FACULDADES INTEGRADAS DE TAQUARA CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – HABILITAÇÃO EM PUBLICIDADE E PROPAGANDA QUEM NÃO É VISTO, NÃO É COMPRADO: ESTUDO DE CASO DA AÇÃO COOPERADA DAS MARCAS AZALÉIA, DIJEAN E FUNNY COM A REDE DE LOJAS DI SANTINNI CALÇADOS FLÁVIA DE PAULA PIRES Taquara 2008 1 1 INTRODUÇÃO Em meados da década de 90, a crescente oferta de produtos começou a transformar o cenário varejista em função dos espaços existentes. As lojas dispõem de pouco espaço para cada marca ofertada e as características dos produtos, cada vez mais semelhantes, deixam esses artigos com perfis similares, mudando, assim, a relação entre a indústria e o varejo. Essas modificações são decorrentes, além do referido aumento de volume de produtos, da entrada de diversas novas marcas no mercado e da similaridade dos produtos ofertados. Com isso, cresce a importância do ponto-de-venda, uma vez que a decisão de compra se transfere, cada vez mais, para o local diante da profusão de opções – muitas vezes carentes de diferenciação. Alvarez (2008, p. 73) destaca a importância do ponto-de-venda quando fala que “o contato do consumidor final com o produto ocorre no ponto-de-venda. O fabricante será para o consumidor o que o varejista permitir”. O varejo, fortalecido pelo contexto, começa a criar redes integradas que possam negociar melhor com a indústria – tanto preços, quanto prazos e benefícios – em troca de apresentar os produtos da indústria em evidência para os consumidores finais. Diante dessa situação de fortalecimento do varejo, a indústria percebeu que o planejamento baseado nas ferramentas do composto de marketing, cujas variáveis são produto, preço, promoção e ponto-de-venda, necessitava acompanhar as mudanças. Até então, elas eram controláveis – e gerenciadas pela indústria. A variável “ponto-de-venda”, que sofria uma relação de subordinação à indústria, passou pela maior transformação, ganhando contornos especiais que lhe conferiram grande valorização. Consequentemente, o varejo, naturalmente detentor do ponto-devenda, passou a explorá-lo como uma forte moeda de troca. Nesse cenário, surge o conceito de Trade Marketing para satisfazer a necessidade de adequação da indústria à nova realidade. É definido por Alvarez (2008, p.73) como “o planejamento e controle das ações de venda e de mercado e dos benefícios oferecidos ao consumidor final (Marketing) por meio da verificação das relações de vendas estabelecidas com os varejistas (Trade)”. De forma a desenvolver e aplicar esse conceito, foi estudado, a partir do mercado europeu, um novo composto conhecido como Trade Marketing Mix. Ele amplia as variáveis do marketing mix na medida em que o varejista passa a ser visto como um 2 cliente a ser conquistado. Para fortalecer essa relação e estimular a exposição de seus produtos no ponto-de-venda, a indústria é desafiada a colocar em sintonia os setores de vendas e de comunicação. É nessa conquista por espaço no varejo que as variáveis “ponto-de-venda” e “promoção” do novo composto ampliam sua interação. Para tanto, o presente trabalho versa sobre o papel do novo conceito de Trade Marketing na relação entre a indústria (Calçados Azaléia S.A. pelas marcas Azaléia, Dijean e Funny) e o varejo (rede de lojas Di Santinni Calçados) através do estudo de uma ação cooperada realizada em 2007. Diante dessa “metamorfose” do mercado, o tema e os agentes deste estudo foram escolhidos, levando-se em conta a inegável importância do Brasil como pólo calçadista porque, além de ser o terceiro maior produtor do planeta, ele emprega, diretamente, em torno de um milhão de pessoas, segundo Klein (2008). E as empresas precisam assimilar essas novas relações para acompanhar as mudanças e se manterem no mercado. Para identificar e analisar o papel das ferramentas de Trade Marketing Mix presentes neste estudo, a problemática a que se responde, é como elas influenciaram a relação entre as empresas estudadas. O interesse pela presente pesquisa surgiu da observação da pesquisadora, que, elaborando projetos de material de ponto-de-venda, pode verificar, sob a óptica da indústria, a crescente importância dada à conquista de maior exposição no varejo, assim como a interrelação dos setores internos da empresa para realizar tais ações. Tal contexto suscita a pesquisa a fim de se conhecer como o Trade Marketing propõe respostas a essas mudanças e amplia o composto de marketing, visando ao fortalecimento da relação entre indústria e varejo. O estudo que se segue tem como objetivo principal descrever e analisar de que maneira o Trade Marketing contribuiu para o fortalecimento da relação entre as empresas estudadas. Além de identificar os setores envolvidos, pretende-se verificar se os objetivos propostos da ação foram atingidos e, ainda, identificar e analisar de que maneira as ferramentas do Trade Marketing Mix utilizadas atuaram no fortalecimento da relação entre as empresas estudadas. 3 2 O QUE É MARKETING Como este trabalho versa sobre um tema que amplia alguns conceitos do Marketing, é pertinente conceituar suas bases e princípios. A partir do estudo de autores como Kotler (2006), Megido (2002) e Gomes (2003), será revisitada essa história. 2.1 Origem O marketing surgiu para identificar novos mercados e demandas. Segundo Kotler (2006, p.4), “o marketing envolve a identificação e a satisfação das necessidades humanas e sociais”. Esse conceito é completado pela definição da American Marketing Association como “o processo de planejar e executar a concepção, a determinação do preço, a promoção e a distribuição de ideias, bens e serviços para criar trocas que satisfaçam metas individuais”. (American Marketing Association, 2004 apud KOTLER, 2006, p.4). Seu desenvolvimento foi fomentado pelas mudanças na fabricação de produtos, antes, artesanalmente, e, a partir da metade do século XIX e início do XX, industrialmente. Os produtos que tinham uma demanda maior do que a capacidade produtiva até então, começaram a sobrar, já que a revolução industrial massificou a produção. O seu conceito foi evoluindo à medida que o foco também foi mudando. A evolução dos mesmos, tratada por Brown (1997) na primeira edição da revista HSM Management, relata que, em 1954, Druker apresenta um conceito muito mais comercial, afirmando que o marketing é uma função dessa atividade. Já em 1960, Levitt reforça o aspecto comercial, mas introduz o desenvolvimento dessa atividade através da identificação das necessidades dos clientes. Ao longo das décadas, outros autores vão sugerindo conceitos e aplicações, variando entre limitações a ações no mercado, a ações sociais mais amplas e a superação de satisfação das expectativas dos consumidores. Para Kotler (2006, p.4), o marketing pode ser dividido sob as perspectivas social e gerencial. Pelo aspecto social, define como “um processo social pelo qual indivíduos e grupos obtêm o que necessitam e desejam por meio da criação, da oferta e da livre troca de produtos e serviços de valor com outros”. Já pelo apelo gerencial, o descreve como “a arte de vender produtos”. Druker (DRUKER, 1973 apud KOTLER, 2006, p.4) 4 atribui ao marketing a função de superficializar o esforço de venda, pois o marketing deverá conhecer o seu cliente tão profundamente que o produto/serviço oferecido será de tal forma adequado que se venderá sozinho. Podem-se, então, apontar os elementos-chave para a definição de marketing, quais sejam: necessidades, satisfação e consumidor. Sem a presença deles não há como praticar o marketing. Churchill (1994) acrescenta que marketing de sucesso é dirigido ao consumidor, pois identifica os desejos e necessidades do mesmo. De forma a responder às demandas de melhor estruturação nas empresas, surgiu a necessidade de aplicar esses fundamentos no mercado. Veja-se como o marketing passou da teoria à pratica, ao longo das décadas, ao mesmo tempo em que foi mudando o seu foco no mercado brasileiro. Antes mesmo das primeiras definições de marketing, ele já acontecia de forma totalmente voltada à produção, pois não dependia das necessidades dos clientes para definição e criação de produto, mas sim da otimização de um processo barato e com qualidade, pois, conforme Honorato (2004, p.12), as ações predominantes, naquela época, residiam na habilidade de fabricar produtos em grande quantidade para diluir os custos fixos, oferecendo produtos econômicos sem perder em qualidade. Naquele momento, portanto, o consumidor precisava adequar-se ao produto. Em meados dos anos 50, o marketing atuava nas empresas de forma inexpressiva, pois os produtos ainda estavam com produção inferior à demanda. Tal tipo de consumidor foi rotulado como “despretensioso” por Richers (2000, p.117), já que confiava no vendedor, não tinha experiência com produtos mais sofisticados e não tinha muitas marcas a sua disposição. Segundo Kotler (2006, p.13), os esforços de marketing estavam voltados para a produção, pois o que importava era ser eficiente, ter baixo custo e atingir as massas. Já na década de 60, vê-se o marketing orientado para as vendas. Os consumidores estavam suscetíveis as novidades. Denominado como “ávido” por Richers (2000, p.120), esse consumidor estaria à procura de qualidade de vida e status, realizando-se através do consumo. Não estava preocupado com o futuro, pois não lhe interessaria a poupança. O importante seria ter como pagar as prestações dos bens adquiridos. Como o consumidor estava aberto para aceitar seus produtos, as empresas colocavam seus próprios interesses, necessidades e expectativas acima das necessidades dos clientes. Honorato (2004, p.12) completa, dizendo que a relação 5 comercial se resumia à transação de venda, com entrega e cobrança do produto e serviço – nada mais. Os consumidores eram sensíveis às mensagens publicitárias, acreditavam no que elas diziam. Entrando na década de 70, depara-se com um consumidor com características mais analíticas, manifestando desconfiança e disciplina no ato da compra. Começa a planejar melhor os gastos e, segundo Richers (2000, p.120), organiza orçamentos familiares e pesquisa antes de efetuar a compra. Ao mesmo tempo, novas empresas começam a entrar no mercado, proporcionando mais opções de escolha. O consumidor começa a receber mais conteúdo publicitário e, embora sensível ao seu apelo, passa a vê-lo com consciência e desconfiança. Um consumidor atento aos seus direitos é que se encontra nos anos 80. Apresenta um perfil questionador, pesquisador, que procura por melhores preços e vantagens e escolhe as marcas mais baratas, segundo Richers (2000, p.123). Parte desse estilo questionador é decorrente da difusão dos direitos dos consumidores, que foi fomentada através da criação, em 1976, segundo a Fundação PROCON SP (2008), de um órgão público de defesa ao consumidor, o Grupo Executivo de Proteção ao Consumidor, popularmente chamado de PROCON. As movimentações da indústria começam a se voltar para o mercado, pois precisam satisfazer os seus consumidores e responder quando eles se sentem insatisfeitos. A década de 90 reflete a experiência conquistada ao longo dos anos. O consumidor está mais comedido, cauteloso, prevenido e cético, relata Richers (2000, p.125). Incorporou a busca por vantagens porque vê, na crescente quantidade de produtos ofertados, uma oportunidade para ganhar benefícios. Desconfia dos produtos, confere as informações que constam nos rótulos e é conquistado pelos pontos-devenda confiáveis. Valoriza o bom atendimento. Enquanto isso, a indústria, em processo crescente de orientação ao mercado, foca sua administração para o cliente, segundo Honorato (2004, p.12). Para ele, todas as ações das empresas devem ser trabalhadas de forma sinérgica entre os seus departamentos com o objetivo de gerar receitas lucrativas. O avanço tecnológico e o acesso à Internet estimularam grande parte dessa transformação. O mercado assumiu uma característica global, a concorrência foi ampliada, o consumidor começou a ter acesso a muito mais informação e conteúdo. Para Kotler (2006, p.10-13), vários fatores contribuíram para que o consumidor 6 passasse a exercer seu papel de forma mais consciente e ponderada. Estão entre eles o aumento do poder de compra e a maior variedade de bens e serviços disponíveis. A tecnologia propiciou a comparação de preços e verificação de atributos de forma muito mais ágil através da Internet, assim como a conferência de informações antes de efetuar a compra e o envio de opinião depois de adquirir o bem ou serviço. Outras mudanças foram ativadas por desregulamentações dos governos com o objetivo de aumentar a concorrência, a capacidade de customização de produtos e serviços, as privatizações para aumento de eficiência e, até mesmo, a convergência setorial que oferece mais oportunidades para as empresas expandirem seus negócios a áreas correlatas. O amadurecimento do mercado fez com que o varejo se transformasse. Antes era formado por pequenos varejistas. Agora, é organizado em grandes redes. Todos os pontos já mencionados afetam, cada um a sua maneira, essa transformação. Seguindo esse caminho, pode-se relacionar o aumento do poder do cliente, a ampliação da concorrência, a globalização e o amplo acesso à informação como principais motivadores. Os varejistas empreendedores, conforme Kotler (2006, p.13), estão oferecendo e vendendo experiências. O consumidor compra estilo de vida, status, sentimentos, e quem se apropriar desse conceito, estará preparado para o novo mercado. De maneira a acompanhar esse processo, que teve início na década de 50, e responder a toda essa movimentação, as empresas sentiram a necessidade de incorporar o marketing a seu quadro profissional. 2.2 O Marketing nas empresas Para seguir todas as mudanças observadas no comportamento dos consumidores através das décadas, as empresas começaram a sentir a necessidade de ter profissionais de marketing em suas equipes e foram adaptando-se, a partir das necessidades, ao propósito de identificar e responder às mudanças do mercado. Segundo Kotler (2006, p.8), o papel desses profissionais é “buscar influenciar o nível, a oportunidade e a composição da demanda para atender aos objetivos da organização”. Tais demandas, administradas pelos gerentes de marketing, podem ter oito possíveis estados a partir dos consumidores, os quais são assim definidos por Kotler (2006, p.8): 7 demanda negativa (evitam o produto); demanda inexistente (não conhecem ou não se interessam pelo produto); demanda latente (há necessidade, mas não há o produto para satisfazer); demanda em declínio (as compras do produto diminuem ou param); demanda irregular (os produtos são sazonais); demanda plena (a quantidade oferecida é comprada); demanda excessiva (maior procura do que produção) e demanda indesejada (desejam produtos com consequências sociais indesejadas). Ainda nesse universo, os mercados podem ser classificados em quatro grandes grupos conforme o consumidor pretendido. Kotler (2006, p.9) os define da seguinte maneira: Mercado consumidor: empresas que comercializam produtos e serviços de consumo em massa [...] Mercado organizacional: empresas que vendem bens e serviços para outras empresas [...] Mercado global: empresas que vendem seus produtos e bens no mercado global[...] Mercado sem fins lucrativos (terceiro setor e governamental): empresas que vendem seus produtos a organizações sem fins lucrativos[...] Para chegar ao mercado, a empresa adotará inúmeras estratégias, mas todas elas dependerão da definição da sua orientação para esse mercado. Kotler (2006, p.13) sugere 5 orientações – de produção, de produto, de vendas, de marketing e de marketing holístico. Para a primeira, de produção, o mais importante é ter um produto de custo baixo, que seja distribuído para as massas e que seu processo produtivo seja eficiente. Já aquela voltada ao produto foca seus esforços na qualificação, superioridade e inovação dos produtos oferecidos. Para a orientação de vendas, o tema não é adequar o produto/serviço ao que o mercado deseja, mas sim vender aquele de que se dispõe. Segundo Kotler (2006, p.13), isso pode ser perigoso, pois, nesse modelo, a empresa presume que o cliente irá gostar do produto e não espera o seu retorno negativo, caso ele não goste. Diferente da anterior, a orientação de marketing apresenta uma empresa voltada ao cliente. Neste modelo, conforme Kotler (2006, p.14), a empresa que melhor criar, entregar e comunicar o seu produto ao consumidor-alvo, atingirá os seus objetivos. A orientação de marketing holístico surgiu como fruto das mudanças do mercado, pois as empresas precisavam fazer mais do que o marketing tradicional. Nessa orientação, tudo é importante, segundo Kotler (2006, p.15), “o consumidor, os 8 funcionários, outras empresas e a concorrência, assim como a sociedade como um todo”. Para criar, planejar, executar e avaliar as atividades e efeitos, ele se vale de quatro elementos que o formam – marketing interno (voltado à contratação, treinamento e capacitação dos funcionários); marketing integrado (programas integrados para criar, comunicar e entregar valor aos consumidores); marketing de relacionamento (voltado para o desenvolvimento de relações duradouras e mutuamente satisfatórias com todos os envolvidos – clientes, fornecedores, distribuidores e outros) e marketing socialmente responsável (direcionado ao bem-estar das pessoas e às preocupações ambientais, éticas, legais e sociais das atividades de marketing). De forma a realizar o seu papel, relacionando-se com o mercado, o marketing oferece ferramentas de conceituação e atuação através de sistemas integrados. Os chamados “4 As”, referentes à Análise, Adaptação, Ativação e Avaliação, foram propostos por Raimar Richers com o objetivo de, segundo Cobra (1985), descrever o composto mercadológico e a interação da empresa com o meio ambiente, avaliando os resultados da relação entre a adoção do marketing e os objetivos da empresa, como será visto a seguir. Já o marketing mix, de acordo com Kotler (2006), foi proposto por E. Jerome McCarthy no início dos anos 50 e popularizado por Kotler entre os anos 60 e 70. Essas ferramentas são o próximo assunto. 2.3 Os 4 As Os 4 As são ferramentas voltadas ao planejamento da empresa, ao diagnóstico das ações realizadas, à atenção às oportunidades internas e externas e à definição de estratégias. Com esses instrumentos, são realizadas a análise, adaptação, ativação e avaliação da empresa no mercado em que atua, os 4 As. Segundo Cobra (1985, p.33), a fase de Análise é responsável pela identificação de forças no mercado e das suas relações com a empresa. Megido (2002, p.22) completa, dizendo que é nesta fase que as informações sobre o macro e microambiente são pesquisadas, além dos cenários econômicos, políticos, entre outros. Trata-se da análise PFOA, cujo objetivo é buscar informações das Potencialidades e Fraquezas da empresa e das Oportunidades e Ameaças do mercado. 9 Para a Adaptação, ficam as ações de organização dos dados reunidos na análise, além das formulações e reformulações das estratégias referentes a produto, preço, estruturas promocionais e canais de distribuição, relata Megido (2002, p.22). Já para Ativação, Cobra (1985, p.33) define como palavras-chave distribuição, logística, venda pessoal e composto de comunicação. Esses elementos darão conta da seleção dos canais, entrega e armazenagem, transferência de posse, publicidade, merchandising, entre outros. O último A refere-se à Avaliação. A ela compete verificar os resultados obtidos em relação aos esforços aplicados. Conforme Megido (2002, p.23), esta fase é muito importante, pois está ligada às adaptações que as empresas precisam fazer para se manterem no mercado. 2.4 Marketing Mix Se os 4 As são entendidos como ferramentas de análise, os 4 Ps são voltados ao planejamento tático. A aplicação dos conceitos se dará através das ferramentas chamadas de composto de marketing ou marketing mix. É através delas que o marketing atuará para criar, comunicar e entregar valor aos consumidores. Estas ferramentas são classificadas em quatro grupos – produto, preço, promoção e praça (ou ponto-de-venda). São os chamados 4 Ps. O primeiro é o P de Produto, que, no contexto do marketing mix, se refere aos bens tangíveis e intangíveis. Preocupa-se tanto com sua variedade, qualidade e características, quanto com embalagem, design e outros itens. É a identificação das necessidades do consumidor e a transformação em algo que possa ser oferecido para satisfazê-lo. Após definido o produto, parte-se para a determinação do preço, que deve refletir tanto aspectos internos, como custos de produção, quanto externos, como a percepção de valor para o consumidor. Avaliam-se os preços durante todo o processo até o preço para o consumidor final, analisando, também, as condições de pagamento, concessões de descontos, entre outros. Deve levar em conta os demais elementos do marketing mix, como o produto e a propaganda, pois a qualidade percebida do produto, a visibilidade e conhecimento deste pelo consumidor permitem, até, cobrar um preçoprêmio. 10 Com preço e produto alinhados, surge a vez do P de Ponto-de-venda. A ele cabe estabelecer o elo com o consumidor final. Ele está ligado ao último ponto do processo, o cliente final. Pois será no ponto-de-venda que os produtos e serviços estarão à disposição do consumidor. Para completar o composto, há o P de Promoção. Sua função é comunicar ao mercado a presença de determinada marca/produto/serviço de forma a persuadir os consumidores a manter a marca na lembrança e transformar essa lembrança em ação de compra. Diante do tema proposto para esta monografia, as ferramentas Ponto-de-venda e Promoção serão abordadas mais profundamente devido à mudança de comportamento entre indústria e varejo. 2.4.1 Ponto-de-venda Retomando a definição, o ponto-de-venda, ou “praça”, como é tratado por alguns autores, é o local onde produtos ou serviços são expostos para venda aos consumidores. De forma a abreviar a sua grafia, será tratado o ponto-de-venda como PDV no presente trabalho. É apresentado com destaque por Blessa (2003, p.16) quando enfatiza a importância do PDV ao declarar que ele “representa o momento e o lugar para onde convergem todos os elementos que compõem a venda: o produto, o consumidor e o dinheiro”. Recebeu pouca atenção por parte da indústria por muito tempo. Sua crescente importância é discutida por Rosenbloom (2002, p.23), que apresenta cinco tendências para as mudanças, quais sejam: 1. Maior dificuldade em conquistar uma vantagem competitiva sustentável. 2. Poder crescente dos distribuidores, especialmente varejistas, nos canais de marketing. 3. Necessidade de reduzir custos de distribuição. 4. Revalorização do crescimento. 5. Crescente papel de tecnologia. (2002, p.23) Está cada vez mais difícil conseguir diferenciais através de atributos de produto, preço e promoção. A paridade dos produtos e o nivelamento da qualidade estão dificultando a diferenciação através do produto e, quando isso ocorre, não é uma estratégia de longo prazo porque a tecnologia deixa a concorrência muito mais acirrada, auxiliando no acompanhamento dos processos dos concorrentes. Por preço é ainda 11 mais difícil porque a globalização trouxe concorrentes de todo o mundo para o mercado local. Por isso, se a estratégia for por preço, ela não se sustentará por muito tempo, pois de qualquer parte do mundo pode aparecer alguma empresa produzindo pelo mesmo preço ou ainda mais barato. Já o P de promoção também teve sua eficácia diluída pela grande quantidade de soluções, na área de publicidade, utilizadas pelas empresas. Como o consumidor é exposto a uma grande quantidade de mensagens publicitárias, é mais difícil atingi-lo. As soluções utilizadas para cada P (produto, preço e promoção) podem ser facilmente absorvidas pelos concorrentes em caráter de curto prazo. Por isso, existe a migração de atenção para o P do ponto-de-venda, cuja estratégia está baseada em relacionamentos e pessoas numa estrutura de longo prazo. Assim, o PDV é visto pela indústria como a grande oportunidade de exposição de produtos para os consumidores, como transferência do seu estoque (na quantidade de produtos que conserva em seu estabelecimento) e como potencializador de venda (na troca do dinheiro pelo bem adquirido). Enquanto o PDV pode ser considerado uma extensão da indústria na percepção do consumidor, pois é através dele que a indústria vende aos consumidores finais, indústria e PDV são, na verdade, empresas distintas. O PDV faz parte de uma ampla rede de distribuição. Tem um papel importante de exposição do produto, pois está localizado ao final dessa cadeia, tendo o contato direto com o consumidor final. Todas essas etapas acontecem nos bastidores porque, para o consumidor final, não importam os caminhos que os produtos percorrem, mas sim a conveniência de tê-los ao seu alcance. Para a indústria, entretanto, essa trajetória faz toda a diferença, pois, dependendo do tipo de produto e abordagem desejada, diferentes percursos devem ser escolhidos. Dessa maneira, cabe apresentar o conceito de canais de marketing ou de distribuição, que, segundo Coughlan (2002, p.20), são “um conjunto de organizações interdependentes envolvidas no processo de disponibilizar um produto ou serviço para uso ou consumo”, pois será através deles que os produtos chegarão ao ponto-devenda. É importante destacar que, no contexto do composto de marketing, o PDV é tido como uma variável controlável da indústria. 2.4.1.1 Canais de distribuição 12 Por canais de distribuição entende-se, conforme Megido (2002, p.55), organizações que disponibilizam os produtos dos fabricantes aos consumidores finais. É o último elo da cadeia, pois tem como responsabilidade a venda desses produtos. É importante retomar os elementos trazidos por Rosenbloom (2002, p.24) porque eles estão diretamente ligados às estratégias das escolhas dos canais e para entender o porquê de sua valorização frente à indústria. O crescente poder dos distribuidores se dá ao fato de muitos pequenos varejos estarem sucumbindo à formação de grandes redes, os chamados category killers, que nada mais são do que, segundo Rosenbloom (2002, p.25), “megalojas especializadas em determinadas categorias de produtos altamente competitivas”. Esses varejistas detêm grande parte do mercado e consequentemente controlam o acesso a ele. Por isso, eles atuam muito mais a favor do consumidor sob o ponto de vista da indústria, pois estão cada vez mais rigorosos no pedido de benefícios e descontos quando compram. Outro ponto importante é a maturidade de alguns mercados, onde não há possibilidade de crescimento senão conquistando uma fatia do mercado dos seus concorrentes. E, nesse caso, a relação com o varejo é de extrema importância porque estar mais exposto do que o seu concorrente nas prateleiras do PDV já lhe confere a possibilidade de maior disponibilidade e chances de ter o seu produto escolhido pelo consumidor final. Como se pode observar, os varejistas têm todo o poder sobre os consumidores finais, pois serão os seus argumentos, as suas impressões e as suas habilidades que terão grande impacto sobre o consumidor final. Porque o papel dos canais está diretamente ligado à venda de produtos através de uma estrutura montada para isso e não ao manuseio ou financiamento, como relata Megido (2002, p.55), visto que essas funções estão relacionadas aos chamados facilitadores, como transportadores e bancos. Sem dúvida, quando uma empresa organiza o seu canal de distribuição, ela espera garantir a presença do seu produto nos pontos nos quais os seus clientes irão consumi-lo, assim como uma boa posição nesses estabelecimentos para ficar ainda mais ao alcance dos consumidores. Além disso, observam-se as possibilidades de retorno do meio, como troca de informações para melhorar os serviços e produtos oferecidos. Para Rosenbloom (2002, p.31), estratégia de canal e gestão logística são essenciais para o quarto P do marketing mix, o ponto-de-venda. As decisões para 13 utilizar ou não empresas intermediárias poderão levar em conta a especialização e divisão do trabalho, quando cada um desempenha um papel específico e qualificado, aumentando a eficiência da distribuição, ou a eficiência contatual, que se refere à quantidade necessária de contatos para se atingir o elo final da cadeia, o varejista. Nesse meio, encontram-se os intermediários, que são empresas autônomas, cuja posição está relacionada ao auxílio na distribuição de bens manufaturados. Eles podem ser atacadistas ou varejistas. Aos atacadistas reserva-se a função de revenda, pois eles compram da indústria em maior quantidade para negociar prazos e preços e revendem aos varejistas de pequeno porte, que não teriam esse poder de negociação. Ao varejo é destinada a função de venda para o consumidor final. Ele se destaca por oferecer um grande mix de opções para esses consumidores, já que oferece diversas marcas de produtos da mesma categoria, visando a satisfazer e atender às necessidades de seus clientes finais. Se, por um lado, se podem classificar os canais por sua função, também é possível organizá-los quanto a sua distribuição. Nesse formato, classificam-se os canais em três grupos: verticais, híbridos e múltiplos. Os canais verticais são definidos por sua forma linear de repasse do produto, pois ele é transferido de um intermediário ao outro até chegar ao consumidor. Essa atividade gera algumas desvantagens, pois gera estoque em cada fase por não se conhecerem claramente as demandas. Para ser mais eficaz, a tecnologia está participando como aliada, visto que as empresas começaram a adotar processos de automatização de informações entre os intermediários. Dessa maneira, quando uma necessidade é detectada, os intermediários que compartilham dessas informações, já são acionados. Esse processo pode ser mais curto, quando se trata de empresas com lojas virtuais ou call centers, conforme referenda Arbache (2007, p.119). Nesses casos, os custos intermediários são cortados, possibilitando maior agilidade e preços mais baixos. Já nos canais híbridos, os processos são partilhados paralelamente. Os processos de venda e distribuição são acionados distintamente. São utilizados em casos cuja venda é mais técnica, mais complexa, e em que a distribuição possa ser terceirizada. Como ponto alto dessa escolha, Arbache (2007, p.122) destaca o contato direto com o consumidor final, possibilitando oportunidades de feedback direto e qualificado com o público-alvo. 14 Para os canais múltiplos as possibilidades de distribuição são numerosas. A pauta é diversificar os formatos de distribuição de acordo com cada tipo de consumidor. Dessa forma, os clientes são impactados de forma diferente, estejam eles on-line, nos grandes centros ou não. O ponto negativo que Arbache (2007, p.124) relaciona, é a possível concorrência entre os canais, que podem atuar de forma autofágica, inviabilizando um deles. Completando as classificações dos canais, é possível dividi-los conforme sua extensão e amplitude. Para Novaes (NOVAES, 2001 apud ARBACHE, 2007, p.125), essa distribuição se refere “à quantidade de intermediários existentes na cadeia de suprimentos”. Isso significa que, a cada novo intermediário, a quantidade de níveis aumenta. Já a amplitude, que é definida a cada segmento intermediário, se refere à quantidade de empresas que atuam no mesmo segmento e mesmo nível. Novaes (NOVAES, 2001 apud ARBACHE, 2007, p.125) define as distribuições como: distribuição exclusiva, distribuição seletiva e distribuição intensiva. Elas ocorrem nos seguintes cenários: • Distribuição Exclusiva: atribui-se ao canal que vende somente determinado produto ou marca, como é o caso de produtos de alta tecnologia cujos vendedores precisam ser capacitados para auxiliar a venda, ou em espaços cuja marca é única, como numa franquia. Essas empresas detêm a exclusividade dentro de determinada região. • Distribuição Seletiva: ocorre quando mais de uma empresa oferece o serviço, proporcionando mais oportunidades de contato com consumidores. Também está relacionada a produtos que precisam de vendedores treinados. • Distribuição Intensiva: visa a distribuir os produtos no maior número possível de pontos. É utilizada para produtos de baixo custo, cuja venda não está ligada diretamente à marca, pois pode ser facilmente substituída por outra. O modelo é utilizado quando a venda está relacionada à disponibilidade e presença no PDV, pois a não-presença na gôndola faz com que o cliente opte por outra marca similar. 2.4.2 Promoção 15 Este composto está relacionado às formas de comunicar-se com o mercado a fim de informar, persuadir e lembrar os consumidores de sua marca e produto, além de, segundo Santos (2005, p.55), “propiciar o encontro entre a organização e seus públicos”, o que envolve não somente os consumidores, mas todos os públicos com quem se envolve, como funcionários, fornecedores, imprensa e comunidade. As ferramentas da promoção são organizadas através do composto de comunicação. Como este composto é apresentado com algumas variações devido a diferentes interpretações dos conceitos de propaganda e publicidade, é necessário dirimir as diferenças antes de apresentar as ferramentas do composto. Enquanto, para Kotler (2006), a propaganda é orientada para as vendas, para Sant’Anna (1998, p.47), ela não visa a fins comerciais. Para explicar a distinção entre publicidade e propaganda, Sant’Anna (1998, p.47) completa: A publicidade suscita necessidades ou preferências visando a determinado produto particular, enquanto que a propaganda sugere ou impõe crenças e reflexos que amiúde modificam o comportamento, o psiquismo e mesmo as convicções religiosas ou filosóficas. As ferramentas do composto de comunicação são assim definidas: Publicidade, Relações Públicas, Venda Pessoal, Promoção de Vendas, Eventos e Merchandising. Alvarez (2008, p.18) reforça essas atividades como fortes influenciadores do processo decisório de compras dos varejistas. Cada um dos elementos do composto de comunicação apresenta características diferentes para solucionar problemas distintos. Eles serão apresentados de forma mais detalhada a seguir. 2.4.2.1 Publicidade A publicidade é, segundo Santos (2005, p.59), “toda comunicação paga, não pessoal, veiculada em meios de comunicação de massa, visando à divulgação de produtos (bens, serviços e ideias)”. Portanto, seu emissor é identificado, embora o seu objetivo imediato não seja a venda, mas sim criar uma predisposição favorável nas pessoas em relação à marca anunciante. O seu escopo é flexível, afirma Santos (2005, p.60), pois se pode atingir a massa ou destacar por faixa etária, classe social, região. Já o conteúdo apresentado pela 16 publicidade é uniforme. O que difere é a percepção de cada receptor, pois vários fatores irão influenciar no momento da recepção da informação, seja o nível de atenção, o conhecimento e interesse sobre o assunto, entre outros. As informações em relação ao retorno, embora não ofereçam respostas precisas, conforme Santos (2005, p.61), podem ser obtidas através de pesquisas com consumidores e acompanhamento dos resultados de vendas. Em relação ao custo, oferece um preço baixo por contato, mas – como lida com meios de comunicação em massa – tem um custo total alto. 2.4.2.2 Relações públicas O papel das relações públicas é informar os diversos públicos da empresa através de espaços cedidos nos veículos de comunicação. Para Kotler (2006, p.593), cabe ao profissional de relações públicas executar as seguintes funções: 1. Relações com a imprensa: apresentam notícias e informações sobre a organização com o melhor enfoque possível. 2. Publicidade de produto: conjuga esforços para divulgar produtos específicos. 3. Comunicação corporativa: mediante comunicações internas e externas, faz com que a empresa seja mais bem compreendida pelos diversos públicos. 4. Lobby: negocia com legisladores e autoridades governamentais a promoção ou a alteração de legislação e de regulamentações. 5. Aconselhamento: orienta a administração quanto a problemas públicos e quanto às posições e à imagem da empresa nos bons e nos maus momentos. Através das atividades de RP, busca-se difundir informações favoráveis sobre a empresa, despertar o interesse do público-alvo para determinado produto ou serviço e influenciar o comportamento positivo quanto à empresa. Dentre os instrumentos que se destacam para levar a cabo essas tarefas, está o de assessoria de imprensa. Sua principal função é divulgar informações da empresa ou organização de forma relevante para a imprensa para que possam gerar notícias. Suas atividades são sugestões de pautas para os jornalistas através de envio de releases, organização de encontros de seus clientes com a imprensa, a produção de press-kit com releases, produtos, fotos e/ou brindes que são distribuídos em coletivas. 2.4.2.3 Venda pessoal 17 Diferente da publicidade, a venda pessoal, como o próprio nome sugere, é uma comunicação pessoal, pois nela o contato é direto com o cliente. Quanto ao escopo, a venda é restrita, afirma Santos (2005, p.66), pois a comunicação se dá de forma direta e pessoal, elevando, assim, o custo por contato. O conteúdo da mensagem nunca será o mesmo, pois as situações serão diferentes com cada cliente. Como o contato do vendedor é direto com o cliente, o retorno sobre as ações é geralmente imediato. 2.4.2.4 Eventos Ao realizar eventos, as empresas querem que o seu público vivencie a marca, que a experiência seja positiva e que todos esses sentimentos sejam transferidos para o conhecimento e entendimento da marca. Para Kotler (2006, p.590), os eventos conquistam e ampliam o relacionamento com o público-alvo ao se tornarem momentos especiais e importantes na vida do mesmo. 2.4.2.5 Promoção de vendas A promoção de vendas é caracterizada pelo estímulo à compra. Ela oferece incentivos, geralmente de curto prazo, para estimular a compra mais rápida ou em maior quantidade, segundo Kotler (2006, p.583). Algumas ações podem ter uma maior duração, servindo, conforme Costa (1996, p.58), para fortalecer a imagem do produto e aumentar a participação de mercado. Além de estimular a venda, Zenone (2005, p.70) sugere que a promoção de vendas pode provocar o aumento de visitas aos pontos-de-venda, criar adesão de novos clientes, impedir ações da concorrência e qualificar a força de vendas. Ações promocionais podem ter focos diferentes, como produto, marca ou imagem da empresa. Essas ações visam à venda propriamente dita, ao posicionamento e à lembrança da marca e à valorização da reputação da empresa respectivamente. Por observar funções e interesses diferentes entre os seus públicos, a promoção de vendas atende cada um de forma distinta. Essas ações podem ser voltadas para o público interno, intermediário e final. Para o presente trabalho é relevante apresentar somente as ações destinadas aos dois últimos públicos mencionados. 18 2.4.2.5.1 Ações dirigidas ao público intermediário Por público intermediário entende-se pessoa física ou jurídica que compra e vende bens. Para Pancrazio (2000, p.59), este público está situado entre o produtor de bens e serviços e o comprador final. Os objetivos das ações dirigidas a este público são incitá-lo a comprar e contribuir para as suas vendas ao comprador final. É importante, para muni-lo de informações sobre os produtos e serviços da empresa, que ele possa ter um maior conhecimento, quando estiver frente a frente com o consumidor. As ações de desconto, ampliação de prazo de pagamento e bonificação em produtos e serviços estão relacionadas a determinados fatos mercadológicos e fases do produto, como lançamento, relançamento, estoque excessivo, sucesso da concorrência e declínio do produto. A este público também podem ser oferecidos os seguintes benefícios, além dos supracitados: a) Materiais de PDV: materiais para destacar produtos, serviços ou promoções. Este assunto será abordado no item 2.4.2.6.1 deste trabalho. b) Promotores: são profissionais contratados em caráter temporário ou permanente cuja função primordial é expor melhor o produto, destacando-o dos outros. Podem também, segundo Pancrazio (2000, p.86), substituir produtos com problemas, montar vitrines, instalar os materiais de PDV, distribuir amostras, entre outros. c) Concursos: realizam-se para premiar o revendedor em relação ao volume de compras que ele fez ou podem estar relacionados à qualidade do nível de atendimento ao consumidor final. d) Sorteios: sorteios de prêmios através de distribuição de cupons a partir da compra de produtos de determinado valor ou superior. e) Feiras: eventos nos quais inúmeras empresas do mesmo segmento apresentam, em estandes distintos, o que há de novidade e o que podem oferecer ao intermediário. O intermediário vai até o produtor. f) Campanhas de comunicação: as empresas precisam informar seus revendedores sobre campanhas de comunicação planejadas para que estes se preparem adequadamente para a demanda, seja comprando mais produtos, seja 19 realçando os produtos da campanha. Eles precisam ser informados sobre detalhes e a linguagem utilizada. g) Brindes: são objetos de valor baixo para poderem ser distribuídos em grandes quantidades. Serve para reforçar a lembrança da marca. Ainda no público intermediário, podem ser utilizadas promoções direcionadas aos balconistas e vendedores do intermediário. Eles são as pessoas mais próximas do consumidor final, podendo exercer uma função determinante na escolha da compra desses consumidores. Para eles cabem as seguintes ações promocionais: a) Concursos: podem ser quantitativos – relacionados a metas de vendas que devem ser cumpridas e o melhor ou melhores são premiados, ou qualitativos – que demandam conhecimento do produto ou serviço do produtor ao responder a perguntas e os melhores ganham prêmios. Para Pancrazio (2000, p.98), os concursos quantitativos estão relacionados ao ato de venda, ou seja, ao volume de vendas, já os qualitativos se referem ao ato da compra e dizem respeito à qualidade da informação passada ao consumidor final para que este possa fazer uma compra consciente. b) Sorteios: sorteios de prêmios através de distribuição de cupons numerados ou cartelas tipo raspe-ganhe. Não é necessário grande envolvimento para participar. c) Comprador misterioso: pessoa que visita os pontos-de-venda para fingir que é um cliente real indeciso quanto à escolha. Se o vendedor oferece a marca patrocinadora, ele ganha um prêmio naquele momento. d) Treinamento: munir o balconista e o vendedor de informações sobre o produto, especificações técnicas, matérias-primas, processos de produção, diferenciais, limitações, enfim, tudo que possa ajudá-lo na argumentação de venda e posicionamento de marcas quanto à adequação do perfil da marca e ao consumidor-alvo. Assim, suas sugestões serão pertinentes. e) Relações públicas: visa a construir uma relação mais próxima e gerar sentimentos positivos quanto à imagem da empresa. São ações de envio de cartões, mensagens ou presentes em datas comemorativas, como aniversário e promoção de cargos. 20 2.4.2.5.2 Ações dirigidas ao público final Como público final considera-se, segundo Pancrazio (2000, p.61), ”toda pessoa física ou jurídica que compra ou decide a compra de um bem”. Pode ser o consumidor final que efetivamente compra para sua utilização ou de sua família ou, ainda, o comprador institucional cuja compra é para consumo de sua empresa. Nesta monografia, é relevante apresentar somente o consumidor final cuja compra é para si mesmo ou aquele que compra para presentear, pois o estudo de caso trata de uma indústria de bens de consumo para consumidores finais pessoas físicas. As ações podem ser classificadas da seguinte maneira: a) Descontos: têm característica de ação rápida, quando se quer acelerar o giro do produto. Podem ser oferecidos descontos diretos, como concessão de descontos no valor do produto adquirido, ou indiretos, quando são oferecidas unidades a mais, como “leve 2 pague 1” ou maior quantidade, por exemplo, leve 500g pelo preço de 300g. b) Amostragem: consiste na distribuição do produto, normalmente em quantidade menor do que o comercializado, para que o consumidor tenha a oportunidade de conhecê-lo. Pode ser utilizado como teste de aceitação dos atributos, segundo Pancrazio(2000, p.107), e pode ser utilizado para lançamento ou reposicionamento do mesmo. Os produtos são enviados aos consumidores através de malas-diretas, encartados em jornais ou revistas, podem ser entregues diretamente nas casas ou nas lojas ou, ainda, vir acompanhado de outros produtos de maior prestígio. Conforme o tipo de produto, ainda pode ser oferecido para degustação ou ser apresentada a sua forma de utilização. c) Brindes: neste caso, eles atuam um pouco diferente do tratado anteriormente neste trabalho, já que podem ser vinculados ao produto da empresa. Eles podem ser associados à compra de algum bem ou serviço no estilo “comprou-levou” ou podem estimular a fidelização ao produto, como brindes colecionáveis ou “junte códigos de barra e troque”. d) Sorteio: amplia o que foi visto anteriormente, pois se associa à compra de produto ou serviço. A promoção ocorre de duas formas: vale-brindes dentro da embalagem – achou-ganhou – ou através de cupons numerados que 21 permitirão o sorteio pela Loteria Federal ou realizado pela própria empresa com a presença de auditoria. e) Concurso: este tipo de promoção propõe um maior envolvimento por parte do participante. Ele se torna agente ativo no processo, pois precisa criar algo para concorrer ao prêmio. Pode ser uma frase sobre o produto, um atributo que se queira destacar e reforçar para o público ou ainda através de perguntas e respostas para que o cliente conheça mais sobre sua empresa/produto. f) Materiais de PDV: conforme já mencionado, este assunto será abordado no item 2.4.2.6.1 deste trabalho. g) Mala-direta: é um material que será enviado aos consumidores público-alvo para estimular sua visita ao PDV, seja pelo lançamento de produto, alteração no produto ou ainda divulgação de promoção. 2.4.2.6 Merchandising O termo merchandising pode ter várias definições e, por isso, é o termo mais enigmático do marketing, segundo Ferraciu (FERRACIU, 1997 apud PANCRAZIO, 2000, p.28). Neste estudo, é utilizado o conceito de merchandising comercial, ou só merchandising, que está relacionado ao PDV e que é definido por Blessa (2003, p.23) como o “conjunto de técnicas responsáveis pela informação e apresentação destacada de produtos na loja de maneira tal que acelere sua rotatividade”. Esse tipo de merchandising chegou ao Brasil em 1964 (SILVA, 1995 apud SOUZA, 2005, p.9), através de profissionais da Unilever que fizeram curso na Inglaterra para aplicar as técnicas no mercado brasileiro. Eles realizaram cursos para vendedores a fim de difundir as novas técnicas. Para Zenone (2005, p.124), o fator mais relevante do merchandising está relacionado ao controle que tem sobre ferramentas promocionais e materiais de PDV no último estágio da comunicação mercadológica, pois irá influenciar e atingir o consumidor no momento da compra. Para conhecer melhor esses materiais de PDV, será feita uma explanação sobre eles a seguir. 22 2.4.2.6.1 Materiais de ponto-de-venda (MPDV) São todos os tipos de materiais impressos, displays e sinalizadores que têm como objetivo, segundo Blessa (2003, p.107), informar, relembrar, persuadir, indicar posição, expor e vender. O MPDV é geralmente produzido pela indústria para que seus produtos recebam destaque no PDV, ajudando, também, no posicionamento e exposição dos mesmos. Atua como reforço de campanhas já vistas pelo consumidor fora do ambiente da loja. Os MPDVs podem ser classificados conforme o tempo de permanência no PDV. Serão considerados permanentes, quando forem elaborados sob medida para ocupar um espaço da loja ou criar espaços novos. Eles permanecem na loja, pelo menos, por um ano. São feitos de materiais resistentes, como MDF, acrílico, vidro, aço, entre outros. Já os materiais semipermanentes ficam em torno de 6 meses nas lojas. São utilizados para materiais de campanhas, que são mais longas do que promoções. Blessa (2003) reforça, dizendo que estes materiais têm características de temporários, mas que são utilizados por mais do que algumas semanas. Para completar, há os temporários, cuja exposição se dá por um curto período de tempo, já que sua utilização se dá para apoiar promoções e/ou campanhas curtas. São produzidos com matéria-prima mais simples, como papelão e plástico. Os materiais podem ser classificados de acordo com seus formatos e funções, conforme será visto a seguir: a) Adesivo de vitrine: material flexível autocolante que adere ao vidro; b) Banner: sinalizador que pode ser produzido em papel, plástico, tecido ou lona em diversos formatos. Pode vir com adesivos para ser colado ou com perfil de metal ou madeira para ser pendurado; c) Display: material que pode ser confeccionado em papel, pvc, acrílico, entre outros, cuja função é destacar o produto no PDV. Este material chama a atenção do consumidor, promovendo, expondo e ajudando a vender o produto ali colocado; d) Expositor: também conhecido como dispenser, é geralmente produzido com ferro e aço para expor os produtos em grande quantidade para a venda; 23 e) Faixa de gôndola (régua de gôndola): sinaliza a parte frontal das prateleiras, delimitando espaços e chamando a atenção para os produtos sobre ela. Pode ser usada também sobre pegboards; f) Fundo de pegboards: material, geralmente em PS ou papel, que serve para delimitar um espaço e decorar o slatwall em que o pegboard está colocado; g) Fundo de slatwall: material geralmente adesivo para decorar o slatwall; h) Ilha: mobiliário para exposição de produto com acesso de todos os lados; i) Móbile: peça aérea cuja sustentação é dada por fios presos ao teto; j) Pegboard: bandejas de acrílico, pvc, metal ou outro material cuja função é sustentar o produto exposto. Esta bandeja é fixada nas canaletas do slatwall; k) Shoepad: termo inglês utilizado no mercado calçadista para display que expõe um pé do calçado. Pode ser feito em papel, pvc, acrílico, entre outros. l) Sinalizador: peça utilizada para acompanhar o produto na vitrine informando a qual marca ele pertence. m) Slatwall: ou parede canaletada, é um espaço na parede com fendas horizontais para a colocação de pegboards; n) Stopper e wobbler: sinalizadores que ficam presos na gôndola de forma perpendicular. Os modelos wobbler ficam presos através de uma lingueta, destacando ainda mais a peça. o) Testeira: peça utilizada na parte superior de expositores, displays ou paredes canaletadas. Identifica e demarca o espaço da marca. p) Totem: peça vertical para exposição de produtos em pequenos espaços. 24 3 TRADE MARKETING Até aqui se observou o amadurecimento do mercado, as transformações no comportamento dos consumidores, o avanço da tecnologia, a Internet, o surgimento de mercados globais e o fortalecimento do varejo através das formações de grandes redes. Essas movimentações se ampliaram, desde a década de 90, com a fragmentação da mídia, a especialização e aumento do poder do varejo, um consumidor cada vez mais difícil de ser conquistado e a ampliação do portfólio de produtos disponíveis. Assim como atingir o consumidor final ficou ainda mais difícil, dada a segmentação das mídias, estar presente nas prateleiras do varejo foi dificultado a partir do aumento de produtos e marcas disponíveis no mercado. Percebendo-se a redução da eficiência das ações de marketing aplicadas neste novo cenário e de forma a atender a esta nova demanda, surge um novo conceito, o Trade Marketing. Este novo termo sugere, já em seu nome, o marketing voltado ao varejo. De acordo com Arbache (2007, p.136), “é uma ciência que investiga e discute o desenvolvimento das relações entre fabricantes e canais de venda, pelo entendimento da relação entre marcas, pontos-de-venda e consumidores”, agentes principais neste novo contexto. Alvarez (2008) deixa claro que o Trade Marketing não se propõe a ser apenas tático, mas também a atuar de forma estratégica, quando diz: Trade Marketing não é apenas uma ferramenta de promoção de ações de marketing no ponto-de-venda, mas sim uma estratégia de negociação das empresas de produtos de consumo que deve estar inserida na estratégia de marketing em geral e, particularmente, nas estratégias de conquista do consumidor final. As contribuições estratégicas do Trade Marketing vão desde a participação nas decisões e orientações da empresa, segundo Gouveia1 (2006, p.6), passando pelas definições de objetivos nos clientes adequados às necessidades traçadas na empresa, pelo entendimento do comportamento do consumidor, pelo canal de distribuição e indo até a mensuração e controle dos resultados alcançados. O conceito de Trade Marketing deve evoluir para uma visão de negócios que apóia e orienta marketing e vendas, proporcionando um melhor resultado e ficando 1 Rafael C. Gouveia é Trade Marketing Manager da Arno. O conteúdo retirado de apostila do Seminário Executivo organizado por Internacional Business Communications, realizado em fevereiro de 2006. 25 cada vez mais independente nas negociações com o varejo. Esse processo se dá em cinco fases complementares: fase de vendas, de marketing, de cliente, do resultado financeiro e de desenvolvimento de negócios. Na fase de vendas, as ações são voltadas a atender às necessidades dos clientes e do setor de vendas. Atuam principalmente com ações de merchandising e valorização do cliente, segundo Alvarez (2008, p.82). Nesta fase, as atividades são de curto prazo e não há verba própria. A fase de marketing foca suas ações de merchandising e ações promocionais para conquistar espaço no varejo e tornar os seus produtos conhecidos. Atua, com orçamento oriundo dos setores de marketing e vendas, no curto e longo prazo. A terceira é a fase de cliente, que apóia tanto marketing quanto vendas, organizando ações com os clientes para gerar benefícios mútuos e melhoria no giro de produtos. O resultado financeiro é a quarta fase. Seu objetivo, conforme Alvarez (2008, p.83), é otimizar os processos de exposição de produtos e as motivações de compra. Controla a rentabilidade das ações. Já a última fase é referente ao desenvolvimento de negócios. Ela atua no longo prazo, buscando informações sobre o comportamento do consumidor e posicionamento de seu público-alvo através de observações e interações no ponto-de-venda. Aponta oportunidades e estratégias por canal e cliente, fortalecendo a equipe de vendas para negociar com os clientes. O diferencial apresentado por este novo conceito é o foco nos canais e clientes varejistas. Como se pode observar, isso ocorre através de ações de Trade Marketing, sugeridas por Palomo2 (2006, p.24), quais sejam: plano de ação anual, calendário promocional, ações de oportunidade por categoria e cliente, foco na venda do cliente para o consumidor, gerenciamento de verbas por canal, treinamento dedicado. Gouveia (2006, p.4) destaca as principais necessidades que estimulam a aplicação do Trade Marketing: giro de estoque, aumento das vendas, gerenciamento por categoria, aumento de exposição no PDV, melhora no relacionamento entre indústria e varejo, combate aos avanços da concorrência e melhor retorno sobre investimento. 2 Atus Palomo é gerente geral de Trade Marketing da Multibras Eletrodomésticos. O conteúdo foi retirado de apostila do Seminário Executivo organizado por Internacional Business Communications, realizado em fevereiro de 2006. 26 Vale salientar que o Trade Marketing atua como potencializador do marketing, não o substituindo. Eles se completam, pois focam seus esforços em públicos diferentes, clientes e consumidores finais respectivamente. Assim como o marketing, o Trade Marketing tem as suas ferramentas de trabalho e, nesse caso, o composto chama-se Trade Marketing Mix. Com o objetivo de conquista de presença e espaço no PDV, ganho de visibilidade junto ao seu público final, amadurecimento de relacionamento indústria-varejo e maior rentabilidade nas negociações, o planejamento estratégico e tático é elaborado através das ferramentas que serão vistas a seguir. Em alguns momentos deste trabalho, o termo Trade Marketing será referido através da utilização da abreviação TM. 3.1 Trade Marketing Mix As ferramentas do Trade Marketing Mix são utilizadas para conquistar os varejistas, criando e fortalecendo um relacionamento de longo prazo no qual ambos, indústria e varejo, sejam beneficiados. O Trade Marketing Mix é composto por: Marketing e mix de produtos – com esta ferramenta o TM atua como observador dos seus produtos e o dos concorrentes sob a mesma perspectiva do consumidor no PDV. Dessa maneira, pode opinar sobre estratégias próprias e dos concorrentes, orientando sobre novos produtos, correta distribuição de produtos por perfil do cliente, avaliação do comportamento do consumidor e controle das ações no PDV de acordo com o posicionamento estabelecido pelo marketing. A experiência no PDV pode proporcionar a adaptação de embalagens, tamanhos, quantidade e formatos de produtos conforme o perfil do varejo e do cliente. Assim o produto se adaptará à necessidade de cada perfil, se posicionando de forma diferente para cada cliente. Preços – a partir do preço para o consumidor final, avaliar-se-á a competitividade dos produtos e a estratégia de posicionamento. Varejos diferentes, regiões diferentes e necessidades diferentes podem fazer variar o preço. Se o varejista tiver centro de distribuição único para uma rede, ele arcará com o envio para as suas filiais. Dessa forma, o preço deve ser diferente para aqueles que necessitam da entrega em todas as suas lojas. Segundo Alvarez (2008, p.87), neste novo composto, o item preço deve ser menos relevante, pois as negociações devem ser fundamentadas na rentabilidade do 27 cliente. Motta (2007, p.26) reforça a negociação conforme o canal, pois cada canal aplicará preços diferentes para seus consumidores “de acordo com a estrutura de custos e os serviços oferecidos”. Cada canal tem o seu mark up (margem de lucro) específico e a indústria precisa acompanhar esses movimentos para que o seu produto chegue ao consumidor final com o preço adequado. Vendas e canais – a ferramenta que se refere ao apoio e orientação à equipe de vendas da indústria para focar, durante a compra pelo varejista, na venda ao cliente final. Segundo Alvarez (2008, p.92), a orientação de oferecer oportunidades de “comprar o que se vende” é chamada de selling out, assim como apoiar a equipe de vendas através de projetos de ações promocionais de acordo com o porte do canal de venda, criando, assim, um relacionamento de longo prazo entre a indústria e o canal de venda. A indústria, cada vez mais, precisa munir os seus clientes, os varejistas, de informações sobre os seus produtos, pois precisará deles como aliados no momento em que o consumidor estiver fazendo a sua escolha. Aqueles vendedores que tiverem as informações e deixarem os consumidores com a certeza da escolha consciente e acertada, atenderão com mais qualidade, conquistando, assim, os consumidores. Serviços e logística – ferramenta que consiste na preocupação com o abastecimento e giro de produtos do varejista. Faz com que se fique atento para que os produtos ofertados em campanhas promocionais estejam em estoque, assim como os materiais de PDV estejam distribuídos a tempo para acompanhar a estratégia de comunicação e as campanhas que, eventualmente, podem estar em outras mídias. Tem também como finalidade organizar treinamentos para a equipe do varejista para a capacitação sobre características dos produtos, posicionamento do produto ou marca, entre outros. Propaganda, promoção e merchandising – esta é a atividade mais visível do Trade Marketing. Com o objetivo de influenciar as vendas e o relacionamento com o varejista, estas ações devem ser estruturadas e planejadas, observando-se as suas implicações nos resultados financeiros e de marca a que o investimento se propôs, além de, segundo Alvarez (2008, p.95), garantir a presença e visibilidade no PDV; validar as estratégias de posicionamento da marca e do produto; dar apoio à equipe de vendas e às negociações com os clientes e dar apoio a situações emergenciais de vendas. 28 Algumas estratégias promocionais, enunciadas por Rosenbloom (2002, p.300), têm, em seus apelos, uma abordagem dicotômica. São as estratégias de puxar e empurrar. Na primeira, a indústria, através de mídia impressa, televisiva, entre outros, despertava o desejo no consumidor e este forçava o canal a comprar o produto para satisfazer o seu desejo. Já a segunda, surgiu em decorrência das mudanças no mercado e do fortalecimento do varejo, fazendo a indústria organizar, junto ao varejista, ações cooperadas nas quais ambos tenham benefícios. Resultados e rentabilidade – embora haja dificuldade em medir os resultados, ora por ter atividades compartilhadas com outros setores, ora por se tratar de ações ligadas a fatores subjetivos, o Trade Marketing não pode esquivar-se dessa tarefa. Para facilitar essa mensuração, os objetivos devem ser claros desde a concepção do projeto. Alvarez (2008, p.96) destaca que as atividades do Trade Marketing devem ser mensuradas através da verificação da realização das atividades e da certificação de que os objetivos foram atingidos. As variáveis controláveis do Trade Marketing Mix, cujo gerenciamento é feito pela própria empresa sem sofrer interferências externas, ou seja, faz parte do seu microambiente, são: mix de produtos, força de vendas, preços, ponto-de-venda (no sentido de forma de apresentação dos produtos), nível de atendimento e serviço e promoção. Nesta pesquisa, a autora atém-se mais a alguns elementos específicos, como o mix de produtos, a adequação da correta oferta a determinados consumidores, tendo em vista os públicos-alvo de cada marca. Já com referência aos preços, apresentam-se argumentos que representam valor agregado do produto. Em relação ao tema ponto-de-venda, é avaliada a forma de apresentação dos produtos, a disposição de material de PDV, assim como é oferecido um treinamento da equipe do varejista para aumentar o nível de atendimento e serviço, como também há a realização de promoção voltada à equipe do varejista. 3.2 O Trade Marketing nas empresas A presença ainda é acanhada, pois não há a cultura de se terem setores de Trade Marketing. O papel, muitas vezes, é dividido entre os setores de vendas e de marketing/comunicação, que atuam de forma conjunta para atender o varejo. Ainda por essa indefinição e delimitação do papel do Trade, podem-se observar diferentes 29 formatos e posições que ele pode ocupar nas empresas. Conforme Alvarez (2008, p.99), o Trade Marketing fica entre os setores de Marketing e Vendas, atuando entre eles. Já Palomo (2006, p.28-31) apresenta quatro posições possíveis: • Alocado abaixo da diretoria de vendas, sem relação direta com marketing: o seu papel é basicamente munir as gerências de vendas com informações sobre os canais. Este modelo apresenta pouca eficiência; • Alocado abaixo da diretoria de vendas, com relação direta com marketing: cria uma relação de troca de informações entre os setores de vendas e marketing, possibilitando um alinhamento entre estratégias promocionais e de preço. • Posição de diretoria: maior autonomia. Permite maior visibilidade e foco nos clientes. Permite espaço para pesquisa e proatividade. • Integrada aos setores de marketing, de vendas, de logística e financeiro: permite o foco nos clientes. Os setores trocam informações e atuam com maior eficiência. Tem foco na especialidade de cada função. Muito dessa indefinição da posição que o Trade Marketing ocupa, ocorre pela falta de entendimento do quanto ele pode contribuir para a empresa. Souza (2006, p.4) apresenta alguns fatores e contribuições que respondem ao porquê de adotar este novo conceito. Os motivos transitam desde o aumento da concorrência, concentração do varejo até a oportunidade de utilizar o ponto-de-venda como mídia. Atuando de forma integrada, o TM pode auxiliar o Marketing, segundo Souza3 (2006, p.11), a garantir a adaptação e tradução de suas estratégias para o PDV, a trazer informações de oportunidades e problemas no PDV, a qualificar o relacionamento com o varejista, possibilitando conhecer melhor o consumidor final, a proporcionar experiências de marca aos consumidores, a organizar um planejamento por região, canal ou rede varejista específica, além de acompanhar os resultados sobre o investimento feito. Já para Vendas a sua contribuição se dá através de planejamento de ações para atingir metas, criando maiores oportunidades sem comprometer vendas futuras e, principalmente, proporcionar a diferenciação através do relacionamento, de contribuições em longo prazo, para fortalecer o contato e o trabalho, agregando valor à 3 André Souza, gerente de Trade Marketing na Rayovac. Conteúdo retirado de apostila do Seminário Executivo organizado por Internacional Business Communications, realizado em fevereiro de 2006. 30 marca da indústria frente ao varejo para que os argumentos de venda não sejam pautados pelos descontos oferecidos. Esta cultura de Trade Marketing, conforme Arbache (2007, p.136), ainda não está presente na maioria das empresas brasileiras. Segundo ele, o TM é considerado apenas como “ferramentas voltadas para a promoção e a comunicação dos produtos”. Desse modo, as empresas desconsideram a visão de negócios e a amplitude das ações que o TM oferece. Nas empresas que já possuem setores estruturados de TM, o perfil que recorrentemente migra para esses setores é o de vendas, pois tem muito contato com o dia-a-dia do processo varejista e conhece as demandas. Para Alvarez (2008, p.99), esse profissional “não será encontrado pronto em outras funções. Contudo, deve ser proveniente do setor de marketing ou vendas[...]”, o que reforça, em parte, o que se vê no mercado atualmente. O autor completa, mencionando algumas características desse perfil, cujas capacidades precisam ser multidisciplinares e multinterativas. É necessário dominar questões de marketing, vendas e varejo, além de técnicas de merchandising, promoções, e entender de logística. Tudo isso deve ser de forma organizada e focada em resultados. Perfazem esse perfil características ligadas à proatividade, interatividade, comprometimento e criatividade. 3.3 Ponto-de-venda (PDV) sob a óptica do Trade Marketing Vale ressaltar, aqui, a importância do PDV nas estratégias de Trade Marketing. Esse destaque começa pela diferença entre as visões de marketing e Trade Marketing quanto a essa variável. No primeiro, ele é visto como uma variável controlável pela indústria, enquanto para o segundo ele é muito mais do que uma variável, ele é o local para onde os esforços se concentram, onde os clientes devem ser conquistados. O PDV passa a ser uma arena competitiva. O varejista, ciente dessa importância, passa a ter uma postura agressiva nas negociações do seu espaço. Segundo Alvarez (2008, p.73), “se o consumidor não ’vê’ o produto no ponto-de-venda, na prática é como se esse produto não estivesse sendo vendido”. De forma a conquistar esse espaço e chegar às mãos do consumidor final, a indústria ampliou as suas atividades através das ferramentas do Trade Marketing Mix. É através da interação entre propaganda, promoção e merchandising que ela atua para 31 fortalecer o seu relacionamento com o varejo, criando laços de longo prazo para, assim, atingir os seus objetivos. Para o TM o PDV atua como mídia e com vantagens sobre as demais, pois pode atuar nos 5 sentidos dos consumidores, proporcionando uma experiência de compra para eles. O planejamento de TM tem algumas etapas a serem seguidas, conforme Cravens e Piercy (CRAVENS E PIERCY, 2005 apud MOTTA, 2007, p.31). Primeiro é necessário definir os canais nos quais a empresa estará presente e seus respectivos papéis; segundo, decidir quantos pontos desses canais serão atendidos e terceiro, dentro de grandes redes, optar por atender todos os pontos da rede ou só os mais rentáveis. Motta (2007, p.31) ainda acrescenta mais uma etapa, referente ao nível do serviço prestado, que trata da logística de entrega de produtos e da integração de sistemas que possam agilizar e qualificar o serviço prestado, pois, dessa maneira, é possível implementar programas como o ECR (Efficient Consumer Response), que possibilita um maior controle sobre as necessidades de distribuição de produtos aos clientes. Motta (2007, p.32) resume as etapas no seguinte quadro: Etapas 1 2 3 4 Descrição Definição de quais os canais que serão atendidos pela indústria. Estabelecimento do papel de cada canal nos negócios do fornecedor. Determinação de metas de distribuição por canal selecionado. No caso dos grandes varejistas, estabelecer quais serão atendidos pela 5 indústria. Estipulação dos padrões de serviços ofertados aos varejistas. Figura 1: Quadro Trade Marketing Mix: estratégia de ponto-de-venda. Fonte: MOTTA (2007, p.32). De forma a controlar e validar as ações de TM no PDV, é relevante a clara definição dos objetivos desejados, sejam eles de vendas ou de divulgação. Segundo Alvarez (2008, p.113), caso os objetivos sejam de vendas, devem-se observar os dados de selling in ou selling out, que se referem ao volume de vendas para o cliente (indústria-varejo) ou ao volume de vendas para o consumidor final (varejo-consumidor) respectivamente. 32 Caso os objetivos estejam relacionados à divulgação, deve-se especificar a quais ações se referem, sejam lançamentos ou alteração de produtos, posicionamento ou reposicionamento de marcas. De acordo com Alvarez (2008, p.113), “os indicadores devem se referir ao conhecimento gerado no consumidor, a lembrança da marca e do produto ou outras variáveis qualitativas". Dessa maneira, a escolha dos PDVs, seja por tamanho, localização, perfil do consumidor, categoria de produtos, é alocada nas estratégias de Trade Marketing segundo suas especificidades. Alguns pontos podem ser interessantes para a indústria ora por seu volume de vendas, ora para a criação de conceito de marca. 33 4 O MERCADO CALÇADISTA Segundo o diretor da Abicalçados Heitor Klein (2008), a indústria calçadista começou a se organizar a partir do Rio Grande do Sul, pois tem sido o maior pólo de produção calçadista do país desde o início, quando os primeiros imigrantes alemães chegaram ao Vale do Rio dos Sinos, em junho de 1824, trazendo a cultura do artesanato, principalmente com itens de couro. Com a necessidade de ampliação da produção após a Guerra do Paraguai (1864 a 1870), começaram a surgir as primeiras máquinas para industrializar a fabricação dos calçados. Atualmente, a cadeira produtiva no RS emprega diretamente cerca de 500 mil pessoas e, em nível nacional, em torno de 1 milhão, informa Klein (2008). “O destaque do setor é compreensível, pois o Brasil é o terceiro maior produtor de calçados do planeta e o quinto maior exportador”, completa Klein (2008). 4.1 Calçados Azaléia S.A. Em 2 de dezembro de 1958, foi fundada a então Berlitz, Lauck e Cia. Ltda. Na década de 70, já como Calçados Azaléia S.A, a empresa iniciou os primeiros movimentos para soluções em publicidade. A década de 80 foi marcada por grandes investimentos em comunicação, através de patrocínios a times de futebol, presença com produtos em novelas da Globo e comerciais da Azaléia e Olympikus nos principais programas da emissora, assim como na Rede Manchete e SBT. Como iniciativa do setor de marketing, foi criado o Clube Azaléia de Balconistas ainda na década de 90. Segundo Sarlet (1998, p.226), os objetivos eram desde envio de informações da empresa e de seus produtos, treinamentos, realização de promoções até o envio de brindes para estreitar a relação da indústria com o varejo. Esse clube é formado por profissionais de vendas, marketing e promoção, segundo a autora. Em 96, o clube contava com 33.000 associados entre vendedores, gerentes de loja, estoquistas, proprietários, entre outros, completa Sarlet. Em julho de 2007, a empresa é comprada pela Vulcabras S.A. O novo grupo, Vulcabras|Azaléia, é a maior companhia de calçados de capital aberto do país. Atua no segmento feminino e esportivo com as marcas AZ, Azaléia, Dijean, Funny, Olympikus, Opanka, OLK, Reebok e Sígnia, estando presente em 15 mil pontos-de-venda. No 34 presente trabalho são apresentadas as marcas do grupo que participaram da ação cooperada. 4.1.1 Azaléia A marca Azaléia é a terceira marca da empresa, depois de Laika e Néctar. O perfil de sua consumidora é de mulheres que valorizam qualidade e conforto e suas escolhas têm o preço como fator decisivo. O público-alvo tem mais de 30 anos e integra as classes C e D. As soluções em comunicação integram campanhas voltadas para a massa com veiculação de comerciais, assim como material de merchandising através de peças de PDV, material de apoio aos vendedores com catálogos e broadsides, site da marca, além de projetos cooperados com o varejo. 4.1.2 Dijean Criada como uma linha de produtos da marca Azaléia ainda no ano de 1982, a marca Dijean se torna independente em 2000. A consumidora Dijean é jovem, tem entre 14 e 18 anos e pertence às classes A, B ou C. Sua comunicação se dá através do site da marca, veiculação de comerciais em programas relacionados ao perfil do público, anúncios em revistas jovens, material de apoio aos vendedores através de catálogos e broadsides, material de merchandising e ações cooperadas com o varejo. 4.1.3 Funny A marca Funny, foi lançada em 2004 voltada ao segmento pré-adolescente. Esse público pertencente às classes B e C, de 7 a 12 anos. A comunicação da marca já veiculou comerciais em programas específicos para o público-alvo. Atualmente, atua através dos sites da marca, com materiais de merchandising, material de apoio aos vendedores e ações cooperadas com o varejo. 35 4.2 Di Santinni Calçados A empresa foi fundada, em 1980, por cinco sócios, como indústria calçadista. Seis anos depois, eles entraram no varejo, abrindo a sua primeira loja no Rio de Janeiro. A rede expandiu-se rapidamente, relata Trudes (2005, p.31), abrindo filiais em Salvador e no Rio de Janeiro, além de franquias em São Paulo, São Luís do Maranhão, Vitória, Maceió, Recife e Florianópolis. Dessa forma, a Di Santinni tornou-se a maior rede varejista do segmento calçadista no Brasil. Pautada pelo relacionamento próximo e direto com o funcionário, evidencia a cultura familiar da empresa. Trudes (2005, p.31) afirma que os valores de justiça, família, respeito e valorização dos funcionários garantem o crescimento da rede. Distribuídos em cargos da área administrativa e comercial, o seu quadro é formado por 3000 funcionários. A rede é formada por 87 lojas. A remuneração dos vendedores é variável, de acordo com o seu desempenho nas vendas. A empresa, segundo Trudes (2005, p.33), está planejando a implantação de um plano-piloto para a remuneração por meta atingida para os seus vendedores. O projeto tem o objetivo de envolver vendedores com diferentes graus de experiência em grupos para fortalecer o quadro. A rotatividade de vendedores, relata Trudes(2005, p.33), é preocupação da empresa. Por essa razão, processos de gestão de pessoas estão sendo aplicados na rede. As soluções de comunicação da Di Santinni Calçados são realizadas por agência de comunicação contratada pela empresa. Ela possui vitrinistas próprios, mas permite a organização do material de merchandising pelos promotores da indústria. 36 5 METODOLOGIA A presente monografia se apóia num estudo de caso de uma ação cooperada – projeto organizado por duas ou mais empresas com objetivos comuns de aumento de vendas, divulgação de campanhas ou lançamentos de produtos – entre a Calçados Azaléia S.A. e a rede de lojas Di Santinni Calçados, realizada em 2007. Foi selecionado um caso da indústria calçadista, dada a sua importância econômica, já que o Brasil se encontra em 3º lugar em produção de calçados do planeta, segundo Klein (2008). Optou-se por este formato porque, segundo Yin (2001, p.44), “este procedimento é considerado uma importante ferramenta para os pesquisadores que têm por finalidade entender ’como’ e ’por que’ funcionam as ’coisas’”. Godoy (1995, p. 25) sugere a escolha deste método quando o foco de interesse é sobre fenômenos atuais, que só poderão ser analisados dentro de algum contexto de vida real. Buscou-se identificar os objetivos da ação e as ferramentas utilizadas no caso em estudo através de entrevistas semiabertas em profundidade – técnica empregada, segundo Duarte (2005), quando se quer descrever e focar determinado contexto, além das pesquisas documentais realizadas para que, segundo Jung (2004, p.163), a pesquisadora pudesse construir “uma base consistente de conhecimentos”, o que foi feito através de verificação de relatórios da empresa e do projeto da ação cooperada estudada, assim como por pesquisas pela Internet, que, de acordo com Jung (2004, p.163), propiciam o acesso a informações atuais, sendo “uma fonte inesgotável de pesquisa”. Para a coleta de dados, os seguintes profissionais das empresas envolvidas na ação foram entrevistados: Alexandre Luís Vieira (Controller), Daniel Vescosi Bassani (Gerente Comercial), Isaias Daniel Goulart (Coordenador de Promoção e Merchandising), Romeu Turra (Coordenador do Estúdio), Alexsander de Carvalho Pinto (Supervisor Geral), Almir Fernandes Rosa (Representante comercial), Nivaldo Tizzi (Representante comercial). Foram, também, realizadas entrevistas com profissionais da área de Trade Marketing: Ricardo Augusto Machion, Rubens Sant’Anna Neto. Os dados coletados foram analisados qualitativamente, buscando-se compreender o papel das ferramentas de Trade Marketing no estudo que segue. 37 6 ESTUDO DE CASO O presente capítulo apresenta a ação cooperada entre a Calçados Azaléia S.A. através das marcas Azaléia, Dijean e Funny e a rede varejista Di Santinni Calçados. Os resultados foram obtidos por meio das entrevistas aplicadas e de pesquisa documental. Esta foi a primeira ação cooperada do segmento feminino da Calçados Azaléia que contemplou treinamento, ações de merchandising e premiação. “Foi um projeto-piloto”, destaca Bassani, Gerente Comercial da Calçados Azaléia S.A. A empresa queria verificar se os resultados com este tipo de ação seriam alcançados efetivamente, como objetivos de giro de produtos e fortalecimento de relacionamento entre indústria e varejo. A ação cooperada foi proposta pelos setores comercial e de comunicação da Calçados Azaléia S.A. em virtude da necessidade fomentada pelos representantes que atendem a Di Santinni Calçados. Com o objetivo de aumentar o giro dos produtos das marcas Azaléia, Dijean e Funny, conquistar espaço nas vitrines da rede e estreitar as relações com o seu maior cliente, a Calçados Azaléia S.A. planejou a ação cooperada. O planejamento foi apresentado e adaptado em conjunto pelas empresas. “Não levamos um programa fechado”, relata Bassani. A realização da ação cooperada ocorreu, no período de 20 de abril a 12 de junho de 2007, nos estados do Rio de Janeiro e Bahia. O estudo foi analisado a partir da estrutura do Trade Marketing Mix, qual seja: marketing e mix de produtos; preço; vendas e canais; serviços e logística; propaganda, promoção e merchandising e resultados e rentabilidade, para apresentar as ferramentas utilizadas e por observar-se que as ações foram realizadas tanto na esfera tática quanto na estratégica, como destaca Alvarez (2008), para o que é proposto ao se utilizar das ferramentas de Trade Marketing. 6.1 Marketing e Mix de produtos A Calçados Azaléia S.A., através de seu mix, oferece produtos para as classes C, D e E, perfil do público-alvo da Di Santinni Calçados. Para a Calçados Azaléia S.A., não há diferenciação de produto por cliente, região ou canal. Todos os produtos são apresentados para todos os seus clientes. O que diferencia, são as estratégias de 38 comunicação que destacam os produtos de acordo com o clima da região e perfil do consumidor. Para Bassani, esse comportamento se dá pelas demandas dos consumidores, que, embora estejam em climas diferentes, como, por exemplo, Bahia e Rio Grande do Sul, em julho, apresentam procura por sapatos fechados em volumes diferentes, mas nem por isso são mercados dispensáveis. Os produtos são apresentados, seguindo as coleções, quais sejam: outono-inverno, pré-verão, primavera-verão e alto-verão. Já em relação a embalagens, a Calçados Azaléia tem opções diferenciadas de acordo com o cliente para se adaptar ao estilo de exposição proposto pelo varejo, seja em caixas individuais ou tipo colméia – formato de caixa corrugada, na qual os produtos vão acondicionados em maior quantidade, embalados em sacos plásticos, o que confirma, segundo Motta (2007, p.23), a mudança de comportamento da indústria no desenvolvimento das embalagens conforme as necessidades de cada canal. Na Di Santinni, o mix de produtos é definido por loja. Para a ação cooperada foi definido um mix de produtos específico. A Di Santinni comprou uma quantidade superior do que o planejado para aquele período. Em virtude da ação, optou por aumentar o seu pedido e, contemplando as três marcas, foram comprados trezentos mil pares de calçados. Com essa ação, a Calçados Azaléia assumiu o controle do posicionamento das suas marcas com peças exclusivas para a Di Santinni. Segundo Goulart, Coordenador de Promoção e Merchandising da Calçados Azaléia S.A, foi possível manter os materiais de PDV por todo o período da ação, exposição que foi estendida por um período superior à realização da ação cooperada. 6.2 Preços Não há diferenciação por canal ou região na determinação de preço dos produtos da Calçados Azaléia, embora o varejo aplique mark ups diferentes conforme a região. O mark up – margem de lucro – definido pelo lojista determinará o valor dos produtos para o consumidor final. Enquanto no nordeste o varejo pratica mark ups de 120%, no sudeste é em torno de 90% e no sul 100%. “Os nossos preços são ponderados”, relata Bassani. Os clientes têm opções diferenciadas de descontos conforme o prazo de pagamento escolhido. As marcas Azaléia, Dijean e Funny foram escolhidas para a ação por terem produtos na faixa de preços com que a Di Santinni 39 trabalha. A maior parte dos produtos oferecidos varia de R$14,90 a R$34,90 - preço final ao consumidor. Os produtos da marca feminina AZ, da Calçados Azaléia, não são comprados pela rede porque seus preços são superiores à faixa de preços de venda na rede varejista. A Calçados Azaléia observa o mercado para que seus preços finais ao consumidor sigam os preços sugeridos ao varejo, pois queimas de estoque podem prejudicar todo o mercado, forçando todo o varejo a reduzir o preço de determinado produto, diminuindo o seu mark up. No mercado calçadista feminino, não acontecem muito essas ações porque o ciclo do produto é menor comparativamente às coleções apresentadas anteriormente. A empresa, ao perceber que determinado produto não está girando no PDV, já para de produzir o modelo. Outro ponto destacado por Bassani em relação à ação cooperada realizada foi o aumento da confiança da rede varejista em relação à Calçados Azaléia, pois a indústria atuou como parceira do seu negócio, criando ferramentas que estimularam o selling out, afastando a necessidade de queimas de estoque para fomentar o giro dos estoques. Nessa ação, foram produzidos encartes diferentes para cada região, pois os preços aplicados são diferentes conforme o mark up de cada uma. Para a realização da promoção com os balconistas, os produtos de diferentes preços recebiam pontuações distintas. Essa é uma ferramenta pouco utilizada pela Calçados Azaléia, pois apresenta os seus preços sem diferenciação por canal. 6.3 Vendas e canais Para Sant’Anna, Sócio-diretor da Sant’Anna Inamoto Trade Marketing, o Trade Marketing é “um grande processo. Este processo tem vários elos que precisam ser padronizados para que a informação chegue certo para o tomador de decisão”. É desta forma, organizando as informações, que os gestores poderiam potencializar suas ações. As ações da empresa devem ser alinhadas para que todo os seus esforços de comunicação e vendas sejam mutuamente beneficiados pela complementaridade. Visualizando o futuro do TM, Sant’Anna e Machion, Market Development Manager da Sant’Anna Inamoto Trade Marketing, sugerem a adaptação dos modelos às diferentes culturas das empresas porque modelos apresentados pelos supermercados nem sempre poderão ser aplicados ao varejo calçadista, por exemplo, 40 pois os ciclos de produto e vendas são diferentes. Cada um apresenta especificidades distintas. Na Calçados Azaléia, a estrutura comercial das marcas femininas é formada por diretor comercial, gerente de unidade AZ e Azaléia e gerente de unidade Dijean, Funny e Opanka, situados em Parobé. Essa estrutura é ampliada através de 17 representantes em todo o Brasil, que possuem equipes de vendas próprias. Essas equipes recebem informações de tendências de moda e estratégias de comunicação nas convenções da empresa e atuam como multiplicadores dessas informações para os seus clientes. As ferramentas que utilizam, são catálogos de produto, broadsides, com a estratégia de comunicação e tendências de moda. As campanhas de comunicação voltadas para os consumidores finais são apresentadas para os clientes varejistas de forma a mostrar como a indústria estará apoiando o giro de produtos no varejo, o selling out. Para Sant’Anna, “o ponto-de-venda é um sistema vivo, pois você vê o que acontece”. Já Machion destaca que “não só a indústria, mas o varejo não percebeu a força que tem em abrir este dado de selling out para conquistar espaço dentro do ponto-de-venda para negociar melhor”. É uma cultura que já está disseminada nos supermercados pela aplicação de precificação de espaço, que muitos já realizam. O que é muito utilizado, segundo Machion, são os dados de selling in, que, para ele, não passam de valores de locação de estoque, pois nesse valor só entram os valores da venda da indústria para o varejo e não constam valores de logística inversa, que podem ocorrer em casos em que o produto não gire no PDV e o varejista seja ressarcido pela indústria com descontos em vendas futuras ou até recolhendo o produto. A ação cooperada foi planejada com o objetivo de potencializar o uso dessa ferramenta. Com o foco em aumentar o giro dos produtos, a Calçados Azaléia proporcionou à Di Santinni comprar o que iria vender, corroborando a relação de longo prazo entre eles. Para fomentar as vendas, acompanhar o andamento da ação e verificar como os vendedores da Di Santinni estavam recebendo o projeto, a equipe comercial da Calçados Azaléia, através dos representantes das marcas que atendem a rede, visitou as lojas participantes com maior frequência, comparecendo nas lojas quinzenalmente durante o período da ação. Para Tizzi e Rosa, representantes das marcas da Calçados 41 Azaléia, essas ações, voltadas ao cliente da indústria, preocupadas com o selling out, deveriam ser periódicas. Esses projetos possibilitam um maior contato entre a indústria e o varejo, pois criam vínculos entre as empresas. Possibilitam à indústria acompanhar e mensurar os dados de selling out do varejista. 6.4 Serviços e logística Muitos varejistas possuem datas específicas para a entrega de produtos. Para isso, os fornecedores, ou seja, a indústria precisa agendar entregas e cumpri-las. Em alguns casos, se a entrega não for efetuada no prazo combinado, a indústria pagará multas. Em relação a essa ação cooperada, foi elaborado um plano de entrega de materiais promocionais e produtos para atingir todos os pontos-de-venda juntos, já que era vinculada a uma promoção de incentivo. Em 20% das lojas, os materiais chegaram mais próximos do dia do início da campanha. Dessa forma, a Calçados Azaléia organizou seus promotores de merchandising para agilizar a instalação desses materiais. Com referência a treinamentos para clientes, a empresa oferece-os conforme a demanda e disponibilidade. Desde o início de 2008, a empresa possui um programa de treinamento que percorre o país, munindo os varejistas de informações sobre os seus produtos. Para a ação cooperada foram realizados treinamentos com os gerentes e principais balconistas das lojas da Di Santinni participantes da promoção no Rio de Janeiro e Salvador. O treinamento teve duração de 3 horas. Vieira, Controller da Calçados Azaléia, apresentou as tecnologias empregadas nos produtos da Azaléia, Dijean e Funny, assim como matérias-primas, processos de fabricação, tendências de moda e técnicas de venda. Na gerência de comunicação das marcas femininas da Calçados Azaléia no período de promoção, Tatiana Werle, Gerente de Comunicação, apresentou o posicionamento das marcas, pois as três marcas, trabalhadas na ação, são focadas em públicos-alvo distintos e demandam argumentos de venda particulares a cada perfil de compra. A mecânica da ação promocional voltada ao público intermediário, ou seja, aos balconistas foi apresentada por Isaías Goulart e Alexsander Pinto, Supervisor Geral da Di Santinni Calçados. Intitulada de Venda Acelerada, a ação dividiu os balconistas em 5 grandes grupos. Esses grupos foram divididos em equipes que concorriam entre si. A pontuação era de acordo com o preço do produto vendido. 42 No final, cada grupo teve uma equipe vencedora, totalizando cinco motos distribuídas, uma por grupo. Além das motos, foram distribuídos prêmios em dinheiro (R$500,00) durante a ação para estimular as vendas no final do mês, período de baixa nas vendas. Toda a informação transmitida durante o treinamento, destaca Vieira, possibilita uma formação mais completa aos balconistas, pois, dessa forma, eles têm argumentos e a possibilidade de oferecer os produtos da empresa de forma mais assertiva, pois conhecem os benefícios dos produtos, os processos de fabricação, o posicionamento das marcas e ainda o incentivo da premiação. 6.5 Propaganda, promoção e merchandising O setor de marketing é apontado pelos profissionais da Sant’Anna Inamoto como o setor que normalmente paga a conta dessas ações, pois o de vendas, geralmente, não aplica sua verba dessa maneira. Suas contribuições são repassadas em forma de descontos e benefícios aos clientes. Sant’Anna relata que o Trade Marketing “é uma área de oportunidade e quem investir nisso, irá ganhar dinheiro de forma contínua”. Machion completa, dizendo que “são pequenos processos de ajustes, mas são coisas muito simples que, se alinhadas, terão um retorno absurdo”. Esses processos, segundo eles, ajudarão todos, tanto marketing quanto vendas, pois melhoram a presença no PDV, e a venda se torna melhor e saudável, já que, além do retorno em aumento de volume de vendas, a qualidade do relacionamento entre indústria e varejo é potencializada. Ratificando o que se propõe no Trade Marketing Mix, as ações de propaganda, promoção e merchandising foram elaboradas para garantir presença no PDV, munir os balconistas de informação, apoiar a equipe de vendas, proporcionar giro dos produtos e fortalecer o posicionamento das marcas. Para Sant’Anna, o PDV não irá terminar com as mídias tradicionais, mas sim o trabalho em sinergia entre todas maximizará os objetivos estratégicos traçados. Assim, cabe salientar que para essa ação foram produzidos materiais de merchandising específicos. O enxoval de peças foi composto por testeira e fundo de vitrine, testeira e fundo de slatwall e pegboards, além das peças referentes à promoção com os vendedores, como cartaz de pontuação e folder com regulamento, segundo Turra, Coordenador do Estúdio da Calçados Azaléia. Os formatos das peças produzidos para essa ação foram incorporados pela Di Santinni 43 como padrão para outros projetos realizados posteriormente. Para apoiar a ação, foram produzidos encartes exclusivos das marcas Azaléia, Dijean e Funny para distribuição aos consumidores finais. Esse material apresentava, relata Goulart, os produtos oferecidos nas lojas da rede. A promoção realizada foi voltada aos balconistas das lojas. Essa ação de incentivo ao público intermediário foi organizada da seguinte maneira: agrupou os balconistas em equipes; definiu metas por loja; criou um acompanhamento diário de vendas; contemplou as equipes com premiações relâmpago em dinheiro em datas específicas (ações realizadas no final do mês para estimular as vendas em épocas, geralmente, de baixa no consumo); premiou as cinco melhores equipes com motos, entregues no final da promoção. 6.6 Resultados e rentabilidade Embora a maioria das empresas varejistas não abra os seus dados de selling out para a indústria para que, dessa forma, os resultados possam ser mensurados quantitativamente, há ações que não visam somente ao volume de venda. São os casos de PDVs importantes pelo posicionamento da marca e visibilidade, relata Bassani. “Estes clientes não podem deixar de receber a nossa atenção”, completa ele. Mas, para que os resultados sejam verificados, sejam qualitativos ou quantitativos, os objetivos devem ser claramente definidos. Segundo Pinto, o objetivo da ação era aumentar o giro dos produtos, o que foi confirmado pelos demais entrevistados. Para os da indústria, além de relatar sobre o aumento do giro dos produtos, foi destacado o objetivo de fortalecimento na relação entre as empresas. Esse último objetivo foi efetivamente atingido, relata Bassani, pois toda a diretoria da Calçados Azaléia mudou depois dessa ação e a relação com a Di Santinni continua fortalecida. Os resultados quantitativos puderam ser verificados através do acompanhamento diário de vendas para a pontuação das equipes. Desse modo, puderam ser analisados períodos de baixas nas vendas, resultados por lojas e por equipes, além da faixa de preço de produtos mais vendidos. A empresa varejista, possibilitando a utilização do interior de sua loja para a aplicação de materiais de PDV, pôde verificar uma nova proposta de exposição de produtos. 6.7 Discussão dos resultados 44 O volume de vendas da rede varejista Di Santinni foi o fator predominante para ser o varejista escolhido pela indústria para aplicar um projeto-piloto de ação cooperada com o varejo. Para Bassani, era importante fortalecer o relacionamento com a Di Santinni, capacitando os seus vendedores, criando materiais de merchandising específicos para eles, de forma a apoiar o giro dos produtos das marcas da Calçados Azaléia. A Di Santinni não possui um plano anual de ações cooperadas. As ações são propostas a fornecedores conforme a necessidade, pois o principal motivo para realização dessas ações é o aumento do giro dos produtos. Ações de longo prazo não estão no planejamento. A ação realizada com a Calçados Azaléia melhorou o relacionamento entre as empresas. Os vendedores da Di Santinni estavam mais seguros para oferecer os produtos porque conheciam melhor os atributos dos mesmos e o posicionamento das marcas. Este projeto gerou posteriormente a realização de ação similar entre a Di Santinni e a marca Olympikus, assim como ações da Calçados Azaléia com outros clientes, como a Magia Calçados. Para Goulart, as negociações entre indústria e varejo dependem da cultura das empresas. Segundo ele, as redes varejistas com setores de marketing estruturados já cobram das indústrias ações diferenciadas. Segundo Bassani, algumas redes varejistas já cobram abatimentos automáticos na compra de produtos para a realização de ações cooperadas. Essas ações são de menor escala, pois contemplam apenas materiais como encartes promocionais. Para os setores comercial e de comunicação do segmento feminino da Calçados Azaléia, responsáveis pelo projeto, essa ação resultou num novo posicionamento frente aos seus clientes, pois estavam atuando de forma efetiva no selling out e criando a cultura organizacional para oferecer benefícios aos clientes proporcionalmente ao seu volume de compras ou pela visibilidade e fortalecimento das marcas da empresa. A alta rotatividade de vendedores no varejo é apontada por Vieira como o maior problema para a perenidade dos resultados dessas ações. O treinamento deveria ser cíclico, completa ele. As vendas podem ser perdidas pelo desconhecimento do produto, falta de informação e despreparo do vendedor. 45 A forma de pontuação, de acordo com o valor do produto, estimulou o giro de produtos mais caros. A premiação motivou a venda de produtos das marcas Azaléia, Dijean e Funny. Os representantes da Calçados Azaléia puderam atuar de forma mais próxima com o maior cliente da empresa, pois acompanharam as lojas, durante o período da ação, para verificar as vendas. Para essa ação, a Calçados Azaléia pode produzir materiais diferenciados para sinalizar os seus produtos. Assim, utilizou espaços que a rede normalmente não disponibiliza. Os objetivos da ação foram alcançados, pois as vendas cresceram 40% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo Pinto. O relacionamento entre as empresas saiu fortalecido, completa Bassani, e outros clientes da Calçados Azaléia pediram projetos semelhantes. “A postura orientada para estas ações agradou os clientes”, completa Bassani. 46 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS A Calçados Azaléia, embora não possua o setor de Trade Marketing, desenvolve projetos nesta área por meio dos seus setores comercial e de comunicação. Dessa forma, não há definição clara sobre qual setor deve pagar por ações cooperadas. Não se verificou a existência de planejamento de verba para estas ações por nenhuma das empresas estudadas. Os projetos são planejados a partir de necessidades identificadas durante o ano, que, na maioria das vezes, são motivados pelo baixo giro dos produtos. A ação cooperada estudada tinha como objetivos aumentar o giro dos produtos e fortalecer a relação entre a indústria e o varejo, objetivos de curto e longo prazo. Ambos foram alcançados, o que foi comprovado por intermédio da pesquisa. Apresentando a ação cooperada através das ferramentas do Trade Marketing Mix, identificou-se o papel de cada uma delas no projeto como um todo, salientando pontos que poderiam ser acrescentados por meio de aplicação da fundamentação teórica. A partir do presente trabalho, buscou-se constatar como o Trade Marketing pode atuar para fortalecer a relação entre indústria e varejo num campo que ainda não tem o assunto amadurecido. Pode-se observar que as ferramentas são utilizadas ainda não de forma ordenada, nem planejadas sob o conceito de Trade Marketing. As novas relações de poder entre indústria e varejo estão indicando a necessidade de organização voltada ao Trade Marketing, e as indústrias estão realizando ações nesta área ainda sem conhecer profundamente o potencial de cada ferramenta. Os objetivos devem, como o caso apresentado, pretender resultados de longo prazo, como, por exemplo, o fortalecimento da relação entre a indústria e varejo. O Trade Marketing trouxe ferramentas que ampliaram a atuação da indústria. Suas estratégias de marketing, vendas, desenvolvimento de novos negócios e faturamento trouxeram para a discussão vários elementos a que o marketing, cujo foco é o consumidor final, não estava atendendo. O TM se propõe a atuar de forma a potencializar o negócio do seu cliente e, dessa forma, auxiliar o seu negócio também. Reforça as ações de marketing, apontando para a otimização de resultados do seu cliente. Ele desenvolve ações estratégicas junto ao seu público de forma a conquistar benefícios mútuos sem que o argumento seja voltado a descontos, pois apóia o cliente no desenvolvimento do seu negócio. Ao perceber a importância dos canais de 47 distribuição, a indústria otimizou os seus processos, ligando as ações das áreas de comunicação e vendas. A ação cooperada realizada, projeto-piloto para a Calçados Azaléia, resultou numa nova postura da empresa frente ao varejo, proporcionado a realização de ações similares em outros clientes. A relação entre as empresas saiu fortalecida. À Calçados Azaléia recomendam-se ações que envolvam um planejamento por canal, já que foi verificada a existência de formatos diferentes de embalagem, assim como a ausência de diferenciação por sistemas de distribuição. Outra recomendação seria a reativação do Programa Clube Azaléia de Balconistas. O programa deveria ser revisto para incluir meios de comunicação atuais, como a Internet e o celular. As ações teriam objetivo de criar e consolidar laços de longo prazo, oferecendo conteúdo para o crescimento dos profissionais das redes varejistas, e, consequentemente, auxiliá-los na venda dos produtos da empresa, além de criar uma programação anual para a realização de ações cooperadas de acordo com a performance de compras dos clientes. O tema proposto – Trade Marketing -, ainda pouco explorado em algumas áreas, como a calçadista, não se esgota. Pelo contrário, está como um desejo latente à espera de ter sua necessidade suprida. Muitos outros estudos podem ser feitos a partir do presente trabalho, como a criação de métricas mais eficazes para o controle de resultados por investimento; uma pesquisa qualitativa junto aos balconistas sobre o seu envolvimento nestas ações e um estudo da percepção dos varejistas em relação às mudanças de poder e como eles atuam em relação à indústria. Vale destacar que o Trade Marketing não substitui o marketing. Eles focam as suas ações para públicos distintos. Cabe ao Trade Marketing fortalecer relações entre a indústria e o varejo, pois será através dele que a indústria conquistará os consumidores finais. Afinal, quem não é visto, não é comprado. 48 REFERÊNCIAS ALVAREZ, Francisco (Francisco Javier S. Mendizabal) Trade marketing: a conquista do consumidor no ponto-de-venda. São Paulo: Saraiva, 2008. ARBACHE, Fernando Saba et al. Gestão de logística, distribuição e trade marketing. Reimpressão. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2007. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DE CALÇADOS – ABICALÇADOS. Estatísticas. Disponível em: < http://www.abicalcados.com.br/estatisticas.html> Acesso em: 03 maio 2008 – 17h52min. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE MERCHANDISING DO PDV – POPAI BRASIL. Biblioteca. Disponível em: < http://www.popaibrasil.com.br/biblioteca/palestrasg.php> Acesso em: 08 maio 2008 – 1h12min. BLESSA, Regina. 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