HEPATITE C Descrição - Doença viral com infecções assintomáticas ou sintomáticas (até formas fulminantes, raras). As hepatites sintomáticas são caracterizadas por mal-estar, cefaléia, febre baixa, anorexia, astenia, fadiga, artralgia, náuseas, vômitos, desconforto no hipocôndrio direito e aversão a alguns alimentos e cigarro. A icterícia é encontrada entre 18% a 26% dos casos de hepatite aguda e inicia-se quando a febre desaparece, podendo ser precedida por colúria e hipocolia fecal. Pode também haver hepatomegalia ou hepatoesplenomegalia. Na forma aguda, os sintomas vão desaparecendo paulatinamente. Das pessoas infectadas, 70% a 85% desenvolvem a forma crônica, mantendo um processo inflamatório hepático por mais de seis meses. Destas, 20% a 30% evoluem para cirrose e, dos cirróticos, 1,0% a 5,0% desenvolvem hepatocarcinoma. Agente etiológico - Vírus da Hepatite C (HCV). É um vírus RNA, família Flaviviridae. Reservatório - O homem. Experimentalmente, o chimpanzé. Modo de transmissão - A transmissão ocorre principalmente por via parenteral. São consideradas populações de risco acrescido: indivíduos que receberam transfusão de sangue e/ou hemoderivados antes de 1993, pessoas que compartilham material para uso de drogas injetáveis, inaláveis e crack, pessoas com tatuagem, “piercings” ou que apresentem outras formas de exposição percutânea. A transmissão sexual pode ocorrer principalmente em pessoas com múltiplos parceiros e com prática sexual de risco acrescido (sem uso de preservativo). A transmissão perinatal é possível e ocorre quase sempre no momento do parto ou logo após. A transmissão intra-uterina é incomum. A média de infecção em crianças nascidas de mães HCV positivas é de aproximadamente 6% – havendo co-infecção com HIV, sobe para 17%. A transmissão pode estar associada ao genótipo e carga viral elevada do HCV. Apesar da possibilidade da transmissão pelo aleitamento materno (partículas virais foram demonstradas no colostro e leite materno), não há evidências conclusivas de aumento do risco à transmissão, exceto na ocorrência de fissuras ou sangramento nos mamilos. Período de incubação - Varia de 15 a 150 dias (média 50 dias). Período de transmissibilidade - Inicia-se uma semana antes dos sintomas e mantém-se enquanto o paciente apresentar RNA-HCV reagente. Complicações - Cronificação da infecção, cirrose hepática e suas complicações (ascite, hemorragias digestivas, peritonite bacteriana espontânea, encefalopatia hepática) e carcinoma hepatocelular. Diagnóstico - Clínico-laboratorial. Apenas com os aspectos clínicos não é possível identificar o agente etiológico, sendo necessária a realização de exames sorológicos. Os exames laboratoriais inespecíficos incluem as dosagens de aminotransferases – ALT/TGP e AST/TGO – que denunciam lesão do parênquima hepático. O nível de ALT pode estar três vezes maior que o normal. As bilirrubinas são elevadas e o tempo de protrombina pode estar alargado (TP > 17s ou INR > 1,5) indicando gravidade. Na infecção crônica, o padrão ondulante dos níveis séricos das aminotransferases, especialmente a ALT/TGP, diferentemente da hepatite B, apresenta-se entre seus valores normais e valores mais altos. A definição do agente é feita pelo marcador sorológico antiHCV, o qual indica contato prévio com o agente. A presença do vírus deve ser confirmada pela pesquisa qualitativa de HCV-RNA. Diagnóstico diferencial - Hepatite por vírus A, B, D ou E; infecções como leptospirose, febre amarela, malária, dengue, sepse, citomegalovírus e mononucleose; doenças hemolíticas; obstruções biliares; uso abusivo de álcool e uso de alguns medicamentos e substâncias químicas. Tratamento - O tratamento para a fase aguda do HCV deverá ser feito com Interferon convencional, mas ainda não há consenso na literatura acerca da duração da terapia. Se necessário, apenas sintomático para náuseas, vômitos e prurido. Como norma geral, recomenda-se repouso relativo até praticamente a normalização das aminotransferases. Dieta pobre em gordura e rica em carboidratos é de uso popular, porém seu maior benefício é ser mais agradável para o paciente anorético. De forma prática, deve-se recomendar que o próprio paciente defina sua dieta de acordo com seu apetite e aceitação alimentar. A única restrição relaciona- se à ingestão de álcool, que deve ser suspensa por seis meses, no mínimo; preferencialmente, por um ano. Medicamentos não devem ser administrados sem recomendação médica, para não agravar o dano hepático. As drogas consideradas “hepatoprotetoras”, associadas ou não a complexos vitamínicos, não têm nenhum valor terapêutico. Na hepatite crônica, estima-se que um terço a um quarto dos casos necessitará de tratamento. Sua indicação baseia-se no grau de acometimento hepático. Pacientes sem manifestações de hepatopatia e com aminotransferases normais devem ser avaliados clinicamente e repetir os exames a cada seis meses. No tratamento da hepatite C crônica pode-se administrar interferon convencional ou peguilado associado a ribavirina, dependendo do genótipo infectante. Características epidemiológicas - Estima-se que existam 170 milhões de pessoas infectadas em todo o mundo. No Brasil, com base em doadores de sangue, a prevalência de anti-HCV nas diversas regiões foi de 0,62% no Norte, 0,55% no Nordeste, 0,43% no Sudeste, 0,28% no Centro-oeste e 0,46% no Sul (Anvisa, 2002). As populações mais atingidas são os pacientes que realizam múltiplas transfusões, hemofílicos, hemodialisados, usuários de drogas injetáveis e inaláveis, assim como portadores de tatuagens e de “piercing”. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Objetivos - Conhecer a magnitude, tendência, distribuição geográfica e por faixa etária. Investigar os casos e adotar medidas de controle. Notificação - Todos os casos devem ser notificados e investigados. Definição de caso Caso suspeito - Indivíduo com icterícia aguda e colúria e/ou dosagem de aminotransferases igual ou maior que três vezes o valor normal; história de exposição percutânea ou de mucosa a sangue e/ou secreções de pessoas portadoras ou com suspeita de infecção pelo HCV; exames sorológicos de triagem reagentes para hepatite C (doadores de sangue e/ou órgãos, usuários de hemodiálise e ambulatórios de DST) ou indivíduo que desenvolveu icterícia subitamente e evoluiu para óbito, sem outro diagnóstico confirmado; receptores de transplantes, sangue ou hemoderivados antes de 1993. Caso confirmado - Indivíduo que preenche as condições de suspeito, com detecção, no soro do anti-HCV reagente e do RNA-HCV por método de biologia molecular ou detecção do antígeno ou RNA-HCV em tecido, quando não for possível a coleta de soro em caso de óbito. MEDIDAS DE CONTROLE Não há vacina, nem imunoglobulina para a hepatite C. Aos portadores crônicos do HCV são recomendadas as vacinas contra hepatite A e B, se forem suscetíveis, evitando o risco dessas infecções. É importante orientar os portadores do HCV para evitar a transmissão do vírus. A possibilidade da transmissão vertical (mãe-filho) e pelo aleitamento materno deve ser problematizada com mães infectadas pelo HCV. Usuários de drogas injetáveis, inaláveis e crack não devem compartilhar seringas, canudos e cachimbos. Embora o risco de transmissão sexual seja pequeno, essa informação deve ser repassada para casais discordantes (umtem a infecção e o outro não). Entretanto, como forma de prevenção de DST, incluindo a hepatite B, o uso de preservativo deve ser estimulado. O portador não deve fazer doação de sangue. Os profissionais devem seguir as normas de biossegurança nos estabelecimentos de saúde e em lojas de tatuagens e “piercing”. Em caso de acidente biológico, testar o paciente-fonte para o HCV. O profissional acidentado deverá ser acompanhado e realizar os seguintes exames laboratoriais: ALT/TGP no momento do acidente, 6 semanas e 6 meses após o acidente; sorologia anti-HCV no momento do acidente, 3 e 6 meses após o acidente. É indicado para as exposições de alto risco com paciente fonte positivo, que seja feito HCV-RNA nas primeiras 2 a 6 semanas após o acidente para o diagnóstico precoce de soroconversão. Na positividade dos exames, o paciente deverá ser encaminhado para o centro de referência. Situação do agravo no município: Em 2007 foram notificados 12 casos de hepatite C, destes somente 1 foi descartado posteriormente por exames laboratoriais.