de informação do que nas não pessoais ao escolher alternativas de serviço. O último fator está relacionado à experiência passada, a qual, é baseada na comparação do serviço atual em relação aos serviços similares experimentados pelos clientes em outras oportunidades, os quais, foram prestados pela mesma empresa ou não necessariamente. O futuro da organização depende cada vez mais de sua capacidade em satisfazer necessidades explícitas e implícitas que o mercado solicita. Lovelock & Wright (2001, p.14) argumentam que várias empresas têm utilizado a pesquisa para determinar necessidades e desejos do mercado em cada dimensão do serviço e em programas de qualidade, visando entregar aos clientes o que eles almejam. Um dos desafios que as organizações necessitam superar é descobrir o que o cliente quer em face de tantas mudanças e priorizar os processos que devam ser gerenciados, considerando esse cenário evolutivo. Churchill & Peter (2000, p.48) afirmam que a capacidade de ter um desempenho melhor do que os Excelência em serviços: o valor percebido pelo cliente concorrentes leva a empresa a uma vantagem competitiva. Tal situação somente é possível, se a empresa oferecer algo que o mercado valorize, entregando valor superior para os clientes, ou seja, oferecendo mais benefícios ou reduzindo o custo de compra. Percebe-se que a empresa que conseguir transferir mais valor para os clientes estará em vantagem competitiva, e para isso, deverá através do relacionamento, obter o máximo possível de informações sobre os clientes e elaborar estratégias para o pronto atendimento das necessidades e desejos do mercado. Lovelock & Wright (2001, p.22) afirmam que a qualidade do serviço é essencial para aumentar a fidelidade do cliente. As organizações conseguirão ser realmente competitivas e destacar-se no mercado, quando todas as interações que ela mantiver com o cliente forem gerenciadas e controladas de maneira eficiente, mantendo-se um diagnóstico atualizado de expectativas de clientes, utilizando-se de índices de satisfação do consumidor e de desempenho de qualidade. Keegan & Green (2000, p.4) enfatizam que qualquer empresa do mundo para superar os concorrentes precisa criar valor visível para os consumidores. É preciso agregar valor às atividades que influenciem nas expectativas dos clientes, satisfazendo ao mesmo tempo as expectativas dos acionistas e projetando o crescimento da organização e a fidelização dos clientes. Gronroos (1993, p.19) afirma que os serviços são a base para uma diferenciação eficaz entre as empresas, e, portanto, uma fonte de vantagem competitiva e isso requer uma nova abordagem para a gerência e vários departamentos da empresa assim como para outras funções de negócios como o marketing. Para a transferência de valor, de acordo com os autores citados, a empresa necessita oferecer maiores benefícios e reduzir os custos. O atendimento é considerado um item imprescindível em relação ao aumento do grau de satisfação dos clientes, e, para isso, as empresas necessitam buscar informações sobre a percepção das necessidades e desejos dos consumidores. Observa-se que as atividades de prestação de serviços ao cliente a cada dia adquirem mais complexidade. De um lado o consumidor fica mais exigente e no outro extremo as empresas se empenham para a conquista da vantagem em relação a concorrência equilibrando-se em fatores como qualidade e atendimento. Os serviços também têm se destacado através da internet. Pode-se observar que é fácil identificar vários prestadores de serviços virtuais como consultoria por e-mail, assistentes virtuais planejando eventos e se responsabilizando por pequenas tarefas de negócios, além de outras atividades, dando uma nova dimensão ao setor e contribuindo para o crescimento e a evolução do segmento de serviços. Evolução dos serviços no Brasil O setor de serviços tem se desenvolvido consideravelmente. Com a disponibilidade de novas tecnologias e a urbanização das populações, o setor tem demonstrado crescimento, principalmente nos países industrializados. Lovelock & Wright (2001, p.6) ao pesquisarem a distribuição da mão-de-obra empregada entre os diversos setores econômicos, concluíram que, á medida em que uma economia nacional se desenvolve, a relação da participação do emprego entre a agricultura, a indústria e os serviços mudam drasticamente. No entendimento desses autores, causa surpresa à maioria das pessoas, descobrir que o domínio do setor de serviços não se limita às nações altamente desenvolvidas, pois o setor de serviços responde por mais da metade da riqueza dos países e emprega também mais da metade da mão-de-obra em muitas nações da América Latina. Gianesi & Corrêa (1996, p.17) demonstram que o setor de serviços evoluiu devido aos seguintes acontecimentos: a) Desejo de melhor qualidade de vida. b) Mais tempo de lazer. c) A urbanização tornando necessários alguns serviços como por exemplo segurança. d) Mudanças demográficas que aumentaram a qualidade de crianças e idosos, os quais consomem maior variedade de serviços. e) Mudanças socioeconômicas como o aumento da participação da mulher no mercado remunerado e pressões sobre o tempo pessoal. f) Aumento da sofistificação dos consumidores, levando a necessidades mais amplas de serviços. g) Mudanças tecnológicas como o avanço dos computadores e das telecomunicações que tem aumentado a qualidade dos serviços, ou ainda criado serviços completamente novos. 61 Excelência em serviços: o valor percebido pelo cliente Dias (2003, p.106) declara que o setor de serviços vem crescendo muito. A participação do setor é preponderante nos países latino-americano, como pode ser observado na tabela 1. Segundo o autor, as estatísticas indicam que cerca de 70% do Produto Nacional Bruto e dos empregos nos Estados Unidos estão no setor de serviços. Em São Paulo 52% dos empregados estavam alocados no setor de serviços em 1988. 1960 e 1980, mas praticamente estacionou entre 1980 e 1989. Figura 2: Evolução da população por ramo de atividade no Brasil (1991) Tabela 1 - Setor de serviços nos países latino americano (%) Eixo vertical - Participação na ocupação de mão de obra Eixo horizontal - Décadas Fonte: Gianesi & Corrêa (1996, p.18) Lovelock & Wright (2001, p.5) manifestam-se de maneira semelhante e concluem que o setor de serviços responde pela maior parte da oferta dos novos empregos. Para esses autores, na maior parte do mundo, os serviços constituem a parcela mais significativa da economia na atualidade. Exemplificando, os autores citam que nos Estados Unidos e no Canadá, os serviços respondem por 72% e 67% do Produto Nacional Bruto respectivamente. As estatísticas, no Brasil, segundo Gianesi & Corrêa (1996, p.18) apresentam a mesma tendência do mundo industrializado. O setor de serviços, em termos de ocupação de mão-de-obra, vem aumentando sua participação nas últimas décadas. A Figura 2 mostra que, de 1950 a 1989, o setor de serviços aumentou sua participação na ocupação de mão-de-obra, de 24% para 50%. Essa evolução percentual foi compensada pela acentuada redução da participação do setor agropecuário, que passou de 60% a 23% no mesmo período, e pela fraca performance do setor industrial, que teve um expressivo crescimento entre 62 Na visão de Gronroos (1993, p.11) mais tempo para o lazer, um percentual mais elevado de mulheres na força de trabalho e uma expectativa de vida mais longa criam uma demanda direta para vários serviços. Uma complexidade maior de produtos, um aumento na complexidade da vida e um número maior de produtos contribuem para esta maior demanda por serviços. Churchill & Peter (2000, p.292) declaram que o setor de serviço cresceu por duas razões. A primeira em virtude do aumento da demanda pelo mercado e a segunda pela disponibilidade das novas tecnologias. Os autores observam que a necessidade de contratar especialistas é impulsionada pela maior complexidade dos negócios modernos, ou seja, o ritmo rápido das mudanças tecnológicas faz com que muitas organizações procurem especialistas como consultores, sistemas de informações, internet e outros serviços. De acordo com os conceitos apresentados, observa-se que houve um crescimento no setor de serviços e que as mudanças tecnológicas influenciaram não só a demanda por serviços como também a oferta. A participação da mulher no mercado de trabalho foi determinante para o crescimento do setor contribuindo para o aumento de vários serviços como auxiliar de limpeza para cuidar da casa, necessidade de ir mais vezes ao salão de beleza, acesso a cursos de atualização para o exercício profissional e momentos de lazer com a família. Outro acontecimento importante no crescimento do setor de serviços foi à migração da população rural para a área urbana, tendo como conseqüência um aumento da sofisticação dos consumidores que passaram a ter acesso Excelência em serviços: o valor percebido pelo cliente a produtos e serviços melhores. Com o advento da internet e o desenvolvimento das tecnologias de informação, as empresas que tradicionalmente ofereciam apenas produtos, precisam repensar sua estratégia no sentido de ofertar ao mercado serviços a seu composto de produtos e, para isso, necessitam de controles das informações na identificação da percepção das necessidades e desejos do mercado. Conceitos de serviços Devido à diversidade e complexidade do conceito, há varias definições sobre serviços. Para Lovelock & Wright (2001, p.5) a maioria das pessoas quase não encontra dificuldade para definir o setor industrial ou agrícola, mas a definição de serviço pode confundi-las. Gronroos (1993, p.34) relaciona várias definições de serviços propostas por vários autores. Conforme Gronroos, existe deficiência nas definições pois encaram de forma muito restrita o fenômeno dos serviços, e incluem, em maior ou menor extensão, apenas os serviços prestados pelas chamadas empresas de serviços. Algumas definições contidas na obra de Gronroos: “Serviço: atividades, benefícios ou satisfações que são colocadas à venda ou proporcionados em conexão com a venda de bens” (American Marketing Association, 1960). “Serviços representam, ou satisfações intangíveis apresentadas diretamente (transporte, acomodação), ou satisfações intangíveis apresentadas indiretamente quando da compra de mercadorias ou de outros serviços (crédito, entrega)” (Regan, 1963). “Para o consumidor, serviços são quaisquer atividades colocadas à venda que proporcionem benefícios e satisfações valiosas; atividades que o cliente não possa ou prefira não realizar por si próprio” (Bessom, 1973). “Um serviço é uma atividade colocada à venda que gera benefícios e satisfações, sem levar a uma mudança física na forma de um bem” (Blois, 1974). “Um serviço é uma atividade ou uma série de atividades que tem lugar nas interações com uma pessoa de contato ou com uma máquina física e que provê satisfação ao consumidor” (Lehtinem, 1983). “Serviços são quaisquer benefícios intangíveis, que são pagos direta ou indiretamente e que freqüentemente incluem um componente físico ou técnico maior ou menor” (Andersen et al., 1983). “Serviço é algo que pode ser comprado e vendido, mas que você não consegue deixar cair sobre o seu pé” (Gummesson, 1987). “Um serviço é qualquer atividade ou benefício que uma parte possa oferecer à outra que seja essencialmente intangível e que não resulte em propriedade de coisa alguma. Sua produção pode ou não estar ligada a um produto físico” (Kotler & Bloom, 1984 e Kotler, 1988). Ainda que relutante quanto à questão em debate, Gronroos (1993, p.36) partindo do estudo e observação das definições citadas, propõe a seguinte definição para serviços: O serviço é uma atividade ou uma série de atividades de natureza mais ou menos intangível, que normalmente, mas não necessariamente, acontece durante as interações entre clientes e empregados de serviço e/ou recursos físicos ou bens e/ou sistemas do fornecedor de serviços, que é fornecida como solução ao(s) problema(s) do(s) cliente(s). Na visão de Lovelock & Wright (2001, p.5) há distinção entre “serviço” e “serviços”. No entendimento dos autores, serviço é um ato ou desempenho oferecido por uma parte à outra. Embora o processo possa estar ligado a um produto físico, o desempenho é essencialmente intangível e normalmente não resulta na posse ou propriedade de nenhum dos fatores de produção. Já serviços são atividades econômicas que criam valor e fornecem benefícios para clientes em tempos e lugares específicos, como decorrência da realização de uma mudança desejada ou em nome do destinatário do serviço. Para Las Casas (2002, p.18) existem diversos tipos e várias categorias de serviços, sendo alguns mais intangíveis que outros. Segundo Las Casas independente do tipo, o serviço, na sua essência, é aquela ação ou desempenho que se transfere. Como os serviços são transferidos em diversos níveis, quer no aspecto de duração ou aspecto de intangibilidade, conclui-se que ao abordarmos serviços, é impossível considerá-lo de forma única. Kotler (2000, p.448) afirma que serviço é qualquer ato ou desempenho, essencialmente intangível, que uma parte pode oferecer à outra e que não resulta 63 Excelência em serviços: o valor percebido pelo cliente na propriedade de nada. A execução de um serviço pode estar ou não ligada a um produto concreto. McCarthy & Perreault (1997, p.150) observam que serviço é uma ação desempenhada por uma parte a outra. Ao oferecer um serviço ao cliente, não é possível conservá-lo, ele precisa ser experimentado, usado ou consumido. Dias (2003, p.106) tem a seguinte definição para serviço: Serviço é um bem intangível, podendo ser entendido como uma ação ou um desempenho que cria valor por meio de uma mudança desejada no cliente ou em seu benefício. Os atributos de um serviço são seus componentes tangíveis e intangíveis, avaliados ou assumidos pelo cliente. São três os tipos de atributos do serviço :- aquele que pode ser pesquisado e avaliado antes da compra, aquele que pode ser avaliado durante a realização do serviço e o atributo que não pode ser avaliado nem mesmo após a realização do serviço. Pride & Ferrell (2001, p.245) definem serviços como um produto intangível, que envolve uma ação, um desempenho ou um esforço que não pode ser fisicamente possuído. Os serviços são normalmente prestados por meio do uso de esforços humanos ou mecânicos dirigidos a pessoas ou objetos. Dentre as definições apresentadas, parece haver uma noção crescente entre os pesquisadores, de que é difícil chegar a um consenso entre as definições de serviço. Dentre os autores citados, Dias foi o único a definir serviços como forma de criar valor para os clientes através de uma mudança desejada pelo cliente ou através de beneficio. Percebe-se que o serviço pode ser agregado ou não a um produto e ser prestado por esforços humanos ou máquinas. Esses aspectos relacionados são fundamentais para a classificação dos serviços. Classificação dos serviços A classificação dos serviços tem sido uma questão indiscutivelmente polêmica. Na análise de Gianesi & Corrêa (1996, p.44) os serviços são classificados correlacionando as seguintes dimensões: foco em pessoas ou equipamentos, grau de contato com o cliente, grau de personalização do serviço, grau de julgamento pessoal dos funcionários, foco no produto ou no processo e 64 “front office” ou “back room”. Gianesi & Corrêa cruzam estas seis dimensões e criam três categorias de prestação de serviços, a saber: a) Serviços profissionais: existe um alto grau de contato com o cliente e, geralmente, o ciclo da prestação de serviço é longo. Exemplo:- serviços médicos. b) Loja de serviços: pode ser gerado tanto na linha de frente do atendimento quanto na retaguarda. Exemplos:- restaurante e lavanderia. c) Serviço de massa: pouco, ou quase nada, personalizados, com alto grau de padronização das operações. Exemplo:- transportes urbanos. Dias (2003, p.107) observa que os serviços podem ser diferenciados e classificados de acordo com algumas características como a tangibilidade, receptor direto do beneficio, customização do processo, relacionamento com o cliente e previsibilidade da demanda. Entre muitas classificações possíveis, Las Casas (2002, p.19) considera o esforço do consumidor na obtenção do serviço e neste sentido classifica os serviços da seguinte forma: a) Serviços de Consumo - são serviços prestados diretamente ao consumidor e subdividem-se em conveniência, escolha e especialidade. b) Serviços Industriais - são aqueles prestados a organizações industriais, comerciais ou institucionais e subdividem-se em equipamentos, facilidade e consultoria. O modo tradicional de agrupar serviços , no entender de Lovelock & Wright (2001, p.31) é por ramo de atividades. Os autores exemplificam usando citações que podem ser feitas pelos profissionais de serviços: “estamos no ramo de transportes”, ou hotelaria, finanças, telecomunicações, reparo e manutenção. Apesar da ajuda que esses agrupamentos trazem, ao definir os produtos principais oferecidos pela empresa e ao entender tanto as necessidades do cliente como as da concorrência, podem deixar de captar a verdadeira essência de cada ramo de negócios, porque a prestação de serviços pode diferir muito, mesmo dentro de uma única categoria. O serviço de refeições pode variar, desde as lanchonetes em shoppings e aeroportos, até restaurantes finos e de alto luxo. Para Churchill & Peter (2000, p.296) os serviços podem ser classificados de várias maneiras, mas o Excelência em serviços: o valor percebido pelo cliente enfoque principal é com relação à entrega. Os serviços podem ser entregues através de equipamentos ou pessoas. No caso de equipamentos, tomemos como exemplo os serviços de cinemas e linhas aéreas, ou por pessoas como serviços de contabilidade e zeladoria. O meio de entrega indica a qualidade do serviço, pois no caso de equipamentos eles precisam estar em perfeitas condições de operação. Para serviços baseados em pessoas, o nível de qualidade depende da motivação das pessoas que fornecem os serviços. Fitzsimmons (2000, p.43) observa que uma classificação dos serviços pode ajudar na organização sobre administração de serviços e quebrar barreiras da indústria com a troca de conhecimentos. Os conceitos de administração de serviços deveriam ser aplicáveis a todas as organizações de serviços. De acordo com os conceitos apresentados, observa-se que para Gianesi & Corrêa os serviços são classificados correlacionando dimensões entre equipamentos, pessoas e contato com o cliente. Eles classificam os serviços em três áreas, e é importante ressaltar que a ênfase no relacionamento com o cliente determina essa classificação. Por exemplo, os serviços profissionais possuem um alto grau de contato com o cliente e são prestados através de pessoas tornando mais complexa sua execução. Já nos serviços de massa o grau de contato com o cliente é relativamente baixo e a ênfase na prestação de serviços é através de equipamento. Como exemplo desse tipo de serviço está o transporte urbano e no caso anterior, ou seja, serviços profissionais, um serviço de consulta médica. Comparando com Churchill & Peter que classificam baseado na entrega do serviço, o enfoque principal é que o serviço pode ser entregue por equipamentos ou através de pessoas e o relacionamento com o cliente é fator preponderante para que a entrega tenha qualidade agregando valor para o cliente, ou seja, ambos dão enfoque ao relacionamento. Las Casas divide os serviços em industriais e de consumo e considera o esforço do consumidor na obtenção do serviço. Na análise de Lovelock & Wright os serviços são classificados baseados em ramos de atividades, destacando a importância da utilização cruzada de categorias para a elaboração de estratégias de serviços eficazes. No entendimento desses autores, a administração de clientes e estratégias de automação são sugeridas como fatores decisivos para enfrentar os problemas gerados com a variabilidade resultante de contatos interpessoais cada vez mais constantes e intensos. Observa-se que o contato com o cliente define a classificação dos serviços e sua execução deve atender às expectativas dos clientes. Os serviços passam a ter alguns desafios devido às suas características, e as empresas inseridas no segmento devem superá-los com o objetivo de conseguir relações estáveis e duradouras. Características dos serviços Várias características distinguem serviços de produtos. A natureza dos serviços, para Churchill & Peter (2000, p.292) assemelha-se em vários aspectos em relação ao produto. Para os autores, ambos são produtos destinados a oferecer valor aos clientes em uma troca. As necessidades e desejos dos clientes, embora sejam essencialmente o mesmo para bens e serviços, a natureza dos serviços é mais desafiadora. Um serviço é normalmente percebido de maneira subjetiva na opinião de Gronroos (1993, p.38) para ele, a maioria dos serviços possui quatro características básicas que podem ser identificadas da seguinte forma: a) Os serviços são mais ou menos intangíveis. b) Os serviços são atividades ou uma série de atividades em vez de coisas. c) Os serviços são pelo menos até certo ponto, produzidos e consumidos simultaneamente. d) O cliente participa do processo de produção, pelo menos até certo ponto. Na concepção de Gronroos (1993, p.37) normalmente os serviços são comparados a bens físicos. Gronroos sintetiza na Tabela 2 as diferenças entre bens físicos e serviços e admite a existência de uma evolução de bens puros a serviços puros. 65 Excelência em serviços: o valor percebido pelo cliente Tabela 2 - Diferenças entre Serviços e Bens Físicos Para Cobra & Zwarg (1986, p.6) há seis características básicas que distinguem serviços de produtos em geral : a) Os serviços são intangíveis - um produto é um objeto, algo palpável, o serviço é o resultado de um esforço, uma performance. b) Os serviços são simultaneamente produzidos e consumidos - os serviços são geralmente produzidos e consumidos ao mesmo tempo. c) Os serviços são menos padronizados e uniformes - os serviços são baseados em pessoas ou equipamento e fica difícil ele ser produzido sempre de maneira uniforme e padronizada. d) Os serviços não podem ser estocados uma característica do serviço é que ele, uma vez produzido, deve ser consumido. e) Via de regra não pode ser protegido por patentes - os serviços são facilmente copiados e raramente podem ser protegidos por patentes. f) É difícil se estabelecer o preço - como o serviço se apóia em trabalho humano, os custos de produção variam pois são estipulados subjetivamente por quem o produz. Cobra & Zwarg (1986, p.7) enfatizam que o serviço pode ser algo comercializado como uma mercadoria, ou pode estar anexado a produtos tangíveis, mas os produtos são quase sempre combinação do tangível e do intangível. 66 Conforme Lovelock & Wright (2001, p.16) o produto dos serviços deve ser elaborado conforme as necessidades do cliente, ter um preço realista, ser distribuído por canais competentes e promovido para os clientes. Novos concorrentes estão posicionando seus serviços para atrair segmentos de mercado específicos, através de esforços de comunicação e entrega de serviços ao invés de elaborarem estratégias genéricas. Alguns serviços geralmente estão incluídos nas ofertas ao mercado. O serviço pode ser uma parte considerável ou não na oferta total. Na avaliação de Kotler (2000, p.449) há cinco categorias distintas de ofertas, ou seja, bem tangível, bem tangível associado a serviços, híbrida, serviço principal associado a bens e serviço puro. Na opinião de Gianesi & Corrêa (1996, p.32) os serviços são experiências que o cliente vivencia e a intangibilidade, ou o fato de não existirem como “coisas” que possam ser possuídas torna difícil para os clientes e fornecedores de serviços avaliarem o resultado e a qualidade do serviço. A inseparabilidade do serviço se caracteriza porque diferentemente do produto, o serviço precisa da presença do cliente para ser produzido. Na visão de Dias (2003, p.107) para elaborar uma estratégia de serviços, a empresa deve levar em consideração onze características específicas dos serviços, a saber: a) Intangibilidade - o serviço não tem consistências físicas. b) Variabilidade - pode ser realizado por pessoas, torna-se difícil manter alto grau de padronização permanente. c) Perecibilidade - é impossível armazenar o serviço. d) Ausência de estoque - característica decorrente de sua perecibilidade. e) O cliente não pode obter a propriedade sobre os serviços. f) Simultaneidade entre produção e consumo. g) Envolvimento do cliente no processo. h) As pessoas constituem parte do serviço. i) Dificuldade para os clientes avaliarem. j) Importância do tempo. k) O sistema de entrega pode ser feito por meio de um canal físico ou eletrônico(internet). Excelência em serviços: o valor percebido pelo cliente Percebe-se que os serviços geralmente estão vinculados a um produto e seu objetivo é a necessidade de criar valor para os clientes. No mercado de produtos, as mercadorias são em geral, produzidas antes de serem vendidas, o que possibilita a execução do controle de qualidade antes da entrega ao cliente. Entretanto, no mercado de serviços, a venda ocorre antes da produção. Em outras palavras, isto quer dizer que, no mercado de produto, o consumidor pode ter contato físico com a mercadoria antes de ter a sua posse, enquanto que no de serviços o consumidor compra uma promessa de entrega de serviços. Ele compra uma promessa que só vai ser concluída com a execução do serviço pretendido, como por exemplo, um show. Essas diferenças entre as características do produto e serviço tornam a execução de um serviço muito mais complexa e por isto a percepção de risco tende a ser muito elevado, pois eles não podem ser tocados, cheirados, degustados ou até mesmo provados antes do ato da compra. No mercado de serviços, portanto, a percepção da qualidade é fortemente influenciada pela experiência, um atributo que só pode ser avaliado depois do “uso” do serviço. A qualidade é à base do serviço enquanto que no produto é o seu desempenho. Dentre os conceitos apresentados, há quatro características em relação aos serviços que são comuns a praticamente todos os autores, ou seja, a intangibilidade, a variabilidade, a inseparabilidade e a perecibilidade. É importante destacar os desafios que essas características citadas proporcionam às empresas de serviços em relação ao atingimento das expectativas dos clientes. Cobra & Zwarg observam a dificuldade na definição do preço do serviço, pois muitas vezes o cliente relaciona o preço a qualidade oferecida. A intangibilidade dificulta a avaliação do serviço pelos clientes que somente após seu uso, conseguem analisar se suas expectativas foram atendidas. Como o serviço é prestado por pessoas, conseguir uma uniformidade é um desafio a ser superado, pois nunca se consegue prestar o mesmo serviço para a mesma pessoa de forma igual, já que o ser humano varia suas emoções diariamente. Neste caso, o treinamento parece ser o caminho para conseguir a padronização do serviço e transferir valor para os clientes. As empresas que atuam no segmento de serviço, precisam compreender as percepções dos clientes e procurar criar e transferir valor no sentido de atender e, se possível, superar suas expectativas. O relacionamento tem sido um instrumento eficaz na compreensão e percepção dessas necessidades. A importância do relacionamento O relacionamento é importantíssimo para que as empresas compreendam os clientes e assim possam conquistar sua lealdade. O relacionamento tem sido apontado, nos últimos anos, como o conceito mais viável a ser adotado por organizações que tem como meta superar os constantes desafios ambientais aos quais são submetidas, mantendo uma sólida relação de fidelidade com os clientes. Conforme Lamb & McDaniel (2004, p.12) as empresas constroem relacionamentos com os clientes oferecendo-lhes valor e satisfação. As empresas beneficiam-se com as compras repetidas e com as referências que levam ao aumento nas vendas, participação no mercado e lucros. Baseado nesse contexto, observa-se que os clientes buscam valor e satisfação e que o relacionamento é um instrumento valiosíssimo para a empresa atingir, e se possível, superar as expectativas dos clientes. As empresas podem se relacionar com os clientes de várias formas, ou seja, por telefone, visitas comerciais, propagandas, folhetos e internet. Com o advento da internet, o mundo dos negócios se transformou e conseqüentemente os relacionamentos também. De acordo com Kotler & Armstrong (2003, p.12) a internet é considerada a tecnologia que possibilitou um novo modelo de fazer negócios, pois ela permite que as pessoas tenham acesso a informações, entretenimento e comunicação a qualquer hora e em qualquer lugar. As empresas estão utilizando a internet para construir relacionamentos com seus clientes e seus parceiros de negócios, bem como para vender e distribuir seus produtos de maneira mais eficiente. Empresas de todos os segmentos estão agora tentando atrair novos clientes na Web e muitas empresas tradicionais estão se aventurando on-line num esforço para atrair novos clientes e construir relacionamentos mais fortes. Através do relacionamento as empresas podem perceber possíveis reclamações dos clientes e elaborar estratégias mercadológicas. O comportamento de reclamação do cliente A maioria das empresas se encolhe com o 67 Excelência em serviços: o valor percebido pelo cliente pensamento de clientes que reclamam, ao passo que outras vêem as reclamações como um mal necessário na condução dos negócios. A verdade da questão é que toda a empresa deveria encorajar seus clientes a reclamar. Não é com os reclamantes que a empresa deve se preocupar, mas sim com os que não reclamam. Hoffman & Bateson (2003, p.397) afirmam que o termo reclamar é definido como expressar descontentamento, insatisfação, protesto, ressentimento ou pesar, e que a reclamação é diferente da crítica, pois exprime insatisfação do reclamante, ao passo que a crítica pode ser uma observação desapaixonada e objetiva sobre uma pessoa ou um objeto. Com base em pesquisas sobre a psicologia do cliente, Hoffman & Bateson classificaram as reclamações em dois tipos: Reclamações instrumentais - reclamações expressas com o propósito de alterar uma condição. Reclamações não instrumentais - reclamações feitas sem qualquer expectativa de alterar uma condição indesejável. Observa-se, que a maioria dos clientes não reclamam, pois acham que isso não surtirá nenhum efeito. E mesmo quando o cliente comunica sua insatisfação, a empresa pode não ficar sabendo das reclamações feitas para o pessoal que tem contato direto com o cliente. Quando isso ocorre, conforme Lovelock & Wright os clientes tomam diversas decisões conforme demonstrado na figura 3. Seguindo a sucessão de reações possíveis, notase uma diversidade de resultados finais, deixando o cliente em algum ponto entre furioso e encantado. O risco da desistência é alto, particularmente quando se encontram disponíveis muitas alternativas concorrentes. 68 As empresas precisam estar conscientes de que o impacto de uma desistência pode ir além da perda da receita futura. Clientes irados geralmente contam seus problemas a muitas outras pessoas. Os clientes que reclamam estão oferecendo a empresa um presente, isto é, agem como consultores e diagnosticam os problemas sem cobrar nada por isso. Além disso, os reclamantes fornecem a empresa a oportunidade de restabelecer a satisfação do cliente. Eles têm maior probabilidade de fazer negócios com a empresa outra vez do que os que não reclamam. Conseqüentemente, as empresas de sucesso vêem as reclamações como uma oportunidade de satisfazer clientes insatisfeitos e prevenir as deserções e as comunicações boca-a-boca desfavoráveis. Compreender os aspectos do valor percebido pelo cliente é imperativo para as empresas atingirem ou se possível superarem as expectativas dos seus clientes, pois a análise da qualidade percebida traz informações valiosíssimas para a empresa obter a excelência em serviços. Aspectos relevantes do valor percebido pelo cliente A abordagem do valor percebido pelo cliente envolve a análise de vários aspectos relevantes. A percepção do valor pelo cliente é dinâmica, podendo variar de acordo com o momento da avaliação (précompra, imediatamente pós-compra, após longo tempo de compra e uso). Pesquisas comprovam que os clientes mudam o grau de importância dos atributos de valor à medida que sua relação com o produto aumenta. Além disso, as expectativas dos clientes são sempre crescentes: o que representa um bom valor hoje, pode tornar-se inaceitável num breve período de tempo. Estas variações recomendam a continua medição da percepção dos clientes e contínuos esforços de melhoria. Segundo Zeithaml (1998, p.22) podem existir diferenças entre as expectativas dos clientes quanto aos atributos de valor do produto e as percepções da empresa sobre estas expectativas, o que corresponde a um gap entre o que a empresa entende que o cliente quer (visão interna) e o que o cliente diz querer (visão externa) em termos de atributos de valor. A empresa deve identificar a visão externa, comunicar a sua estrutura esta visão (reduzindo o eventual gap) e adotar estratégias de marketing (abrangendo o composto de produto, a Excelência em serviços: o valor percebido pelo cliente escolha de segmentos-alvo e o posicionamento) que agreguem valor aos seus produtos ou serviços. Como mencionam Shapiro & Sviokla (1995, p.5) uma efetiva orientação para o mercado é atingida pela comunicação das preocupações e exigências de clientes a todos os níveis da organização, superando as barreiras à cooperação e coordenação entre os departamentos da organização. Os clientes podem definir valor diferentemente segundo pertençam a mercados consumidores ou mercados industriais. Nos mercados consumidores, o valor percebido é muito influenciado pelas características pessoais (culturais, psicológicas, influências de grupos de referência) do consumidor (privilegiando atributos de valor ligados a estética ou ao gosto), enquanto nos mercados industriais prevalece um comportamento mais racional (privilegiando atributos de valor ligados a desempenho e funcionalidade). Além disso, quanto maior o nível de competição no mercado, mais suscetíveis a influência competitiva são os clientes. Tanto em mercados industriais como em mercados consumidores, a decisão de compra sempre envolve pessoas que podem ter visões diferentes de valor, segundo suas percepções próprias. Embora o conhecimento do comportamento dos consumidores não seja simples (pois todos eles podem declarar suas necessidades e desejos e agir de outra maneira), os profissionais de marketing devem estudar os desejos, percepções, preferências e comportamentos de compra de seus consumidores-alvo. Um mesmo produto ou serviço pode ter diferentes significados (valores) para o consumidor, segundo o tipo de uso a que se destina. O continuo processo de criação, manutenção e melhoria no valor entregue, visando o aumento da satisfação e lealdade dos clientes selecionados, deve ser um esforço interativo e integrado, compreendido como uma responsabilidade de toda a empresa e não de departamentos específicos. As empresas devem atuar ao longo de toda a cadeia de valor, buscando parcerias com fornecedores, intermediários e distribuidores, que permitam maximizar o valor entregue pela cadeia ao cliente. O valor percebido pelo cliente é resultado do valor agregado ao longo de toda a cadeia de suprimento. Muitas empresas ainda acreditam que a qualidade do produto e o valor percebido pelo cliente significam a mesma coisa, assumindo que se a qualidade do produto melhora, o valor entregue ao cliente automaticamente aumenta, pressuposto incorreto e incompleto. A qualidade percebida pode ser entendida (sem que haja consenso entre os autores) como o julgamento do consumidor sobre a excelência de um produto. Diferentemente do conceito de valor percebido, não envolve uma troca entre os elementos dados (custos) e recebidos (benefícios). Gale (1996, p.115) define qualidade percebida pelo mercado como a opinião dos clientes sobre os produtos ou serviços, comparativamente com os da concorrência, enquanto que o valor percebido é a qualidade percebida pelo mercado relativo ao produto ou serviço.Comparando o valor percebido e a satisfação do cliente, observa-se que a satisfação pode ser definida como o grau de atendimento das expectativas dos clientes em relação a um produto ou serviço. Segundo Gade (1998, p.55) é difícil determinar como as expectativas podem influenciar a satisfação experimentada: uma visão ingênua poderia sugerir que quanto maior a expectativa, menor será a provável satisfação. Teorias da psicologia social discordam dessa afirmação: a teoria da consistência sugere que as expectativas podem ser mais importantes que o desempenho, pois os consumidores tentarão reduzir eventuais dissonâncias cognitivas, moldando sua percepção da realidade para atender a suas expectativas. A teoria da assimilação e contraste sugere que os consumidores tenderão a exagerar (contrastar) ou minimizar (assimilar) as diferenças entre a experiência e suas expectativas. Quanto mais o cliente estiver envolvido, mais provavelmente ele estará pronto para perceber o nível de satisfação que espera. Kotler (1995, p.6) indica que a satisfação é a função do desempenho percebido e das expectativas: se o desempenho atender (ou exceder) ás expectativas, o consumidor ficará satisfeito (ou altamente satisfeito), e se ficar aquém das expectativas, o consumidor ficará insatisfeito. Woodruff (1997, p.139) destaca que no início da orientação de marketing para mercados e clientes, formas de “ouvir o cliente” foram adicionadas aos esforços até então predominantes para a melhoria da qualidade de produtos e processos internos. A primeira abordagem foi a da medição da satisfação dos clientes, através de pesquisas em que os clientes avaliam o desempenho do fornecedor em atributos chaves de compra. O autor apresenta como possíveis limitações desse tipo de pesquisa os seguintes itens: a) falhas metodológicas na amostragem (que deve 69 Excelência em serviços: o valor percebido pelo cliente incluir uma amostragem significativa de toda a população do segmento alvo, com clientes atuais, perdidos e potenciais) e suscetibilidade a vieses do cliente entrevistado ou do entrevistador (se conduzida por gerentes e vendedores). b) abrangência apenas por parte do valor desejado pelo cliente, pois se concentra nos atributos de valor, sem abordar adequadamente as várias situações de uso e as conseqüências nessas situações de uso. c) falta de ações corretivas adequadas aos resultados mensurados. d) descompasso entre satisfação aferida e a recompra dos clientes (lealdade) Vários autores passaram então a analisar a vantagem de estratégias centradas no valor, surgindo assim à abordagem da determinação do valor do cliente, num processo que engloba cinco passos: 1) determinar os atributos de valor, consultando os clientes selecionados 2) hierarquizar, na visão dos clientes, a importância desses atributos de valor 3) pesquisar a percepção dos clientes (comparativamente a concorrência) do valor entregue pela empresa nos atributos relevantes de valor. 4) pesquisar as causas das percepções favoráveis e desfavoráveis dos clientes 5) prever os futuros atributos de valor dos clientes selecionados. A avaliação do valor percebido pode ocorrer por meio de vários instrumentos, como visitas de executivos ou pessoal de vendas e marketing aos clientes, tratamento de reclamações ou dúvidas dos clientes, telemarketing, pesquisa para medir a satisfação do cliente e determinar o valor percebido pelo cliente, benchmarking ou analise de valor do produto por equipe técnica. A lógica da vantagem competitiva sustentável é que para um comprador adquirir uma oferta, ele deve perceber que a sua expectativa de valor dessa oferta excede a sua expectativa de valor de qualquer outra oferta da concorrência. Um vendedor cria um valor adicional para o comprador quando aumenta os benefícios para o comprador e/ou quando reduz os custos de aquisição e uso do comprador. A gestão do valor percebido pelo cliente, inserida no contexto de estratégia das empresas, pode ser visualizada como a etapa mais recente (situada no inicio da década de 90) da evolução do pensamento estratégico, ligada ao conceito de gerenciamento estratégico e expandindo as orientações voltadas para o 70 cliente e para o mercado (na medida em que aborda as necessidades dos clientes, o diferencial em relação à concorrência e o potencial de mercado). Uma importante abordagem estratégica vinculada à criação e entrega de valor para o cliente e das disciplinas de valor, de Treacy & Wiersema (1993, p.84) que envolve três imagens pelas quais as empresas desejam ser percebidas pelos consumidores: a) Excelência operacional - empresas procuram oferecer produtos médios em relação ao mercado, com o menor custo total e o mínimo de inconveniência aos clientes (maior confiabilidade e serviços descomplicados). Dirigida aos clientes que não necessitam dos produtos mais avançados, mas desejam um desempenho confiável a qualquer momento, embora com pouca flexibilidade. b) Liderança tecnológica - empresas procuram obter o melhor produto, com desempenho superior, investindo em tecnologia do produto e tecnologia de gestão. Dirigida a um segundo grupo de clientes, que preferem empresas inovadoras e que estão tecnologicamente a frente. c) Intimidade com os clientes - empresas focam que clientes específicos desejam, mantendo um relacionamento que lhes permite reconhecer as necessidades únicas desses clientes e atendê-las com soluções específicas. Destinada ao terceiro grupo de clientes, que preferem empresas que atendam de imediato e com flexibilidade as suas necessidades individuais. Outra abordagem interessante e recente é o Balanced Scorecard de Kaplan & Norton (1997, p.62) um meio para mensurar o desempenho das empresas, incorporando, além da tradicional dimensão financeira, as dimensões do cliente, dos processos internos e do aprendizado e conhecimento. Esta proposta se alinha com o conceito de valor percebido, pois implica um conhecimento do cliente e dos atributos que ele valoriza, como uma etapa para a formulação da estratégia. A gestão estratégica da qualidade é outra estratégia organizacional relacionada com valor percebido. Gale (1996, p.46) identifica quatro estágios sucessivos da evolução do pensamento sobre gestão da qualidade, que configuram claramente a transição para a qualidade e valor percebidos pelo cliente. a) Foco na conformidade de produtos (controle e garantia da qualidade) b) Foco no cliente (gestão da satisfação dos clientes) Excelência em serviços: o valor percebido pelo cliente c) Foco nos mercados-alvo e concorrência (gestão da qualidade e valor percebido pelo mercado) d) Qualidade e valor percebidos como elementoschave na estratégia da empresa. Finalmente na abordagem estratégica do marketing de relacionamento, novo paradigma de marketing, a empresa busca continuamente o entendimento e o atendimento do valor do cliente, fundamentais para manter o objetivo de um relacionamento (rentável) de longo prazo. Conclusão As características singulares do setor de serviços tornam sua gestão extremamente complexa, principalmente devido ao alto número de relações interpessoais e à simultaneidade e intangibilidade do “produto” serviço. Em mercados cada vez mais competitivos, a importância da qualidade percebida pelos clientes tende a se tornar ainda maior, elevando-se, cada vez mais, os níveis exigidos de qualidade mínima. Na verdade, talvez, a noção de valor percebido pelo cliente, entendido como resultado da comparação entre benefícios e custos envolvendo qualidade percebida e preço, explique melhor a lealdade do cliente e o sucesso mercadológico da instituição. No entanto, a avaliação da qualidade percebida, a partir do exame das dimensões teoricamente associadas ao conceito, tem várias vantagens, sendo a mais importante a facilidade de operacionalizar e permitir identificar aquelas dimensões de qualidade que, do ponto de vista dos clientes e consumidores, devam ser melhoradas. A definição do nível de qualidade ou da percepção da qualidade, sob a ótica do cliente, constitui um item de fundamental importância na gestão de serviços, visto que esse conceito não exige uma experiência anterior com o serviço ou com o fornecedor, e a satisfação do cliente é fruto do atendimento ou superação de um padrão préconcebido de qualidade, ou seja, os clientes, a partir de relações passadas, comunicação de terceiros, propagandas institucionais, necessidades e desejos pessoais, entre outros fatores, desenvolvem o que alguns autores denominam “expectativas preditivas” e o nível de atendimento dessas expectativas é que vai definir a percepção de qualidade do cliente e a sua satisfação. Clientes marginalmente satisfeitos ou indiferentes podem ser atraídos por concorrentes. Um cliente encantado, porém, é mais propenso a permanecer fiel a despeito de ofertas competitivas atraentes. A satisfação do cliente desempenha um papel particularmente crítico em ramos altamente competitivos, onde há uma enorme diferença entre a fidelidade de clientes meramente satisfeitos e a de clientes completamente satisfeitos ou encantados. Outro ponto importante a destacar é que estudos indicam que o consumidor está cada dia mais exigente, talvez porque já não precisam implorar por bens escassos e o volume de serviços disponíveis, assim como, de prestadores vêm aumentando assustadoramente nos últimos anos. Porém, para lidar com essas situações existem incontáveis instrumentos à disposição dos profissionais envolvidos com tais atividades. As empresas, independente do setor de atuação, nunca tiveram tanto acesso à tecnologia para conhecer seus clientes e aprender a se relacionar com eles. Os produtos estão se tornando cada vez mais parecidos, dessa forma, o que vai fazer a diferença é o serviço, contudo, não se pode esquecer que prestar um bom serviço é muito difícil, e o preço que as organizações pagam quando não conseguem satisfazer a seus clientes é muito alto, pois no mercado altamente competitivo é ele quem vai determinar se, no final das contas, o negócio ou a empresa sobrevive ou não. Acrescente-se a isso o fato de que quando um cliente abandona a empresa pelo fato de o serviço não ter atendido suas expectativas, atraí-lo novamente, se torna muito mais caro e difícil que conquistar um cliente novo. Referências Bibliográficas CHURCHILL, Gilbert A; PETER, J.Paul. Marketing: Criando valor para os clientes. São Paulo:Saraiva,2000. COBRA, Marcos; ZWARG, Flávio A. Marketing de Serviços: Conceitos e Estratégias. São Paulo: McGrawHill, 1986. DIAS, Sergio R. Gestão de Marketing. São Paulo:Saraiva, 2003. FITZSIMMONS, James A. 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