BIOACUMULAÇÃO DE NUTRIENTES E METAIS PESADOS TÓXICOS EM MACRÓFITA AQUÁTICA ENCONTRADA EM UMA ÁREA SUBMETIDA A CULTIVO DE PEIXES EM TANQUES-REDE NO RESERVATÓRIO DA USINA DE ITAIPU Affonso Celso Gonçalves Jr. 1,4 , Nilton garcia marengoni 1,4 , Gilmar Divino Gomes 2,4 , Guilherme Wolff Bueno 3,4 , Herbert Nacke 3,4 , Claudemir Selzlein 3,4 . P UP P P P P P P P U P P P 1 Professor Dr. do Centro de Ciências Agrárias da Unioeste - Rua Pernambuco, 1777, Marechal Cândido Rondon-PR. [email protected] P U U 2 Acadêmico do Curso de Tecnologia em Gestão da Produção Industrial da FATEC. P 3 Acadêmico do Centro de Ciências Agrárias da Unioeste. P 4 Grupo de Estudos em Solos e Meio Ambiente - GESOMA P PALAVRAS-CHAVE: Bioindicador de poluição, Eichornia azurea, limnologia, metais. T T RESUMO A grande disponibilidade de nutrientes ocasionada pela eutrofização dos ambientes aquáticos causa o crescimento desordenado de populações de plantas aquáticas. Em reservatórios de usinas hidrelétricas a superpopulação de macrófitas aquáticas tem causado sérios prejuízos ambientais, demonstrando a importância do monitoramento destas plantas. Por outro lado, a presença de plantas aquáticas é essencial para manutenção, desenvolvimento e proteção do ambiente aquático. Este trabalho foi realizado em um dos reservatórios da usina hidrelétrica de Itaipu, com o objetivo de caracterizar quimicamente, a macrófita aquática Eichornia azurea, visando monitorar o aporte de poluentes causado pelo cultivo de peixes em tanquesrede realizado na área e pelos efluentes naturais do ambiente. Avaliaram-se as concentrações de nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio, cobre, zinco, ferro, manganês, cádmio, chumbo e cromo no tecido vegetal (massa seca) da planta. Pelos resultados obtidos na análise da macrófita aquática, considera-se que o ambiente não apresentou níveis de poluição na época do trabalho, concluindo-se que o cultivo de peixes em tanques-rede realizado na área não causou impacto ambiental. INTRODUÇÃO A erosão da camada fértil de solos agrícolas e a grande descarga de efluentes residenciais e industriais têm levado rios e reservatórios a uma condição de desequilíbrio, caracterizado pela grande disponibilidade de nutrientes na coluna de água e no sedimento. Além de interferir decisivamente na qualidade da água, a grande disponibilidade de nutrientes pode levar ao crescimento desordenado de populações de plantas aquáticas (VELINI et al., 2005). A ocorrência de plantas aquáticas em reservatórios de hidrelétricas é um problema de importância crescente no Brasil. Algumas hidrelétricas já têm sua De 28 de Maio a 1º de Junho de 2006 Unioeste - Campus de Toledo eficiência comprometida pela elevada infestação de plantas emersas e imersas (VELINI et al., 1998). De acordo com Tanaka (2001), os ambientes aquáticos, de forma geral, são formados por uma grande biodiversidade vegetal, que em situação ecologicamente equilibrada, é essencial para a manutenção e o desenvolvimento desse ecossistema. Nesses ambientes, as plantas aquáticas são responsáveis pela oxigenação e depuração da água, servem de alimento para peixes e aves e protegem as margens da ação erosiva da água. O objetivo deste trabalho foi determinar a constituição química da macrófita aquática Eichornia azurea encontrada no reservatório da usina hidrelétrica de ITAIPU, na estação da primavera, a fim de monitorar o aporte de nutrientes e metais pesados tóxicos na água do reservatório, tanto pelo cultivo de peixes em tanques-rede quanto pelos efluentes naturais e antrópicos do reservatório. MATERIAL E METODOS O trabalho foi conduzido no Refúgio Biológico da Unioeste no município de Santa Helena-PR, na área de cultivo experimental e demonstrativo com peixes nativos em tanques-rede instalados no reservatório da usina hidrelétrica de Itaipu, em uma parceria entre o Grupo de Estudos em Solos e Meio Ambiente (GESOMA) e o Grupo de Estudos em Manejo em Aqüicultura (GEMAq), ambos da Unioeste. As coordenadas geográficas do local são W 54º 21’ 196”, S 24º 51’ 105”, W 54º 21’ 078”, S 24º 51’ 192”, e W 54º 21’224”, S 24º 51’ 143”, pertencentes a bacia do Paraná III. O experimento foi realizado na primavera do ano de 2006 durante a produção de três espécies nativas de peixes: pacu (Piaractus mesopotamicus), jundiá (Rhamdia quelen) e curimbatá (Prochilodus lineatus). Durante os três meses da primavera foram coletadas amostras da macrófita aquática Eichornia azurea, sendo três repetições a cada coleta. No tecido vegetal da planta foi mensurado os teores de nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg), cobre (Cu), zinco (Zn), ferro (Fe), manganês (Mn), cádmio (Cd), chumbo (Pb) e cromo (Cr). Para determinação destes elementos a macrófita foi dividida em parte aérea e raiz e submetida a secagem em estufa de circulação de ar a 65º C por 48 h, sendo posteriormente moídas finamente. Na determinação dos teores de N e P as amostras foram submetidas a digestão sulfúrica, sendo os teores de N obtidos pela destilação Kjeldahl e os teores de P através de UV-Vis. Já para a obtenção dos teores de K, Ca, Mg, Cu, Zn, Fe, Mn, Cd, Pb e Cr foi realizada digestão nitro-peróxido (AOAC, 1990) e posterior determinação analítica em espectrômetro de absorção atômica, modalidade chama (EAA/chama). Para análise estatística do trabalho os tratamentos foram os 3 meses de coleta, com 3 repetições por tratamento. A comparação de médias foi realizada pelo teste Tukey, no nível de 1% de probabilidade. Foi utilizada ainda a correlação de Pearson no nível de 1% para avaliar a interação entre as variáveis avaliadas. De 28 de Maio a 1º de Junho de 2006 Unioeste - Campus de Toledo RESULTADOS E DISCUSSÃO Analisando a Tabela 1 verifica-se que na matéria seca da Eichornia azurea a parte aérea apresentou maiores concentrações que a raiz para os nutrientes N, P, K, Ca e Mg (P<0,01). Isto pode ser explicado devido a estes nutrientes serem utilizados durante o processo de fotossíntese e nas funções metabólicas do vegetal. Tabela 1 - Concentração de macronutrientes encontradas na parte aérea e raiz da Eichornia azurea. Macronutrientes (g kg -1 ) Partes da planta N P K Ca Mg P Parte aérea 15,55 a Raiz 10,79 b P P 0,44 a P P 0,35 a P P 11,08 a P P 2,34 b P P P 1,52 a P P 1,36 a P P 14,13 a P P 12,78 a P P P P Letras iguais em cada coluna não diferem pelo teste Tukey (1%). Costa et al. (1995) avaliando retenção de nutrientes na espécie Eichornia cultivada sob alta concentração de nutrientes obtiveram valores de 1,05; 1,57; 1,31 e 0,64 para P, K, Ca e Mg respectivamente. Considerando que a espécie Eichornia apresenta uma alta capacidade de retenção, fica evidenciado que o ambiente não possui altas concentrações destes nutrientes, uma vez que não foram encontrados teores elevados dos mesmos na matéria seca da planta. Os micronutrientes Cu, Zn, Fe, Mn e metais pesados tóxicos Cd, Pb e Cr estão apresentados na Tabela 2, a macrófita apresentou maior acumulação de Cu, Fe e Mn na raiz da planta em relação a parte aérea (P<0,01). Já para os metais pesados Zn, Pb e Cr os teores encontrados na parte aérea e raiz foram estatisticamente semelhantes (P<0,01). Não foram detectados níveis significativos de Cd na parte aérea e raiz, porém isto não significa que este metal pesado tóxico não esteja presente na matéria seca, podendo estar em concentrações inferiores ao limite de detecção da metodologia utilizada (EAA/chama). Tabela 2 - Concentração de metais pesados encontradas na parte aérea e raiz da Eichornia azurea. Metais pesados (mg kg -1 ) P Partes da planta Cu Parte aérea Zn P Fe Mn 108,20 b 244,22 a 150,00 b P P P P P Cd 136,67 P b P Pb ND a P P Cr 50,89 a 10,43 a P P P P P Raiz 350,40 a 248,66 a 2282,60 a P P P P P 690,44 P P a ND a P P 56,00 a 11,77 a P P P Letras iguais em cada coluna não diferem pelo teste Tukey (1%). ND – Não detectado pelo método EAA/chama. Segundo Grant et al (1998) as raízes, geralmente, constituem o principal órgão da planta envolvido na absorção e portanto, quase sempre, as maiores concentrações de metais pesados são encontradas nesta parte da planta. De 28 de Maio a 1º de Junho de 2006 Unioeste - Campus de Toledo P P Na Tabela 3 estão apresentadas as correlações médias de Pearson entre as variáveis avaliadas no trabalho. Obteve apenas a correlação positiva significante (P<0,01) entre o K e o Fe, demonstrando que conforme há maior disponibilidade de K aumenta-se a retenção de ferro. Para as demais variáveis (nutrientes e metais pesados) não foi obtida correlação significativa, tanto positiva quanto negativa, no nível de 1% de probabilidade. Como o Cd não foi detectado ele não foi considerado na correlação. Tabela 3 - Valores de correlações de Pearson entre as variáveis avaliadas na Eichornia azurea. N N P K Ca P 0,8 NS 0,73 NS 0,27 NS 0,40 NS 0,43 NS 0,28 NS 0,75 NS 0,42 NS Cu Zn Fe Mn P P P P P P P P P P P P P P 0,36 NS 0,15 NS 0,61 NS 0,35 NS 0,01 NS 0,36 NS P P P P P P P P P P P P 0,07 NS P 0,19 NS 0,30 NS Pb P P P 0,54 NS 0,48 NS Cr Ca Mg Cu Zn Fe Mn Pb P P Mg K P P P 0,56 NS 0,01 NS 0,44 NS 0,62 NS P P P P P P P P 0,56 NS P -0,99 * P P P P 0,21 NS 0,46 NS 0,53 NS 0,57 NS 0,33 NS P P P P P P 0,15 NS P P P P P P P 0,81 NS 0,21 NS -0,6 NS 0,53 NS P P 0,52 NS 0,40 NS P P P P 0,01 NS 0,38 NS 0,57 NS P P P P P P P P P P P P 0,12 NS 0,64 NS 0,84 NS 0,46 NS 0,12 NS 0,24 NS 0,20 NS 0,26 NS 0,26 NS P P P P P P P P P P P P P P P P P 0,04 NS 0,73 NS 0,33 NS 0,50 NS 0,24 NS P P P P P P P P P P 0,46 N P P S P P NS P = não significativo. = significativo a 1%. P * P P CONCLUSÃO Considerando-se o uso da espécie Eichornia azurea como bioacumuladora de metais pesados e nutrientes na área de estudo, pode-se concluir que o ambiente não apresentou níveis de poluição consideráveis na época do trabalho. Concluindo-se que o cultivo de peixes em tanques-rede realizado na área e a possível entrada dos efluentes naturais e antrópicos no sistema de cultivo não poluíram o ambiente. REFERÊNCIAS • • 1. AOAC. Association of official analytical chemistis. Official methods of analysis, vol.1, 15 ed., 1117p, 1990. 2. COSTA, R.H.R.; SILVA, F.C.M.; OLIVEIRA, P.A.V. Preliminary studies on the use of lagoons in the treatment of hog waste products. In: 3 rd . IAWQ INTERNATIONAL SPECIALIST CONFERENCE AND P De 28 de Maio a 1º de Junho de 2006 Unioeste - Campus de Toledo P • • • • WORKSHOP. Waste Stabilization ponds: Technology na Aplications. (1995: João Pessoa, Pb). João Pessoa, Pb: IAWQ, 1995. 3. GRANT, C.A.; BUCKLEY, W.T.; BAILEY, L.D.; SELLES, F. 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