TÍTULO: HIDROXIURÉIA E ANEMIA FALCIFORME: UM CASO DE OFF-LABEL DE SUCESSO CATEGORIA: EM ANDAMENTO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: FARMÁCIA INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS AUTOR(ES): VANESSA MACENA LIMA, GLEDSON DOS SANTOS SILVA ORIENTADOR(ES): SANDRA SATIKO MATSUDA 1. RESUMO O que chama a atenção em relação à hidroxiureia, um fármaco primeiramente aprovado para o tratamento de doenças neoplásicas, foi a sua utilização em portadores da anemia falciforme, antes da sua aprovação para utilização em adultos pelo Food and Drug Administration em 1998. A anemia falciforme é uma doença hereditária caracterizada pela mutação pontual do gene da globina beta da hemoglobina. Esta mutação causa a produção de uma hemoglobina anômala, chamada de hemoglobina S, e ocasiona um quadro clínico variado entre os seus portadores, podendo inclusive, levar à morte. Atualmente a utilização em pacientes pediátricos é off-label, ou seja, são medicamentos prescritos de forma diferente daquela orientada na bula. 2. INTRODUÇÃO A anemia falciforme (AF) caracteriza-se por ser uma doença monogênica causada por mutação no gene da globina beta que resulta em uma hemoglobina anômala, a hemoglobina S (HbS), resultado da mutação GAGGTG no sexto códon, que resulta na substituição do ácido glutâmico pela valina na sexta posição da cadeia da globina β1. O principal determinante da gravidade da doença é a extensão da polimerização da HbS, pois é diretamente proporcional à duração da desoxigenação da hemoglobina e da própria concentração da HbS intracelular, e leva á falcização do eritrócito. Um dos importantes fatores que pode modular essa polimerização da HbS, é a concentração da hemoglobina fetal (HbF), mesmo em paciente adultos. As curas para a AF são os transplantes de medula óssea e terapia celular ou gênica, que ainda estão em fase experimental2. Os principais tratamentos envolvem os cuidados sintomáticos e transfusão de hemácias quando necessário sendo que, este último, pode levar à sobrecarga de ferro mesmo quando acompanhado por meticuloso regime de quelação de ferro1. Desta forma, a hidroxiuréia (HU) tem sido utilizada como agente terapêutico para pacientes com AF desde 1998. É administrada oralmente, com efeitos na elevação da HbF, o que reduz os eventos de falcização dos eritrócitos, redução da hemólise e prevenção de eventos vaso-oclusivos,3,4. Além disso, induz outros benefícios clínicos através de mecanismos não relacionados à indução de HbF4. 3. OBJETIVOS O objetivo deste trabalho foi fazer uma revisão bibliográfica sobre a hidroxiureia, um fármaco utilizado para o tratamento de câncer, e que desde 1998 também tem sido utilizado no tratamento da anemia falciforme. 4. METODOLOGIA Revisão de periódicos nacionais e internacionais. Este trabalho teve início em dezembro de 2014 e segue até os dias atuais. Os critérios de inclusão definidos para a seleção foram: artigos originais, publicados em português ou inglês e sem limite de datas. Nas buscas utilizou-se as bases de dados Scielo (Scientific Electronic Library Online) e Pubmed, e os descritores foram: anemia falciforme, tratamento de anemia falciforme, crianças, hidroxiurea, sickle cell, hydroxyurea, children. 5. DESENVOLVIMENTO A HU é um medicamento citotóxico, quimioterápico, antineoplásico, e sua síntese ocorreu pela primeira vez na Alemanha em 1869 por Dressler e Stein. A utilização em doenças neoplásicas foi aprovada apenas em 1967 pelo Food and Drug Administration (FDA)1, 4. Em 1984 Platt e cols5., trataram dois pacientes por cinco dias e constataram uma melhora nos níveis de HbF e sugeriram que a HU era um potencial agente para o tratamento da AF. Em 1995, Charache e cols6., num estudo duplo-cego randomizado, demonstraram a eficácia da HU na redução na frequência de crises de dor em adultos portadores da AF e em 1998, a utilização da HU passou a fazer parte do conjunto de estratégias adotadas no tratamento de pacientes com AF 2,7,8 . Sabe-se que a HU é capaz de inibir a ação da enzima ribonuclotídeo redutase, o que acarreta na parada do ciclo celular. Porém ainda pouco se conhece sobre o mecanismo de ação em relação à indução da HbF 9. Diversos estudos, tanto brasileiros como internacionais, apontaram a eficácia da HU na melhora de algumas características clínicas e laboratoriais. Estes trabalhos envolveram indivíduos em diferentes faixas etárias e ambos os sexos. Os dados laboratoriais e hematológicos mostram que além do aumento dos níveis de HbF, houve elevação nas taxas de hemoglobina, volume corpuscular médio, hidratação eritrocitária, biodisponibilidade de oxido nítrico, além da diminuição da expressão de moléculas de adesão. Notou-se também a supressão da eritropoiese endógena, redução da hemólise, aderência dos eritrócitos, leucócitos e plaquetas ao endotélio vascular, melhora a reologia, com diminuição da viscosidade e vasodilatação, contribuindo para a diminuição dos fenômenos inflamatórios. Com isso, houve a redução da ocorrência de síndrome torácica aguda, evento vaso oclusivo, hospitalizações, transfusões e crises dolorosas 1, 2, 3, 4, 8, 7 e 10 . Apesar de muitos estudos também demonstrar eficiência clínica em crianças, a HU continua sob intensa investigação e o seu uso permanece off-label3, 10. 6. RESULTADOS PRELIMINARES A análise da literatura revelou que a experiência clínica com a HU e portadores de AF vêm se acumulando nos últimos 31 anos e sugere que este medicamento tem sido bem tolerado e é eficiente para a maioria desses pacientes. 7. FONTES CONSULTADAS 1. STEINBERG, MH e RODGERS, GP. Pharmacologic modulation of fetal hemoglobina. Reviews in molecular medicine, v. 80, n. 5, p. 328-344, 2011. 2. MA, Q etal. Fetal hemoglobin in sickle cell anemia: genetic determinants of response to hydroxyurea. The pharmacogenomics journal, v. 2007, n. 7, p. 386394, 2007. 3. WARE, R. E.; AYGUN, B. Advances in the use of hydroxyurea. Hematology Am Soc Hematol Educ Program, v.2009, n.1, p.9-62, 2009. 4. STEINBERG, M. H. Hydroxyurea treatment for sickle cell disease. The cientific world, n. 2, p. 1706-1728, 2002. 5. PLATT, OS etal. Hydroxyurea enhances fetal hemoglobin production in sickle cell anemia. J Clin Invest. 74(2), 652-656, 1984. 6. CHARACHE, S etal. Effect of hydroxyurea on the frequency of painful crises in sickle cell anemia. Investigators of the Multicenter Study of Hydroxyurea in Sickle Cell Anemia. N Engl J Med. 18; 332(20):1317-22, 1995. 7. VOSKARIDOU, E. et al. The effect of prolonged administration of hydroxyurea on morbidity and mortality in adult patients with sickle cell syndromes: results of a 17year, single-center trial (LaSHS). Blood, v.115, n.12, p. 63-2354, 2010. 8. CANÇADO, R. D. et al. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para o uso de hidroxiureia na doença falciforme. Rev. Bras. Hemato. Hemoter., v.31, n.5, p2009. 9. IRISHA, E. W. et al. Update on the use of hydroxyurea therapy in sickle cell disease. Blood, v. 124, n. 26, p. 3850-3857, 2014. 10. Green, N e Barral, S. Emerging Science of hydroxyurea therapy for pediatric sickle cell disease. Pediatric Research, 75, 196-204, 2014.