16° TÍTULO: ESTUDO DA ATIVIDADE ANTIVIRULÊNCIA DO ÁCIDO ENT - CAURENÓICO ISOLADO DA COPAIFERA OBLONGIFOLIA FRENTE AS CEPAS MULTIRRESISTENTES CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE DE FRANCA AUTOR(ES): ANA LUIZA CAETANO GOMES ORIENTADOR(ES): CARLOS HENRIQUE GOMES MARTINS COLABORADOR(ES): JAIRO KENUPP BASTOS, LUÍS FERNANDO LEANDRO, RODRIGO CASSIO SOLA VENEZIANI, SERGIO RICARDO AMBROSIO, THAÍS DA SILVA MORAES 1. Resumo As bactérias Gram-positivas e Gram-negativas multirresistentes são um problema mundial de saúde, a incidência destes isolados no Brasil e no mundo aumentam a cada ano tanto no âmbito hospitalar como no comunitário. Staphylococcus aureus é um patógeno onipresente, associado com inúmeras doenças humanas e de animais. A capacidade de patogenidade de S.aureus são conseqüências de seus fatores de virulência. Virulência é a soma de características que dão aos agentes infecciosos uma vantagem na batalha com seus hospedeiros, essa virulência compreende duas características: sua infectividade isto é, a capacidade de iniciar uma infecção e a gravidade da condição produzida. S. aureus produz diversas enzimas como catalase e coagulase, dentre outras. Os vegetais representam as maiores fontes de substâncias ativas que podem ser usadas na terapêutica, devido à grande diversidade estrutural de metabólitos produzidos. Os óleos-resina das espécies de copaifera vêm sendo utilizado na medicina popular como tratamento de várias doenças, como antimicrobiano, anticancerígeno, antitumoral, entre outras, entretanto, todas estas atividades encontradas nos óleos-resina estão relacionadas aos seus metabolitos secundários, constituídos de uma mistura de diterpenos e sesquiterpenos. Os microrganismos com melhores chances são aqueles que apresentam as melhores estratégias de sobrevivência ou fatores de virulência, estes fatores são componentes estruturais ou produtos das bactérias que possibilitam ao microrganismo causar danos ao hospedeiro de alguma maneira, o S. aureus produz diversas enzimas como catalase, coagulase dentre outras, como fator de virulência. O objetivo desse estudo foi a avaliação da atividade antivirulência do ácido entcaurenóico isolado da Copaifera oblongifolia frente as cepas multirresistentes de S. aureus. Os resultados revelaram que o ácido ent-caurenóico, não apresentou atividade sobre os fatores de virulência nos testes catalase e coagulase. Portanto o diterpeno não impedeu a atividade fenotípica de virulência das cepas pesquisadas. 2. Introdução Diversos casos de infecções tem chamado atenção por um perfil de sensibilidade reduzido para diferentes antimicrobianos, revelando frequentemente a dificuldade no tratamento dos pacientes (Fridkin, 2001). Neste sentido, os produtos naturais podem ser considerados uma estratégia importante para este problema, eles representam uma rica e promissora fonte para a descoberta de compostos biologicamente ativos (Newman, 2008; Newman e Cragg, 2012). Os vegetais representam uma das maiores fontes de substâncias ativas que podem ser usadas na terapêutica, devido à grande diversidade estrutural de metabólitos produzidos (Balunas e Kinghorn, 2005; Cragg e Newman, 2013). Atualmente vários estudos com espécies de copaifera estão relacionados aos seus compostos bioativos, entre eles, a classe dos diterpenos, que se mostram promissores no combate aos microrganismos causadores de doenças que afetam de modo geral os seres humanos (Porto et al., 2009; Souza et al. 2011a; Fonseca et al., 2013). Na literatura podemos encontrar alguns trabalhos relacionados à atividade antimicrobiana dos diterpenos isolados de espécies de copaifera (Tincusi et al., 2002; Souza et al., 2011b; Abrão et al.,2015), como também outras atividades como anti-inflamátoria (Paiva et al., 2002), relaxante muscular (Cunha et al., 2003),), antitumoral (Ohsaki et al., 1994), dentre outras atividades. Frente aos aspectos analisados, verifica-se a importância de investigar os diterpenos isolados de espécies de copaiferas como alternativas terapêuticas no combate à bactérias multirresistentes. Virulência é a soma de características que dão aos agentes infecciosos uma vantagem na batalha com seus hospedeiros, essa virulência compreende duas características: sua infectividade isto é, a capacidade de iniciar uma infecção e a gravidade da condição produzida. (Koneman et al., 2008). Staphylococcus aureus produz diversas enzimas como catalase e coagulase, dentre outras. S. aureus é um importante patógeno devido à sua virulência, resistência aos antimicrobianos e associação a várias doenças, incluindo enfermidades sistêmicas potencialmente fatais, infecções cutâneas, infecções oportunistas e intoxicação alimentar (Xavier et al, 2007). Sua patogenicidade está diretamente ligada à capacidade que estas bactérias possuem de produzir determinados fatores que irão promover e facilitar a adesão, penetração e sobrevivência da bactéria no organismo hospedeiro (Liu, 2009). Entre este fatores estão as enzimas catalase e coagulase, dentre outras (Nostro et al. 2001a). 3. Objetivo Estudo da atividade antivirulência do ácido ent-caurenóico isolado da Copaifera oblongifolia frente as cepas multirresistentes. 4. Metodologia O ácido ent-caurenóico avaliado neste estudo foi fornecido pelo Prof. Dr. Sérgio Ricardo Ambrósio, pesquisador e coordenador do Curso de Pós-Graduação em Ciências da Universidade de Franca e vice-coordenador do projeto temático intitulado “Validação química e farmacológica de extratos e princípios ativos de espécies de copaifera” (processo nº 2011/13630-7). O diterpeno ácido ent-caurenóico utilizado e a respectiva espécie de Copaifera, foi isolado da C.oblongifolia. As bactérias multirresistentes utilizadas no estudo são provenientes da “American Type Culture Collection” (ATCC), S. aureus (ATCC 9393), S. aureus (ATCC 43300), S.aureus (BAA 44), S.aureus (ATCC 25923) e S.pneumoniae (ATCC). Os clones epidêmicos de S. aureus (USA 400, USA 800 e USA 100) utilizados, foram gentilmente cedidos pela Profª Drª Agnes Marie Sá Figueiredo da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Todas as bactérias estão mantidas na coleção de cultura do LaPeMA/UNIFRAN, sob criopreservação à – 80oC. 5. Desenvolvimento Em tubos contendo o ácido ent-caurenóico na concentração sub-CIM, juntamente com os inóculos de cada bactéria testada na concentração final de 5 x 10 5 UFC/ mL (CLSI, 2012), foram avaliados a atividade antivirulência (catalase e coagulase). Os tubos foram incubados à 37°C por 24 horas em estufa bacteriológica.Este procedimento foi realizado para os dois ensaios (catalase e coagulase). Para ensaio da catalase, após 24 horas de incubação dos tubos (S. aureus + ácido ent-caurenóico), com o auxílio de uma alça bacteriológica, foram retiradas alíquotas de 50 µL do cultivo. Estas alíquotas foram colocadas em lâminas limpas contendo 50 µL de peróxido de hidrogênio a 3%. O controle de qualidade foi realizado utilizando as cepas S. aureus (ATCC 25923) catalase positivo e S. pneumoniae (ATCC 6305) catalase negativo. Os resultados da atividade do diterpeno sobre a enzima catalase foram avaliados mediante a formação ou não de bolhas de gás ou efervescência, resultantes da dissociação do peróxido de hidrogênio em água e oxigênio (Koneman et al., 2008, Becker e Von Eiff, 2011). Para o ensaio da coagulase, após o período de incubação dos tubos, a produção da coagulase livre foi verificada pela adição de 0,5 mL da cultura (S. aureus + ácido entcaurenóico) em tubos de vidro estéreis contendo 0,5 mL de plasma de coelho com EDTA incubados a 37ºC em banho-maria durante 24 horas. As leituras foram realizadas a cada hora, durante 4-5 horas iniciais, para verificação da formação do coágulo. Não sendo possível a visualização do coágulo neste período de tempo, as amostras foram deixadas em banho-maria até completar 24 horas. Os resultados foram avaliados com presença ou ausência de coágulo. O controle de qualidade foi realizado utilizando as cepas S. aureus (ATCC 25923) coagulase positivo e S. epidermidis (ATCC 12228) coagulase negativo (Koneman et al., 2008, Becker e Von Eiff, 2011). 6. Resultados Utilizando uma concentração Sub-CIM (6,25 μg/mL) frente a estas bactérias, o ácido entcaurenóico não foi capaz de inibir os fatores de virulência catalase e coagulase produzidos pelas cepas do S. aureus, quando comparamos com os controles (cepas padrão). Estes resultados estão apresentados na tabela 1. Tabela 1. Resultados da antivirulência do diterpeno (ácido ent-caurenóico) frente às cepas multirresistentes de S. aureus Coagulase Catalase Bactérias C T C T S. aureus (ATCC 43300) + + + + S. aureus (ATCC 9393) + + + + S. aureus USA 400 + + + + S. aureus USA 800 + + + + S. aureus USA 100 + + + + S. aureus BAA 44 + + + + *S. aureus (ATCC 25923) + + *S. pneumoniae (ATCC 6305) • ‒ *S. epidermidis (ATCC 12228) ‒ • * Cepas controle; Controle (C - Inóculo sem adição do ácido ent-caurenóico - 6.25 μg/mL); Teste (TInóculo com adição do ácido ent-caurenóico - 6.25 μg/mL); + Resultados positivos; ‒ Resultados negativos, • Não realizado. Estudos têm demonstrado que em concentrações sub-inibitórias, extratos e compostos isolados de plantas embora não causam a morte de bactérias, são capazes de inibir e reduzir a produção de alguns fatores essenciais tais como, catalase e coagulase, para bactérias patogênicas (Qiu et al 2011; Raja et al, 2011; Chaieb et al, 2011; Schito et al, 2011; Qiu et al, 2010; Xiang et al, 2010). Nostro et al. (2001a) avaliaram a atividade do extrato Helichrysum italicum sobre o crescimento do S. aureus e a influência das sub-CIMs em alguns enzimas consideradas como fatores de virulência. Os resultados indicaram que o extrato possui um efeito inibidor sobre cepas de S. aureus reduzindo tanto o seu crescimento como algumas enzimas, entre elas, a coagulase, DNAse e lipase. Segundo os autores o extrato de H. italicum poderia ser um novo agente antimicrobiano, menos tóxico para pele e tecidos humanos, merecedor de estudos posteriores. Nossos estudos não foram capazes de corroborar com estes autores. 7. Considerações finais Os resultados revelaram que o ácido ent-caurenóico, não apresentou atividade sobre os fatores de virulência de catalase e coagulase. Portanto, o diterpeno não impedeu a atividade de virulência das cepas pesquisadas. 8. Fontes Consultadas Abrão F, de Araújo Costa LD, Alves JM, Senedese JM, de Castro PT, Ambrósio SR, Veneziani RC, Bastos JK, Tavares DC, Martins CH. Copaifera langsdorffii oleoresin and its isolated compounds: antibacterial effect and antiproliferative activity in cancer cell lines.BMC Complement Altern Med. 2015 ;15:443. Balunas MJ, Kinghorn AD. Drug discovery from medicinal plants. Life Sci. 2005;78:431441. Becker K, Von Eiff C: Staphylococcus, Micrococcus and Other Catalase - PositiveCocci. In Manual of clinical microbiology. 10th edition. Edited by Versalovic J, Carroll KC, Jorgensen JH, Funke G, Landry ML, Warnock DW. Washington, DC, USA: ASM Press; 2011: p. 304–330. 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