Relato da aula do dia 06 de novembro de 2007

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UFRGS/PPGEDU
Limites e possibilidades lógicos da criança e do adolescente.
Profº Fernando Becker
Relato da aula do dia 06 de novembro de 2007
Apresentação de Elaine Harada e Luciane Cuervo
OBS: as informações nas caixas de texto são os slides apresentados em forma de tópicos;
O profº Becker abre a aula falando sobre estudos e pesquisas atuais na área da neurologia, citando,
entre outros, Ivan Izquierdo. Falou sobre sua grande importância como um dos cientistas
brasileiros mais relevantes internacionalmente, e de seus limites, ao desconhecer (ou não mencionar)
estudos na área de psicologia cognitiva, especialmente Piaget.
Falamos sobre a forma de lidar com os adolescentes: a tendência é repetir a forma como fomos
educados, mesmo que não tenhamos gostado dessa educação. O educador faz o mesmo, ao ensinar
como aprendeu. Só quem consegue refletir e romper com esses paradigmas pode sair desse círculo
vicioso e construir sua própria forma de educar/ensinar.
Inhelder e Piaget (1976)
A adolescência pode ser considerada como a fase de integração do indivíduo na sociedade
adulta, podendo esse período sofrer grande influência do meio. Enquanto a puberdade
acontece mais ou menos na mesma idade em diferentes contextos culturais e sociais, o
período relacionado à integração no meio adulto pode ser tão variado quanto os diferentes
ambientes sociais conhecidos.
A colega Isabel fala que não achou claro onde a autora Suzana Herculano-Houzel diferencia
puberdade de adolescência. Prof. afirma que “a puberdade e a adolescência estão imbricadas”. Elaine
encontra na p. 14 as palavras da autora:
A adolescência é muito mais que puberdade: enquanto esta designa simplesmente o momento
– por volta dos 11 anos para as meninas e dos 14 para os meninos – em que, graças aos
hormônios se atinge a capacidade reprodutiva, o termo “adolescência” se refere a todo período
que começa na puberdade e vai até a vida adulta. (HERCULANO-HOUZEL, 2005, P. 14).
“Nossos adolescentes atuais parecem amar o luxo. Têm maus modos e desprezam
a autoridade. São irrespeitosos com os adultos e passam o tempo vagando nas
praças, mexericando entre eles...
São inclinados a contradizer seus pais, monopolizam a conversa quando estão em
companhia de outras pessoas mais velhas; comem com voracidade e tiranizam
seus mestres”
Sócrates
Citado em palestra pelo Dr. Cyro Martins, no livro de Ronald Pagnoncelli de Souza
Luís conhecia a autoria dessa frase e o restante do texto. Elaine comenta sobre a questão
dos jovens serem vistos dessa forma há milhares de anos... e que o a crença em geral é de
que a “culpa” da adolescência ser esse período atribulado é relativo aos hormônios. E como é
injusto o tratamento estereotipado que o adolescente recebe, pois não é levado em conta,
pelo adulto, essa fase como um momento peculiar do ser humano.
As Fases da Adolescência
 precoce (10-14): predomina a tentativa de separação em relação à família;
 média (14-17): identificação segue padrões e estereótipos e busca pelo papel na
sociedade;
 tardia (16/17-20): surgem os comportamentos adultos em busca de uma
personalidade estável
(SOUZA, R. P. Nossos Adolescentes. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1996.)
O Cérebro em Transformação
Suzana Herculano-Houzel
POR QUE OS ADOLESCENTES SENTEM TÉDIOSE TRANCAM NO QUARTO
SE APAIXONAM LOUCAMENTEQUEREM DISTÂNCIA DOS PAISANDAM EM BANDOS
FICAM HORAS EM FRENTE AO ESPELHOMUDAM FURIOSAMENTE DE OPINIÃO
SÃO INCONSEQÜENTESGOSTAM DE CORRER RISCOS
SEMPRE SE ESQUECEM DE LIGAR PARA CASAE POR QUE É BOM SER ASSIM.
“o cérebro adolescente é fundamentalmente diferente tanto do cérebro infantil
quanto do adulto, e essas diferenças em várias regiões do cérebro podem explicar
as mudanças de comportamento típicas do adolescente.”
(HERCULANO-HOUZEL, 2005, p. 11)
O Prof. Fernando afirma que, se é o cérebro que se modifica, tem a ver com cognição. Que tipo de
cognição se vive nesse momento? A forma da criança pensar vai se modificar, como vimos no livro de
Piaget desse semestre. O INRC descreve a forma do adolescente pensar, a qual difere da criança.
Como lembra o colega Luis, segundo Suzana, aos poucos ocorrem sinapses em menor quantidade,
mas de forma mais complexa. Na adolescência surge a capacidade de sintetizar informações (p. 67).
Propostas do livro, nas palavras da autora:
Apresentar diretamente aos interessados a época em que o cérebro infantil vira adulto;
 Propor que, muito mais que hormônios, são as alterações no cérebro em
amadurecimento que estão na origem dessas grandes mudanças;
 Fornecer elementos aos jovens para que eles se entendam melhor, sem julgamento de
valor;
 Ajudar os pais a lidar com seus filhos nessa fase;
 Encorajar os jovens a tirar partido do conhecimento sobre o próprio cérebro para levar a
adolescência com mais tranqüilidade.
TTóóppiiccooss ppaarraa rreefflleexxããoo
O hipotálamo e a vez dos hormônios: a descoberta da sexualidade não é uma
“opção”, mas a expressão da preferência sexual que se formou na gestação.
Questão cultura x biologia
Margaret Mead – culturalismo
Piaget acredita que é a junção dos dois fatores – MEIO (Cultura)+BIOLOGIA.
Lu fala sobre uma das questões marcantes (e polêmicas) do livro, quando a autora diz que na
adolescência a “opção sexual” apenas é descoberta, mas ela foi formada ainda na gestação. Ou seja,
a preferência sexual não é uma opção, mas uma característica, “uma determinação biológica
(genética e hormonal), e precoce, ainda no útero” (p. 28).
Elaine, citando a afirmação da autora de que 90 a 95% dos moços e 98% das moças (p. 27)
possuem interesse no sexo oposto, levanta a suspeita de que há, aí, uma afirmação no sentido de
que o homossexualismo seria um desvio.
As colegas Cris T e Amanda sugerem como uma peculiaridade, uma exceção, e não mais uma
patologia a ser tratada ou um “defeito”.
Lu comenta sobre a socióloga Margaret Mead, a qual estudou povos “primitivos” na primeira metade
do séc. XX. Foi bastante criticada pelos seus métodos (questionáveis) de pesquisa, e afirmou a tese
de que, quando o adolescente é educado com liberdade sexual, ele não passará por conflitos
(segundo ela teria constatado isso nas sociedades de Samoa, entre outras). O Prof. Becker prefere o
trabalho de Malinovski, mais confiável na área de antropologia e sociologia. Lu cita a p. 249 do livro
Da Lógica da Criança..., de Piaget, onde o autor acha importante os estudos de psicanalistas e
antropólogos (e cita tanto Mead, qto. Malinovski, entre outros), mas diz que foram sempre sobre a
vida social e afetiva, e poucos trabalhos referentes ao pensamento do adolescente.
Culturalismo x Neurociência
Piaget não exclui a importância do meio, pelo contrário, a ressalta. Biologia+Cultura
A Capacidade de Aprender
 As sinapses atingem o ápice na adolescência, depois as excessivas são
eliminadas.
Obs. Até a década de 90, acreditava-se que isso acontecia quando a criança tinha de 1 a 3 anos.
 Somente aos 30 anos o volume total de substância cinzenta cortical começa a se
estabilizar no ser humano.
 Em fase de reorganização, o cérebro adolescente continua sensível às influências
– boas ou más – do ambiente. (p.69)
Os colegas citam a questão da criança aprender brincando, e o Prof. Becker fala também sobre o
brincar como elemento fundamental do desenv. da criança. Cita a reforma de 1972, com o currículo
por atividades, o qual se deturpou e levou o ensino ao desequilíbrio de hoje. A transição para a 5ª
série tornou-se difícil, o que é comprovado pela experiência da esposa do Luis, que atende a 4 série e
dedica-se fortemente a essa tarefa de promover a transição, “sem traumas...”
A Representação do Corpo no Cérebro
 Até a puberdade, o corpo crescia em média 4 a 6 cm/ano. Após, chega de 9 a
10cm/ano. Cresce das extremidades para o centro. Proporcionalidade
desequilibrada.
 A BUSCA PELA IDENTIDADE:
A construção de um ego frágil que, em últimos modos, faz recompensar a baixa
auto-estima decorrente de uma crise de identidade com a adoção de
comportamentos narcisistas, fúteis ou de risco (OLIVEIRA, 2007).
A representação do corpo e o narcisismo
O colega Luis fala sobre a conscientização de seus alunos nas aulas onde ele pede para calcularem
seu tempo de banhoxpotência; gastos da casa, cotidiano. Consciência ecológica, difícil de combinar
com adolesc. nessas horas da vaidade... Lu fala sobre sua sobrinha, que mesmo educada por pais
super conscientes (jornalistas engajados...), apresenta, como quase todo adoelsc., uma forte
tendência ao narcisismo, ficando horas em frente ao espelho, tirando muitas fotos de si mesma em
diferentes ângulos...
O Prof. lembra que uma das maiores contribuições da Gestalt é a afirmação de que a soma das
partes não é igual ao todo, pois o todo é maior que a soma das partes. Critica Gardner, pois ele
acredita que ética e genialidade não tem a ver uma com a outra. Cita a importância de Antonio
Damásio, em seu livro O erro de Decartes, pois a genialidade não está desconectada do
comportamento moral. Um problema surge quando a neurologia não insiste em examinar os seres
humanos, pois o animal não possui capacidade simbólica. A importância da técnica de imageamento
cerebral (morfológico e funcional) exposto e analisado pela Suzana, é justamente permitir os
experimentos em humanos.
A colega Amanda fala da dificuldade, especialmente financeira, em fazer esse tipo de experimento no
Brasil.
Isabel cita o russo Gregório Luria e sua pioneira pesquisa sobre o cérebro, diferenciando as suas
regiões – representante da neurociência cognitiva.
Sistema
de Recompensa
TÉDIO: Adolescentes têm queda
de receptores de dopamina.
Súbita incapacidade de causar
ativação no sistema de recompensa
Adolescência:
Abstinência da Infância
Professor Becker fala sobre o sistema de recompensa.
Falamos sobre a questão dos limites, do papel dos pais e educadores em “emprestar seu
córtex-órbito-frontal maduro” para ajudar o jovem a avaliar as conseqüências de seus atos.
O prof. Becker relata o caso de jovens que perderam a vida no trânsito, como exemplos na
própria UFRGS. Fala sobre como foi importante punir, de forma rigorosa mas coerente, uma
imprudência de seu filho mais velho, o que o levou a agir com consciência no trânsito na vida
adulta. Lu relata o caso de uma conhecida sua, uma “eterna adolescente”, que não recebeu
nenhum tipo de limite dessa natureza e até hoje continua provocando situações em que não
mede as conseqüências... tipo, emprestar o carro da mãe a um amigo sem carteira para
ensiná-lo a dirigir (ele acabou parando em uma blitz e levaram multa altíssima – adivinha
quem pagou? A mãe dessa moça...); entrar em luta corporal com um assaltante porque não
admite ser roubada sem reagir, etc...(obs. Bah Luís, adivinha se não é a sogra a culpada por
essa “educação”?!)...
Fazer primeiro, explicar depois
O controle de impulso do cérebro: primeiro ele faz, e só depois encontra uma explicação
consciente para o que fez.
Imitação inerente ao cérebro! Um dos caminhos de aprendizagem do cérebro. Neurônios-espelho:
respondem como se a ação alheia fosse a própria.
A vida em sociedade
- “Por que você fez isso?!”
- “Fiz porque ele fez também!”
 Talvez o comportamento anti-social limitado á adolescência surja nessa fase em razão da
imaturidade do córtex órbito-frontal.
 A questão da maioridade
Bem, seguimos conversando sobre a orientação aos adolescentes. A colega Cris chega a
cogitar então na diferença da orientação necessária: as crianças talvez precisem menos
desses limites impostos pelos adultos do que os adolescentes?!... O importante é
entendermos a colocação da Suzana, que diz que nós, como adultos, devemos emprestar, ao
adolescente, “a capacidade de medir as conseqüências” ou a maturidade de nosso cérebro...
Caros colegas, agora seguem os slides finais, que foram vistos na aula. A carga
enorme de informações e a difícil tarefa de resumir as mais importantes (todo
livro é ótimo!), torna perigosa a simplificação... também espero não ter cometido
nenhum assassinato acadêmico (rsss), especialmente em relação às falas dos
colegas, as quais também foram resumidas. Como disse o prof. Fernando, o
importante é termos vontade de ler ou reler o Cérebro em Transformação”...
Controle cognitivo e planejamento: o córtex dorso-lateral
 Córtex pré-frontal (PFC): porção mais anterior da superfície do cérebro, geralmente dividido em:
Córtex órbito-frontal (OFC): regiões mais ventrais e inferiores, localizadas atrás dos olhos,
entre as órbitas
Emoções e memória, exerce papel fundamental no comportamento social, regulado
pelas emocções e pelas experiências passadas
Córtex pré-frontal dorso-lateral (DLPFC): toda a calota superior e lateral da frente do
córtex
Monitoração dos erros e regulação dos comportamentos motivadosI
Controle de impulsos
Se não fosse pelo DLPFC, a flexibilidade cognitiva de agir ou não dependendo do contexto
seria provavelmente inviável.
“Controle episódico” do comportamento: em tal contexto não se deve fazer isto, mas se tal
situação específica também acontecer, então tudo bem.
A capacidade de resistir ao primeiro impulso e agir conforme instruções precisas melhora
drasticamente na adolescência.
Memória de trabalho e raciocínio abstrato
Piaget (1950) já considerava que os adolescentes deixam de ser limitados às experiências
concretas como ânocras imaginárias, eventos hipotéticos, e considerar possibilidades
estritamente abstratas.
A neurociência dá apoio experimental a essa proposta, ao demosntrar o amadurecimento
estrutural e funcional do córtex pré-frontal, que permite o raciocínio abstrato.
Resumindo:
As mudanças no córtex pré-frontal dorso-lateral (DLPFC) adolescente...
...servem para alguma coisa?
 Raciocínio abstrato
 Respostas mais rápidas e eficientes
 Instrospecção
 Insight sobre o próprio pensamento
 Controle de impulsos
 Resistência a distrações
 Melhora na memória de trabalho
Resumindo:
...como negociar essa transição com tranqüilidade?
 Adolescentes são impulsivos e dão desculpas esfarrapadas para seus atos impensados por causa de
um córtex pré-frontal ainda imaturo.
 É preciso reconhecer que a pergunta “ Por que você fez isso?” não ajuda nem o adolescente, nem o
autor da pergunta, geralmente adulto.
Não tem resposta, não resolve o problemas e não ajuda a não esquecer da
próxima vez.
 O “fiz porque ele fez também” pode ser uma resposta perfeitamente honesta
As tendências do cérebro à imitação
O sistema de recompensa que empurra o jovem para novidades arriscadas
A dificuldade de exercer controle comportamental
Saída: lembrar, ANTES de imitar os colegas, que ele NÃO é obrigado a fazer tudo o
que os outros fazem
Resumindo:
...como negociar essa transição com tranqüilidade?
 Outra alternativa:
reconhecer que nem sempre há uma razão para os atos dos adolescentes
Ajudá-los a não repetir a besteira
Dizer claramente por que eles devem ou nã devem fazer alguma coisa
 Uma vez que o córtex órbito-frontal deles ainda não é bem capaz de chegar sozinho a antecipar as
conseqüências de seus atos
Referências Bibliográficas
 CARVALHO, Alix de. Conectando com Margaret Mead pelo Pacífico Sul. In: Episteme, Porto Alegre, nº 20,
p. 81-91, jan/jun. 2005.
 HERCULANO-HOUZEL, Suzana. O Cérebro em Transformação. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005.
 INHELDER, B.; PIAGET, J. Da Lógica da Criança à Lógica do Adolescente: Ensaio sobre a construção das
estruturas operatórias formais. São paulo: Livraria Pioneira Editora, 1976.
 MEAD, Margaret. Adolescência, Sexo y Cultura em Samoa. Laia, 1972.
 OLIVEIRA, Maria Claudia S. L.. Vínculos Imaginários. In: Revista O Olhar Adolescente: os incríveis anos de
transição para a vida adulta, São Paulo: Duetto, 2007. Revista v. 2 Tempo de Paixões, Série Mente e
Cérebro, p. 21-27.
 PIAGET, J. The construction of reality in the child. New York: Basic Boooks, 1954.
 SOUZA, Ronald Pagnoncelli de. Nossos adolescentes. Porto Alegre: Editora da Universidade (UFRGS),
1996.
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