HEPATITE B: GRUPOS DE RISCO PARA TRANSMISSÃO VIRAL Antonio Odael da Silva Martins Vieira1, Sueme Maria de Melo2 e Maria Luiza Carvalho de Lima3 Introdução As hepatites virais são provocadas por diferentes vírus que se localizam no tecido hepático e que apresentam diversidade de características epidemiológicas, clínicas, imunológicas e laboratoriais. As hepatites B, C e D são predominantemente de transmissão parenteral/sexual e as hepatites A e E são de transmissão fecal-oral[1]. A distribuição das hepatites virais é mundial, sendo que a magnitude dos diferentes tipos varia de região para região[2]. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o mundo pode ser subdividido em três nosoáreas: alta, média e baixa endemicidade, baseadas na prevalência desse vírus. Áreas de alta endemicidade, nas quais as taxas de prevalência excedem a 8% e onde 75% da população, infecta-se precocemente na infância. Áreas de média endemicidade, nas quais 2-7% da população são portadores do vírus e que acima de 50% tiveram uma infecção pelo vírus no passado. Áreas de baixa endemicidade, nas quais menos de 2% da população são portadoras desse vírus [3]. No Brasil, a endemicidade do VHB é bastante heterogênea, sendo a doença mais prevalente na região norte do país[4] A infecção pelo vírus da hepatite B (VHB) assume maior importância glogal pela alta prevalência de infectados e portadores crônicos, mas também por se constituir na principal causa de cirrose hepática e carcinoma hapatocelular (CHC) [5]. O VHB é a causa de até 80% dos CHC e é a segunda entre os carcinomas humanos conhecidos, sendo a primeira o fumo [6,7]. Em todo o mundo estima-se que dos bilhões de pessoas tenham evidência de infecção atual ou passada pelo VHB. A organização Mundial da Saúde (OMS) avalia que existam em torno de 367 milhões de portadores crônicos do VHB que estão em risco de evolução para cirrose ou CHC e ocorram 600 mil mortes por ano relacionadas a doenças hepáticas associadas ao VHB, além da constante possibilidade de transmissão viral [6] A transmissão do VHB pode se dar horizontalmente através de contato com fluidos orgânicos contendo vírus, de modo especial com sangue, sêmen e saliva[8]. A maior prevalência está relacionada aos fatores de risco: hemodiálise, multitransfusões de sangue ou hemoderivados, manipulação de sangue humano, acidentes com materiais perfurocortantes, convivência íntima com infectados, uso de drogas ilícitas e contato com múltiplos parceiros sexuais[9]. Também pode se dar a transmissão por via vertical que ocorre predominantemente durante o parto, por meio de contato com sangue, líquido amniótico ou secreções maternas, sendo rara a transmissão via transplacentária, leite materno ou após o nascimento [10]. O conhecimento adequado sobre a prevalência do vírus B e a implementação de estratégias indicadas para a sua prevenção exigem métodos complexos de vigilância epidemiológica. Além da prevalência geral na população, devem ser avaliados os indivíduos que constituem grupos de risco e, ainda, aqueles que apresentam diferentes condições patológicas tais como: infecção perinatal, hepatites agudas e crônicas, portadores assintomáticos do vírus B, cirróticos e pacientes com carcinoma hepatocelular [11]. Este trabalho tem como objetivo identificar através de uma revisão da literatura os principais grupos de riscos para transmissão do Vírus da Hepatite B. Material e métodos Foram visitadas as bases de dados: SCIELO, BVS e LILACS onde buscamos identificar na produção científica de 1999 a 2009 os principais grupos para transmissão do VHB. Resultados/Discussão Encontramos como sendo pertencentes aos grupos de risco: - Usuários de drogas injetáveis em razão do compartilhamento de seringas e agulhas; - Heterossexuais e homossexuais com vida sexual promíscua além das profissionais do sexo e as vítimas de abuso sexual pois a transmissão do vírus da hepatite B também se faz pela via sexual, sendo considerada uma doença sexualmente transmissível. É importante salientar que segundo o ministério da saúde que a transmissão sexual é pouco freqüente, com menos de 3% em parceiros estáveis e, ocorre principalmente em pessoas com múltiplos parceiros e com prática sexual de risco (sem uso de preservativo) [12]. - Profissionais da Área de Saúde pois são vários os tipos de exposições que podem trazer risco de transmissão ocupacional do vírus da hepatite b; dentre eles podemos citar: exposições percutâneas, lesões provocadas por instrumentos perfurocortantes, exposições cutâneas, contato com pele não íntegra, ________________ 1. Primeiro Autor é Aluno de Curso de Biomedicina da Universidade Federal de Pernambuco e Estagiário Laboratório de Estudos de Violência e Saúde do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães/Fiocruz-PE. E-mail: [email protected] 2. Segunda Autora é Aluno de Curso de Biomedicina da Universidade Federal de Pernambuco. Email: [email protected] 3. Terceira Autora é Professora e Pesquisadora do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães/Fiocruz-PE. E-mail: [email protected] exposição em mucosas, respingo no olho, nariz, boca e mordeduras humanas quando envolvem a presença de sangue. - Recém-nascidos de mães portadoras do vírus B pois eles têm grande risco de adquirir a infecção ao nascer e, destes, 90% evoluem para doença crônica. Para prevenir a transmissão ao recém-nascido é muito importante que a vacina contra hepatite B seja aplicada universalmente em todos os recém-nascidos, rotineiramente, logo após o nascimento, nas primeiras 12 a 24 horas de vida [13]. - Indivíduos com exposição percutânea (tatuagem, piercing, acupuntura) quando os procedimentos de esterilização adequado e utilização de material descartável não são postos em prática. - Imunodeprimidos: pessoas infectadas com Síndrome da Imunodeficiência Adquirida HIV, Transplantados pois apresentam dificuldade para debelar a infecção. - Policiais: pois estão expostos a situações que podem envolver contado com sangue. Portadores de leucemia e hemofilia( politransfundidos) em razão das múltiplas transfusões. - Pessoas que convivem intimamente com portadores crônicos de HBV. Geralmente ocorre em ambiente familiar onde a proximidade das pessoas e a facilidade de entrar em contato com fluidos da pessoa infectada é bem maior. - Prisioneiros em razão da situação das prisões brasileiras: superlotação, práticas sexuais desprotegidas, violência, falta de higiene além do fato de alguns dos detentos fazerem parte de grupos de risco antes mesmo de serem presos. Educação e divulgação do problema são fundamentais para prevenir a hepatite B e outras DSTs nesse grupos. Além dessas ações, a cadeia de transmissão da doença é interrompida a partir de: Controle efetivo de bancos de sangue por meio da triagem sorológica; Vacinação contra hepatite B, disponível no SUS para as seguintes situações: Faixas etárias específicas: Menores de um ano de idade, a partir do nascimento, preferencialmente nas primeiras 12 horas após o parto e crianças e adolescentes entre um a 19 anos de idade. Para todas as faixas etárias: Doadores regulares de sangue, populações indígenas, comunicantes domiciliares de portadores do vírus da hepatite B, portadores de hepatite C, usuários de hemodiálise, politransfundidos, hemofílicos, talassêmicos, portadores de anemia falciforme, portadores de neoplasias, portadores de HIV (sintomáticos e assintomáticos), usuários de drogas injetáveis e inaláveis, pessoas reclusas (presídios, hospitais psiquiátricos, instituições de menores, forças armadas, etc), carcereiros de delegacias e penitenciárias, homens que fazem sexo com homens, profissionais do sexo, profissionais de saúde, coletadores de lixo hospitalar e domiciliar, bombeiros, policiais militares, civis e rodoviários envolvidos em atividade de resgate; Uso de equipamentos de proteção individual pelos profissionais da área da Saúde. Não compartilhamento de alicates de unha, lâminas de barbear, escovas de dente, equipamentos para uso de drogas. Apesar de serem muitos os grupos de risco para transmissão de hepatite B notamos a necessidade de se realizarem estudos voltados para cada um desses grupos focando a identificação das principais causas da infecção e as formas de evitalas. Agradecimentos Agradecimento muito especial a Prof(a) Dr.(a) Maria Luiza Carvalho de Lima por tudo que tem feito pela nossa formação acadêmica Referências [1] Destaques Hepatites: Maioria dos Pacientes não sabe que está com a doença.2001a. Disponível em: http://dtr2001.saude.gov.br/svs/destaques/hepatites.htm. [2] HADLER, S.C.; Hepatitis B virus infection and health care works. Vaccine 8 (suppl l):S24-S28, 1990. [3]LONDON, W.T.; BLUMBERG B.S. Comments on the role of epidemiology in the investigation of hepatitis B virus. Epidemiology Revist 7:59, 1985. [4]BRASIL L.M.; BRAGA W.S.M.; CASTEJÓN M.J.; FONSECA J.C.F. Prevalence of hepatitis B virus (HBV) infection in children, Codajas, Amazon Basin, Brazil: a pre-study vaccination. Acta Hepatologica 1:26, 1991. [5] GANEM, D. S. Hepadnaviridae: the virus and their replication. Hepatite B Virus in: FIELDS, B. Virology. 5 ed. Lippincott Willians e wilkins, 2006. [6]WHO. World health Organizations. Weekly epidemiological Record. Geneva: 17 Oct. [7]BRASIL – MS. Secretaria de Vigilânca em Saúde. Série B. Textos básicos em Saúde.40p. 2005. [8]FERREIRA C.T; SILVEIRA, T.R. Hepatites virais: aspectos da epidemiologia e da prevenção. Revista Brasileira de Epidemiologia 7: 473-487, 2004. [9]ALTER MJ. Epidemiology of hepatitis C. Hepatology 26(suppl 1): 62-65, 1997. [10]SAMUELS, P.; COHEN A.W.; Pregnancies complicated by liver disease and liver dysfunction. Obstet Gynecol Clin North Am. 19:745-63, 1992. [11] CDC. Guidelines for Viral Hepatitis Surveillance and Case Management. Morbidity and Mortality Weekly Report. Recommendations and Reports. 1-43, June 2002. [12] BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Hepatites virais: o Brasil está atento. 2.ª edição Série B. Textos Básicos de Saúde. Brasília,2005. [13]MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual dos centros de referência de imunobiológicos especiais. Brasília: Fundação Nacional de Saúde; 2001. p.59-63.