Insper Instituto de Ensino e Pesquisa Faculdade de Economia e Administração Henrique de Mello Chaves IMPACTO DA ESTRUTURA DE CAPITAL NA RENTABILIDADE DE EMPRESAS BRASILEIRAS NÃO FINANCEIRAS: UMA ANÁLISE DE DADOS EM PAINÉIS São Paulo 2014 Henrique de Mello Chaves Impacto da estrutura de capital na rentabilidade de empresas brasileiras não financeiras: Uma análise de dados em painéis Monografia apresentada ao curso de Ciências Econômicas, como requisito parcial para obtenção do Grau de Bacharel do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. Orientador: Prof. M.e. Sérgio Ricardo Martins - Insper São Paulo 2014 Chaves, Henrique de Mello Impacto da Estrutura de Capital na Rentabilidade de Empresas Brasileiras Não Financeiras: Uma Análise de Dados em Painéis / Henrique de Mello Chaves – São Paulo: Insper, 2014. Monografia: Faculdade de Economia e Administração. Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. Orientador: Prof. M.e. Sérgio Ricardo Martins 1. Estrutura de capita 2. Alavancagem financeira 3. Rentabilidade 4. Modelo para dados em painel Henrique de Mello Chaves Impacto da Estrutura de Capital na Rentabilidade de Empresas Brasileiras Não Financeiras: Uma Análise de Dados em Painéis Monografia apresentada ao curso de Ciências Econômicas, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Economia do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. Aprovado em Dezembro de 2014 EXAMINADORES Prof. M.e. Sérgio Ricardo Martins Prof. Dra. Camila Pereira Boscov Prof. Dr. José Carlos Tiomatsu Oyadomari Resumo CHAVES, Henrique. Impacto da estrutura de capital na rentabilidade de empresas brasileiras não financeiras – Uma análise de dados em painéis econométricos. São Paulo, 2014 13p. Monografia – Faculdade de Economia e Administração. Insper Instituto de Ensino e Pesquisa O presente trabalho busca entender qual o impacto da estrutura de capital no retorno observado pelos acionistas de empresas não-financeiras brasileiras. Os dados para a análise serão referentes a 45 empresas listadas na BMF&Bovespa e componentes do índice Ibovespa. O período de análise é de 2006 a 2013 e o método econométrico utilizado será um modelo para dados em painéis. Palavras-chaves: Estrutura de capital, Alavancagem financeira, Rentabilidade, Modelo para dados em painel Abstract CHAVES, Henrique. Impact of capital structure on profitability of Brazilian non-financials companies - An econometric analysis of econometric panel data. São Paulo, 2014 13p. Monograph – Faculdade de Economia e Administração. Insper Instituto de Ensino e Pesquisa This paper seeks to understand the impact of capital structure on the return observed by the shareholders of Brazilian non-financial companies. Data for the analysis are related to 45 companies listed on Bovespa and BM&FBovespa index components. The period of analysis is 2006-2013 and the econometric method used will be a model for panel data. Keywords: Capital Structure, Financial leverage, Profitability, Model for panel data Índice 1. Introdução ............................................................................................................................ 7 2. Revisão Bibliográfica .......................................................................................................... 9 3. Metodologia ....................................................................................................................... 13 4. Coleta e análise descritiva dos dados ........................................................................... 23 5. Estimação .......................................................................................................................... 33 6. Resultados ......................................................................................................................... 40 7. Conclusão .......................................................................................................................... 42 8. Bibliografia ......................................................................................................................... 44 7 1. Introdução A estrutura de capital é um tema muito estudado na área de finanças acadêmicas e no mercado de capitais, pois a escolha da estrutura de capital é parte fundamental da administração de uma empresa, onde busca-se sempre a maximização do retorno para o acionista. Seu debate tem início com o paper seminal de Modigliani e Miller (1958), onde dissertou-se pela primeira vez sobre os impactos da estrutura de capital sobre o valor de mercado de empresas. A definição de estrutura de capital, fornecida pelos autores supracitados, nada mais é do que a forma que uma companhia se financia para por em prática suas operações e projetos. Por exemplo, quando uma empresa se depara com um projeto que acredita ser lucrativo, a mesma possui diversas maneiras de compor o capital necessário para a empreitada. Entre as fontes de capital existem três grandes grupos: (i) capital próprio gerado por suas atividades, por exemplo, reservas de lucro, (ii) capital próprio dos acionistas, por exemplo, o capital social e (iii) capital de terceiros, ou seja, dívida (ex. empréstimos com bancos e debêntures). A alavancagem financeira tratada neste presente trabalho não refletirá somente uma métrica de avaliação, e sim, três distintas métricas que buscam retratar a alavancagem como efeito do dívida sobre a operação, sobre o capital investido por sócios e, por último mas não menos importante, o nível de endividamento e a forma de financiamento de todo o ativo da companhia. A forma com que uma empresa decide se capitalizar define muito sobre a sua rentabilidade e lucratividade. Isso se deve ao fato de que os custos associados aos três grandes tipos de capital acima mencionados podem diferir. Tomemos como exemplo, a dívida ou capital de terceiros, este é o capital que possui seu custo mais evidente, no caso, os serviços de dívida 8 (juros), já o custo do capital próprio não é tão direto. Tal custo é derivado da rentabilidade mínima associada ao risco da empresa em questão, ou seja, o custo de oportunidade atrelado aquele nível de risco. Segundo McNulty et al (2002), uma empresa sempre deve buscar projetos cuja rentabilidade seja superior ao custo de capital associado a tal projeto, de tal forma a possuir um retorno acima do custo de oportunidade para os acionistas. Portanto, a escolha de estrutura de capital é de extrema relevância para administradores e para o empresariado como um todo. O presente trabalho parte da necessidade de empresas não-financeira entenderem suas estruturas de capital e escolherem a que mais se adequa a suas operações, sempre visando gerar maior valor para os acionistas. Tal necessidade citada é de extrema importância para o empresariado, pois a definição da estrutura de capital influencia tanto a necessidade de capital dos acionistas, bem como a rentabilidade sobre esse capital aplicado. Assim, busca-se estudar os impactos de escolha de distintas estruturas de capital no retorno sobre o capital próprio (ROE), no presente trabalho calculado como lucro líquido sobre patrimônio líquido. Para tanto, serão utilizados dados anuais de empresas não-financeiras do mercado brasileiro componentes do índice Ibovespa para os anos de 2006 a 2013. Tal objetivo será alcançado através de uma modelagem em painéis, que será composta de variáveis que capturam dinâmicas da estrutura de capital, além disso, serão incluídas na análise variáveis de controle, como por exemplo, valor de mercado da companhia, margem EBITDA e custo da dívida, de forma a reduzir possíveis ruídos nos dados. Espera-se responder a questão sobre qual o verdadeiro impacto da alavancagem e endividamento neste corte geográfico e temporal na rentabilidade dessas empresas não-financeiras. 9 2. Revisão Bibliográfica Segundo Ross, Westerfield e Jaffe (2002), o processo de escolha do grau de alavancagem não é simples, pois diversos parâmetros relevantes para o processo de escolha não são observáveis. Porém, os administradores devem buscar a estrutura de capital que maximize o retorno para os acionistas. A discussão sobre estrutura de capital foi iniciada pelo paper seminal de 1958, The Cost of Capital, Corporation Finance and the Theory of Investment, por Modigliani e Miller. Nesse trabalho, os autores afirmam que o valor de uma empresa não depende da estrutura de capital escolhida pelos administradores, pois pode-se sempre replicar a estrutura de capital fora da empresa de modo a atingir o nível de endividamento que o investidor deseja. Em outras palavras, os autores concluem que para uma mesma empresa, deve-se resultar o mesmo valor, independente da proporção entre capital próprio e dívida que compõem as fontes de financiamento. Essa conclusão, segundo os próprios autores se baseia em premissas fortes e irreais para a realidade. Entre as premissas estão: (i) a inexistência de impostos sobre a renda, (ii) perfeita simetria de informações entre a administração da empresa, credores e investidores, (iii) a possibilidade de tanto a empresa como os investidores de tomarem emprestado e emprestarem recursos a uma taxa condizente com o nível de risco inexistente, levando a outra premissa, (iv) risco de inadimplência de tanto empresas, como de investidores é negligenciável. Com o intuito, de aproximar a teoria da realidade, Modigliani e Miller (1963) propuseram incorporar o imposto de renda, bem como inserir na análise o efeito positivo gerado pelo benefício fiscal da dívida. Desde aqui, buscava-se entender o impacto de um aumento de dívida sobre o valor de uma empresa. Quanto maior o grau de endividamento, menor necessidade 10 de capital próprio e menor o imposto de renda devido. Ou seja, para um mesmo projeto espera-se maior valor para o com maior grau de dívida vis-àvis capital próprio. Adicionalmente, a diferença dos valores, segundo os autores, será definida pelo valor atribuído ao benéfico fiscal (tax shield) da dívida calculado como valor direcionado ao serviço da dívida que pode ser abatido da base tributária multiplicado pela alíquota de imposto de renda efeitava. De tal, se extrai a conclusão que quanto maior a dívida maior o valor do empreendimento, por tanto o nível ótimo será então o maior nível possível de endividamento. Warner e Chairperson (1977) da continuidade a discussão iniciada por Modigliani e Miller (1958, 1963) adicionando custos associados ao processo de falência de uma companhia. O autor apresenta que existem custos e dificuldades associados ao processo de falência de uma companhia, dentre eles custos legais e processuais. Além do mais, toda empresa possui um risco de falência inerente ao seu negócio e, tal risco, é crescente para o grau de endividamento da operação. Com isso, existe, segundo o autor supracitado, uma componente redutora do valor das empresas para um aumento do grau de endividamento1. Para o autor o valor da empresa deve ser uma função parabólica com concavidade para baixo do grau de endividamento e o nível de alavancagem perseguido pelos administradores deve ser o correspondente ao ápice de tal curva. Já Breadley e Myers (1992) dissertam sobre a necessidade da empresa entender sua estrutura de capital e os custos associados. De tal forma que possa comparar retornos de possíveis projetos ao custo médio ponderado do capital (WACC). Formula-se então a regra básica, uma empresa não deve realizar projetos que possuam retorno esperado menor do que o custo de capital envolvido. 1 Vale a pena ressaltar que Warner (1977) não descarta o impacto positivo da divida apresentado pro Modigliani & Miller (1963). 11 Dando continuidade a discussão, McNutlty et al. (2002), reitera a importância do calculo do WACC de uma empresa para que a mesma obtenha uma balizador eficaz para aceitar ou não projetos. Além disso, a estrutura de capital é uma das decisões que devem ser tomadas pelos administradores de empresas. A proporção de dívida em relação ao capital próprio deve ser de tal grandeza que permita que o retorno para o acionista seja maximizado. Em seu trabalho Booth et al (2001) explicam que tal escolha de fontes de financiamento deve se embasar em três teorias: (i) Teoria do Trade-off estático, onde a escolha da estrutura de capital ótima se embasará em parâmetros estáticos como: tipo de investimento, risco associado, rentabilidade, alíquotas tributarias e custos de falência. (ii) Conceito de custos de agência, onde potenciais conflitos de interesse entre investidores e credores devem balizar a estrutura de capital ótima e (iii) a hipótese de Pecking order, aonde a companhia irá sempre buscar a melhor forma de financiamento. Ou seja, a companhia deve emitir dívida quando acreditar que suas ações estiverem subavaliadas e simetricamente emitir ações quando acreditar que as mesmas estão sobre avaliadas. Segundo essa teoria, a estrutura de capital ótima não deve ser buscada como um todo, mas sim através de uma escolha de financiamento de projeto a projeto. Com o intuito de entender a veracidade da hipótese de Pecking Order no mercado de capitais, Hadlock e James (2002) estudam a escolha de financiamento de 500 empresas listadas não financeiras. Em seu estudo, os autores apontam que o mercado comumente reage positivamente a escolha de dívida à emissão de capital próprio, pois, segundo a hipótese acima citada, esse escolha é uma sinalização da administração da empresa que retornos maiores que o custo do capital emprestado são esperados. Já Fama e French (1998) abordam o tema com outro direcionamento. Buscam o valor da companhia e retornos e sua relação com taxas e decisões de financiamento. Concluem que firmas mais alavancadas 12 apresentam menor rentabilidade, tais conclusões corroboram com as conclusões de Modligiani & Miller (1963). Tal efeito, segundo os autores se deve ao fato de o aumento da dívida gera custos de agência entre os credores e investidores. Booth et al (2001) também estudam as variáveis que balizam a escolha de estrutura de capital dos administradores de empresas em diversos países e mercados de capitais distintos. Em seu estudo, concluem que apesar das diferenças entre os ambientes de negócios, as empresas utilizam em média as mesmas variáveis para escolher sua estrutura de capital. Adicionalmente, os autores concluem também que a rentabilidade é impactada negativamente pela dívida, tamanho da firma e alíquotas tributarias. Além disso, com uma estrutura de capital mal planejada, companhias podem perder a eficiência dos usos de suas próprias fontes de financiamento, como por exemplo os recursos gerados por sua atividade operacional. Portanto é de extrema importância para as empresas planejarem suas estruturas de capital de modo a aproveitar melhor seus fluxo operacionais de caixa. 13 3. Metodologia Variáveis e período analisado O método econométrico escolhido para estudar o impacto da estrutura de capital na rentabilidade de companhias não-financeiras brasileiras no período de 2006 a 2013 foi o de dados em painéis. No período analisado na presente monografia, o método contábil vigente para empresas brasileiras de capital aberto mudou. De 2006 a 2010 o método de contabilidade utilizado era o BRGAAP, o qual é baseado em regras diferentes e se afasta dos padrões internacional, e após esse período empresas abertas passaram a adotar o método IFRS, o qual é um método padronizado mundialmente de contabilidade, de modo a se aproximar de políticas internacionais de contabilidade, pois se baseia na essência da transação. Tal mudança foi muito bem vinda no mercado de capitais devido a maior transparência e comparabilidade dos balanços. A equidade estabelecida pelo novo código contábil tem contribuído para o desenvolvimento de uma contabilidade mais transparente no Brasil. Para o presente trabalho, tal mudança de contabilidade gera falta de comparabilidade entre os períodos. Porém de modo a solucionar tais inconsistências foram utilizados dados de balanços do Economática já ajustados ao padrão internacional para manter a comparabilidade funcional. Além disso, é de senso comum que ao se analisar balanço de uma empresa deve atentar também para o balanço de suas subsidiarias de modo a capturar todas as peculiaridades contábeis de conglomerados de empresas sob mesmo controle. Para absorver esse tipo de informação, neste trabalho foram utilizados dados de demonstrativos financeiros consolidados, pois representam o grupo econômico como um todo. 14 Adicionalmente é válido ressaltar que no presente trabalho partirá da análise de dados anuais. A variável resposta da modelagem será o ROE (return on equity, retorno sobre o patrimônio líquido) anual de 45 empresas não-financeiras componente do Ibovespa no período de 2006 a 2013. Para realizar a modelagem, serão levantados dados anuais que capturem a estrutura de capital de uma empresa: (i) relação entre a dívida líquida (dívida total menos montante de caixa e equivalentes de caixa mantidos em balanço) e patrimônio líquido, de modo a capturar o grau de alavancagem em relação ao capital próprio da companhia (“DlPl”). (ii) relação entre dívida líquida e EBITDA (resultado antes do resultado financeiro, impostos e depreciação) de modo a capturar a relação da alavancagem com a situação operacional da companhia (“DlEBITDA”). (iii) dívida com percentual do capital investido (total do ativo menos montante de caixa e equivalentes de caixa mantidos em balanço), de modo a capturar o percentual de capital de terceiros na estrutura de capital da empresa (“GAF”). Além disso, serão incluídos na análise variáveis de controle de forma que se obtenha uma redução nas disparidades entre as empresas: (i) valor de mercado médio das empresas no ano em questão, calculado como valor médio do valor de mercado diário das companhias durante todos os dias úteis do ano, de modo a capturar efeitos na rentabilidade associados ao tamanho da companhia em questão (“MktCap”). A escolha desta variável se deve a expectativa de que empresas maiores tendem a ter maior dificuldade em alocar capital em investimentos rentáveis. (ii) 15 margem EBITDA média no ano em questão, capturando assim as diferenças de margens operacionais associadas as companhias em questão (“Mg”). A escolha desta variável se deve ao simples fato que empresas rentáveis em EBITDA tendem a ter um ROE elevado. (iii) custo de dívida médio no ano em questão, capturando assim a o custo associado ao carregamento da dívida (manutenção de nível mais alto de alavancagem) (“Kd”). A escolha desta variável se deve a (i) empresas com um alto custo de dívida tem seu lucro líquido reduzido, portanto ROE reduzido, e/ou (ii) bancos cobram mais caro de empresas custa operação tende a ser menos rentável, portanto com menor ROE. Tratamento dos dados Devido ao grande leque de variáveis em empresas analisadas no presente estudo é natural esperar que ao coletar os dados distorções ocorram na distribuição de algumas das variáveis selecionadas. Por exemplo: (i) Espera-se uma grande variação no ROE (variável resposta) casa a empresa em questão passe em algum dos anos da amostra por uma alteração patrimonial com resultado positivo ou negativo e (ii) grande variação na dívida liquida sobre patrimônio liquido caso a empresa realize em algum dos anos da amostra uma aquisição de outra empresa financiada por capital de terceiros. Com o intuito de minimizar tais variações incomuns optou-se nesse trabalho por utilizar a padronização dos dados pelo método de caudas aparadas. Neste método, os dados serão ajustados de modo a todos os dados do grupo de empresas selecionadas se ajustem da seguinte forma: (i) dados entre o 0% e o 10% quartil assumam o valor do 10% e (ii) dados entre 16 100% e 90% quartil assumam o valor do 90%. Ou seja, as caudas dos dados serão aparadas e assumiram o último valor da amostra ajustado. Os benefícios de tal metodologia de ajuste são: (i) a padronização dos dados mais próxima a média da amostra, (ii) manutenção da escala dos dados, pois este método mantem as proporções da média e não realiza a indexação dos dados e (iii) eliminação de outliers da amostra mantem a análise e resultados da estimação mais próximos de resultados condizentes com a média das observações. Os malefícios da metodologia de ajuste em questão são: (i) possível eliminação de observações importantes para a estimação, de modo que o dado aparado contenha informação importante para a análise e (ii) discricionariedade dos níveis máximos e mínimos selecionados para a metodologia de aparagem de dados. Para tentar controlar o malefício de (i) os dados descartados serão analisados de modo a inferir caso dados relevantes estejam sendo descartados. Após ponderação de prós e contras conclui-se que a metodologia deve agregar mais para a estimação, pois retirará da amostra variâncias nos dados que não são normais e prejudicariam os resultados da estimação caso fossem levadas em conta. As variáveis que passaram por esse ajuste serão: (i) ROE, (ii) dívida liquida sobre patrimônio liquido, (iii) dívida liquida sobre EBITDA, (iv) grau de alavancagem financeiro, porém nesta variável o ajuste só será realizado para o extremo superior da amostra, (v) margem EBITDA e (vi) custo de dívida. 17 Modelagem A modelagem escolhida para realizar a análise da estrutura de capital na rentabilidade da empresas brasileiras no período recente (2006-2013) foi a de dados em painel, uma vez que, além dos efeitos das variáveis levantadas previamente, o modelo pode capturar as dinâmicas de tempo, como alavancagem e desalavancagem das empresas da amostra, bem como efeitos específicos de cada companhia, como nível de governança corporativa e posicionamento na indústria. Componentes de erro de via única e via dupla Dentro do universo de modelagem de dados em painéis existem dois grandes métodos de modelagem. (i) Modelos com componentes de erro de via única, onde além de um termo aleatório para cada individuo em cada painel, existe um efeito, chamado de efeito não observado que mensura o efeito individual e invariante no tempo. (ii) Modelos com componentes de erro de via dupla, onde além do termo aleatório para cada individuo em cada painel, existem efeitos invariantes no tempo para cada individuo, como na modelagem anterior, mas também existem efeitos invariantes entre os indivíduos porém variantes ao longo dos painéis. O presente trabalho utilizará do método de modelagem com componentes de erro de via dupla e com efeito fixo. Tal escolha se da ao fato de existirem efeitos específicos das companhias, como por exemplo, o nível de governança corporativa, posicionamento competitivo, qualidade dos administradores, cultura interna, etc. Bem como existem efeitos específicos dos painéis (anos) que afetam todas as firmas, como por exemplo, a crise internacional de 2008, ano de eleição 2009 e 2013, etc 18 Efeito fixo e efeito aleatório Além disso, dentro de ambos tipos de modelagem existem duas alternativas a serem estudas, a modelagem com efeito fixo ou a modelagem com efeito aleatório. Wooldridge (1960) disserta que a modelagem com efeito fixo deve ser utilizada quando acredita-se que o efeito não observado é de alguma forma correlacionado com a matriz de variáveis resposta. Já o efeito aleatório deve ser utilizado quando acredita-se que os efeitos não observados não são correlacionados com a matriz de variáveis resposta. Conforme dissertado, a escolha pela modelagem de efeito fixo parece simples de se fazer, uma vez que pode-se relaxar a hipótese de independência dos efeitos não observados com a matriz de variáveis resposta. Porém tal escolha não é tão simples. Dada escolha pela modelagem de efeitos fixos, os efeitos não observados terão de ser estimados, o que resulta em perda de graus de liberdade. O presente trabalho utilizará, a princípio, o modelo com efeito fixo, pois acredita-se que os efeitos não observados acima exemplificados possuem correlação com ao menos algumas variáveis respostas a serem estudadas 19 O Modelo As variáveis são: Tabela 1: Variáveis incluídas na modelagem e suas respectivas descrições Sigla Variável ROE Return on Equity Lucro líquido do período sobre o patrimônio líquido médio do período DlPl Dívida líquida sobre patrimônio líquido Dívida bruta menos caixa médio do período sobre patrimônio líquido médio do período DlEBITDA Dívida líquida sobre EBITDA Dívida bruta menos caixa médio do período sobre resultado antes de depreciação, amortização, juros e impostos Grau de alavancagem financeira Ativo total médio do período sobre patrimônio líquido médio do período MktCap Valor de mercado Valor de mercado médio do ano Mg Margem EBITDA Resultado antes de depreciação, amortização, juros e impostos sobre receita líquida do período Kd Custo da Dívida Custo de dívida médio do período GAF Descrição 20 O modelo de interesse é dado por: 𝑅𝑂𝐸!,! = 𝑓(𝐷𝑙𝑃𝑙!,! , 𝐷𝑙𝐸𝐵𝐼𝑇𝐷𝐴!,! , 𝐺𝐴𝐹!,! , 𝑀𝑘𝑡𝐶𝑎𝑝!,! , 𝑀𝑔!,! , 𝐾𝑑!,!, , 𝜇! , 𝜆! , 𝜀!,! ) em que, 𝑅𝑂𝐸!,! – return on equity da empresa i no ano t em %. 𝐷𝑙𝑃𝑙!,! – dívida líquida sobre o patrimônio liquido da empresa i no ano t em vezes. 𝐷𝑙𝐸𝐵𝐼𝑇𝐷𝐴!,! –dívida líquida média sobre o EBITDA da empresa i no ano t em vezes. 𝐺𝐴𝐹!,! – grau de alavancagem financeira da empresa i no ano t em %. 𝑀𝑘𝑡𝐶𝑎𝑝!,! –valor de mercado da empresa i no ano t em milhões de reais. 𝑀𝑔!,! – margem EBITDA da empresa i no ano t em %. 𝐾𝑑!,! – Custo de dívida da empresa i no ano t em %. 𝜇! – variável não observada invariante em t para o indivíduo i. 𝜆! – variável não observada invariante em i para o período t. 𝜀!,! – é um termo de erro aleatório da empresa i no ano t. i=1, 2, 3, . . . , 45 t=2006, 2007, . . . , 2013 Resultados esperados Os sinais esperados para os coeficientes das variáveis acima são: (i) Ambíguo para 𝐷𝑙𝑃𝑙!,! , pois com um endividamento maior pode-se girar mais ativos para um mesmo patrimônio líquido gerando (1) 21 resultados maiores (impacto positivo) e um maior endividamento pode gerar um maior serviço de dívida de forma a reduzir o lucro líquido. (ii) Ambíguo para 𝐷𝑙𝐸𝐵𝐼𝑇𝐷𝐴!,! , pois com uma alavancagem sobre o EBITDA maior permite com que os resultados sejam aumentados devido ao capital de terceiros incluídos na operação (impacto positivo) e um maior endividamento pode gerar um maior serviço de dívida de forma a reduzir o lucro líquido. (iii) Ambíguo para 𝐺𝐴𝐹!,! , pois com uma maior alavancagem na estrutura de capital pode levar a um maior retorno para o capital próprio (impacto positivo) e um maior endividamento pode gerar um maior serviço de dívida de forma a reduzir o lucro líquido. (iv) Negativo para 𝑀𝑘𝑡𝐶𝑎𝑝!,! , pois uma empresa maior tende a não conseguir um número de projetos com o mesmo nível de rentabilidade alcançada nos primeiros projetos (mais rentáveis). (v) Positivo para 𝑀𝑔!,! , pois empresas com uma margem EBITDA maior tende a alcançar níveis mais elevados de ROE. (vi) Negativo para 𝐾𝑑!,! , pois empesa com maior custo de dívida tendem a possuir pois resultados devido ao pagamento da dívida. Possíveis limitações Devido ao grande leque de variáveis em empresas analisadas no presente estudo é natural esperar que ao coletar os dados distorções ocorram na distribuição de algumas das variáveis selecionadas. Por exemplo: (i) Espera-se uma grande variação no ROE (variável resposta) caso a empresa em questão passe em algum dos anos da amostra por um alteração patrimonial com resultado positivo ou negativo e (ii) grande variação na dívida liquida sobre patrimônio liquido caso a empresa realize 22 em algum dos anos da amostra uma aquisição de outra empresa financiada por capital de terceiros. Com o intuito de minimizar tais variações incomuns optou-se nesse trabalho por utilizar a padronização dos dados pelo método de caudas aparadas. Neste método, os dados serão ajustados de modo a todos os dados do grupo de empresas selecionadas se ajustem da seguinte forma: (i) dados entre o 0% e o 10% quartil assumam o valor do 10% e (ii) dados entre 100% e 90% quartil assumam o valor do 90%. Ou seja, as caudas dos dados serão aparadas e assumiram o último valor da amostra ajustado. Os benefícios de tal metodologia de ajuste são: (i) a padronização dos dados mais próxima a média da amostra, (ii) manutenção da escala dos dados, pois este método mantem as proporções da média e não realiza a indexação dos dados e (iii) eliminação de outliers da amostra mantem a análise e resultados da estimação mais próximos de resultados condizentes com a média das observações. Os malefícios da metodologia de ajuste em questão são: (i) possível eliminação de observações importantes para a estimação, de modo que o dado aparado contenha informação importante para a análise e (ii) discricionariedade dos níveis máximos e mínimos selecionados para a metodologia de aparagem de dados. Após ponderação de prós e contras conclui-se que a metodologia deve agregar mais para a estimação pois retirará da amostra variâncias nos dados que não são normais e prejudicariam os resultados da estimação caso fossem levadas em conta. As variáveis que passaram por esse ajuste serão: (i) ROE, (ii) dívida liquida sobre patrimônio liquido, (iii) dívida liquida sobre EBITDA, (iv) grau de alavancagem financeiro, porém nesta variável o ajuste só será realizado para o extremo superior da amostra, (v) margem EBITDA e (vi) custo de dívida. 23 4. Coleta e análise descritiva dos dados A coleta dos dados foi realizada utilizando-se das bases de dados Economática e Bloomberg. A princípio foi feito o ajuste aos dados com o método das caudas aparadas devido a discrepância no dados e efeitos específicos da companhia em determinado ano. Foram obtidos dados de 66 empresas listadas na BM&F Bovespa em diferentes níveis de listagem, onde nenhuma é relacionada ao segmento financeiro, e o período de dados obtidos foi de 2000 a 2013, porém posteriormente foram descartados os dados de 2000 a 2005 por falta de informação para todas empresas avaliadas. Empresas escolhidas para a análise As empresas escolhidas para a análise foram determinadas através da análise das empresas componentes do índice Bovespa (“Ibovespa”), principal indicador do mercado acionário brasileiro, vigente no dia 01 de setembro de 2014. Tal índice é construído analisando o grau de negociabilidade de cada companhia e são incluídas as companhias com maior negociabilidade, até atingir 90% de todo o somatório de negociabilidade da BM&FBovespa, excluindo-se ações que não negociaram em pelo menos 95% dos dias no último período e ações que negociam abaixo de R$1,00. Porém para o presente trabalho é interessante notar que tal índice acaba por ter uma grade correlação com as maiores empresas com informação pública do mercado brasileiro. O índice analisado é composto de 69 ativos e 66 empresas representadas (Vale, Petrobrás e Bradesco possuem mais de um ativo, ações ordinárias e preferenciais no índice). Das 66 empresas foram selecionadas 45 empresas não financeiras para a presente análise. Outro critério de exclusão foi a disponibilidade de dados, para algumas empresas foi-se determinada a 24 exclusão pois as informações publicas eram muito recentes devido a serem empresas novas na bolsa de valores ou empresas em fase pré-operacional. Tabela 2: Empresas não financeiras do Ibovespa selecionadas para a análise Valor de Mercado1 Empresa Empresa All Amer Lat 4.483 Valor de Mercado1 Hypermarcas 11.149 JBS 25.156 Ambev S/A 270.935 Anhanguera 6.512 Klabin S/A 10.875 BRF SA 42.881 Localiza 6.923 CCR SA 31.374 Lojas Renner 7.680 Cemig 17.868 Marfrig 2.081 Cesp 6.517 MRV 5.720 Cia Hering 4.922 Natura 17.749 Copel 6.103 Oi 5.921 CPFL Energia 18.370 P.Acucar-Cbd 27.719 Cyrela Realt 5.865 PDG Realt 2.395 Dasa 4.523 Petrobras 222.800 Duratex 7.938 Sabesp 19.792 Ecorodovias 8.261 Sid Nacional 20.966 Eletrobras 7.940 Souza Cruz 36.851 Eletropaulo 1.566 Suzano Papel 10.024 Embraer 13.808 Telef Brasil 50.356 Energias BR 5.398 Tim Part S/A 29.800 Even 1.901 Tractebel 23.460 Fibria 15.297 Ultrapar 30.012 Gafisa 1.470 Usiminas 12.245 Gerdau 31.255 Vale 184.027 Gerdau Met 9.510 Total 1.288.399 1 Valor de mercado em 31 de dezembro de 2013 em milhões de reais 25 Período analisado Foram obtidos dados de 2000 a 2013, ou seja 14 dados anuais. Dos dados obtidos, foi observado uma grande piora na qualidade e disponibilidade dos dados no período anterior a 2006. Além disso, diversas empresas analisadas não eram abertas, portanto não temos dados públicos. Foi definido com o período a ser analisado 2006 a 2013, ou seja 8 dados anuais, devido a maior disponibilidade de dados nesse período. Segue abaixo tabela indicativa da disponibilidade de dados das empresas selecionadas. Tabela 3: Disponibilidade de dados de cada empresa Nome 2000 All Amer Lat x Ambev S/A x Anhanguera BRF SA x CCR SA Cemig Cesp x Cia Hering x Copel x CPFL Energia Cyrela Realt x Dasa Duratex Ecorodovias Eletrobras x Eletropaulo x Embraer x Energias BR Even Fibria x Gafisa x Gerdau x Gerdau Met x Hypermarcas JBS Klabin S/A x Localiza Lojas Renner x Marfrig MRV 2001 x x x 2002 x x x x x x x x x x x x x 2003 x x x x x x x x x x x 2004 2005 x x x x x x x x x x x x x x x x X x X x X x x x x x x x x x x x X X X X X x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x X 2006 2007 X x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x X x x 2008 x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x 2009 2010-13 x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x Natura Oi P.Acucar-Cbd PDG Realt Petrobras Sabesp Sid Nacional Souza Cruz Suzano Papel Telef Brasil Tim Part S/A Tractebel Ultrapar Usiminas Vale 26 x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x Análise descritiva dos dados (i) ROE: Ao analisarmos a variável resposta observamos que a média dos ROEs para as empresas selecionadas para a análise flutuou no período entre 20,2% e 12,7% em 2010 e 2012 respectivamente. A média das médias do período analisado é de 16,9% demostrando uma relativa estabilidade nos retornos sobre patrimônio liquido no período analisado para as empresas selecionadas. Além disso podemos observar no gráfico a seguir que o desvio-padrão dos retornos variou de 19,0% e 15,1% em 2011 e 2007 respectivamente. A média dos desvios-padrão do período analisado é 17,5%, demonstrando uma grande variabilidade dentro da amostra, porém relativamente constante ao longo do tempo. Tais fatores auxiliam a uma boa estimação de modelos econométrico em painéis. x x x x x x x x x x x x x x x 27 Quadro 1: Médias e Desvios-padrão da variável ROE 40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% -­‐5% 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 -­‐10% ROE (ii) DlPl: Ao analisarmos a variável explicativa divida liquida sobre patrimônio liquido notamos que a média dos DlPls para as empresas selecionadas para a análise flutuou no período entre 64,6% e 38,3% em 2006 e 2007 respectivamente. A média das médias do período analisado é de 54,1% demostrando uma relativa variação nos níveis de alavancagem sobre patrimônio liquido no período analisado para as empresas selecionadas. Se desconsiderarmos 2006 e 2007, a mínima das médias atinge 43,3%, a máxima atinge 63,0% e a média atinge 55,0%, demonstrando uma estabilidade maior. O período de 2006 e 2007 demonstrou uma maior variabilidade nas médias devido a crise financeira de 2007/2008 e o grande crescimento econômico que a precedeu. Além disso podemos observar no gráfico a seguir que o desvio-padrão dos retornos variou de 66,0% e 15,1% em 2013 e 2010 respectivamente. A média dos desvios-padrão do período analisado excluindo 2006 e 2007 é de 56,4%, demonstrando uma grande variabilidade dentro da amostra, porém relativamente constante ao longo do tempo. Mais uma vez o período de 2006 e 2007 mostram um comportamento diferente, com o desvio-padrão do DlPl indo de 94,2% para 40,9%. 28 Quadro 2: Médias e Desvios-padrão da variável DlPl 200% 150% 100% 50% 0% 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 -­‐50% DLPL (iii) DlEBITDA: Ao analisarmos a variável explicativa divida liquida sobre Ebitda (geração de caixa operacional) observamos que a média dos DlEBITDAs para as empresas selecionadas para a análise flutuou no período entre 2,0x e 1,2x em 2012 e 2007 respectivamente. A média das médias do período analisado é de 1,7x demostrando relativa estabilidade no grau de alavancagem no período analisado para as empresas selecionadas. Além disso podemos observar no gráfico a seguir que o desvio-padrão do grau de alavancagem em termos de geração de caixa operacional variou de 2,4x e 1,4x em 2013 e 2007 respectivamente. A média dos desvios-padrão do período analisado é 1,7x, demonstrando uma grande variabilidade dentro da amostra. Tais fatores auxiliam a uma boa estimação de modelos econométrico em painéis. É valido ressaltar que essa variável deve ter um grande peso no modelo econométrico a ser construído devido a sua grande variabilidade e sua também grande capacidade explicativa do ROE. 29 Quadro 3: Médias e Desvios-padrão da variável DlEBITDA 5,0x 4,0x 3,0x 2,0x 1,0x 0,0x 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 -­‐1,0x DLEBITDA (iv) GAF: Ao analisarmos o grau de alavancagem financeira notamos logo no primeiro momento a discrepância do ano de 2006 para a análise descritiva da variável em questão. A média dos GAFs para as empresas selecionadas para a análise flutuou no período de 2007 e 2013 entre 2,9x e 2,5x em 2013 e 2007 respectivamente. A média das médias do período analisado é de 2,7x demostrando relativa estabilidade no grau de alavancagem financeira no período analisado para as empresas da amostra. Além disso podemos observar no gráfico a seguir que o desvio-padrão do grau de alavancagem financeira variou de 1,3x e 0,9x em 2013 e 2007 respectivamente. A média dos desvios-padrão do período analisado é 1,1x, demonstrando uma grande variabilidade dentro da amostra e relativa estabilidade nos desvios-padrão. Tais fatores auxiliam a uma boa estimação de modelos econométrico em painéis. 30 Quadro 4: Médias e Desvios-padrão da variável GAF 7,0x 6,0x 5,0x 4,0x 3,0x 2,0x 1,0x 0,0x 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 GAF (v) MktCap: Ao analisarmos a variável resposta MktCap, notamos uma grande variabilidade nos números devido aos diferentes tamanhos das empresas analisadas bem como diferentes momentos econômicos, como podemos notar no gráfico a seguir, o desviopadrão da variável é grande quando comparado ao das demais variáveis do modelo a ser estudado. Quadro 5: Médias e Desvios-padrão da variável MktCap 120.000 100.000 80.000 60.000 40.000 20.000 0 -­‐20.000 2006 2007 2008 2009 2010 -­‐40.000 -­‐60.000 MKTCAP 2011 2012 2013 (i) 31 Mg: Ao analisarmos a variável explicativa margem Ebitda observamos que a média das margens para as empresas selecionadas para a análise flutuou no período entre 29,0% e 22,8% em 2010 e 2012 respectivamente. A média das médias do período analisado é de 26,7% demostrando uma relativa estabilidade nas margens Ebitda no período analisado para as empresas selecionadas. Além disso podemos observar no gráfico a seguir que o desvio-padrão dos retornos variou de 19,5% e 15,0% em 2008 e 2006 respectivamente. A média dos desvios-padrão do período analisado é 16,5%, demonstrando uma grande variabilidade dentro da amostra, porém relativamente constante ao longo do tempo. Tais fatores auxiliam a uma boa estimação de modelos econométrico em painéis. Quadro 6: Médias e Desvios-padrão da variável Mg 50% 45% 40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 MGEBITDA (i) Kd: Ao analisarmos a variável explicativa custo da divida notamos que a média dos Kds para as empresas selecionadas para a análise flutuou no período entre 37,0% e 15,7% em 2008 e 2009 respectivamente. A média das médias do período analisado é de 21,7% demostrando uma relativa variação nos níveis de custo da divida no período analisado para as empresas selecionadas. Para 32 controlar os efeitos da crise nesta variável será necessária a inclusão de uma variável dummy para controlar os períodos de crise. Além disso podemos observar no gráfico a seguir que o desvio-padrão dos custos variou de tinha outra dinâmica no período anterior a crise de 2008, mais uma vez o uso de uma variável dummy se faz necessário. Quadro 7: Médias e Desvios-padrão da variável Kd 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% -­‐10% 2006 2007 2008 2009 2010 -­‐20% KD 2011 2012 2013 33 5. Estimação Para estimar o impacto da estrutura de capital na rentabilidade das empresas selecionadas iremos utilizar o software Stata 11, o qual apresenta diversas ferramentas econométricas necessárias para estimar e inferir sobre o resultados e se adequa bem ao escopo do presente trabalho. Utilizaremos este software para estimar um modelo para dados em painéis bem como realizar diversos testes econométricos. Inicialmente estimaremos um modelo contemplando todas as variáveis apresentadas a priori de modo a identificar se as mesmas são relevantes para estimação do ROE. Como identificado previamente iniciaremos nossa análise estimando um modelo de efeito fixo. Quadro 8: Resultado da Estimação do Modelo com Efeito Fixo Como podemos observar no quadro acima todas as variáveis incluídas na análise se demonstraram relevantes para estimação do ROE a um nível de confiança de 95%. Os resultados obtidos podem ser interpretados da seguinte forma: (i) Para cada 1.0 vez a mais de dívida liquida sobre patrimônio líquido, o ROE deverá ser, na média, impactado negativamente em 3,98 p.p., tal resultado pode ser explicado pois, um maior endividamento 34 implica em um maior serviço da dívida, o que por sua vez reduz o lucro líquido e consequentemente a rentabilidade. (ii) Para cada 1.0 vez a mais de dívida liquida sobre EBITDA, o ROE deverá ser, na média, impactado negativamente em 1,25 p.p. Tal resultado pode ser explicado pelo mesmo motivo apresentado na variável anterior. (iii) Para cada 1 p.p. a mais no grau de alavancagem financeira, o ROE deverá ser, na média, impactado positivamente em 0,03 p.p.. Este resultado pode ser interpretado a princípio com um contrassenso porém podemos entende-lo como o impacto positivo de se ter um maior ativo rentabilizando o patrimônio líquido. Adicionalmente o impacto dessa variável acaba sendo muito inferior as demais variáveis aqui analisadas, pois o método de calculo desta é menos sensível a um aumento do endividamento do que as variáveis expostas acima. (iv) Para cada 1 p.p. de aumento da margem EBITDA, o impacto no ROE deverá ser, na média, 0,64 p.p., esse aumento da rentabilidade vai de encontro com os resultados esperados pois um aumento na margem EBITDA tem impacto direto no lucro líquido de uma empresa. Vale também ressaltar que o impacto estimado pode ser facilmente explicado pelo fato que um aumento de rentabilidade do EBITDA gera por sequencia lógica um aumento do lucro liquido e consequentemente, margem liquida e ROE, porém com um desconto que provém dos tributos de 34%. (v) Para cada aumento de 100 milhões de reais no valor de mercado de uma companhia, o impacto médio em sua rentabilidade é de 0,00042 p.p. o que é um impacto muito irrelevante quando comparado aos demais aqui analisados. Vale ainda ressaltar que o impacto diverge do esperado, porém por ser tão pequeno em comparação aos demais podemos concluir que tal impacto pode se dar por especificidades da amostra analisada ou por real irrelevância para estimação do ROE de fato. (vi) Também indo de encontro com os resultados esperados, o impacto de um aumento de 1 p.p. no custo da dívida se traduz em uma redução de 0,05 p.p. na rentabilidade, em média. (vii) 35 Se demonstrou também significante a inclusão de uma constante que não possui nenhuma interpretação clara e é somente um ajuste estatístico para melhor adequação do modelo aos dados. A equação com um todo se mostrou significante a 95% de confiança ao realizarmos o teste F, o qual pode ser observado também no quadro acima. O R² da estimação é de 25,7%. Com o objetivo de realizar uma comparação e posteriormente um teste de Hausman realizamos a estimação do mesmo modelo estimado anteriormente agora utilizando a metodologia que inclui efeito aleatório na regressão. Quadro 9: Resultado da Estimação do Modelo com Efeito Aleatório Com o intuito de confirmar a utilização de efeito fixo na estimação se realizado um teste de Hausman. Neste teste a hipótese nula é que o modelo correto a ser utilizado é o modelo de efeito aleatório. Esse teste infere, basicamente, se os erros são ou não correlacionados com os regressores, onde na hipótese nula eles não são. 36 Quadro 10: Resultado do teste de Hausman Como podemos observar no quadro acima o teste mostra que devemos utilizar o modelo de efeitos fixos, pois com 95% de confiança e com um chiquadrado de 18,02 chegamos a uma probabilidade de 0,29% de probabilidade de rejeitar a hipótese nula portanto podemos afirmar que não existe uma correlação sistêmica entre os erros e os regressores, ou seja o modelo com efeito aleatório é inconsistente e o modelo com efeito fixo e consistente. Adicionalmente foram realizados testes para identificar possíveis raízes nulas nas variáveis. Como as series analisadas são muito curtas (8 períodos) os resultados muito provavelmente serão não identificação de raiz unitária. Como esperado, todos os teste negaram a existência de raiz unitária com 95% de confiança. 37 Quadro 11: Resultados dos testes de Raiz Unitária Também foi realizado o teste de Wald Modificado para inferir sobre heteroscedasticidade sobre os erros do modelo de regressão com efeito fixo, o qual resultou heteroscedasticidade presente no modelo com um chi-quadrado de 7272,64 e um p-valor de 0,0000. De modo a lidar como a heteroscedasticidade no modelo foi necessário realizar a estimação do modelo de efeito fixo pelo método robusto, o qual provém erros padrões robustos heteroscedasticamente. Tal estimação retornou coeficiente insignificante para a variável MKTCAP, portanto o modelo foi re-estimado excluindo-se tal variável da modelagem. 38 Quadro 12: Resultado da Estimação do Modelo Robusto com Efeito Fixo1 Ao compararmos os resultados dispostos no quadro acima com os resultados da primeira estimação realizada por este trabalho notamos um aumento no R² de 1,1%. Adicionalmente a nova interpretação dos resultado fica como segue: (i) Para cada 1.0 vez a mais de dívida liquida sobre patrimônio líquido, o ROE deverá ser, na média, impactado negativamente em 4,12 p.p.. Tal resultado pode ser explicado pois, um maior endividamento implica em um maior serviço da dívida, o que por sua vez reduz o lucro líquido e consequentemente a rentabilidade. Com ligeira alteração no tamanho, porém com mesma direção do impacto (ii) Para cada 1.0 vez a mais de dívida liquida sobre EBITDA, o ROE deverá ser, na média, impactado negativamente em 1,25 p.p. Tal resultado pode ser explicado pelo mesmo motivo apresentado na variável anterior. Inalterado quando comparado ao modelo anterior. (iii) Para cada 1p.p. a mais no grau de alavancagem financeira, o ROE deverá ser, na média, impactado positivamente em 0,03 p.p.. Este resultado pode ser interpretado a princípio com um contrassenso porém podemos entende-lo como o impacto positivo de se ter um maior ativo rentabilizando o patrimônio líquido. Adicionalmente o impacto dessa variável acaba sendo muito inferior as demais 1 Vale ressaltar que nesta modelagem foi excluído a variável MKTCAP, pois a mesma demonstrou um p-­‐ valor maior que 5% no modelo estimado com todas as variáveis. 39 variáveis aqui analisadas, pois pelo seu método de calculo o impacto pelo aumento do endividamento é menor que o impacto de ambas as variáveis apresentadas anteriormente. Inalterado quando comparado ao modelo anterior. (iv) Para cada 1 p.p. de aumento da margem EBITDA, o impacto no ROE deverá ser, na média, 0,65 p.p., esse aumento da rentabilidade vai de encontro com os resultados esperados pois um aumento na margem EBITDA tem impacto direto no lucro líquido de uma empresa. Vale ressaltar que o valor se aproxima com o valor esperado que é o impacto direito no ROE excluindo-se o impacto negativo da tributação de 34%, ou seja 0,66. (v) Também indo de encontro com os resultados esperados, o impacto de um aumento de 1 p.p. no custo da dívida se traduz em uma redução de 0,05 p.p. na rentabilidade, em média. Com ligeira alteração no tamanho do impacto somente. 40 6. Resultados Ao analisar os resultados obtidos pela estimação identificamos que o modelo robusto de efeito fixo é o modelo adequado para os dados selecionados. Quando voltada a atenção para os resultados das estimação logo notamos que os coeficientes estimados são significantes para estimação. Como o intuito da presente monografia é identificar o impacto da estrutura de capital na rentabilidade das empresas brasileiras não-financeiras temos principal interesse em analisar com cuidado os coeficientes estimados para as variáveis que indicam o grau de alavancagem, ou estrutura de capital. Voltando a equação estimada no quadro 12, logo notamos que as variáveis e respectivos coeficientes que indicam a estrutura de capital são: (i) Dívida líquida sobre patrimônio liquido Coeficiente estimado: -0,041 Desvio-padrão: 0,02 Teste t: -2,17 p-valor: 0,036 (ii) Dívida líquida sobre EBITDA Coeficiente estimado: -0,012 Desvio-padrão: 0,005 Teste t: -2,11 p-valor: 0,041 (iii) Grau de alavancagem financeira Coeficiente estimado: 0,030 Desvio-padrão: 0,004 Teste t: 8,39 p-valor: 0,000 41 Os coeficientes estimados não indicam somente um direção para o impacto da estrutura de capital na rentabilidade pois, para as duas primeiras variáveis o impacto estimado foi negativo e para a terceira variável o impacto foi negativo. Este impacto divergente pode ser explicado, como já foi dissertado anteriormente, pelo fato de ter um maior ativo rentabilizando o patrimônio líquido. O que a princípio pode parecer um contrassenso porém o impacto estimado para a terceira variável é muito menor quando comparado com o impacto das duas primeiras variáveis combinadas, pelo motivo explicado anteriormente. Portanto podemos concluir que, em média, para o grupo amostral selecionado um aumento na alavancagem tende a diminuir a rentabilidade da empresa. Tal impacto já foi debatido por Modigliani e Miller (1958) e por Modigliani e Miller (1963) e pode ser explicado pelo fato que um aumento do grau de endividamento gera um maior serviço da dívida via aumento da dívida em si e também via um aumento do custo associado a esta dívida devido a um maior risco associado a mesma. 42 7. Conclusão O presente trabalho partiu com o objetivo de entender o mercado empresarial brasileiro no que se refere a dinâmicas de estrutura de capital, sua importância para empresas e principalmente seu impacto na rentabilidade apurada. Definiu-se como indivíduos a ser estudados as principais companhia brasileiras abertas não-financeiras, pois segundo Breadley e Myers (1992) empresas financeiras possuem uma dinâmica de estrutura de capital e rentabilidade diferentes por se utilizarem do capital (caixa) como produto de seus negócios diários. O período analisado foi o de 2006-2013 de modo a abranger o maior período possível sem perda relevante de dados que poderiam desbalancear significantemente os painéis econométricos. As conclusões, como observamos anteriormente nos resultados, apontam para uma correlação negativa entre estrutura de capital, aqui definida como grau de alavancagem, e rentabilidade de uma empresa. Porém tal resultado não é homogêneo, para todas as variáveis relacionadas a estrutura de capital. Como observamos anteriormente, o impacto do grau de alavancagem financeiro se demostra em média, para o grupo de indivíduos e período selecionados, positivamente correlacionado com o nível de rentabilidade de uma companhia. Tal impacto não foi observado por nenhuma dissertação consultada, o que fortalece a análise que tal impacto especifico pode ocorrer devido a um efeito inerente do grupo amostral selecionado e pode não refletir um fato do universo de empresas brasileiras não-financeiras. A alavancagem com um redutor da rentabilidade já é um tema bastante dissertado e os resultados e conclusões obtidos com o presente trabalho se aproxima dos resultados postulados por Modigliani e Miller (1963) e posteriormente, Warner e Chairperson (1977) e Fama e French (1998). Porém a conclusão que a rentabilidade é negativamente afetada pela alavancagem, não deve gerar a sensação que a mesma é maléfica para os negócios, pois sem endividamento empresas ficariam estagnadas em tendências de crescimento inferiores e não alcançariam níveis superiores de atividade e crescimento devido a restrições impostas pelo uso somente de capital próprio, como por exemplo a limitação de recursos. Com isso, podemos concluir que embora a alavancagem possa reduzir a rentabilidade de uma empresa, a permite alcançar novos níveis de atividade, 43 pois possibilita o acesso mais abundante ao capital permitindo uma expansão mais agressiva dos negócios. Contudo, um vértice deve ser encontrado de modo a maximizar o retorno para o acionista no longo prazo, como discutido por Warner e Chairperson (1977) ao adicionar ao debate os custos associados a falência e alto endividamento. Finalmente inferimos que não há desenvolvimento relevante sem endividamento e o empresário, para crescer, deve sempre buscar um nível ótimo de alavancagem, mesmo que as custas de sua rentabilidade. 44 8. Bibliografia BATALGI, B. H. Econometric Analysis of Panel Data 3 ed. Wiley, 2005. BOOTH, L.; AIVAZIAN, V.; DEMIRGUC-KUNT, V.; MAKSIMOVIC, V. Capital Structure in Developing Countries Journal of Finance, 2001. 87-130 pag. BREADLEY, R. A.; MYERS, S. C. Princípios de Finanças Empresariais Mcgraw-Hill Irvin, 1992. FAMA, E. F.; FRENCH, K. R. Taxes, Financial Decisions, and Firm Value Journal of Finance, 1998. 819-843 pag. HADLOCK, C. J.; JAMES, C. M. Do Banks Provide Financial Slack? Journal of Finance, 2002. 1383-1419 pag. MESQUITA, J. M.; LARA, J. E. Capital Structure and Profitability: The Brazilian Case. 2003. MODIGLIANI, F.; MILLER, M. The Cost of Capital, Corporation Finance and the Theory of Investment American Economic Review, 1958. 261-297 pag. ______. 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