SÓCRATES: VIDA E PENSAMENTO PERÍODO SOCRÁTICO OU ANTROPOLÓGICO Do Séc. V a.C. ao Séc. IV a.C. Ântropos (grego) = homem. O Homem é o centro das investigações e discussões filosóficas desse período (Ética, Política, Educação). ATENAS: CENTRO CULTURAL DA GRÉCIA Desenvolvimento do comércio, do artesanato, das artes militares. Atenas: centro social, político e cultural. Época de maior florescimento da democracia. Democracia direta. EDUCAÇÃO: PREPARAR PARA A CIDADANIA Democracia: valorização do discurso racional. Discurso: poder político. Substituição da educação mitológica: guerreiro belo (ginástica) e bom (coragem, força, bom combatente). Educação do cidadão ideal: falar bem e persuadir os demais. Nova educação: promovida pelos sofistas SOFISTAS: PRIMEIROS FILÓSOFOS DO PERÍODO ANTROPOLÓGICO Mestres de oratória (falar bem em público) e retórica (persuasão, convencimento). Ensinamentos dos sofistas: discípulos ensinados a formular bons argumentos para defender uma posição e bons argumentos para atacar a mesma posição. Assembleia: fortes argumentos a favor ou contra uma opinião. Objetivo: ganhar a discussão e conseguir prestígio político. Sofistas e o relativismo: não há uma verdade única, absoluta, pois tudo seria relativo ao indivíduo, ao momento, a um conjunto de fatores e circunstâncias. Sofistas: opiniões humanas são infindáveis e não podem ser reduzidas a uma única verdade SÓCRATES (469 – 399 a.C.) Não deixou nada escrito: Platão, Xenofonte, Aristófanes, Aristóteles. Sócrates jovem se interessa pelos Naturalistas, depois se afasta: problemas do “princípio” (se contradizem, chegando a problemas insolúveis). Sócrates: personagem central dos diálogos de Platão. Sócrates como porta-voz das ideias de Platão: difícil estabelecer quais ideias e teorias eram realmente de Sócrates e quais eram reelaborações de Platão. SÓCRATES X SOFISTAS Sofistas não são filósofos: não têm amor pela sabedoria e nem respeito pela verdade. Sofistas: erro e mentira valem tanto quanto a verdade. Ensinavam a defender o que fosse mais vantajoso e não a verdade. FILOSOFIA SOCRÁTICA: REVOLUÇÃO Exerceu grande peso no desenvolvimento do pensamento grego e ocidental. O que constitui a natureza do Homem? Qual sua essência? Essência do Homem: Alma (Psiché), Razão, Inteligência, Consciência (personalidade intelectual e moral). Tradição moral e intelectual ocidental se construiu com base nessa ideia. HABILIDADES E CAPACIDADES HUMANAS Habilidades e capacidades humanas: atributos, dons concedidos pelos deuses (hereditários). Essência é a alma (inteligência): ela define as habilidade e capacidades do homem (desenvolvimento do intelecto humano). Alma (inteligência) é a parte mais importante do Homem: valorização do intelecto sobre o corpo. Corpo: instrumento a serviço da inteligência. ALTERAÇÃO DA CONCEPÇÃO DE VIRTUDE Virtude (areté): capacidade, excelência de alguma coisa ou ser. Virtude: permite atingir excelência na sua função, característica que o define. Virtude da faca: corte preciso; do cachorro: guardião: do cavalo: velocidade. Areté (virtude): características dos heróis gregos: coragem, força, combate, beleza fisica. Essência humana é a inteligência, sua virtude é a excelência intelectual. REVOLUÇÃO NO QUADRO DE VALORES Virtude: excelência intelectual. Verdadeiros valores: não ligados à riqueza, fama, poder, vigor e beleza físicas. Valores da alma: conhecimento. Não é das riquezas que nasce a virtude, mas da virtude nascem a riqueza e todas as outras coisas que são bens para o Homem. BASE DA VIRTUDE: O AUTODOMÍNIO Autodomínio: domínio da própria racionalidade sobre a própria animalidade (instintos, desejos, impulsos, vontades). Autodomínio: tornar a alma senhora do corpo e dos instintos ligados ao corpo. Liberdade humana: domínio da racionalidade sobre a animalidade. O verdadeiro homem livre é aquele que sabe dominar seus instintos. SÓCRATES: “CONHECE-TE A TI MESMO” (INSCRIÇÃO DÉLFICA) Antes de conhecer a natureza e de querer persuadir os outros é preciso conhecer a si mesmo. “Na verdade, não é outra coisa o que faço a não ser persuadir a vós, jovens e velhos, de que não deveis cuidar do corpo, nem das riquezas, nem de qualquer outra coisa antes e mais do que da alma, de modo que ela se torne ótima e virtuosa; e de que não é das riquezas que nasce a virtude, mas da virtude nascem a riqueza e todas as outras coisas que são bens para os homens” (PLATÃO, Apologia de Sócrates). Alma (psyché): a razão, a consciência, a personalidade intelectual e moral. Conhece-te a ti mesmo: nos ocupar menos com bem materiais (riqueza, poder) e nos dedicarmos, nos ocuparmos mais com nós mesmos. MÉTODO INVESTIGATIVO-DIALÓGICO SOCRÁTICO Diálogo: permite chegar a um conhecimento mais profundo. Estrutura do diálogo: Ironia e Maiêutica. Ironia: Do grego eironeía, “ação de perguntar, fingindo ignorar”. Para Sócrates, a ironia consiste em perguntar, simulando não saber. Desse modo, o interlocutor expõe sua opinião, à qual Sócrates contrapõe argumentos que o fazem perceber as contradições e inconsistências de suas afirmações. MÉTODO SOCRÁTICO: IRONIA E MAIÊUTICA Objetivo da Ironia: revelar os preconceitos e as opiniões equivocadas do interlocutor (reconheça a própria ignorância) e criar o estímulo para a busca do conhecimento. Maiêutica: do grego maieutiké, "arte de fazer um parto". Objetivo da Maiêutica: abandonar seus preconceitos e as opiniões alheias, para que a indivíduo passe a pensar por si mesmo, dar à luz as suas próprias ideias. A OCUPAÇÃO DE SÓCRATES “Querefonte, certa vez, indo a Delfos, arriscou esta consulta ao oráculo: ele perguntou se havia alguém mais sábio que eu (Sócrates); respondeu a Pítia que não havia ninguém mais sábio” (PLATÃO, Apologia de Sócrates). Interrogar as pessoas consideradas sábias: políticos, poetas, artesãos. Políticos e oradores: eles passavam por sábios aos olhos de muita gente, principalmente aos seus próprios, mas não o eram. Poetas: “notei que, por causa da poesia, eles supõem ser os mais sábios dos homens em outros campos, em que não o são”. Artesãos: os bons artesãos têm o mesmo defeito dos poetas; por praticar bem a sua arte, cada qual imaginava ser sapientíssimo nos demais assuntos. SÓ SEI QUE NADA SEI Meti-me, então, a explicar-lhes que supunham ser sábios, mas não o eram. A consequência foi tornar-me odiado deles e de muitos dos circunstantes” (PLATÃO, Apologia de Sócrates). “Mais sábio do que esse homem eu sou; é bem provável que nenhum de nós saiba nada de bom, mas ele supõe saber alguma coisa e não sabe, enquanto eu, se não sei, tampouco suponho saber. Parece que sou mais sábio que ele exatamente em não supor que saiba o que não sei” (PLATÃO, Apologia de Sócrates). SÓCRATES, O “CORRUPTOR” Sócrates questionava ideias, valores, práticas e comportamentos que os atenienses julgavam certos e verdadeiros. Irritava os interlocutores: quando tentavam responder, descobriam que não sabiam, e que nunca tinham refletido sobre suas crenças, seus valores e suas ideias. Mas era isso o que Sócrates queria: que as pessoas tivessem consciência da própria ignorância. A consciência da própria ignorância é o começo da busca pelo conhecimento, é o começo da Filosofia. SÓCRATES: PERIGOSO? Os poderosos têm medo do pensamento: o poder é mais forte se ninguém pensar, se todo mundo aceitar as coisas como elas são. Sócrates tornou-se perigoso: fazia a juventude pensar. Sócrates foi acusado de corromper a juventude e desrespeitar os deuses de Atenas. RESULTADO DO JULGAMENTO 500 ou 501 atenienses participaram do julgamento. Provou a inconsistência das acusações. Preconceito (corruptor da juventude), raiva dos que tiveram a ignorância revelada. Condenado por uma diferença de 60 votos. Optar por aceitar a pena (solicitada pelos acusadores Melito, Ânito e Lição), ou solicitar outra pena. ACEITA A CONDENAÇÃO O que vão exigir de mim? Que eu pare de filosofar? Prefiro a morte a ter que renunciar à Filosofia. Uma vida sem reflexão não vale a pena ser vivida. Condenado a morte: ingerir um veneno chamado cicuta. A OPORTUNIDADE DE FUGA A execução da pena foi adiada por trinta dias. Como acontecia todos os anos, um navio oficial havia sido enviado ao santuário de Delos para comemorar a vitória de Teseu, o herói mitológico ateniense, sobre o Minotauro. Enquanto o navio não regressasse, nenhum condenado podia ser executado. Os amigos organizaram a fuga de Sócrates, mas ele se recusa a fugir. E explica: a única coisa que importa é viver honestamente, sem cometer injustiças, nem mesmo em retribuição a uma injustiça recebida. Não se deve responder a uma injustiça com outra injustiça: a fuga teria significado violação do veredito e, portanto, violação da lei. E Xenofonte escreve: "Preferiu morrer, permanecendo fiel à lei, a viver, violando-a". REFERÊNCIAS ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 2009. COTRIM, Gilberto; FERNANDES, Mirna. Conecte filosofar: filosofia. São Paulo: Saraiva, 2011. REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: filosofia pagã antiga. São Paulo: Paulus, 2003. PLATÃO. Diálogos: Platão. Seleção de textos de José Américo Motta Pessanha; tradução e notas de José Cavalcante de Souza, Jorge Paleikat e João Cruz Costa. 5ª ed. São Paulo: Nova Cultural, 1991 (Coleção: Os pensadores).