a motivação do agir humano - Fundação Educacional São José

Propaganda
A MOTIVAÇÃO DO AGIR HUMANO
Zilpa Helena Lovisi de Abreu1
RESUMO
Este artigo apresenta uma revisão bibliográfica sobre algumas concepções a respeito da
motivação e a sua centralidade no agir humano. Apesar de o tema motivação ser bastante
estudado, muitos aspectos que o envolvem necessitam ainda de aproximações teóricas, além
de análises empíricas, isto é, baseadas na experiência humana, em situações e condições
subjetivas específicas. Pretendemos, portanto, expor algumas considerações feitas por autores
que dedicaram parte de seus estudos ao tema em questão. Entre estes, destacamos Maslow,
Murray, Lindzey, Bergamini e Moscovici.
Palavras-chave: Teorias Motivacionais; Motivação e Educação; Maslow
ABSTRACT
This article presents a literature review on certain ideas about the motivation and its centrality
in human act. Although the theme motivation rather be studied, many aspects that still need to
involve theoretical approaches, and empirical analysis, that is, based on human experience, in
specific situations and subjective conditions. We want therefore expose a few comments made
by authors who have devoted part of their studies on the subject matter. Among these, we
highlight Maslow, Murray, lindzey, Bergamini and Moscovici.
Keywords: motivational theories, motivation and education; Maslow
1
Mestre em Educação CES/JF- Coordenadora do Curso de Pedagogia – Instituto Superior de Educação de
Santos Dumont-MG – Professora de Espanhol.
INTRODUÇÃO
De acordo com BERGAMINI (1990), ao estudar motivação, deparamo-nos com
obstáculos que devem ser transpostos para a compreensão da natureza humana, isto é, lutar
contra os mitos, em torno do assunto, que estão arraigados nas crenças populares sobre
motivação, como, por exemplo, que as pessoas fazem coisas pelas mesmas razões, conceito
este que não se sustenta, ao compreendermos que temos feições individuais, próprias e únicas.
Não existe uma regra universal para explicar a motivação e as ações humanas. Cada
um busca a sua satisfação de forma diferenciada da dos demais, portanto, diferentes motivos
interferem no desenvolvimento e no nível de realização e investimento do indivíduo em suas
variadas atitudes e comportamentos no mundo. No âmbito educacional esses fatores devem
ser, constantemente, analisados e observados pelos profissionais da área para conseguir uma
aprendizagem efetiva de seus alunos e uma constante motivação pela busca do conhecimento.
ABORDAGENS TEÓRICAS SOBRE A MOTIVAÇÃO
Cumpre, agora, nos determos, ainda que apenas brevemente, em algumas abordagens
teóricas acerca da motivação. Inicialmente, pretendemos correlacionar as concepções dos
autores considerados clássicos no estudo deste tema. Portanto, serão sucintamente discutidas
as idéias propostas por Murray, Lindsey, Moscovici e mais detalhadamente acerca da
perspectiva teórica desenvolvida por Maslow.
MURRAY (1983) acredita que possam ser descritas três teorias centrais nos estudos
do comportamento e seus motivadores: a Cognitiva, a Hedonista e a do Instinto ou Instintiva.
A Teoria Cognitiva parte do pressuposto de que a vontade do indivíduo seria o que determina
suas ações, suas escolhas e o faz responsável por elas. A motivação estaria relacionada com a
dimensão essencialmente cognitiva frente à escolha feita diante das várias alternativas que o
sujeito encontra.
As Teorias Hedonistas enfatizam a busca do prazer como chave para o entendimento
do comportamento humano. Destaca que a natureza humana busca ou se aproxima do que dá
prazer e evita o que não o proporciona, gerando os comportamentos de aproximação e
evitação. Os motivos para a ação humana estariam alicerçados nos dois efeitos, ou seja, o
indivíduo estará motivado, quando vivencia o prazer ou quando pode se afastar dele quando
não o obtém, buscando-o em outra situação.
A Teoria do Instinto, segundo MURRAY (1983), é aquela que sustenta que o
indivíduo está motivado quando segue seus instintos interiores e as suas decisões estão
alicerçadas neste comportamento:
Podemos, assim, definir um instinto como uma disposição psicofísica herdada
ou inata, a qual determina ao seu possuidor perceber ou dar atenção a objetos de
certa classe, experimentar uma excitação emocional de determinada qualidade
ao perceber tal objeto, e atuar em relação ao mesmo de um modo particular, ou
experimentar, pelo menos, um impulso para tal ação (Mcdougall, in
MURRAY, 1983:17).
Para Murray, o conceito de instinto caminha junto com o de impulso. O impulso é
um elemento significativo para a compreensão da motivação. Por meio dos impulsos,
poderíamos explicar os motivos mais prementes que conduzem um indivíduo à realização de
uma ação. Essa correlação já foi apresentada em 1918, por Robert S. Woodworth (MURRAY,
1983:18). De acordo com aquele autor, o impulso é uma dotação de energia para a ação. É ele
que impele o organismo ao movimento, ao estar motivado no empreendimento de uma meta.
Explica que o impulso relaciona-se, diretamente, com os instintos inerentes a cada pessoa. Os
dois conceitos juntos se somam, se comunicam.
Diante desses conceitos, os autores, Murray e Woodworth, definem a motivação
como uma ação estimulada pelos impulsos, que irão agir no comportamento geral de uma
pessoa. Se há um desequilíbrio, uma instabilidade ou um objetivo a ser alcançado, a pessoa
passa a agir por meio de seus impulsos advindos dos seus instintos primários, para conseguir
equilíbrio, satisfação e prazer.
LINDZEY et al, esclarece melhor o assunto, ao afirmar:
que o impulso ou drive é a energia que incita à ação, podendo originar-se por
processos orgânicos internos, identificáveis, chamados de impulsos nãoaprendidos ou primários, como a fome, por exemplo. Outros são adquiridos pela
aprendizagem, como a competição, ou seja, uma necessidade aprendida. Definese, então, que “um motivo é qualquer coisa que inicia o comportamento”
(1977:328).
A concepção do que é impulso, segundo os autores citados, está relacionada a algo
que pode ou não sofrer influência da aprendizagem. Percebemos que, por exemplo, muitas
vezes, os alunos encontram-se motivados para os estudos por receberem incentivos que se
transformam em impulsos, reforçando os estímulos para prosseguirem no processo de
aprendizagem. Vemos que a motivação é maior quando parte daquilo que lhe é inerente,
interno, e não de condicionamentos pré-fixados.
Lindzey et al enfatiza que obter aprovação e realização sobre algum ato, por
exemplo, torna-se fator de aprendizagem, ao ser reforçado continuadamente, mediante os
incentivos recebidos. Os dois conceitos somados aclaram a compreensão da vivência da
pessoa, uns primariamente - satisfazendo as necessidades fundamentais -, e os outros
aprendidos, ajustando o indivíduo ao seu meio social.
O autor conclui que
Excitação (arousal) é a energização do comportamento. Um motivo nos torna
mais ativos e inquietos. O comportamento motivado também tem propósitos ou
intenção. A pessoa motivada tem direção, um objetivo ou meta. O sentimento
de querer ou desejar é experimentado como tensão, esforço e expectativa.
Quando o objetivo é alcançado, a tensão e o esforço desaparecem juntamente
com a atividade energética (Ibidem:329).
O impulso, como fonte de energia, poderá esclarecer muito sobre o comportamento
motivado, pois, como há impulsos primários e aprendidos, as ações motivadas estarão aliadas
a esses impulsos orgânicos primários.
As ações motivadas pelo impulso são chamadas atos instrumentais porque são
os instrumentos por meio dos quais o objetivo do impulso é atingido. Os objetos
para satisfazer a fonte do impulso são chamados de objetos instrumentais. Os
atos e objetos instrumentais variam de cultura, para cultura, indivíduo para
indivíduo, e mesmo de dia para dia em relação ao mesmo sujeito...O costume é
um fator importante na modelagem de formas específicas de satisfação dos
impulsos primários (Ibidem:331-32).
Segundo MASLOW (1968), os estudos da motivação são de grande importância para
se compreender o comportamento humano. Ao apresentarmos as pesquisas sobre a natureza
humana, podemos extrair algumas conclusões sobre a motivação. Os conceitos e as teorias
que serviram e servem de base para compreender a dimensão motivacional do comportamento
humano estão presentes em vários campos de estudos, inclusive o educacional (MOSCOVICI,
1997).
O estudo da motivação, enquanto campo de estudo da Psicologia, tem ainda muito
que desenvolver, dada a sua complexidade, tornando-se necessário lançar mão de
instrumentos de abordagem de diversas ciências, tais como a Sociologia, a Antropologia e a
Biologia.
A rede de conceitos relacionados à motivação deixa entrever que o comportamento
humano deriva de um organismo complexo, o que inviabiliza a construção de um referencial
teórico único para a análise da condição humana. Segundo MURRAY (1983), os motivos que
damos às nossas capacidades individuais dependem da motivação, ou dos desejos, das
carências, das necessidades que cada ser humano possui, em sua natureza individual. E a
busca por sua singularidade é que faz a diferença entre cada um de nós.
A Psicologia, como qualquer ciência, utiliza diversos conceitos teóricos na tentativa
de compreender o comportamento humano enquanto ser social e individual. Uma dessas
abordagens, que parece melhor atender à temática da motivação, estaria alicerçada no que se
convencionou chamar de Psicologia Humanista.
A abordagem teórica da Psicologia Humanista tem como um de seus principais
pesquisadores MASLOW (1968)2, que pode ser considerado o fundador dessa corrente de
psicologia. Mosquera considera que Maslow foi o expoente e o criador de uma Terceira força
em Psicologia ou também denominada Psicologia Humanista Existencial (1968:21).
Foi através dos trabalhos de Maslow (1968) que o termo motivação passou a ser
referendado como objeto de estudo significativo no campo da Psicologia. Em suas pesquisas,
procurava não só observar os critérios objetivos que faziam parte de suas experiências, mas
procurava se informar a respeito da presença de um comportamento motivado que poderia ser
verificado através de elementos subjetivos no desenvolvimento da pesquisa analisada.
O autor apresenta uma concepção de homem diferente das visões até então existentes
em Psicologia. Seus estudos estão baseados num enfoque de um homem visto como um
complexo biopsicossocial, ou seja, um ser capaz de gerir sua própria existência, quando busca
melhores condições de desenvolvimento e satisfação de suas necessidades (MURRAY,
1983:9).
Para Maslow, os estudos da motivação devem apontar para um ser humano que seja
visto em sua totalidade; totalidade esta que envolve sua formação geral, sua consciência
histórica, escolhas e necessidades. Como afirma FADIMAN e FRAGER (1979:261),
2
- Abraham Maslow, estudioso norte-americano foi o precursor da abordagem humanista na Psicologia. As duas
outras correntes psicológicas importantes são: psicanálise e o behaviorismo, estas não serão objetos deste
trabalho.
referindo-se à obra de Maslow (1968), "as atividades humanas de que o homem se orgulha e
que dão sentido, riqueza e valor à sua vida são omitidas ou classificadas como patológicas".
Neste sentido, a teoria de Maslow e de outros autores, dessa mesma corrente, procura situar o
indivíduo numa visão mais positiva e saudável frente à existência.
Maslow (1968) sustenta que existem muitas maneiras de entender e interpretar o
comportamento humano, ou seja, as diferentes abordagens e teorias psicológicas apontam,
cada uma a sua maneira, aspectos fundamentais para uma análise mais global do ser humano.
Porém, o que ele apresenta são instrumentos teóricos que vêem o homem de uma forma
mais saudável, motivado intrínseca e extrinsecamente, com relação à busca de seus
anseios e do modo positivo que cada um vivencia seus atos para atingir seus propósitos.
Os estudos da motivação realizados por Maslow trazem uma maneira nova de
observação do comportamento humano, ou seja, o ser humano é visto mais em seus aspectos
positivos e em suas potencialidades atuais e naquelas que podem vir a ser manifestadas. Isso
equivale dizer que Maslow acredita em um homem autônomo, capaz de satisfazer suas
necessidades, partindo em busca de outras que vão surgindo ao longo de seu processo de
existência.
O autor, segundo LINDZEY et al (1977:328), explica que, ao buscar a realização de
algo, o homem passa a apresentar motivos para determinados comportamentos, em busca da
satisfação de suas necessidades e o papel que eles desempenham na determinação de seu
comportamento.
Essa visão de homem mais centrado e positivo, passa a gerar, segundo a ética
humanista, idéias mais voltadas para o valor do humano. Segundo MOSCOVICI, tal
concepção centra-se no fato de o indivíduo poder aprender a pensar de forma crítica, a
enfrentar situações novas sem pânico, e também de forma mais livre ou criativa, a confiar em
si e nos outros, a descobrir e desenvolver suas potencialidades, no sentido de tornar-se mais
autêntico e produtivo. A consideração deste aspecto coloca os estudos da motivação como
uma fonte geradora de compreensão da natureza humana e do que venha a ser um
comportamento motivado. Daí a importância de percepção do homem mais valorizado e
acreditado.
Toda conscientização traz em si as possibilidades de mudança, através da nova
percepção da realidade externa ou interna. Se a percepção se modifica, vários
outros planos do processo psicológico também se modificam, o indivíduo não
apenas passa a ver diferente, mas a sentir e pensar de forma diferente e,
conseqüentemente, agir de outra maneira (MOSCOVICI, 1977:XX).
Os estudos sobre a motivação vão, então, abranger esferas realmente importantes do
comportamento humano, ao considerar o homem como agente central de seus motivos e de
suas escolhas.
Na abordagem teórica, proposta por Maslow, observamos uma série de
considerações sobre o tema da motivação, que foram inicialmente tomadas como linhas
mestras para interpretar e estudar os motivadores do comportamento humano. Estas
possibilitam uma avaliação individual, ou seja, levam em consideração o que é próprio de
cada indivíduo, indo em direção à valorização da saúde psicológica, uma vez que o
desenvolvimento é visto como um processo mais positivo e não-patológico no conhecimento
de si mesmo. Isto significa dizer que a proposta da Psicologia Humanista é a de correlacionar
o que há de saudável em um ser humano, como a busca de um maior entendimento de si
mesmo e de seu comportamento.
Em suas pesquisas sobre a dimensão motivacional, Maslow não perde de vista o que
ele chama de consciência intrínseca de cada sujeito. Explica que essa consciência está sempre
presente de forma positiva no interior de cada um, isto, segundo ele, aponta para a busca da
satisfação de necessidades que são inerentes a cada ser humano.
Maslow enfatizou um conjunto de necessidades, que denominou como necessidades
básicas, objetivando compreender melhor uma série de situações típicas do comportamento
humano. Para ele, as necessidades básicas são aquelas que estão vinculadas ao imperativo da
manutenção da vida, aquilo que mantém o homem vivo e atuante no mundo de que faz parte.
As necessidades humanas seguem uma hierarquia que, segundo Maslow, passa por
níveis diferentes de satisfação, sendo que todas devem ser satisfeitas para que haja equilíbrio
no organismo humano. Após a satisfação de suas necessidades mais básicas, ligadas ao
próprio funcionamento biológico - instintivo, a pessoa irá à busca de satisfazer necessidades
cada vez mais complexas, o que quer dizer cada vez mais individualizadas. Argumenta que
sempre surgem novas necessidades, à medida que as anteriores atingem um grau adequado de
satisfação.
MOSCOVICI, pesquisando o desenvolvimento interpessoal, afirma, com relação à
satisfação das necessidades básicas, que
Quando o organismo humano está dominado por uma determinada necessidade
fisiológica, tende a mudar até sua filosofia de futuro. Por exemplo: um homem
faminto relega tudo o mais em favor do alimento. A satisfação é tão importante
quanto à privação, pois libera o organismo do domínio das necessidades
fisiológicas, permitindo o aparecimento de outros impulsos ou motivos
(1997:77).
FADIMAN e FRAGER (1979) argumentam, a partir de MASLOW (1968), que uma
vez satisfeitas as necessidades básicas, principalmente as preponderantes, o comportamento
do sujeito passa para a "metamotivação". Para Maslow (Apud, FADIMAN e FRAGER,
1979), a metamotivação é um nível avançado de conhecimento do ser humano, quando este já
satisfez suas necessidades primeiras, de acordo com a hierarquia apresentada, e sabe que elas
serão de uma forma ou de outra supridas. O ser humano tem como avançar em suas buscas
para níveis superiores de satisfação, como, por exemplo, Maslow apresenta o aspecto
espiritual e intelectual que cada um deseja alcançar. Isto significa dizer que o indivíduo ao
sair de seus estágios iniciais estará dando passos largos em busca de sua individuação e um
conhecimento maior de si mesmo.
Compreender a motivação humana sob o referencial proposto por Maslow é
interpretar as reações de cada organismo com relação à sua maneira de agir, de se motivar,
nos diversos campos de atuação no mundo, pois as necessidades estarão vinculadas à
satisfação de cada um.
Das propostas teóricas de Maslow, alguns autores tentaram definir e delimitar melhor
o tema motivação. Encontraram, nessa tarefa, sérias dificuldades, conseqüência da busca
exclusiva de critérios comportamentais, externamente observáveis. O critério original e até
hoje utilizado é o objetivo, aquele que observa o fato na maneira como se processa. A exceção
quanto a esse critério de observação vem dos psicólogos humanistas que verificam a presença
de elementos subjetivos em suas pesquisas, ou seja, partem dos critérios subjetivos para
obterem as melhores respostas às suas hipóteses.
Maslow diz textualmente: "sou motivado quando sinto desejo, ou carência, anseio ou
falta" de alguma coisa ou de alguém. Considera que ainda não foi descoberto qualquer estado
objetivamente observável que se relacione decentemente com essas informações subjetivas,
isto é, ainda não foi encontrada uma boa definição comportamental de motivação.
Algumas respostas estão nos mecanismos de busca de cada um; estes são individuais,
pois estão relacionados aos processos de elaboração de mundo de cada um, na dinâmica
particular do desenvolvimento de cada um de nós. A compreensão dos motivos centrais do
comportamento está alicerçada naquilo que BERGAMINI (1990) chama de Psicodinâmica
Motivacional, em que as razões de "como ele o faz e como o faz, promove(m) a configuração
especial do comportamento humano".
Essa psicodinâmica vai além de fatores mensuráveis e objetivos, porque explica
aquilo que é freqüentemente esquecido no indivíduo, ou seja, como este se estrutura, o que
está em seu interior que coloca em jogo o desenvolvimento de suas capacidades individuais e
o seu relacionamento no coletivo, distinguindo-o do outro.
O mais amplo entendimento do desencadeamento do comportamento
motivacional é atingindo a partir do momento em que se consiga pôr em relevo
as principais marcas individuais de cada pessoa, marcas essas que determinarão
exatamente aquilo que se pode denominar de “estilo de comportamento
motivacional” (BERGAMINI, 1990:18).
Para BERGAMINI (1990:18), motivar, então, "é ultrapassar os limites do tempo, é
engajar-se no processo lento ou dinâmico do crescimento individual, é observar a natureza
humana própria e singular de cada um".
Diz a autora:
Cada vez mais se percebe que a felicidade motivacional é função de uma árdua
e profunda luta de cada um e que não há ninguém que possua um molde
especial no qual se possa cunhá-la a granel (p.16).
À medida que a discussão do tema se torna mais complexa, a definição da motivação
humana mostra-se além das proposições oriundas das várias correntes psicológicas, assim
como estas quiseram apregoar. O fato de que as pessoas motivadas agem de modo
semelhante, sob condicionamentos aprendidos (esquema estímulo – resposta), não significa
que elas se motivam da mesma forma, pois, perante os critérios da motivação, ninguém
motiva a quem quer que seja (Ibidem).
Visto sob este aspecto, a relevância do estudo da motivação é grande. As
perspectivas teóricas voltam-se para o entendimento das singularidades humanas, gerando,
daí, um respeito genuíno àquilo que é próprio de cada um. BERGAMINI (1990:130) afirma
que "Ninguém se modifica se conscientemente não o deseja". Ela chama a atenção para o fato
de que não conseguimos motivar quem quer que seja, mas somos capazes de desmotivar as
pessoas por não respeitarmos suas diferenças individuais, por não respeitarmos o seu próprio
estilo, a sua maneira de ser e de estar no mundo.
A configuração mais nítida do comportamento motivacional começa, antes de
mais nada, quando se consegue diferenciar dois tipos distintos de ação dos seres
humanos: as primeiras são as ações empreendidas pelos indivíduos a partir de
condicionantes que estão fora dele, as segundas são levadas a efeito de maneira
espontânea, isto é, são os resultados de forças impulsoras internas (Ibidem:
24).
A natureza da motivação humana passa a ser vista, interpretada, de um outro lugar, o
do sujeito que vive o seu próprio processo de busca, procurando atender aos seus anseios na
satisfação e equilíbrio de suas necessidades.
MASLOW (1968) sustenta que o objetivo dos estudos que analisam as sutilezas de
um comportamento motivado no ser humano é proporcionar elemento de pesquisa. Neste
sentido, existe a suposição de que, para além de qualquer influência externa que possa
interferir no processo de motivação, estaria algo que realmente impulsiona o sujeito para o ato
motivacional, e isto seria a sua vontade, sua força interior.
Ainda, segundo o autor, a melhor forma de se estudar motivação é aquela que utiliza
os critérios subjetivos. Estes são os principais elementos para avançar nos estudos da
motivação humana, pois eles se relacionam com aquilo que a pessoa traz em sua
individualidade, como força motriz que a leva para a realização de alguma coisa e na maneira
como realiza estas ações.
Por fim, argumenta que uma sociedade saudável e motivada é aquela em que a troca
de energia está subentendida no valor peculiar de cada um. Mesmo que o meio social impeça
uma ação verdadeira do ser humano, este pode, a partir de sua própria motivação interior, o
curso de seus acontecimentos na busca de maior satisfação pessoal, vencendo barreiras e
ultrapassando obstáculos.
Sintetizando o que foi apresentado nestes itens, verificamos que o tema motivação
faz parte de um universo complexo, porém não menos importante. A motivação constitui um
elemento essencial de estudo para se poder entender o comportamento humano. O desafio
fundamental da motivação está no enfoque segundo o qual ela é um elemento chave para o
desenvolvimento e realização das ações humanas e não um aspecto mecanicista e
condicionante dos comportamentos sociais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERGAMINI, Cecília Whitaker. Motivação nas organizações. 4.ed. São Paulo: Atlas,1997.
DE LA PUENTE, Miguel (org). Tendências contemporâneas em psicologia da motivação.
São Paulo: Autores Associados Cortez, 1982.
GEIWITZ, P. James. Teorias não-freudianas da personalidade. São Paulo: EPU, 1973.
LEITE FILHO, Ivo.
A motivação analisada no processo ensino-aprendizagem de John
Dewey. Revista de Educação Pública, Cuiabá, v.5, n.8, jul./dez. 1996.
LÉVY-LEBOYER, Claude. A crise das motivações. São Paulo: Atlas, 1994.
MCLAUGHLIN, Barry. Theories of second-language. London: Edward Arnold, 1987.
MASLOW, Abraham H. Introdução à psicologia do ser. 2.ed. Rio de Janeiro : Eldorado,
1968.
MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento interpessoal: treinamento em grupo. 7.ed. Rio de
Janeiro : José Olímpio, 1997.
MURRAY, Edward J. Motivação humana. 5.ed. Rio de Janeiro : Zahar, 1983.
PENNA, Antônio Gomes. Motivação e emoção. Rio de Janeiro: Rio, 1975.
PRETTO, Siloé Pereira Neves. Educação humanista. São Paulo: Cortez e Moraes, 1978.
VERNON, M. D. Motivação humana. Petrópolis: Vozes, 1973.
A MOTIVAÇÃO DO AGIR HUMANO
Zilpa Helena Lovisi de Abreu1
RESUMO
Este artigo apresenta uma revisão bibliográfica sobre algumas concepções a respeito da
motivação e a sua centralidade no agir humano. Apesar de o tema motivação ser bastante
estudado, muitos aspectos que o envolvem necessitam ainda de aproximações teóricas, além
de análises empíricas, isto é, baseadas na experiência humana, em situações e condições
subjetivas específicas. Pretendemos, portanto, expor algumas considerações feitas por autores
que dedicaram parte de seus estudos ao tema em questão. Entre estes, destacamos Maslow,
Murray, Lindzey, Bergamini e Moscovici.
Palavras-chave: Teorias Motivacionais; Motivação e Educação; Maslow
ABSTRACT
This article presents a literature review on certain ideas about the motivation and its centrality
in human act. Although the theme motivation rather be studied, many aspects that still need to
involve theoretical approaches, and empirical analysis, that is, based on human experience, in
specific situations and subjective conditions. We want therefore expose a few comments made
by authors who have devoted part of their studies on the subject matter. Among these, we
highlight Maslow, Murray, lindzey, Bergamini and Moscovici.
Keywords: motivational theories, motivation and education; Maslow
1
Mestre em Educação CES/JF- Coordenadora do Curso de Pedagogia – Instituto Superior de Educação de
Santos Dumont-MG – Professora de Espanhol.
INTRODUÇÃO
De acordo com BERGAMINI (1990), ao estudar motivação, deparamo-nos com
obstáculos que devem ser transpostos para a compreensão da natureza humana, isto é, lutar
contra os mitos, em torno do assunto, que estão arraigados nas crenças populares sobre
motivação, como, por exemplo, que as pessoas fazem coisas pelas mesmas razões, conceito
este que não se sustenta, ao compreendermos que temos feições individuais, próprias e únicas.
Não existe uma regra universal para explicar a motivação e as ações humanas. Cada
um busca a sua satisfação de forma diferenciada da dos demais, portanto, diferentes motivos
interferem no desenvolvimento e no nível de realização e investimento do indivíduo em suas
variadas atitudes e comportamentos no mundo. No âmbito educacional esses fatores devem
ser, constantemente, analisados e observados pelos profissionais da área para conseguir uma
aprendizagem efetiva de seus alunos e uma constante motivação pela busca do conhecimento.
ABORDAGENS TEÓRICAS SOBRE A MOTIVAÇÃO
Cumpre, agora, nos determos, ainda que apenas brevemente, em algumas abordagens
teóricas acerca da motivação. Inicialmente, pretendemos correlacionar as concepções dos
autores considerados clássicos no estudo deste tema. Portanto, serão sucintamente discutidas
as idéias propostas por Murray, Lindsey, Moscovici e mais detalhadamente acerca da
perspectiva teórica desenvolvida por Maslow.
MURRAY (1983) acredita que possam ser descritas três teorias centrais nos estudos
do comportamento e seus motivadores: a Cognitiva, a Hedonista e a do Instinto ou Instintiva.
A Teoria Cognitiva parte do pressuposto de que a vontade do indivíduo seria o que determina
suas ações, suas escolhas e o faz responsável por elas. A motivação estaria relacionada com a
dimensão essencialmente cognitiva frente à escolha feita diante das várias alternativas que o
sujeito encontra.
As Teorias Hedonistas enfatizam a busca do prazer como chave para o entendimento
do comportamento humano. Destaca que a natureza humana busca ou se aproxima do que dá
prazer e evita o que não o proporciona, gerando os comportamentos de aproximação e
evitação. Os motivos para a ação humana estariam alicerçados nos dois efeitos, ou seja, o
indivíduo estará motivado, quando vivencia o prazer ou quando pode se afastar dele quando
não o obtém, buscando-o em outra situação.
A Teoria do Instinto, segundo MURRAY (1983), é aquela que sustenta que o
indivíduo está motivado quando segue seus instintos interiores e as suas decisões estão
alicerçadas neste comportamento:
Podemos, assim, definir um instinto como uma disposição psicofísica herdada
ou inata, a qual determina ao seu possuidor perceber ou dar atenção a objetos de
certa classe, experimentar uma excitação emocional de determinada qualidade
ao perceber tal objeto, e atuar em relação ao mesmo de um modo particular, ou
experimentar, pelo menos, um impulso para tal ação (Mcdougall, in
MURRAY, 1983:17).
Para Murray, o conceito de instinto caminha junto com o de impulso. O impulso é
um elemento significativo para a compreensão da motivação. Por meio dos impulsos,
poderíamos explicar os motivos mais prementes que conduzem um indivíduo à realização de
uma ação. Essa correlação já foi apresentada em 1918, por Robert S. Woodworth (MURRAY,
1983:18). De acordo com aquele autor, o impulso é uma dotação de energia para a ação. É ele
que impele o organismo ao movimento, ao estar motivado no empreendimento de uma meta.
Explica que o impulso relaciona-se, diretamente, com os instintos inerentes a cada pessoa. Os
dois conceitos juntos se somam, se comunicam.
Diante desses conceitos, os autores, Murray e Woodworth, definem a motivação
como uma ação estimulada pelos impulsos, que irão agir no comportamento geral de uma
pessoa. Se há um desequilíbrio, uma instabilidade ou um objetivo a ser alcançado, a pessoa
passa a agir por meio de seus impulsos advindos dos seus instintos primários, para conseguir
equilíbrio, satisfação e prazer.
LINDZEY et al, esclarece melhor o assunto, ao afirmar:
que o impulso ou drive é a energia que incita à ação, podendo originar-se por
processos orgânicos internos, identificáveis, chamados de impulsos nãoaprendidos ou primários, como a fome, por exemplo. Outros são adquiridos pela
aprendizagem, como a competição, ou seja, uma necessidade aprendida. Definese, então, que “um motivo é qualquer coisa que inicia o comportamento”
(1977:328).
A concepção do que é impulso, segundo os autores citados, está relacionada a algo
que pode ou não sofrer influência da aprendizagem. Percebemos que, por exemplo, muitas
vezes, os alunos encontram-se motivados para os estudos por receberem incentivos que se
transformam em impulsos, reforçando os estímulos para prosseguirem no processo de
aprendizagem. Vemos que a motivação é maior quando parte daquilo que lhe é inerente,
interno, e não de condicionamentos pré-fixados.
Lindzey et al enfatiza que obter aprovação e realização sobre algum ato, por
exemplo, torna-se fator de aprendizagem, ao ser reforçado continuadamente, mediante os
incentivos recebidos. Os dois conceitos somados aclaram a compreensão da vivência da
pessoa, uns primariamente - satisfazendo as necessidades fundamentais -, e os outros
aprendidos, ajustando o indivíduo ao seu meio social.
O autor conclui que
Excitação (arousal) é a energização do comportamento. Um motivo nos torna
mais ativos e inquietos. O comportamento motivado também tem propósitos ou
intenção. A pessoa motivada tem direção, um objetivo ou meta. O sentimento
de querer ou desejar é experimentado como tensão, esforço e expectativa.
Quando o objetivo é alcançado, a tensão e o esforço desaparecem juntamente
com a atividade energética (Ibidem:329).
O impulso, como fonte de energia, poderá esclarecer muito sobre o comportamento
motivado, pois, como há impulsos primários e aprendidos, as ações motivadas estarão aliadas
a esses impulsos orgânicos primários.
As ações motivadas pelo impulso são chamadas atos instrumentais porque são
os instrumentos por meio dos quais o objetivo do impulso é atingido. Os objetos
para satisfazer a fonte do impulso são chamados de objetos instrumentais. Os
atos e objetos instrumentais variam de cultura, para cultura, indivíduo para
indivíduo, e mesmo de dia para dia em relação ao mesmo sujeito...O costume é
um fator importante na modelagem de formas específicas de satisfação dos
impulsos primários (Ibidem:331-32).
Segundo MASLOW (1968), os estudos da motivação são de grande importância para
se compreender o comportamento humano. Ao apresentarmos as pesquisas sobre a natureza
humana, podemos extrair algumas conclusões sobre a motivação. Os conceitos e as teorias
que serviram e servem de base para compreender a dimensão motivacional do comportamento
humano estão presentes em vários campos de estudos, inclusive o educacional (MOSCOVICI,
1997).
O estudo da motivação, enquanto campo de estudo da Psicologia, tem ainda muito
que desenvolver, dada a sua complexidade, tornando-se necessário lançar mão de
instrumentos de abordagem de diversas ciências, tais como a Sociologia, a Antropologia e a
Biologia.
A rede de conceitos relacionados à motivação deixa entrever que o comportamento
humano deriva de um organismo complexo, o que inviabiliza a construção de um referencial
teórico único para a análise da condição humana. Segundo MURRAY (1983), os motivos que
damos às nossas capacidades individuais dependem da motivação, ou dos desejos, das
carências, das necessidades que cada ser humano possui, em sua natureza individual. E a
busca por sua singularidade é que faz a diferença entre cada um de nós.
A Psicologia, como qualquer ciência, utiliza diversos conceitos teóricos na tentativa
de compreender o comportamento humano enquanto ser social e individual. Uma dessas
abordagens, que parece melhor atender à temática da motivação, estaria alicerçada no que se
convencionou chamar de Psicologia Humanista.
A abordagem teórica da Psicologia Humanista tem como um de seus principais
pesquisadores MASLOW (1968)2, que pode ser considerado o fundador dessa corrente de
psicologia. Mosquera considera que Maslow foi o expoente e o criador de uma Terceira força
em Psicologia ou também denominada Psicologia Humanista Existencial (1968:21).
Foi através dos trabalhos de Maslow (1968) que o termo motivação passou a ser
referendado como objeto de estudo significativo no campo da Psicologia. Em suas pesquisas,
procurava não só observar os critérios objetivos que faziam parte de suas experiências, mas
procurava se informar a respeito da presença de um comportamento motivado que poderia ser
verificado através de elementos subjetivos no desenvolvimento da pesquisa analisada.
O autor apresenta uma concepção de homem diferente das visões até então existentes
em Psicologia. Seus estudos estão baseados num enfoque de um homem visto como um
complexo biopsicossocial, ou seja, um ser capaz de gerir sua própria existência, quando busca
melhores condições de desenvolvimento e satisfação de suas necessidades (MURRAY,
1983:9).
Para Maslow, os estudos da motivação devem apontar para um ser humano que seja
visto em sua totalidade; totalidade esta que envolve sua formação geral, sua consciência
histórica, escolhas e necessidades. Como afirma FADIMAN e FRAGER (1979:261),
2
- Abraham Maslow, estudioso norte-americano foi o precursor da abordagem humanista na Psicologia. As duas
outras correntes psicológicas importantes são: psicanálise e o behaviorismo, estas não serão objetos deste
trabalho.
referindo-se à obra de Maslow (1968), "as atividades humanas de que o homem se orgulha e
que dão sentido, riqueza e valor à sua vida são omitidas ou classificadas como patológicas".
Neste sentido, a teoria de Maslow e de outros autores, dessa mesma corrente, procura situar o
indivíduo numa visão mais positiva e saudável frente à existência.
Maslow (1968) sustenta que existem muitas maneiras de entender e interpretar o
comportamento humano, ou seja, as diferentes abordagens e teorias psicológicas apontam,
cada uma a sua maneira, aspectos fundamentais para uma análise mais global do ser humano.
Porém, o que ele apresenta são instrumentos teóricos que vêem o homem de uma forma
mais saudável, motivado intrínseca e extrinsecamente, com relação à busca de seus
anseios e do modo positivo que cada um vivencia seus atos para atingir seus propósitos.
Os estudos da motivação realizados por Maslow trazem uma maneira nova de
observação do comportamento humano, ou seja, o ser humano é visto mais em seus aspectos
positivos e em suas potencialidades atuais e naquelas que podem vir a ser manifestadas. Isso
equivale dizer que Maslow acredita em um homem autônomo, capaz de satisfazer suas
necessidades, partindo em busca de outras que vão surgindo ao longo de seu processo de
existência.
O autor, segundo LINDZEY et al (1977:328), explica que, ao buscar a realização de
algo, o homem passa a apresentar motivos para determinados comportamentos, em busca da
satisfação de suas necessidades e o papel que eles desempenham na determinação de seu
comportamento.
Essa visão de homem mais centrado e positivo, passa a gerar, segundo a ética
humanista, idéias mais voltadas para o valor do humano. Segundo MOSCOVICI, tal
concepção centra-se no fato de o indivíduo poder aprender a pensar de forma crítica, a
enfrentar situações novas sem pânico, e também de forma mais livre ou criativa, a confiar em
si e nos outros, a descobrir e desenvolver suas potencialidades, no sentido de tornar-se mais
autêntico e produtivo. A consideração deste aspecto coloca os estudos da motivação como
uma fonte geradora de compreensão da natureza humana e do que venha a ser um
comportamento motivado. Daí a importância de percepção do homem mais valorizado e
acreditado.
Toda conscientização traz em si as possibilidades de mudança, através da nova
percepção da realidade externa ou interna. Se a percepção se modifica, vários
outros planos do processo psicológico também se modificam, o indivíduo não
apenas passa a ver diferente, mas a sentir e pensar de forma diferente e,
conseqüentemente, agir de outra maneira (MOSCOVICI, 1977:XX).
Os estudos sobre a motivação vão, então, abranger esferas realmente importantes do
comportamento humano, ao considerar o homem como agente central de seus motivos e de
suas escolhas.
Na abordagem teórica, proposta por Maslow, observamos uma série de
considerações sobre o tema da motivação, que foram inicialmente tomadas como linhas
mestras para interpretar e estudar os motivadores do comportamento humano. Estas
possibilitam uma avaliação individual, ou seja, levam em consideração o que é próprio de
cada indivíduo, indo em direção à valorização da saúde psicológica, uma vez que o
desenvolvimento é visto como um processo mais positivo e não-patológico no conhecimento
de si mesmo. Isto significa dizer que a proposta da Psicologia Humanista é a de correlacionar
o que há de saudável em um ser humano, como a busca de um maior entendimento de si
mesmo e de seu comportamento.
Em suas pesquisas sobre a dimensão motivacional, Maslow não perde de vista o que
ele chama de consciência intrínseca de cada sujeito. Explica que essa consciência está sempre
presente de forma positiva no interior de cada um, isto, segundo ele, aponta para a busca da
satisfação de necessidades que são inerentes a cada ser humano.
Maslow enfatizou um conjunto de necessidades, que denominou como necessidades
básicas, objetivando compreender melhor uma série de situações típicas do comportamento
humano. Para ele, as necessidades básicas são aquelas que estão vinculadas ao imperativo da
manutenção da vida, aquilo que mantém o homem vivo e atuante no mundo de que faz parte.
As necessidades humanas seguem uma hierarquia que, segundo Maslow, passa por
níveis diferentes de satisfação, sendo que todas devem ser satisfeitas para que haja equilíbrio
no organismo humano. Após a satisfação de suas necessidades mais básicas, ligadas ao
próprio funcionamento biológico - instintivo, a pessoa irá à busca de satisfazer necessidades
cada vez mais complexas, o que quer dizer cada vez mais individualizadas. Argumenta que
sempre surgem novas necessidades, à medida que as anteriores atingem um grau adequado de
satisfação.
MOSCOVICI, pesquisando o desenvolvimento interpessoal, afirma, com relação à
satisfação das necessidades básicas, que
Quando o organismo humano está dominado por uma determinada necessidade
fisiológica, tende a mudar até sua filosofia de futuro. Por exemplo: um homem
faminto relega tudo o mais em favor do alimento. A satisfação é tão importante
quanto à privação, pois libera o organismo do domínio das necessidades
fisiológicas, permitindo o aparecimento de outros impulsos ou motivos
(1997:77).
FADIMAN e FRAGER (1979) argumentam, a partir de MASLOW (1968), que uma
vez satisfeitas as necessidades básicas, principalmente as preponderantes, o comportamento
do sujeito passa para a "metamotivação". Para Maslow (Apud, FADIMAN e FRAGER,
1979), a metamotivação é um nível avançado de conhecimento do ser humano, quando este já
satisfez suas necessidades primeiras, de acordo com a hierarquia apresentada, e sabe que elas
serão de uma forma ou de outra supridas. O ser humano tem como avançar em suas buscas
para níveis superiores de satisfação, como, por exemplo, Maslow apresenta o aspecto
espiritual e intelectual que cada um deseja alcançar. Isto significa dizer que o indivíduo ao
sair de seus estágios iniciais estará dando passos largos em busca de sua individuação e um
conhecimento maior de si mesmo.
Compreender a motivação humana sob o referencial proposto por Maslow é
interpretar as reações de cada organismo com relação à sua maneira de agir, de se motivar,
nos diversos campos de atuação no mundo, pois as necessidades estarão vinculadas à
satisfação de cada um.
Das propostas teóricas de Maslow, alguns autores tentaram definir e delimitar melhor
o tema motivação. Encontraram, nessa tarefa, sérias dificuldades, conseqüência da busca
exclusiva de critérios comportamentais, externamente observáveis. O critério original e até
hoje utilizado é o objetivo, aquele que observa o fato na maneira como se processa. A exceção
quanto a esse critério de observação vem dos psicólogos humanistas que verificam a presença
de elementos subjetivos em suas pesquisas, ou seja, partem dos critérios subjetivos para
obterem as melhores respostas às suas hipóteses.
Maslow diz textualmente: "sou motivado quando sinto desejo, ou carência, anseio ou
falta" de alguma coisa ou de alguém. Considera que ainda não foi descoberto qualquer estado
objetivamente observável que se relacione decentemente com essas informações subjetivas,
isto é, ainda não foi encontrada uma boa definição comportamental de motivação.
Algumas respostas estão nos mecanismos de busca de cada um; estes são individuais,
pois estão relacionados aos processos de elaboração de mundo de cada um, na dinâmica
particular do desenvolvimento de cada um de nós. A compreensão dos motivos centrais do
comportamento está alicerçada naquilo que BERGAMINI (1990) chama de Psicodinâmica
Motivacional, em que as razões de "como ele o faz e como o faz, promove(m) a configuração
especial do comportamento humano".
Essa psicodinâmica vai além de fatores mensuráveis e objetivos, porque explica
aquilo que é freqüentemente esquecido no indivíduo, ou seja, como este se estrutura, o que
está em seu interior que coloca em jogo o desenvolvimento de suas capacidades individuais e
o seu relacionamento no coletivo, distinguindo-o do outro.
O mais amplo entendimento do desencadeamento do comportamento
motivacional é atingindo a partir do momento em que se consiga pôr em relevo
as principais marcas individuais de cada pessoa, marcas essas que determinarão
exatamente aquilo que se pode denominar de “estilo de comportamento
motivacional” (BERGAMINI, 1990:18).
Para BERGAMINI (1990:18), motivar, então, "é ultrapassar os limites do tempo, é
engajar-se no processo lento ou dinâmico do crescimento individual, é observar a natureza
humana própria e singular de cada um".
Diz a autora:
Cada vez mais se percebe que a felicidade motivacional é função de uma árdua
e profunda luta de cada um e que não há ninguém que possua um molde
especial no qual se possa cunhá-la a granel (p.16).
À medida que a discussão do tema se torna mais complexa, a definição da motivação
humana mostra-se além das proposições oriundas das várias correntes psicológicas, assim
como estas quiseram apregoar. O fato de que as pessoas motivadas agem de modo
semelhante, sob condicionamentos aprendidos (esquema estímulo – resposta), não significa
que elas se motivam da mesma forma, pois, perante os critérios da motivação, ninguém
motiva a quem quer que seja (Ibidem).
Visto sob este aspecto, a relevância do estudo da motivação é grande. As
perspectivas teóricas voltam-se para o entendimento das singularidades humanas, gerando,
daí, um respeito genuíno àquilo que é próprio de cada um. BERGAMINI (1990:130) afirma
que "Ninguém se modifica se conscientemente não o deseja". Ela chama a atenção para o fato
de que não conseguimos motivar quem quer que seja, mas somos capazes de desmotivar as
pessoas por não respeitarmos suas diferenças individuais, por não respeitarmos o seu próprio
estilo, a sua maneira de ser e de estar no mundo.
A configuração mais nítida do comportamento motivacional começa, antes de
mais nada, quando se consegue diferenciar dois tipos distintos de ação dos seres
humanos: as primeiras são as ações empreendidas pelos indivíduos a partir de
condicionantes que estão fora dele, as segundas são levadas a efeito de maneira
espontânea, isto é, são os resultados de forças impulsoras internas (Ibidem:
24).
A natureza da motivação humana passa a ser vista, interpretada, de um outro lugar, o
do sujeito que vive o seu próprio processo de busca, procurando atender aos seus anseios na
satisfação e equilíbrio de suas necessidades.
MASLOW (1968) sustenta que o objetivo dos estudos que analisam as sutilezas de
um comportamento motivado no ser humano é proporcionar elemento de pesquisa. Neste
sentido, existe a suposição de que, para além de qualquer influência externa que possa
interferir no processo de motivação, estaria algo que realmente impulsiona o sujeito para o ato
motivacional, e isto seria a sua vontade, sua força interior.
Ainda, segundo o autor, a melhor forma de se estudar motivação é aquela que utiliza
os critérios subjetivos. Estes são os principais elementos para avançar nos estudos da
motivação humana, pois eles se relacionam com aquilo que a pessoa traz em sua
individualidade, como força motriz que a leva para a realização de alguma coisa e na maneira
como realiza estas ações.
Por fim, argumenta que uma sociedade saudável e motivada é aquela em que a troca
de energia está subentendida no valor peculiar de cada um. Mesmo que o meio social impeça
uma ação verdadeira do ser humano, este pode, a partir de sua própria motivação interior, o
curso de seus acontecimentos na busca de maior satisfação pessoal, vencendo barreiras e
ultrapassando obstáculos.
Sintetizando o que foi apresentado nestes itens, verificamos que o tema motivação
faz parte de um universo complexo, porém não menos importante. A motivação constitui um
elemento essencial de estudo para se poder entender o comportamento humano. O desafio
fundamental da motivação está no enfoque segundo o qual ela é um elemento chave para o
desenvolvimento e realização das ações humanas e não um aspecto mecanicista e
condicionante dos comportamentos sociais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERGAMINI, Cecília Whitaker. Motivação nas organizações. 4.ed. São Paulo: Atlas,1997.
DE LA PUENTE, Miguel (org). Tendências contemporâneas em psicologia da motivação.
São Paulo: Autores Associados Cortez, 1982.
GEIWITZ, P. James. Teorias não-freudianas da personalidade. São Paulo: EPU, 1973.
LEITE FILHO, Ivo.
A motivação analisada no processo ensino-aprendizagem de John
Dewey. Revista de Educação Pública, Cuiabá, v.5, n.8, jul./dez. 1996.
LÉVY-LEBOYER, Claude. A crise das motivações. São Paulo: Atlas, 1994.
MCLAUGHLIN, Barry. Theories of second-language. London: Edward Arnold, 1987.
MASLOW, Abraham H. Introdução à psicologia do ser. 2.ed. Rio de Janeiro : Eldorado,
1968.
MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento interpessoal: treinamento em grupo. 7.ed. Rio de
Janeiro : José Olímpio, 1997.
MURRAY, Edward J. Motivação humana. 5.ed. Rio de Janeiro : Zahar, 1983.
PENNA, Antônio Gomes. Motivação e emoção. Rio de Janeiro: Rio, 1975.
PRETTO, Siloé Pereira Neves. Educação humanista. São Paulo: Cortez e Moraes, 1978.
VERNON, M. D. Motivação humana. Petrópolis: Vozes, 1973.
A MOTIVAÇÃO DO AGIR HUMANO
Zilpa Helena Lovisi de Abreu1
RESUMO
Este artigo apresenta uma revisão bibliográfica sobre algumas concepções a respeito da
motivação e a sua centralidade no agir humano. Apesar de o tema motivação ser bastante
estudado, muitos aspectos que o envolvem necessitam ainda de aproximações teóricas, além
de análises empíricas, isto é, baseadas na experiência humana, em situações e condições
subjetivas específicas. Pretendemos, portanto, expor algumas considerações feitas por autores
que dedicaram parte de seus estudos ao tema em questão. Entre estes, destacamos Maslow,
Murray, Lindzey, Bergamini e Moscovici.
Palavras-chave: Teorias Motivacionais; Motivação e Educação; Maslow
ABSTRACT
This article presents a literature review on certain ideas about the motivation and its centrality
in human act. Although the theme motivation rather be studied, many aspects that still need to
involve theoretical approaches, and empirical analysis, that is, based on human experience, in
specific situations and subjective conditions. We want therefore expose a few comments made
by authors who have devoted part of their studies on the subject matter. Among these, we
highlight Maslow, Murray, lindzey, Bergamini and Moscovici.
Keywords: motivational theories, motivation and education; Maslow
1
Mestre em Educação CES/JF- Coordenadora do Curso de Pedagogia – Instituto Superior de Educação de
Santos Dumont-MG – Professora de Espanhol.
INTRODUÇÃO
De acordo com BERGAMINI (1990), ao estudar motivação, deparamo-nos com
obstáculos que devem ser transpostos para a compreensão da natureza humana, isto é, lutar
contra os mitos, em torno do assunto, que estão arraigados nas crenças populares sobre
motivação, como, por exemplo, que as pessoas fazem coisas pelas mesmas razões, conceito
este que não se sustenta, ao compreendermos que temos feições individuais, próprias e únicas.
Não existe uma regra universal para explicar a motivação e as ações humanas. Cada
um busca a sua satisfação de forma diferenciada da dos demais, portanto, diferentes motivos
interferem no desenvolvimento e no nível de realização e investimento do indivíduo em suas
variadas atitudes e comportamentos no mundo. No âmbito educacional esses fatores devem
ser, constantemente, analisados e observados pelos profissionais da área para conseguir uma
aprendizagem efetiva de seus alunos e uma constante motivação pela busca do conhecimento.
ABORDAGENS TEÓRICAS SOBRE A MOTIVAÇÃO
Cumpre, agora, nos determos, ainda que apenas brevemente, em algumas abordagens
teóricas acerca da motivação. Inicialmente, pretendemos correlacionar as concepções dos
autores considerados clássicos no estudo deste tema. Portanto, serão sucintamente discutidas
as idéias propostas por Murray, Lindsey, Moscovici e mais detalhadamente acerca da
perspectiva teórica desenvolvida por Maslow.
MURRAY (1983) acredita que possam ser descritas três teorias centrais nos estudos
do comportamento e seus motivadores: a Cognitiva, a Hedonista e a do Instinto ou Instintiva.
A Teoria Cognitiva parte do pressuposto de que a vontade do indivíduo seria o que determina
suas ações, suas escolhas e o faz responsável por elas. A motivação estaria relacionada com a
dimensão essencialmente cognitiva frente à escolha feita diante das várias alternativas que o
sujeito encontra.
As Teorias Hedonistas enfatizam a busca do prazer como chave para o entendimento
do comportamento humano. Destaca que a natureza humana busca ou se aproxima do que dá
prazer e evita o que não o proporciona, gerando os comportamentos de aproximação e
evitação. Os motivos para a ação humana estariam alicerçados nos dois efeitos, ou seja, o
indivíduo estará motivado, quando vivencia o prazer ou quando pode se afastar dele quando
não o obtém, buscando-o em outra situação.
A Teoria do Instinto, segundo MURRAY (1983), é aquela que sustenta que o
indivíduo está motivado quando segue seus instintos interiores e as suas decisões estão
alicerçadas neste comportamento:
Podemos, assim, definir um instinto como uma disposição psicofísica herdada
ou inata, a qual determina ao seu possuidor perceber ou dar atenção a objetos de
certa classe, experimentar uma excitação emocional de determinada qualidade
ao perceber tal objeto, e atuar em relação ao mesmo de um modo particular, ou
experimentar, pelo menos, um impulso para tal ação (Mcdougall, in
MURRAY, 1983:17).
Para Murray, o conceito de instinto caminha junto com o de impulso. O impulso é
um elemento significativo para a compreensão da motivação. Por meio dos impulsos,
poderíamos explicar os motivos mais prementes que conduzem um indivíduo à realização de
uma ação. Essa correlação já foi apresentada em 1918, por Robert S. Woodworth (MURRAY,
1983:18). De acordo com aquele autor, o impulso é uma dotação de energia para a ação. É ele
que impele o organismo ao movimento, ao estar motivado no empreendimento de uma meta.
Explica que o impulso relaciona-se, diretamente, com os instintos inerentes a cada pessoa. Os
dois conceitos juntos se somam, se comunicam.
Diante desses conceitos, os autores, Murray e Woodworth, definem a motivação
como uma ação estimulada pelos impulsos, que irão agir no comportamento geral de uma
pessoa. Se há um desequilíbrio, uma instabilidade ou um objetivo a ser alcançado, a pessoa
passa a agir por meio de seus impulsos advindos dos seus instintos primários, para conseguir
equilíbrio, satisfação e prazer.
LINDZEY et al, esclarece melhor o assunto, ao afirmar:
que o impulso ou drive é a energia que incita à ação, podendo originar-se por
processos orgânicos internos, identificáveis, chamados de impulsos nãoaprendidos ou primários, como a fome, por exemplo. Outros são adquiridos pela
aprendizagem, como a competição, ou seja, uma necessidade aprendida. Definese, então, que “um motivo é qualquer coisa que inicia o comportamento”
(1977:328).
A concepção do que é impulso, segundo os autores citados, está relacionada a algo
que pode ou não sofrer influência da aprendizagem. Percebemos que, por exemplo, muitas
vezes, os alunos encontram-se motivados para os estudos por receberem incentivos que se
transformam em impulsos, reforçando os estímulos para prosseguirem no processo de
aprendizagem. Vemos que a motivação é maior quando parte daquilo que lhe é inerente,
interno, e não de condicionamentos pré-fixados.
Lindzey et al enfatiza que obter aprovação e realização sobre algum ato, por
exemplo, torna-se fator de aprendizagem, ao ser reforçado continuadamente, mediante os
incentivos recebidos. Os dois conceitos somados aclaram a compreensão da vivência da
pessoa, uns primariamente - satisfazendo as necessidades fundamentais -, e os outros
aprendidos, ajustando o indivíduo ao seu meio social.
O autor conclui que
Excitação (arousal) é a energização do comportamento. Um motivo nos torna
mais ativos e inquietos. O comportamento motivado também tem propósitos ou
intenção. A pessoa motivada tem direção, um objetivo ou meta. O sentimento
de querer ou desejar é experimentado como tensão, esforço e expectativa.
Quando o objetivo é alcançado, a tensão e o esforço desaparecem juntamente
com a atividade energética (Ibidem:329).
O impulso, como fonte de energia, poderá esclarecer muito sobre o comportamento
motivado, pois, como há impulsos primários e aprendidos, as ações motivadas estarão aliadas
a esses impulsos orgânicos primários.
As ações motivadas pelo impulso são chamadas atos instrumentais porque são
os instrumentos por meio dos quais o objetivo do impulso é atingido. Os objetos
para satisfazer a fonte do impulso são chamados de objetos instrumentais. Os
atos e objetos instrumentais variam de cultura, para cultura, indivíduo para
indivíduo, e mesmo de dia para dia em relação ao mesmo sujeito...O costume é
um fator importante na modelagem de formas específicas de satisfação dos
impulsos primários (Ibidem:331-32).
Segundo MASLOW (1968), os estudos da motivação são de grande importância para
se compreender o comportamento humano. Ao apresentarmos as pesquisas sobre a natureza
humana, podemos extrair algumas conclusões sobre a motivação. Os conceitos e as teorias
que serviram e servem de base para compreender a dimensão motivacional do comportamento
humano estão presentes em vários campos de estudos, inclusive o educacional (MOSCOVICI,
1997).
O estudo da motivação, enquanto campo de estudo da Psicologia, tem ainda muito
que desenvolver, dada a sua complexidade, tornando-se necessário lançar mão de
instrumentos de abordagem de diversas ciências, tais como a Sociologia, a Antropologia e a
Biologia.
A rede de conceitos relacionados à motivação deixa entrever que o comportamento
humano deriva de um organismo complexo, o que inviabiliza a construção de um referencial
teórico único para a análise da condição humana. Segundo MURRAY (1983), os motivos que
damos às nossas capacidades individuais dependem da motivação, ou dos desejos, das
carências, das necessidades que cada ser humano possui, em sua natureza individual. E a
busca por sua singularidade é que faz a diferença entre cada um de nós.
A Psicologia, como qualquer ciência, utiliza diversos conceitos teóricos na tentativa
de compreender o comportamento humano enquanto ser social e individual. Uma dessas
abordagens, que parece melhor atender à temática da motivação, estaria alicerçada no que se
convencionou chamar de Psicologia Humanista.
A abordagem teórica da Psicologia Humanista tem como um de seus principais
pesquisadores MASLOW (1968)2, que pode ser considerado o fundador dessa corrente de
psicologia. Mosquera considera que Maslow foi o expoente e o criador de uma Terceira força
em Psicologia ou também denominada Psicologia Humanista Existencial (1968:21).
Foi através dos trabalhos de Maslow (1968) que o termo motivação passou a ser
referendado como objeto de estudo significativo no campo da Psicologia. Em suas pesquisas,
procurava não só observar os critérios objetivos que faziam parte de suas experiências, mas
procurava se informar a respeito da presença de um comportamento motivado que poderia ser
verificado através de elementos subjetivos no desenvolvimento da pesquisa analisada.
O autor apresenta uma concepção de homem diferente das visões até então existentes
em Psicologia. Seus estudos estão baseados num enfoque de um homem visto como um
complexo biopsicossocial, ou seja, um ser capaz de gerir sua própria existência, quando busca
melhores condições de desenvolvimento e satisfação de suas necessidades (MURRAY,
1983:9).
Para Maslow, os estudos da motivação devem apontar para um ser humano que seja
visto em sua totalidade; totalidade esta que envolve sua formação geral, sua consciência
histórica, escolhas e necessidades. Como afirma FADIMAN e FRAGER (1979:261),
2
- Abraham Maslow, estudioso norte-americano foi o precursor da abordagem humanista na Psicologia. As duas
outras correntes psicológicas importantes são: psicanálise e o behaviorismo, estas não serão objetos deste
trabalho.
referindo-se à obra de Maslow (1968), "as atividades humanas de que o homem se orgulha e
que dão sentido, riqueza e valor à sua vida são omitidas ou classificadas como patológicas".
Neste sentido, a teoria de Maslow e de outros autores, dessa mesma corrente, procura situar o
indivíduo numa visão mais positiva e saudável frente à existência.
Maslow (1968) sustenta que existem muitas maneiras de entender e interpretar o
comportamento humano, ou seja, as diferentes abordagens e teorias psicológicas apontam,
cada uma a sua maneira, aspectos fundamentais para uma análise mais global do ser humano.
Porém, o que ele apresenta são instrumentos teóricos que vêem o homem de uma forma
mais saudável, motivado intrínseca e extrinsecamente, com relação à busca de seus
anseios e do modo positivo que cada um vivencia seus atos para atingir seus propósitos.
Os estudos da motivação realizados por Maslow trazem uma maneira nova de
observação do comportamento humano, ou seja, o ser humano é visto mais em seus aspectos
positivos e em suas potencialidades atuais e naquelas que podem vir a ser manifestadas. Isso
equivale dizer que Maslow acredita em um homem autônomo, capaz de satisfazer suas
necessidades, partindo em busca de outras que vão surgindo ao longo de seu processo de
existência.
O autor, segundo LINDZEY et al (1977:328), explica que, ao buscar a realização de
algo, o homem passa a apresentar motivos para determinados comportamentos, em busca da
satisfação de suas necessidades e o papel que eles desempenham na determinação de seu
comportamento.
Essa visão de homem mais centrado e positivo, passa a gerar, segundo a ética
humanista, idéias mais voltadas para o valor do humano. Segundo MOSCOVICI, tal
concepção centra-se no fato de o indivíduo poder aprender a pensar de forma crítica, a
enfrentar situações novas sem pânico, e também de forma mais livre ou criativa, a confiar em
si e nos outros, a descobrir e desenvolver suas potencialidades, no sentido de tornar-se mais
autêntico e produtivo. A consideração deste aspecto coloca os estudos da motivação como
uma fonte geradora de compreensão da natureza humana e do que venha a ser um
comportamento motivado. Daí a importância de percepção do homem mais valorizado e
acreditado.
Toda conscientização traz em si as possibilidades de mudança, através da nova
percepção da realidade externa ou interna. Se a percepção se modifica, vários
outros planos do processo psicológico também se modificam, o indivíduo não
apenas passa a ver diferente, mas a sentir e pensar de forma diferente e,
conseqüentemente, agir de outra maneira (MOSCOVICI, 1977:XX).
Os estudos sobre a motivação vão, então, abranger esferas realmente importantes do
comportamento humano, ao considerar o homem como agente central de seus motivos e de
suas escolhas.
Na abordagem teórica, proposta por Maslow, observamos uma série de
considerações sobre o tema da motivação, que foram inicialmente tomadas como linhas
mestras para interpretar e estudar os motivadores do comportamento humano. Estas
possibilitam uma avaliação individual, ou seja, levam em consideração o que é próprio de
cada indivíduo, indo em direção à valorização da saúde psicológica, uma vez que o
desenvolvimento é visto como um processo mais positivo e não-patológico no conhecimento
de si mesmo. Isto significa dizer que a proposta da Psicologia Humanista é a de correlacionar
o que há de saudável em um ser humano, como a busca de um maior entendimento de si
mesmo e de seu comportamento.
Em suas pesquisas sobre a dimensão motivacional, Maslow não perde de vista o que
ele chama de consciência intrínseca de cada sujeito. Explica que essa consciência está sempre
presente de forma positiva no interior de cada um, isto, segundo ele, aponta para a busca da
satisfação de necessidades que são inerentes a cada ser humano.
Maslow enfatizou um conjunto de necessidades, que denominou como necessidades
básicas, objetivando compreender melhor uma série de situações típicas do comportamento
humano. Para ele, as necessidades básicas são aquelas que estão vinculadas ao imperativo da
manutenção da vida, aquilo que mantém o homem vivo e atuante no mundo de que faz parte.
As necessidades humanas seguem uma hierarquia que, segundo Maslow, passa por
níveis diferentes de satisfação, sendo que todas devem ser satisfeitas para que haja equilíbrio
no organismo humano. Após a satisfação de suas necessidades mais básicas, ligadas ao
próprio funcionamento biológico - instintivo, a pessoa irá à busca de satisfazer necessidades
cada vez mais complexas, o que quer dizer cada vez mais individualizadas. Argumenta que
sempre surgem novas necessidades, à medida que as anteriores atingem um grau adequado de
satisfação.
MOSCOVICI, pesquisando o desenvolvimento interpessoal, afirma, com relação à
satisfação das necessidades básicas, que
Quando o organismo humano está dominado por uma determinada necessidade
fisiológica, tende a mudar até sua filosofia de futuro. Por exemplo: um homem
faminto relega tudo o mais em favor do alimento. A satisfação é tão importante
quanto à privação, pois libera o organismo do domínio das necessidades
fisiológicas, permitindo o aparecimento de outros impulsos ou motivos
(1997:77).
FADIMAN e FRAGER (1979) argumentam, a partir de MASLOW (1968), que uma
vez satisfeitas as necessidades básicas, principalmente as preponderantes, o comportamento
do sujeito passa para a "metamotivação". Para Maslow (Apud, FADIMAN e FRAGER,
1979), a metamotivação é um nível avançado de conhecimento do ser humano, quando este já
satisfez suas necessidades primeiras, de acordo com a hierarquia apresentada, e sabe que elas
serão de uma forma ou de outra supridas. O ser humano tem como avançar em suas buscas
para níveis superiores de satisfação, como, por exemplo, Maslow apresenta o aspecto
espiritual e intelectual que cada um deseja alcançar. Isto significa dizer que o indivíduo ao
sair de seus estágios iniciais estará dando passos largos em busca de sua individuação e um
conhecimento maior de si mesmo.
Compreender a motivação humana sob o referencial proposto por Maslow é
interpretar as reações de cada organismo com relação à sua maneira de agir, de se motivar,
nos diversos campos de atuação no mundo, pois as necessidades estarão vinculadas à
satisfação de cada um.
Das propostas teóricas de Maslow, alguns autores tentaram definir e delimitar melhor
o tema motivação. Encontraram, nessa tarefa, sérias dificuldades, conseqüência da busca
exclusiva de critérios comportamentais, externamente observáveis. O critério original e até
hoje utilizado é o objetivo, aquele que observa o fato na maneira como se processa. A exceção
quanto a esse critério de observação vem dos psicólogos humanistas que verificam a presença
de elementos subjetivos em suas pesquisas, ou seja, partem dos critérios subjetivos para
obterem as melhores respostas às suas hipóteses.
Maslow diz textualmente: "sou motivado quando sinto desejo, ou carência, anseio ou
falta" de alguma coisa ou de alguém. Considera que ainda não foi descoberto qualquer estado
objetivamente observável que se relacione decentemente com essas informações subjetivas,
isto é, ainda não foi encontrada uma boa definição comportamental de motivação.
Algumas respostas estão nos mecanismos de busca de cada um; estes são individuais,
pois estão relacionados aos processos de elaboração de mundo de cada um, na dinâmica
particular do desenvolvimento de cada um de nós. A compreensão dos motivos centrais do
comportamento está alicerçada naquilo que BERGAMINI (1990) chama de Psicodinâmica
Motivacional, em que as razões de "como ele o faz e como o faz, promove(m) a configuração
especial do comportamento humano".
Essa psicodinâmica vai além de fatores mensuráveis e objetivos, porque explica
aquilo que é freqüentemente esquecido no indivíduo, ou seja, como este se estrutura, o que
está em seu interior que coloca em jogo o desenvolvimento de suas capacidades individuais e
o seu relacionamento no coletivo, distinguindo-o do outro.
O mais amplo entendimento do desencadeamento do comportamento
motivacional é atingindo a partir do momento em que se consiga pôr em relevo
as principais marcas individuais de cada pessoa, marcas essas que determinarão
exatamente aquilo que se pode denominar de “estilo de comportamento
motivacional” (BERGAMINI, 1990:18).
Para BERGAMINI (1990:18), motivar, então, "é ultrapassar os limites do tempo, é
engajar-se no processo lento ou dinâmico do crescimento individual, é observar a natureza
humana própria e singular de cada um".
Diz a autora:
Cada vez mais se percebe que a felicidade motivacional é função de uma árdua
e profunda luta de cada um e que não há ninguém que possua um molde
especial no qual se possa cunhá-la a granel (p.16).
À medida que a discussão do tema se torna mais complexa, a definição da motivação
humana mostra-se além das proposições oriundas das várias correntes psicológicas, assim
como estas quiseram apregoar. O fato de que as pessoas motivadas agem de modo
semelhante, sob condicionamentos aprendidos (esquema estímulo – resposta), não significa
que elas se motivam da mesma forma, pois, perante os critérios da motivação, ninguém
motiva a quem quer que seja (Ibidem).
Visto sob este aspecto, a relevância do estudo da motivação é grande. As
perspectivas teóricas voltam-se para o entendimento das singularidades humanas, gerando,
daí, um respeito genuíno àquilo que é próprio de cada um. BERGAMINI (1990:130) afirma
que "Ninguém se modifica se conscientemente não o deseja". Ela chama a atenção para o fato
de que não conseguimos motivar quem quer que seja, mas somos capazes de desmotivar as
pessoas por não respeitarmos suas diferenças individuais, por não respeitarmos o seu próprio
estilo, a sua maneira de ser e de estar no mundo.
A configuração mais nítida do comportamento motivacional começa, antes de
mais nada, quando se consegue diferenciar dois tipos distintos de ação dos seres
humanos: as primeiras são as ações empreendidas pelos indivíduos a partir de
condicionantes que estão fora dele, as segundas são levadas a efeito de maneira
espontânea, isto é, são os resultados de forças impulsoras internas (Ibidem:
24).
A natureza da motivação humana passa a ser vista, interpretada, de um outro lugar, o
do sujeito que vive o seu próprio processo de busca, procurando atender aos seus anseios na
satisfação e equilíbrio de suas necessidades.
MASLOW (1968) sustenta que o objetivo dos estudos que analisam as sutilezas de
um comportamento motivado no ser humano é proporcionar elemento de pesquisa. Neste
sentido, existe a suposição de que, para além de qualquer influência externa que possa
interferir no processo de motivação, estaria algo que realmente impulsiona o sujeito para o ato
motivacional, e isto seria a sua vontade, sua força interior.
Ainda, segundo o autor, a melhor forma de se estudar motivação é aquela que utiliza
os critérios subjetivos. Estes são os principais elementos para avançar nos estudos da
motivação humana, pois eles se relacionam com aquilo que a pessoa traz em sua
individualidade, como força motriz que a leva para a realização de alguma coisa e na maneira
como realiza estas ações.
Por fim, argumenta que uma sociedade saudável e motivada é aquela em que a troca
de energia está subentendida no valor peculiar de cada um. Mesmo que o meio social impeça
uma ação verdadeira do ser humano, este pode, a partir de sua própria motivação interior, o
curso de seus acontecimentos na busca de maior satisfação pessoal, vencendo barreiras e
ultrapassando obstáculos.
Sintetizando o que foi apresentado nestes itens, verificamos que o tema motivação
faz parte de um universo complexo, porém não menos importante. A motivação constitui um
elemento essencial de estudo para se poder entender o comportamento humano. O desafio
fundamental da motivação está no enfoque segundo o qual ela é um elemento chave para o
desenvolvimento e realização das ações humanas e não um aspecto mecanicista e
condicionante dos comportamentos sociais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERGAMINI, Cecília Whitaker. Motivação nas organizações. 4.ed. São Paulo: Atlas,1997.
DE LA PUENTE, Miguel (org). Tendências contemporâneas em psicologia da motivação.
São Paulo: Autores Associados Cortez, 1982.
GEIWITZ, P. James. Teorias não-freudianas da personalidade. São Paulo: EPU, 1973.
LEITE FILHO, Ivo.
A motivação analisada no processo ensino-aprendizagem de John
Dewey. Revista de Educação Pública, Cuiabá, v.5, n.8, jul./dez. 1996.
LÉVY-LEBOYER, Claude. A crise das motivações. São Paulo: Atlas, 1994.
MCLAUGHLIN, Barry. Theories of second-language. London: Edward Arnold, 1987.
MASLOW, Abraham H. Introdução à psicologia do ser. 2.ed. Rio de Janeiro : Eldorado,
1968.
MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento interpessoal: treinamento em grupo. 7.ed. Rio de
Janeiro : José Olímpio, 1997.
MURRAY, Edward J. Motivação humana. 5.ed. Rio de Janeiro : Zahar, 1983.
PENNA, Antônio Gomes. Motivação e emoção. Rio de Janeiro: Rio, 1975.
PRETTO, Siloé Pereira Neves. Educação humanista. São Paulo: Cortez e Moraes, 1978.
VERNON, M. D. Motivação humana. Petrópolis: Vozes, 1973.
A MOTIVAÇÃO DO AGIR HUMANO
Zilpa Helena Lovisi de Abreu1
RESUMO
Este artigo apresenta uma revisão bibliográfica sobre algumas concepções a respeito da
motivação e a sua centralidade no agir humano. Apesar de o tema motivação ser bastante
estudado, muitos aspectos que o envolvem necessitam ainda de aproximações teóricas, além
de análises empíricas, isto é, baseadas na experiência humana, em situações e condições
subjetivas específicas. Pretendemos, portanto, expor algumas considerações feitas por autores
que dedicaram parte de seus estudos ao tema em questão. Entre estes, destacamos Maslow,
Murray, Lindzey, Bergamini e Moscovici.
Palavras-chave: Teorias Motivacionais; Motivação e Educação; Maslow
ABSTRACT
This article presents a literature review on certain ideas about the motivation and its centrality
in human act. Although the theme motivation rather be studied, many aspects that still need to
involve theoretical approaches, and empirical analysis, that is, based on human experience, in
specific situations and subjective conditions. We want therefore expose a few comments made
by authors who have devoted part of their studies on the subject matter. Among these, we
highlight Maslow, Murray, lindzey, Bergamini and Moscovici.
Keywords: motivational theories, motivation and education; Maslow
1
Mestre em Educação CES/JF- Coordenadora do Curso de Pedagogia – Instituto Superior de Educação de
Santos Dumont-MG – Professora de Espanhol.
INTRODUÇÃO
De acordo com BERGAMINI (1990), ao estudar motivação, deparamo-nos com
obstáculos que devem ser transpostos para a compreensão da natureza humana, isto é, lutar
contra os mitos, em torno do assunto, que estão arraigados nas crenças populares sobre
motivação, como, por exemplo, que as pessoas fazem coisas pelas mesmas razões, conceito
este que não se sustenta, ao compreendermos que temos feições individuais, próprias e únicas.
Não existe uma regra universal para explicar a motivação e as ações humanas. Cada
um busca a sua satisfação de forma diferenciada da dos demais, portanto, diferentes motivos
interferem no desenvolvimento e no nível de realização e investimento do indivíduo em suas
variadas atitudes e comportamentos no mundo. No âmbito educacional esses fatores devem
ser, constantemente, analisados e observados pelos profissionais da área para conseguir uma
aprendizagem efetiva de seus alunos e uma constante motivação pela busca do conhecimento.
ABORDAGENS TEÓRICAS SOBRE A MOTIVAÇÃO
Cumpre, agora, nos determos, ainda que apenas brevemente, em algumas abordagens
teóricas acerca da motivação. Inicialmente, pretendemos correlacionar as concepções dos
autores considerados clássicos no estudo deste tema. Portanto, serão sucintamente discutidas
as idéias propostas por Murray, Lindsey, Moscovici e mais detalhadamente acerca da
perspectiva teórica desenvolvida por Maslow.
MURRAY (1983) acredita que possam ser descritas três teorias centrais nos estudos
do comportamento e seus motivadores: a Cognitiva, a Hedonista e a do Instinto ou Instintiva.
A Teoria Cognitiva parte do pressuposto de que a vontade do indivíduo seria o que determina
suas ações, suas escolhas e o faz responsável por elas. A motivação estaria relacionada com a
dimensão essencialmente cognitiva frente à escolha feita diante das várias alternativas que o
sujeito encontra.
As Teorias Hedonistas enfatizam a busca do prazer como chave para o entendimento
do comportamento humano. Destaca que a natureza humana busca ou se aproxima do que dá
prazer e evita o que não o proporciona, gerando os comportamentos de aproximação e
evitação. Os motivos para a ação humana estariam alicerçados nos dois efeitos, ou seja, o
indivíduo estará motivado, quando vivencia o prazer ou quando pode se afastar dele quando
não o obtém, buscando-o em outra situação.
A Teoria do Instinto, segundo MURRAY (1983), é aquela que sustenta que o
indivíduo está motivado quando segue seus instintos interiores e as suas decisões estão
alicerçadas neste comportamento:
Podemos, assim, definir um instinto como uma disposição psicofísica herdada
ou inata, a qual determina ao seu possuidor perceber ou dar atenção a objetos de
certa classe, experimentar uma excitação emocional de determinada qualidade
ao perceber tal objeto, e atuar em relação ao mesmo de um modo particular, ou
experimentar, pelo menos, um impulso para tal ação (Mcdougall, in
MURRAY, 1983:17).
Para Murray, o conceito de instinto caminha junto com o de impulso. O impulso é
um elemento significativo para a compreensão da motivação. Por meio dos impulsos,
poderíamos explicar os motivos mais prementes que conduzem um indivíduo à realização de
uma ação. Essa correlação já foi apresentada em 1918, por Robert S. Woodworth (MURRAY,
1983:18). De acordo com aquele autor, o impulso é uma dotação de energia para a ação. É ele
que impele o organismo ao movimento, ao estar motivado no empreendimento de uma meta.
Explica que o impulso relaciona-se, diretamente, com os instintos inerentes a cada pessoa. Os
dois conceitos juntos se somam, se comunicam.
Diante desses conceitos, os autores, Murray e Woodworth, definem a motivação
como uma ação estimulada pelos impulsos, que irão agir no comportamento geral de uma
pessoa. Se há um desequilíbrio, uma instabilidade ou um objetivo a ser alcançado, a pessoa
passa a agir por meio de seus impulsos advindos dos seus instintos primários, para conseguir
equilíbrio, satisfação e prazer.
LINDZEY et al, esclarece melhor o assunto, ao afirmar:
que o impulso ou drive é a energia que incita à ação, podendo originar-se por
processos orgânicos internos, identificáveis, chamados de impulsos nãoaprendidos ou primários, como a fome, por exemplo. Outros são adquiridos pela
aprendizagem, como a competição, ou seja, uma necessidade aprendida. Definese, então, que “um motivo é qualquer coisa que inicia o comportamento”
(1977:328).
A concepção do que é impulso, segundo os autores citados, está relacionada a algo
que pode ou não sofrer influência da aprendizagem. Percebemos que, por exemplo, muitas
vezes, os alunos encontram-se motivados para os estudos por receberem incentivos que se
transformam em impulsos, reforçando os estímulos para prosseguirem no processo de
aprendizagem. Vemos que a motivação é maior quando parte daquilo que lhe é inerente,
interno, e não de condicionamentos pré-fixados.
Lindzey et al enfatiza que obter aprovação e realização sobre algum ato, por
exemplo, torna-se fator de aprendizagem, ao ser reforçado continuadamente, mediante os
incentivos recebidos. Os dois conceitos somados aclaram a compreensão da vivência da
pessoa, uns primariamente - satisfazendo as necessidades fundamentais -, e os outros
aprendidos, ajustando o indivíduo ao seu meio social.
O autor conclui que
Excitação (arousal) é a energização do comportamento. Um motivo nos torna
mais ativos e inquietos. O comportamento motivado também tem propósitos ou
intenção. A pessoa motivada tem direção, um objetivo ou meta. O sentimento
de querer ou desejar é experimentado como tensão, esforço e expectativa.
Quando o objetivo é alcançado, a tensão e o esforço desaparecem juntamente
com a atividade energética (Ibidem:329).
O impulso, como fonte de energia, poderá esclarecer muito sobre o comportamento
motivado, pois, como há impulsos primários e aprendidos, as ações motivadas estarão aliadas
a esses impulsos orgânicos primários.
As ações motivadas pelo impulso são chamadas atos instrumentais porque são
os instrumentos por meio dos quais o objetivo do impulso é atingido. Os objetos
para satisfazer a fonte do impulso são chamados de objetos instrumentais. Os
atos e objetos instrumentais variam de cultura, para cultura, indivíduo para
indivíduo, e mesmo de dia para dia em relação ao mesmo sujeito...O costume é
um fator importante na modelagem de formas específicas de satisfação dos
impulsos primários (Ibidem:331-32).
Segundo MASLOW (1968), os estudos da motivação são de grande importância para
se compreender o comportamento humano. Ao apresentarmos as pesquisas sobre a natureza
humana, podemos extrair algumas conclusões sobre a motivação. Os conceitos e as teorias
que serviram e servem de base para compreender a dimensão motivacional do comportamento
humano estão presentes em vários campos de estudos, inclusive o educacional (MOSCOVICI,
1997).
O estudo da motivação, enquanto campo de estudo da Psicologia, tem ainda muito
que desenvolver, dada a sua complexidade, tornando-se necessário lançar mão de
instrumentos de abordagem de diversas ciências, tais como a Sociologia, a Antropologia e a
Biologia.
A rede de conceitos relacionados à motivação deixa entrever que o comportamento
humano deriva de um organismo complexo, o que inviabiliza a construção de um referencial
teórico único para a análise da condição humana. Segundo MURRAY (1983), os motivos que
damos às nossas capacidades individuais dependem da motivação, ou dos desejos, das
carências, das necessidades que cada ser humano possui, em sua natureza individual. E a
busca por sua singularidade é que faz a diferença entre cada um de nós.
A Psicologia, como qualquer ciência, utiliza diversos conceitos teóricos na tentativa
de compreender o comportamento humano enquanto ser social e individual. Uma dessas
abordagens, que parece melhor atender à temática da motivação, estaria alicerçada no que se
convencionou chamar de Psicologia Humanista.
A abordagem teórica da Psicologia Humanista tem como um de seus principais
pesquisadores MASLOW (1968)2, que pode ser considerado o fundador dessa corrente de
psicologia. Mosquera considera que Maslow foi o expoente e o criador de uma Terceira força
em Psicologia ou também denominada Psicologia Humanista Existencial (1968:21).
Foi através dos trabalhos de Maslow (1968) que o termo motivação passou a ser
referendado como objeto de estudo significativo no campo da Psicologia. Em suas pesquisas,
procurava não só observar os critérios objetivos que faziam parte de suas experiências, mas
procurava se informar a respeito da presença de um comportamento motivado que poderia ser
verificado através de elementos subjetivos no desenvolvimento da pesquisa analisada.
O autor apresenta uma concepção de homem diferente das visões até então existentes
em Psicologia. Seus estudos estão baseados num enfoque de um homem visto como um
complexo biopsicossocial, ou seja, um ser capaz de gerir sua própria existência, quando busca
melhores condições de desenvolvimento e satisfação de suas necessidades (MURRAY,
1983:9).
Para Maslow, os estudos da motivação devem apontar para um ser humano que seja
visto em sua totalidade; totalidade esta que envolve sua formação geral, sua consciência
histórica, escolhas e necessidades. Como afirma FADIMAN e FRAGER (1979:261),
2
- Abraham Maslow, estudioso norte-americano foi o precursor da abordagem humanista na Psicologia. As duas
outras correntes psicológicas importantes são: psicanálise e o behaviorismo, estas não serão objetos deste
trabalho.
referindo-se à obra de Maslow (1968), "as atividades humanas de que o homem se orgulha e
que dão sentido, riqueza e valor à sua vida são omitidas ou classificadas como patológicas".
Neste sentido, a teoria de Maslow e de outros autores, dessa mesma corrente, procura situar o
indivíduo numa visão mais positiva e saudável frente à existência.
Maslow (1968) sustenta que existem muitas maneiras de entender e interpretar o
comportamento humano, ou seja, as diferentes abordagens e teorias psicológicas apontam,
cada uma a sua maneira, aspectos fundamentais para uma análise mais global do ser humano.
Porém, o que ele apresenta são instrumentos teóricos que vêem o homem de uma forma
mais saudável, motivado intrínseca e extrinsecamente, com relação à busca de seus
anseios e do modo positivo que cada um vivencia seus atos para atingir seus propósitos.
Os estudos da motivação realizados por Maslow trazem uma maneira nova de
observação do comportamento humano, ou seja, o ser humano é visto mais em seus aspectos
positivos e em suas potencialidades atuais e naquelas que podem vir a ser manifestadas. Isso
equivale dizer que Maslow acredita em um homem autônomo, capaz de satisfazer suas
necessidades, partindo em busca de outras que vão surgindo ao longo de seu processo de
existência.
O autor, segundo LINDZEY et al (1977:328), explica que, ao buscar a realização de
algo, o homem passa a apresentar motivos para determinados comportamentos, em busca da
satisfação de suas necessidades e o papel que eles desempenham na determinação de seu
comportamento.
Essa visão de homem mais centrado e positivo, passa a gerar, segundo a ética
humanista, idéias mais voltadas para o valor do humano. Segundo MOSCOVICI, tal
concepção centra-se no fato de o indivíduo poder aprender a pensar de forma crítica, a
enfrentar situações novas sem pânico, e também de forma mais livre ou criativa, a confiar em
si e nos outros, a descobrir e desenvolver suas potencialidades, no sentido de tornar-se mais
autêntico e produtivo. A consideração deste aspecto coloca os estudos da motivação como
uma fonte geradora de compreensão da natureza humana e do que venha a ser um
comportamento motivado. Daí a importância de percepção do homem mais valorizado e
acreditado.
Toda conscientização traz em si as possibilidades de mudança, através da nova
percepção da realidade externa ou interna. Se a percepção se modifica, vários
outros planos do processo psicológico também se modificam, o indivíduo não
apenas passa a ver diferente, mas a sentir e pensar de forma diferente e,
conseqüentemente, agir de outra maneira (MOSCOVICI, 1977:XX).
Os estudos sobre a motivação vão, então, abranger esferas realmente importantes do
comportamento humano, ao considerar o homem como agente central de seus motivos e de
suas escolhas.
Na abordagem teórica, proposta por Maslow, observamos uma série de
considerações sobre o tema da motivação, que foram inicialmente tomadas como linhas
mestras para interpretar e estudar os motivadores do comportamento humano. Estas
possibilitam uma avaliação individual, ou seja, levam em consideração o que é próprio de
cada indivíduo, indo em direção à valorização da saúde psicológica, uma vez que o
desenvolvimento é visto como um processo mais positivo e não-patológico no conhecimento
de si mesmo. Isto significa dizer que a proposta da Psicologia Humanista é a de correlacionar
o que há de saudável em um ser humano, como a busca de um maior entendimento de si
mesmo e de seu comportamento.
Em suas pesquisas sobre a dimensão motivacional, Maslow não perde de vista o que
ele chama de consciência intrínseca de cada sujeito. Explica que essa consciência está sempre
presente de forma positiva no interior de cada um, isto, segundo ele, aponta para a busca da
satisfação de necessidades que são inerentes a cada ser humano.
Maslow enfatizou um conjunto de necessidades, que denominou como necessidades
básicas, objetivando compreender melhor uma série de situações típicas do comportamento
humano. Para ele, as necessidades básicas são aquelas que estão vinculadas ao imperativo da
manutenção da vida, aquilo que mantém o homem vivo e atuante no mundo de que faz parte.
As necessidades humanas seguem uma hierarquia que, segundo Maslow, passa por
níveis diferentes de satisfação, sendo que todas devem ser satisfeitas para que haja equilíbrio
no organismo humano. Após a satisfação de suas necessidades mais básicas, ligadas ao
próprio funcionamento biológico - instintivo, a pessoa irá à busca de satisfazer necessidades
cada vez mais complexas, o que quer dizer cada vez mais individualizadas. Argumenta que
sempre surgem novas necessidades, à medida que as anteriores atingem um grau adequado de
satisfação.
MOSCOVICI, pesquisando o desenvolvimento interpessoal, afirma, com relação à
satisfação das necessidades básicas, que
Quando o organismo humano está dominado por uma determinada necessidade
fisiológica, tende a mudar até sua filosofia de futuro. Por exemplo: um homem
faminto relega tudo o mais em favor do alimento. A satisfação é tão importante
quanto à privação, pois libera o organismo do domínio das necessidades
fisiológicas, permitindo o aparecimento de outros impulsos ou motivos
(1997:77).
FADIMAN e FRAGER (1979) argumentam, a partir de MASLOW (1968), que uma
vez satisfeitas as necessidades básicas, principalmente as preponderantes, o comportamento
do sujeito passa para a "metamotivação". Para Maslow (Apud, FADIMAN e FRAGER,
1979), a metamotivação é um nível avançado de conhecimento do ser humano, quando este já
satisfez suas necessidades primeiras, de acordo com a hierarquia apresentada, e sabe que elas
serão de uma forma ou de outra supridas. O ser humano tem como avançar em suas buscas
para níveis superiores de satisfação, como, por exemplo, Maslow apresenta o aspecto
espiritual e intelectual que cada um deseja alcançar. Isto significa dizer que o indivíduo ao
sair de seus estágios iniciais estará dando passos largos em busca de sua individuação e um
conhecimento maior de si mesmo.
Compreender a motivação humana sob o referencial proposto por Maslow é
interpretar as reações de cada organismo com relação à sua maneira de agir, de se motivar,
nos diversos campos de atuação no mundo, pois as necessidades estarão vinculadas à
satisfação de cada um.
Das propostas teóricas de Maslow, alguns autores tentaram definir e delimitar melhor
o tema motivação. Encontraram, nessa tarefa, sérias dificuldades, conseqüência da busca
exclusiva de critérios comportamentais, externamente observáveis. O critério original e até
hoje utilizado é o objetivo, aquele que observa o fato na maneira como se processa. A exceção
quanto a esse critério de observação vem dos psicólogos humanistas que verificam a presença
de elementos subjetivos em suas pesquisas, ou seja, partem dos critérios subjetivos para
obterem as melhores respostas às suas hipóteses.
Maslow diz textualmente: "sou motivado quando sinto desejo, ou carência, anseio ou
falta" de alguma coisa ou de alguém. Considera que ainda não foi descoberto qualquer estado
objetivamente observável que se relacione decentemente com essas informações subjetivas,
isto é, ainda não foi encontrada uma boa definição comportamental de motivação.
Algumas respostas estão nos mecanismos de busca de cada um; estes são individuais,
pois estão relacionados aos processos de elaboração de mundo de cada um, na dinâmica
particular do desenvolvimento de cada um de nós. A compreensão dos motivos centrais do
comportamento está alicerçada naquilo que BERGAMINI (1990) chama de Psicodinâmica
Motivacional, em que as razões de "como ele o faz e como o faz, promove(m) a configuração
especial do comportamento humano".
Essa psicodinâmica vai além de fatores mensuráveis e objetivos, porque explica
aquilo que é freqüentemente esquecido no indivíduo, ou seja, como este se estrutura, o que
está em seu interior que coloca em jogo o desenvolvimento de suas capacidades individuais e
o seu relacionamento no coletivo, distinguindo-o do outro.
O mais amplo entendimento do desencadeamento do comportamento
motivacional é atingindo a partir do momento em que se consiga pôr em relevo
as principais marcas individuais de cada pessoa, marcas essas que determinarão
exatamente aquilo que se pode denominar de “estilo de comportamento
motivacional” (BERGAMINI, 1990:18).
Para BERGAMINI (1990:18), motivar, então, "é ultrapassar os limites do tempo, é
engajar-se no processo lento ou dinâmico do crescimento individual, é observar a natureza
humana própria e singular de cada um".
Diz a autora:
Cada vez mais se percebe que a felicidade motivacional é função de uma árdua
e profunda luta de cada um e que não há ninguém que possua um molde
especial no qual se possa cunhá-la a granel (p.16).
À medida que a discussão do tema se torna mais complexa, a definição da motivação
humana mostra-se além das proposições oriundas das várias correntes psicológicas, assim
como estas quiseram apregoar. O fato de que as pessoas motivadas agem de modo
semelhante, sob condicionamentos aprendidos (esquema estímulo – resposta), não significa
que elas se motivam da mesma forma, pois, perante os critérios da motivação, ninguém
motiva a quem quer que seja (Ibidem).
Visto sob este aspecto, a relevância do estudo da motivação é grande. As
perspectivas teóricas voltam-se para o entendimento das singularidades humanas, gerando,
daí, um respeito genuíno àquilo que é próprio de cada um. BERGAMINI (1990:130) afirma
que "Ninguém se modifica se conscientemente não o deseja". Ela chama a atenção para o fato
de que não conseguimos motivar quem quer que seja, mas somos capazes de desmotivar as
pessoas por não respeitarmos suas diferenças individuais, por não respeitarmos o seu próprio
estilo, a sua maneira de ser e de estar no mundo.
A configuração mais nítida do comportamento motivacional começa, antes de
mais nada, quando se consegue diferenciar dois tipos distintos de ação dos seres
humanos: as primeiras são as ações empreendidas pelos indivíduos a partir de
condicionantes que estão fora dele, as segundas são levadas a efeito de maneira
espontânea, isto é, são os resultados de forças impulsoras internas (Ibidem:
24).
A natureza da motivação humana passa a ser vista, interpretada, de um outro lugar, o
do sujeito que vive o seu próprio processo de busca, procurando atender aos seus anseios na
satisfação e equilíbrio de suas necessidades.
MASLOW (1968) sustenta que o objetivo dos estudos que analisam as sutilezas de
um comportamento motivado no ser humano é proporcionar elemento de pesquisa. Neste
sentido, existe a suposição de que, para além de qualquer influência externa que possa
interferir no processo de motivação, estaria algo que realmente impulsiona o sujeito para o ato
motivacional, e isto seria a sua vontade, sua força interior.
Ainda, segundo o autor, a melhor forma de se estudar motivação é aquela que utiliza
os critérios subjetivos. Estes são os principais elementos para avançar nos estudos da
motivação humana, pois eles se relacionam com aquilo que a pessoa traz em sua
individualidade, como força motriz que a leva para a realização de alguma coisa e na maneira
como realiza estas ações.
Por fim, argumenta que uma sociedade saudável e motivada é aquela em que a troca
de energia está subentendida no valor peculiar de cada um. Mesmo que o meio social impeça
uma ação verdadeira do ser humano, este pode, a partir de sua própria motivação interior, o
curso de seus acontecimentos na busca de maior satisfação pessoal, vencendo barreiras e
ultrapassando obstáculos.
Sintetizando o que foi apresentado nestes itens, verificamos que o tema motivação
faz parte de um universo complexo, porém não menos importante. A motivação constitui um
elemento essencial de estudo para se poder entender o comportamento humano. O desafio
fundamental da motivação está no enfoque segundo o qual ela é um elemento chave para o
desenvolvimento e realização das ações humanas e não um aspecto mecanicista e
condicionante dos comportamentos sociais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERGAMINI, Cecília Whitaker. Motivação nas organizações. 4.ed. São Paulo: Atlas,1997.
DE LA PUENTE, Miguel (org). Tendências contemporâneas em psicologia da motivação.
São Paulo: Autores Associados Cortez, 1982.
GEIWITZ, P. James. Teorias não-freudianas da personalidade. São Paulo: EPU, 1973.
LEITE FILHO, Ivo.
A motivação analisada no processo ensino-aprendizagem de John
Dewey. Revista de Educação Pública, Cuiabá, v.5, n.8, jul./dez. 1996.
LÉVY-LEBOYER, Claude. A crise das motivações. São Paulo: Atlas, 1994.
MCLAUGHLIN, Barry. Theories of second-language. London: Edward Arnold, 1987.
MASLOW, Abraham H. Introdução à psicologia do ser. 2.ed. Rio de Janeiro : Eldorado,
1968.
MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento interpessoal: treinamento em grupo. 7.ed. Rio de
Janeiro : José Olímpio, 1997.
MURRAY, Edward J. Motivação humana. 5.ed. Rio de Janeiro : Zahar, 1983.
PENNA, Antônio Gomes. Motivação e emoção. Rio de Janeiro: Rio, 1975.
PRETTO, Siloé Pereira Neves. Educação humanista. São Paulo: Cortez e Moraes, 1978.
VERNON, M. D. Motivação humana. Petrópolis: Vozes, 1973.
A MOTIVAÇÃO DO AGIR HUMANO
Zilpa Helena Lovisi de Abreu1
RESUMO
Este artigo apresenta uma revisão bibliográfica sobre algumas concepções a respeito da
motivação e a sua centralidade no agir humano. Apesar de o tema motivação ser bastante
estudado, muitos aspectos que o envolvem necessitam ainda de aproximações teóricas, além
de análises empíricas, isto é, baseadas na experiência humana, em situações e condições
subjetivas específicas. Pretendemos, portanto, expor algumas considerações feitas por autores
que dedicaram parte de seus estudos ao tema em questão. Entre estes, destacamos Maslow,
Murray, Lindzey, Bergamini e Moscovici.
Palavras-chave: Teorias Motivacionais; Motivação e Educação; Maslow
ABSTRACT
This article presents a literature review on certain ideas about the motivation and its centrality
in human act. Although the theme motivation rather be studied, many aspects that still need to
involve theoretical approaches, and empirical analysis, that is, based on human experience, in
specific situations and subjective conditions. We want therefore expose a few comments made
by authors who have devoted part of their studies on the subject matter. Among these, we
highlight Maslow, Murray, lindzey, Bergamini and Moscovici.
Keywords: motivational theories, motivation and education; Maslow
1
Mestre em Educação CES/JF- Coordenadora do Curso de Pedagogia – Instituto Superior de Educação de
Santos Dumont-MG – Professora de Espanhol.
INTRODUÇÃO
De acordo com BERGAMINI (1990), ao estudar motivação, deparamo-nos com
obstáculos que devem ser transpostos para a compreensão da natureza humana, isto é, lutar
contra os mitos, em torno do assunto, que estão arraigados nas crenças populares sobre
motivação, como, por exemplo, que as pessoas fazem coisas pelas mesmas razões, conceito
este que não se sustenta, ao compreendermos que temos feições individuais, próprias e únicas.
Não existe uma regra universal para explicar a motivação e as ações humanas. Cada
um busca a sua satisfação de forma diferenciada da dos demais, portanto, diferentes motivos
interferem no desenvolvimento e no nível de realização e investimento do indivíduo em suas
variadas atitudes e comportamentos no mundo. No âmbito educacional esses fatores devem
ser, constantemente, analisados e observados pelos profissionais da área para conseguir uma
aprendizagem efetiva de seus alunos e uma constante motivação pela busca do conhecimento.
ABORDAGENS TEÓRICAS SOBRE A MOTIVAÇÃO
Cumpre, agora, nos determos, ainda que apenas brevemente, em algumas abordagens
teóricas acerca da motivação. Inicialmente, pretendemos correlacionar as concepções dos
autores considerados clássicos no estudo deste tema. Portanto, serão sucintamente discutidas
as idéias propostas por Murray, Lindsey, Moscovici e mais detalhadamente acerca da
perspectiva teórica desenvolvida por Maslow.
MURRAY (1983) acredita que possam ser descritas três teorias centrais nos estudos
do comportamento e seus motivadores: a Cognitiva, a Hedonista e a do Instinto ou Instintiva.
A Teoria Cognitiva parte do pressuposto de que a vontade do indivíduo seria o que determina
suas ações, suas escolhas e o faz responsável por elas. A motivação estaria relacionada com a
dimensão essencialmente cognitiva frente à escolha feita diante das várias alternativas que o
sujeito encontra.
As Teorias Hedonistas enfatizam a busca do prazer como chave para o entendimento
do comportamento humano. Destaca que a natureza humana busca ou se aproxima do que dá
prazer e evita o que não o proporciona, gerando os comportamentos de aproximação e
evitação. Os motivos para a ação humana estariam alicerçados nos dois efeitos, ou seja, o
indivíduo estará motivado, quando vivencia o prazer ou quando pode se afastar dele quando
não o obtém, buscando-o em outra situação.
A Teoria do Instinto, segundo MURRAY (1983), é aquela que sustenta que o
indivíduo está motivado quando segue seus instintos interiores e as suas decisões estão
alicerçadas neste comportamento:
Podemos, assim, definir um instinto como uma disposição psicofísica herdada
ou inata, a qual determina ao seu possuidor perceber ou dar atenção a objetos de
certa classe, experimentar uma excitação emocional de determinada qualidade
ao perceber tal objeto, e atuar em relação ao mesmo de um modo particular, ou
experimentar, pelo menos, um impulso para tal ação (Mcdougall, in
MURRAY, 1983:17).
Para Murray, o conceito de instinto caminha junto com o de impulso. O impulso é
um elemento significativo para a compreensão da motivação. Por meio dos impulsos,
poderíamos explicar os motivos mais prementes que conduzem um indivíduo à realização de
uma ação. Essa correlação já foi apresentada em 1918, por Robert S. Woodworth (MURRAY,
1983:18). De acordo com aquele autor, o impulso é uma dotação de energia para a ação. É ele
que impele o organismo ao movimento, ao estar motivado no empreendimento de uma meta.
Explica que o impulso relaciona-se, diretamente, com os instintos inerentes a cada pessoa. Os
dois conceitos juntos se somam, se comunicam.
Diante desses conceitos, os autores, Murray e Woodworth, definem a motivação
como uma ação estimulada pelos impulsos, que irão agir no comportamento geral de uma
pessoa. Se há um desequilíbrio, uma instabilidade ou um objetivo a ser alcançado, a pessoa
passa a agir por meio de seus impulsos advindos dos seus instintos primários, para conseguir
equilíbrio, satisfação e prazer.
LINDZEY et al, esclarece melhor o assunto, ao afirmar:
que o impulso ou drive é a energia que incita à ação, podendo originar-se por
processos orgânicos internos, identificáveis, chamados de impulsos nãoaprendidos ou primários, como a fome, por exemplo. Outros são adquiridos pela
aprendizagem, como a competição, ou seja, uma necessidade aprendida. Definese, então, que “um motivo é qualquer coisa que inicia o comportamento”
(1977:328).
A concepção do que é impulso, segundo os autores citados, está relacionada a algo
que pode ou não sofrer influência da aprendizagem. Percebemos que, por exemplo, muitas
vezes, os alunos encontram-se motivados para os estudos por receberem incentivos que se
transformam em impulsos, reforçando os estímulos para prosseguirem no processo de
aprendizagem. Vemos que a motivação é maior quando parte daquilo que lhe é inerente,
interno, e não de condicionamentos pré-fixados.
Lindzey et al enfatiza que obter aprovação e realização sobre algum ato, por
exemplo, torna-se fator de aprendizagem, ao ser reforçado continuadamente, mediante os
incentivos recebidos. Os dois conceitos somados aclaram a compreensão da vivência da
pessoa, uns primariamente - satisfazendo as necessidades fundamentais -, e os outros
aprendidos, ajustando o indivíduo ao seu meio social.
O autor conclui que
Excitação (arousal) é a energização do comportamento. Um motivo nos torna
mais ativos e inquietos. O comportamento motivado também tem propósitos ou
intenção. A pessoa motivada tem direção, um objetivo ou meta. O sentimento
de querer ou desejar é experimentado como tensão, esforço e expectativa.
Quando o objetivo é alcançado, a tensão e o esforço desaparecem juntamente
com a atividade energética (Ibidem:329).
O impulso, como fonte de energia, poderá esclarecer muito sobre o comportamento
motivado, pois, como há impulsos primários e aprendidos, as ações motivadas estarão aliadas
a esses impulsos orgânicos primários.
As ações motivadas pelo impulso são chamadas atos instrumentais porque são
os instrumentos por meio dos quais o objetivo do impulso é atingido. Os objetos
para satisfazer a fonte do impulso são chamados de objetos instrumentais. Os
atos e objetos instrumentais variam de cultura, para cultura, indivíduo para
indivíduo, e mesmo de dia para dia em relação ao mesmo sujeito...O costume é
um fator importante na modelagem de formas específicas de satisfação dos
impulsos primários (Ibidem:331-32).
Segundo MASLOW (1968), os estudos da motivação são de grande importância para
se compreender o comportamento humano. Ao apresentarmos as pesquisas sobre a natureza
humana, podemos extrair algumas conclusões sobre a motivação. Os conceitos e as teorias
que serviram e servem de base para compreender a dimensão motivacional do comportamento
humano estão presentes em vários campos de estudos, inclusive o educacional (MOSCOVICI,
1997).
O estudo da motivação, enquanto campo de estudo da Psicologia, tem ainda muito
que desenvolver, dada a sua complexidade, tornando-se necessário lançar mão de
instrumentos de abordagem de diversas ciências, tais como a Sociologia, a Antropologia e a
Biologia.
A rede de conceitos relacionados à motivação deixa entrever que o comportamento
humano deriva de um organismo complexo, o que inviabiliza a construção de um referencial
teórico único para a análise da condição humana. Segundo MURRAY (1983), os motivos que
damos às nossas capacidades individuais dependem da motivação, ou dos desejos, das
carências, das necessidades que cada ser humano possui, em sua natureza individual. E a
busca por sua singularidade é que faz a diferença entre cada um de nós.
A Psicologia, como qualquer ciência, utiliza diversos conceitos teóricos na tentativa
de compreender o comportamento humano enquanto ser social e individual. Uma dessas
abordagens, que parece melhor atender à temática da motivação, estaria alicerçada no que se
convencionou chamar de Psicologia Humanista.
A abordagem teórica da Psicologia Humanista tem como um de seus principais
pesquisadores MASLOW (1968)2, que pode ser considerado o fundador dessa corrente de
psicologia. Mosquera considera que Maslow foi o expoente e o criador de uma Terceira força
em Psicologia ou também denominada Psicologia Humanista Existencial (1968:21).
Foi através dos trabalhos de Maslow (1968) que o termo motivação passou a ser
referendado como objeto de estudo significativo no campo da Psicologia. Em suas pesquisas,
procurava não só observar os critérios objetivos que faziam parte de suas experiências, mas
procurava se informar a respeito da presença de um comportamento motivado que poderia ser
verificado através de elementos subjetivos no desenvolvimento da pesquisa analisada.
O autor apresenta uma concepção de homem diferente das visões até então existentes
em Psicologia. Seus estudos estão baseados num enfoque de um homem visto como um
complexo biopsicossocial, ou seja, um ser capaz de gerir sua própria existência, quando busca
melhores condições de desenvolvimento e satisfação de suas necessidades (MURRAY,
1983:9).
Para Maslow, os estudos da motivação devem apontar para um ser humano que seja
visto em sua totalidade; totalidade esta que envolve sua formação geral, sua consciência
histórica, escolhas e necessidades. Como afirma FADIMAN e FRAGER (1979:261),
2
- Abraham Maslow, estudioso norte-americano foi o precursor da abordagem humanista na Psicologia. As duas
outras correntes psicológicas importantes são: psicanálise e o behaviorismo, estas não serão objetos deste
trabalho.
referindo-se à obra de Maslow (1968), "as atividades humanas de que o homem se orgulha e
que dão sentido, riqueza e valor à sua vida são omitidas ou classificadas como patológicas".
Neste sentido, a teoria de Maslow e de outros autores, dessa mesma corrente, procura situar o
indivíduo numa visão mais positiva e saudável frente à existência.
Maslow (1968) sustenta que existem muitas maneiras de entender e interpretar o
comportamento humano, ou seja, as diferentes abordagens e teorias psicológicas apontam,
cada uma a sua maneira, aspectos fundamentais para uma análise mais global do ser humano.
Porém, o que ele apresenta são instrumentos teóricos que vêem o homem de uma forma
mais saudável, motivado intrínseca e extrinsecamente, com relação à busca de seus
anseios e do modo positivo que cada um vivencia seus atos para atingir seus propósitos.
Os estudos da motivação realizados por Maslow trazem uma maneira nova de
observação do comportamento humano, ou seja, o ser humano é visto mais em seus aspectos
positivos e em suas potencialidades atuais e naquelas que podem vir a ser manifestadas. Isso
equivale dizer que Maslow acredita em um homem autônomo, capaz de satisfazer suas
necessidades, partindo em busca de outras que vão surgindo ao longo de seu processo de
existência.
O autor, segundo LINDZEY et al (1977:328), explica que, ao buscar a realização de
algo, o homem passa a apresentar motivos para determinados comportamentos, em busca da
satisfação de suas necessidades e o papel que eles desempenham na determinação de seu
comportamento.
Essa visão de homem mais centrado e positivo, passa a gerar, segundo a ética
humanista, idéias mais voltadas para o valor do humano. Segundo MOSCOVICI, tal
concepção centra-se no fato de o indivíduo poder aprender a pensar de forma crítica, a
enfrentar situações novas sem pânico, e também de forma mais livre ou criativa, a confiar em
si e nos outros, a descobrir e desenvolver suas potencialidades, no sentido de tornar-se mais
autêntico e produtivo. A consideração deste aspecto coloca os estudos da motivação como
uma fonte geradora de compreensão da natureza humana e do que venha a ser um
comportamento motivado. Daí a importância de percepção do homem mais valorizado e
acreditado.
Toda conscientização traz em si as possibilidades de mudança, através da nova
percepção da realidade externa ou interna. Se a percepção se modifica, vários
outros planos do processo psicológico também se modificam, o indivíduo não
apenas passa a ver diferente, mas a sentir e pensar de forma diferente e,
conseqüentemente, agir de outra maneira (MOSCOVICI, 1977:XX).
Os estudos sobre a motivação vão, então, abranger esferas realmente importantes do
comportamento humano, ao considerar o homem como agente central de seus motivos e de
suas escolhas.
Na abordagem teórica, proposta por Maslow, observamos uma série de
considerações sobre o tema da motivação, que foram inicialmente tomadas como linhas
mestras para interpretar e estudar os motivadores do comportamento humano. Estas
possibilitam uma avaliação individual, ou seja, levam em consideração o que é próprio de
cada indivíduo, indo em direção à valorização da saúde psicológica, uma vez que o
desenvolvimento é visto como um processo mais positivo e não-patológico no conhecimento
de si mesmo. Isto significa dizer que a proposta da Psicologia Humanista é a de correlacionar
o que há de saudável em um ser humano, como a busca de um maior entendimento de si
mesmo e de seu comportamento.
Em suas pesquisas sobre a dimensão motivacional, Maslow não perde de vista o que
ele chama de consciência intrínseca de cada sujeito. Explica que essa consciência está sempre
presente de forma positiva no interior de cada um, isto, segundo ele, aponta para a busca da
satisfação de necessidades que são inerentes a cada ser humano.
Maslow enfatizou um conjunto de necessidades, que denominou como necessidades
básicas, objetivando compreender melhor uma série de situações típicas do comportamento
humano. Para ele, as necessidades básicas são aquelas que estão vinculadas ao imperativo da
manutenção da vida, aquilo que mantém o homem vivo e atuante no mundo de que faz parte.
As necessidades humanas seguem uma hierarquia que, segundo Maslow, passa por
níveis diferentes de satisfação, sendo que todas devem ser satisfeitas para que haja equilíbrio
no organismo humano. Após a satisfação de suas necessidades mais básicas, ligadas ao
próprio funcionamento biológico - instintivo, a pessoa irá à busca de satisfazer necessidades
cada vez mais complexas, o que quer dizer cada vez mais individualizadas. Argumenta que
sempre surgem novas necessidades, à medida que as anteriores atingem um grau adequado de
satisfação.
MOSCOVICI, pesquisando o desenvolvimento interpessoal, afirma, com relação à
satisfação das necessidades básicas, que
Quando o organismo humano está dominado por uma determinada necessidade
fisiológica, tende a mudar até sua filosofia de futuro. Por exemplo: um homem
faminto relega tudo o mais em favor do alimento. A satisfação é tão importante
quanto à privação, pois libera o organismo do domínio das necessidades
fisiológicas, permitindo o aparecimento de outros impulsos ou motivos
(1997:77).
FADIMAN e FRAGER (1979) argumentam, a partir de MASLOW (1968), que uma
vez satisfeitas as necessidades básicas, principalmente as preponderantes, o comportamento
do sujeito passa para a "metamotivação". Para Maslow (Apud, FADIMAN e FRAGER,
1979), a metamotivação é um nível avançado de conhecimento do ser humano, quando este já
satisfez suas necessidades primeiras, de acordo com a hierarquia apresentada, e sabe que elas
serão de uma forma ou de outra supridas. O ser humano tem como avançar em suas buscas
para níveis superiores de satisfação, como, por exemplo, Maslow apresenta o aspecto
espiritual e intelectual que cada um deseja alcançar. Isto significa dizer que o indivíduo ao
sair de seus estágios iniciais estará dando passos largos em busca de sua individuação e um
conhecimento maior de si mesmo.
Compreender a motivação humana sob o referencial proposto por Maslow é
interpretar as reações de cada organismo com relação à sua maneira de agir, de se motivar,
nos diversos campos de atuação no mundo, pois as necessidades estarão vinculadas à
satisfação de cada um.
Das propostas teóricas de Maslow, alguns autores tentaram definir e delimitar melhor
o tema motivação. Encontraram, nessa tarefa, sérias dificuldades, conseqüência da busca
exclusiva de critérios comportamentais, externamente observáveis. O critério original e até
hoje utilizado é o objetivo, aquele que observa o fato na maneira como se processa. A exceção
quanto a esse critério de observação vem dos psicólogos humanistas que verificam a presença
de elementos subjetivos em suas pesquisas, ou seja, partem dos critérios subjetivos para
obterem as melhores respostas às suas hipóteses.
Maslow diz textualmente: "sou motivado quando sinto desejo, ou carência, anseio ou
falta" de alguma coisa ou de alguém. Considera que ainda não foi descoberto qualquer estado
objetivamente observável que se relacione decentemente com essas informações subjetivas,
isto é, ainda não foi encontrada uma boa definição comportamental de motivação.
Algumas respostas estão nos mecanismos de busca de cada um; estes são individuais,
pois estão relacionados aos processos de elaboração de mundo de cada um, na dinâmica
particular do desenvolvimento de cada um de nós. A compreensão dos motivos centrais do
comportamento está alicerçada naquilo que BERGAMINI (1990) chama de Psicodinâmica
Motivacional, em que as razões de "como ele o faz e como o faz, promove(m) a configuração
especial do comportamento humano".
Essa psicodinâmica vai além de fatores mensuráveis e objetivos, porque explica
aquilo que é freqüentemente esquecido no indivíduo, ou seja, como este se estrutura, o que
está em seu interior que coloca em jogo o desenvolvimento de suas capacidades individuais e
o seu relacionamento no coletivo, distinguindo-o do outro.
O mais amplo entendimento do desencadeamento do comportamento
motivacional é atingindo a partir do momento em que se consiga pôr em relevo
as principais marcas individuais de cada pessoa, marcas essas que determinarão
exatamente aquilo que se pode denominar de “estilo de comportamento
motivacional” (BERGAMINI, 1990:18).
Para BERGAMINI (1990:18), motivar, então, "é ultrapassar os limites do tempo, é
engajar-se no processo lento ou dinâmico do crescimento individual, é observar a natureza
humana própria e singular de cada um".
Diz a autora:
Cada vez mais se percebe que a felicidade motivacional é função de uma árdua
e profunda luta de cada um e que não há ninguém que possua um molde
especial no qual se possa cunhá-la a granel (p.16).
À medida que a discussão do tema se torna mais complexa, a definição da motivação
humana mostra-se além das proposições oriundas das várias correntes psicológicas, assim
como estas quiseram apregoar. O fato de que as pessoas motivadas agem de modo
semelhante, sob condicionamentos aprendidos (esquema estímulo – resposta), não significa
que elas se motivam da mesma forma, pois, perante os critérios da motivação, ninguém
motiva a quem quer que seja (Ibidem).
Visto sob este aspecto, a relevância do estudo da motivação é grande. As
perspectivas teóricas voltam-se para o entendimento das singularidades humanas, gerando,
daí, um respeito genuíno àquilo que é próprio de cada um. BERGAMINI (1990:130) afirma
que "Ninguém se modifica se conscientemente não o deseja". Ela chama a atenção para o fato
de que não conseguimos motivar quem quer que seja, mas somos capazes de desmotivar as
pessoas por não respeitarmos suas diferenças individuais, por não respeitarmos o seu próprio
estilo, a sua maneira de ser e de estar no mundo.
A configuração mais nítida do comportamento motivacional começa, antes de
mais nada, quando se consegue diferenciar dois tipos distintos de ação dos seres
humanos: as primeiras são as ações empreendidas pelos indivíduos a partir de
condicionantes que estão fora dele, as segundas são levadas a efeito de maneira
espontânea, isto é, são os resultados de forças impulsoras internas (Ibidem:
24).
A natureza da motivação humana passa a ser vista, interpretada, de um outro lugar, o
do sujeito que vive o seu próprio processo de busca, procurando atender aos seus anseios na
satisfação e equilíbrio de suas necessidades.
MASLOW (1968) sustenta que o objetivo dos estudos que analisam as sutilezas de
um comportamento motivado no ser humano é proporcionar elemento de pesquisa. Neste
sentido, existe a suposição de que, para além de qualquer influência externa que possa
interferir no processo de motivação, estaria algo que realmente impulsiona o sujeito para o ato
motivacional, e isto seria a sua vontade, sua força interior.
Ainda, segundo o autor, a melhor forma de se estudar motivação é aquela que utiliza
os critérios subjetivos. Estes são os principais elementos para avançar nos estudos da
motivação humana, pois eles se relacionam com aquilo que a pessoa traz em sua
individualidade, como força motriz que a leva para a realização de alguma coisa e na maneira
como realiza estas ações.
Por fim, argumenta que uma sociedade saudável e motivada é aquela em que a troca
de energia está subentendida no valor peculiar de cada um. Mesmo que o meio social impeça
uma ação verdadeira do ser humano, este pode, a partir de sua própria motivação interior, o
curso de seus acontecimentos na busca de maior satisfação pessoal, vencendo barreiras e
ultrapassando obstáculos.
Sintetizando o que foi apresentado nestes itens, verificamos que o tema motivação
faz parte de um universo complexo, porém não menos importante. A motivação constitui um
elemento essencial de estudo para se poder entender o comportamento humano. O desafio
fundamental da motivação está no enfoque segundo o qual ela é um elemento chave para o
desenvolvimento e realização das ações humanas e não um aspecto mecanicista e
condicionante dos comportamentos sociais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERGAMINI, Cecília Whitaker. Motivação nas organizações. 4.ed. São Paulo: Atlas,1997.
DE LA PUENTE, Miguel (org). Tendências contemporâneas em psicologia da motivação.
São Paulo: Autores Associados Cortez, 1982.
GEIWITZ, P. James. Teorias não-freudianas da personalidade. São Paulo: EPU, 1973.
LEITE FILHO, Ivo.
A motivação analisada no processo ensino-aprendizagem de John
Dewey. Revista de Educação Pública, Cuiabá, v.5, n.8, jul./dez. 1996.
LÉVY-LEBOYER, Claude. A crise das motivações. São Paulo: Atlas, 1994.
MCLAUGHLIN, Barry. Theories of second-language. London: Edward Arnold, 1987.
MASLOW, Abraham H. Introdução à psicologia do ser. 2.ed. Rio de Janeiro : Eldorado,
1968.
MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento interpessoal: treinamento em grupo. 7.ed. Rio de
Janeiro : José Olímpio, 1997.
MURRAY, Edward J. Motivação humana. 5.ed. Rio de Janeiro : Zahar, 1983.
PENNA, Antônio Gomes. Motivação e emoção. Rio de Janeiro: Rio, 1975.
PRETTO, Siloé Pereira Neves. Educação humanista. São Paulo: Cortez e Moraes, 1978.
VERNON, M. D. Motivação humana. Petrópolis: Vozes, 1973.
A MOTIVAÇÃO DO AGIR HUMANO
Zilpa Helena Lovisi de Abreu1
RESUMO
Este artigo apresenta uma revisão bibliográfica sobre algumas concepções a respeito da
motivação e a sua centralidade no agir humano. Apesar de o tema motivação ser bastante
estudado, muitos aspectos que o envolvem necessitam ainda de aproximações teóricas, além
de análises empíricas, isto é, baseadas na experiência humana, em situações e condições
subjetivas específicas. Pretendemos, portanto, expor algumas considerações feitas por autores
que dedicaram parte de seus estudos ao tema em questão. Entre estes, destacamos Maslow,
Murray, Lindzey, Bergamini e Moscovici.
Palavras-chave: Teorias Motivacionais; Motivação e Educação; Maslow
ABSTRACT
This article presents a literature review on certain ideas about the motivation and its centrality
in human act. Although the theme motivation rather be studied, many aspects that still need to
involve theoretical approaches, and empirical analysis, that is, based on human experience, in
specific situations and subjective conditions. We want therefore expose a few comments made
by authors who have devoted part of their studies on the subject matter. Among these, we
highlight Maslow, Murray, lindzey, Bergamini and Moscovici.
Keywords: motivational theories, motivation and education; Maslow
1
Mestre em Educação CES/JF- Coordenadora do Curso de Pedagogia – Instituto Superior de Educação de
Santos Dumont-MG – Professora de Espanhol.
INTRODUÇÃO
De acordo com BERGAMINI (1990), ao estudar motivação, deparamo-nos com
obstáculos que devem ser transpostos para a compreensão da natureza humana, isto é, lutar
contra os mitos, em torno do assunto, que estão arraigados nas crenças populares sobre
motivação, como, por exemplo, que as pessoas fazem coisas pelas mesmas razões, conceito
este que não se sustenta, ao compreendermos que temos feições individuais, próprias e únicas.
Não existe uma regra universal para explicar a motivação e as ações humanas. Cada
um busca a sua satisfação de forma diferenciada da dos demais, portanto, diferentes motivos
interferem no desenvolvimento e no nível de realização e investimento do indivíduo em suas
variadas atitudes e comportamentos no mundo. No âmbito educacional esses fatores devem
ser, constantemente, analisados e observados pelos profissionais da área para conseguir uma
aprendizagem efetiva de seus alunos e uma constante motivação pela busca do conhecimento.
ABORDAGENS TEÓRICAS SOBRE A MOTIVAÇÃO
Cumpre, agora, nos determos, ainda que apenas brevemente, em algumas abordagens
teóricas acerca da motivação. Inicialmente, pretendemos correlacionar as concepções dos
autores considerados clássicos no estudo deste tema. Portanto, serão sucintamente discutidas
as idéias propostas por Murray, Lindsey, Moscovici e mais detalhadamente acerca da
perspectiva teórica desenvolvida por Maslow.
MURRAY (1983) acredita que possam ser descritas três teorias centrais nos estudos
do comportamento e seus motivadores: a Cognitiva, a Hedonista e a do Instinto ou Instintiva.
A Teoria Cognitiva parte do pressuposto de que a vontade do indivíduo seria o que determina
suas ações, suas escolhas e o faz responsável por elas. A motivação estaria relacionada com a
dimensão essencialmente cognitiva frente à escolha feita diante das várias alternativas que o
sujeito encontra.
As Teorias Hedonistas enfatizam a busca do prazer como chave para o entendimento
do comportamento humano. Destaca que a natureza humana busca ou se aproxima do que dá
prazer e evita o que não o proporciona, gerando os comportamentos de aproximação e
evitação. Os motivos para a ação humana estariam alicerçados nos dois efeitos, ou seja, o
indivíduo estará motivado, quando vivencia o prazer ou quando pode se afastar dele quando
não o obtém, buscando-o em outra situação.
A Teoria do Instinto, segundo MURRAY (1983), é aquela que sustenta que o
indivíduo está motivado quando segue seus instintos interiores e as suas decisões estão
alicerçadas neste comportamento:
Podemos, assim, definir um instinto como uma disposição psicofísica herdada
ou inata, a qual determina ao seu possuidor perceber ou dar atenção a objetos de
certa classe, experimentar uma excitação emocional de determinada qualidade
ao perceber tal objeto, e atuar em relação ao mesmo de um modo particular, ou
experimentar, pelo menos, um impulso para tal ação (Mcdougall, in
MURRAY, 1983:17).
Para Murray, o conceito de instinto caminha junto com o de impulso. O impulso é
um elemento significativo para a compreensão da motivação. Por meio dos impulsos,
poderíamos explicar os motivos mais prementes que conduzem um indivíduo à realização de
uma ação. Essa correlação já foi apresentada em 1918, por Robert S. Woodworth (MURRAY,
1983:18). De acordo com aquele autor, o impulso é uma dotação de energia para a ação. É ele
que impele o organismo ao movimento, ao estar motivado no empreendimento de uma meta.
Explica que o impulso relaciona-se, diretamente, com os instintos inerentes a cada pessoa. Os
dois conceitos juntos se somam, se comunicam.
Diante desses conceitos, os autores, Murray e Woodworth, definem a motivação
como uma ação estimulada pelos impulsos, que irão agir no comportamento geral de uma
pessoa. Se há um desequilíbrio, uma instabilidade ou um objetivo a ser alcançado, a pessoa
passa a agir por meio de seus impulsos advindos dos seus instintos primários, para conseguir
equilíbrio, satisfação e prazer.
LINDZEY et al, esclarece melhor o assunto, ao afirmar:
que o impulso ou drive é a energia que incita à ação, podendo originar-se por
processos orgânicos internos, identificáveis, chamados de impulsos nãoaprendidos ou primários, como a fome, por exemplo. Outros são adquiridos pela
aprendizagem, como a competição, ou seja, uma necessidade aprendida. Definese, então, que “um motivo é qualquer coisa que inicia o comportamento”
(1977:328).
A concepção do que é impulso, segundo os autores citados, está relacionada a algo
que pode ou não sofrer influência da aprendizagem. Percebemos que, por exemplo, muitas
vezes, os alunos encontram-se motivados para os estudos por receberem incentivos que se
transformam em impulsos, reforçando os estímulos para prosseguirem no processo de
aprendizagem. Vemos que a motivação é maior quando parte daquilo que lhe é inerente,
interno, e não de condicionamentos pré-fixados.
Lindzey et al enfatiza que obter aprovação e realização sobre algum ato, por
exemplo, torna-se fator de aprendizagem, ao ser reforçado continuadamente, mediante os
incentivos recebidos. Os dois conceitos somados aclaram a compreensão da vivência da
pessoa, uns primariamente - satisfazendo as necessidades fundamentais -, e os outros
aprendidos, ajustando o indivíduo ao seu meio social.
O autor conclui que
Excitação (arousal) é a energização do comportamento. Um motivo nos torna
mais ativos e inquietos. O comportamento motivado também tem propósitos ou
intenção. A pessoa motivada tem direção, um objetivo ou meta. O sentimento
de querer ou desejar é experimentado como tensão, esforço e expectativa.
Quando o objetivo é alcançado, a tensão e o esforço desaparecem juntamente
com a atividade energética (Ibidem:329).
O impulso, como fonte de energia, poderá esclarecer muito sobre o comportamento
motivado, pois, como há impulsos primários e aprendidos, as ações motivadas estarão aliadas
a esses impulsos orgânicos primários.
As ações motivadas pelo impulso são chamadas atos instrumentais porque são
os instrumentos por meio dos quais o objetivo do impulso é atingido. Os objetos
para satisfazer a fonte do impulso são chamados de objetos instrumentais. Os
atos e objetos instrumentais variam de cultura, para cultura, indivíduo para
indivíduo, e mesmo de dia para dia em relação ao mesmo sujeito...O costume é
um fator importante na modelagem de formas específicas de satisfação dos
impulsos primários (Ibidem:331-32).
Segundo MASLOW (1968), os estudos da motivação são de grande importância para
se compreender o comportamento humano. Ao apresentarmos as pesquisas sobre a natureza
humana, podemos extrair algumas conclusões sobre a motivação. Os conceitos e as teorias
que serviram e servem de base para compreender a dimensão motivacional do comportamento
humano estão presentes em vários campos de estudos, inclusive o educacional (MOSCOVICI,
1997).
O estudo da motivação, enquanto campo de estudo da Psicologia, tem ainda muito
que desenvolver, dada a sua complexidade, tornando-se necessário lançar mão de
instrumentos de abordagem de diversas ciências, tais como a Sociologia, a Antropologia e a
Biologia.
A rede de conceitos relacionados à motivação deixa entrever que o comportamento
humano deriva de um organismo complexo, o que inviabiliza a construção de um referencial
teórico único para a análise da condição humana. Segundo MURRAY (1983), os motivos que
damos às nossas capacidades individuais dependem da motivação, ou dos desejos, das
carências, das necessidades que cada ser humano possui, em sua natureza individual. E a
busca por sua singularidade é que faz a diferença entre cada um de nós.
A Psicologia, como qualquer ciência, utiliza diversos conceitos teóricos na tentativa
de compreender o comportamento humano enquanto ser social e individual. Uma dessas
abordagens, que parece melhor atender à temática da motivação, estaria alicerçada no que se
convencionou chamar de Psicologia Humanista.
A abordagem teórica da Psicologia Humanista tem como um de seus principais
pesquisadores MASLOW (1968)2, que pode ser considerado o fundador dessa corrente de
psicologia. Mosquera considera que Maslow foi o expoente e o criador de uma Terceira força
em Psicologia ou também denominada Psicologia Humanista Existencial (1968:21).
Foi através dos trabalhos de Maslow (1968) que o termo motivação passou a ser
referendado como objeto de estudo significativo no campo da Psicologia. Em suas pesquisas,
procurava não só observar os critérios objetivos que faziam parte de suas experiências, mas
procurava se informar a respeito da presença de um comportamento motivado que poderia ser
verificado através de elementos subjetivos no desenvolvimento da pesquisa analisada.
O autor apresenta uma concepção de homem diferente das visões até então existentes
em Psicologia. Seus estudos estão baseados num enfoque de um homem visto como um
complexo biopsicossocial, ou seja, um ser capaz de gerir sua própria existência, quando busca
melhores condições de desenvolvimento e satisfação de suas necessidades (MURRAY,
1983:9).
Para Maslow, os estudos da motivação devem apontar para um ser humano que seja
visto em sua totalidade; totalidade esta que envolve sua formação geral, sua consciência
histórica, escolhas e necessidades. Como afirma FADIMAN e FRAGER (1979:261),
2
- Abraham Maslow, estudioso norte-americano foi o precursor da abordagem humanista na Psicologia. As duas
outras correntes psicológicas importantes são: psicanálise e o behaviorismo, estas não serão objetos deste
trabalho.
referindo-se à obra de Maslow (1968), "as atividades humanas de que o homem se orgulha e
que dão sentido, riqueza e valor à sua vida são omitidas ou classificadas como patológicas".
Neste sentido, a teoria de Maslow e de outros autores, dessa mesma corrente, procura situar o
indivíduo numa visão mais positiva e saudável frente à existência.
Maslow (1968) sustenta que existem muitas maneiras de entender e interpretar o
comportamento humano, ou seja, as diferentes abordagens e teorias psicológicas apontam,
cada uma a sua maneira, aspectos fundamentais para uma análise mais global do ser humano.
Porém, o que ele apresenta são instrumentos teóricos que vêem o homem de uma forma
mais saudável, motivado intrínseca e extrinsecamente, com relação à busca de seus
anseios e do modo positivo que cada um vivencia seus atos para atingir seus propósitos.
Os estudos da motivação realizados por Maslow trazem uma maneira nova de
observação do comportamento humano, ou seja, o ser humano é visto mais em seus aspectos
positivos e em suas potencialidades atuais e naquelas que podem vir a ser manifestadas. Isso
equivale dizer que Maslow acredita em um homem autônomo, capaz de satisfazer suas
necessidades, partindo em busca de outras que vão surgindo ao longo de seu processo de
existência.
O autor, segundo LINDZEY et al (1977:328), explica que, ao buscar a realização de
algo, o homem passa a apresentar motivos para determinados comportamentos, em busca da
satisfação de suas necessidades e o papel que eles desempenham na determinação de seu
comportamento.
Essa visão de homem mais centrado e positivo, passa a gerar, segundo a ética
humanista, idéias mais voltadas para o valor do humano. Segundo MOSCOVICI, tal
concepção centra-se no fato de o indivíduo poder aprender a pensar de forma crítica, a
enfrentar situações novas sem pânico, e também de forma mais livre ou criativa, a confiar em
si e nos outros, a descobrir e desenvolver suas potencialidades, no sentido de tornar-se mais
autêntico e produtivo. A consideração deste aspecto coloca os estudos da motivação como
uma fonte geradora de compreensão da natureza humana e do que venha a ser um
comportamento motivado. Daí a importância de percepção do homem mais valorizado e
acreditado.
Toda conscientização traz em si as possibilidades de mudança, através da nova
percepção da realidade externa ou interna. Se a percepção se modifica, vários
outros planos do processo psicológico também se modificam, o indivíduo não
apenas passa a ver diferente, mas a sentir e pensar de forma diferente e,
conseqüentemente, agir de outra maneira (MOSCOVICI, 1977:XX).
Os estudos sobre a motivação vão, então, abranger esferas realmente importantes do
comportamento humano, ao considerar o homem como agente central de seus motivos e de
suas escolhas.
Na abordagem teórica, proposta por Maslow, observamos uma série de
considerações sobre o tema da motivação, que foram inicialmente tomadas como linhas
mestras para interpretar e estudar os motivadores do comportamento humano. Estas
possibilitam uma avaliação individual, ou seja, levam em consideração o que é próprio de
cada indivíduo, indo em direção à valorização da saúde psicológica, uma vez que o
desenvolvimento é visto como um processo mais positivo e não-patológico no conhecimento
de si mesmo. Isto significa dizer que a proposta da Psicologia Humanista é a de correlacionar
o que há de saudável em um ser humano, como a busca de um maior entendimento de si
mesmo e de seu comportamento.
Em suas pesquisas sobre a dimensão motivacional, Maslow não perde de vista o que
ele chama de consciência intrínseca de cada sujeito. Explica que essa consciência está sempre
presente de forma positiva no interior de cada um, isto, segundo ele, aponta para a busca da
satisfação de necessidades que são inerentes a cada ser humano.
Maslow enfatizou um conjunto de necessidades, que denominou como necessidades
básicas, objetivando compreender melhor uma série de situações típicas do comportamento
humano. Para ele, as necessidades básicas são aquelas que estão vinculadas ao imperativo da
manutenção da vida, aquilo que mantém o homem vivo e atuante no mundo de que faz parte.
As necessidades humanas seguem uma hierarquia que, segundo Maslow, passa por
níveis diferentes de satisfação, sendo que todas devem ser satisfeitas para que haja equilíbrio
no organismo humano. Após a satisfação de suas necessidades mais básicas, ligadas ao
próprio funcionamento biológico - instintivo, a pessoa irá à busca de satisfazer necessidades
cada vez mais complexas, o que quer dizer cada vez mais individualizadas. Argumenta que
sempre surgem novas necessidades, à medida que as anteriores atingem um grau adequado de
satisfação.
MOSCOVICI, pesquisando o desenvolvimento interpessoal, afirma, com relação à
satisfação das necessidades básicas, que
Quando o organismo humano está dominado por uma determinada necessidade
fisiológica, tende a mudar até sua filosofia de futuro. Por exemplo: um homem
faminto relega tudo o mais em favor do alimento. A satisfação é tão importante
quanto à privação, pois libera o organismo do domínio das necessidades
fisiológicas, permitindo o aparecimento de outros impulsos ou motivos
(1997:77).
FADIMAN e FRAGER (1979) argumentam, a partir de MASLOW (1968), que uma
vez satisfeitas as necessidades básicas, principalmente as preponderantes, o comportamento
do sujeito passa para a "metamotivação". Para Maslow (Apud, FADIMAN e FRAGER,
1979), a metamotivação é um nível avançado de conhecimento do ser humano, quando este já
satisfez suas necessidades primeiras, de acordo com a hierarquia apresentada, e sabe que elas
serão de uma forma ou de outra supridas. O ser humano tem como avançar em suas buscas
para níveis superiores de satisfação, como, por exemplo, Maslow apresenta o aspecto
espiritual e intelectual que cada um deseja alcançar. Isto significa dizer que o indivíduo ao
sair de seus estágios iniciais estará dando passos largos em busca de sua individuação e um
conhecimento maior de si mesmo.
Compreender a motivação humana sob o referencial proposto por Maslow é
interpretar as reações de cada organismo com relação à sua maneira de agir, de se motivar,
nos diversos campos de atuação no mundo, pois as necessidades estarão vinculadas à
satisfação de cada um.
Das propostas teóricas de Maslow, alguns autores tentaram definir e delimitar melhor
o tema motivação. Encontraram, nessa tarefa, sérias dificuldades, conseqüência da busca
exclusiva de critérios comportamentais, externamente observáveis. O critério original e até
hoje utilizado é o objetivo, aquele que observa o fato na maneira como se processa. A exceção
quanto a esse critério de observação vem dos psicólogos humanistas que verificam a presença
de elementos subjetivos em suas pesquisas, ou seja, partem dos critérios subjetivos para
obterem as melhores respostas às suas hipóteses.
Maslow diz textualmente: "sou motivado quando sinto desejo, ou carência, anseio ou
falta" de alguma coisa ou de alguém. Considera que ainda não foi descoberto qualquer estado
objetivamente observável que se relacione decentemente com essas informações subjetivas,
isto é, ainda não foi encontrada uma boa definição comportamental de motivação.
Algumas respostas estão nos mecanismos de busca de cada um; estes são individuais,
pois estão relacionados aos processos de elaboração de mundo de cada um, na dinâmica
particular do desenvolvimento de cada um de nós. A compreensão dos motivos centrais do
comportamento está alicerçada naquilo que BERGAMINI (1990) chama de Psicodinâmica
Motivacional, em que as razões de "como ele o faz e como o faz, promove(m) a configuração
especial do comportamento humano".
Essa psicodinâmica vai além de fatores mensuráveis e objetivos, porque explica
aquilo que é freqüentemente esquecido no indivíduo, ou seja, como este se estrutura, o que
está em seu interior que coloca em jogo o desenvolvimento de suas capacidades individuais e
o seu relacionamento no coletivo, distinguindo-o do outro.
O mais amplo entendimento do desencadeamento do comportamento
motivacional é atingindo a partir do momento em que se consiga pôr em relevo
as principais marcas individuais de cada pessoa, marcas essas que determinarão
exatamente aquilo que se pode denominar de “estilo de comportamento
motivacional” (BERGAMINI, 1990:18).
Para BERGAMINI (1990:18), motivar, então, "é ultrapassar os limites do tempo, é
engajar-se no processo lento ou dinâmico do crescimento individual, é observar a natureza
humana própria e singular de cada um".
Diz a autora:
Cada vez mais se percebe que a felicidade motivacional é função de uma árdua
e profunda luta de cada um e que não há ninguém que possua um molde
especial no qual se possa cunhá-la a granel (p.16).
À medida que a discussão do tema se torna mais complexa, a definição da motivação
humana mostra-se além das proposições oriundas das várias correntes psicológicas, assim
como estas quiseram apregoar. O fato de que as pessoas motivadas agem de modo
semelhante, sob condicionamentos aprendidos (esquema estímulo – resposta), não significa
que elas se motivam da mesma forma, pois, perante os critérios da motivação, ninguém
motiva a quem quer que seja (Ibidem).
Visto sob este aspecto, a relevância do estudo da motivação é grande. As
perspectivas teóricas voltam-se para o entendimento das singularidades humanas, gerando,
daí, um respeito genuíno àquilo que é próprio de cada um. BERGAMINI (1990:130) afirma
que "Ninguém se modifica se conscientemente não o deseja". Ela chama a atenção para o fato
de que não conseguimos motivar quem quer que seja, mas somos capazes de desmotivar as
pessoas por não respeitarmos suas diferenças individuais, por não respeitarmos o seu próprio
estilo, a sua maneira de ser e de estar no mundo.
A configuração mais nítida do comportamento motivacional começa, antes de
mais nada, quando se consegue diferenciar dois tipos distintos de ação dos seres
humanos: as primeiras são as ações empreendidas pelos indivíduos a partir de
condicionantes que estão fora dele, as segundas são levadas a efeito de maneira
espontânea, isto é, são os resultados de forças impulsoras internas (Ibidem:
24).
A natureza da motivação humana passa a ser vista, interpretada, de um outro lugar, o
do sujeito que vive o seu próprio processo de busca, procurando atender aos seus anseios na
satisfação e equilíbrio de suas necessidades.
MASLOW (1968) sustenta que o objetivo dos estudos que analisam as sutilezas de
um comportamento motivado no ser humano é proporcionar elemento de pesquisa. Neste
sentido, existe a suposição de que, para além de qualquer influência externa que possa
interferir no processo de motivação, estaria algo que realmente impulsiona o sujeito para o ato
motivacional, e isto seria a sua vontade, sua força interior.
Ainda, segundo o autor, a melhor forma de se estudar motivação é aquela que utiliza
os critérios subjetivos. Estes são os principais elementos para avançar nos estudos da
motivação humana, pois eles se relacionam com aquilo que a pessoa traz em sua
individualidade, como força motriz que a leva para a realização de alguma coisa e na maneira
como realiza estas ações.
Por fim, argumenta que uma sociedade saudável e motivada é aquela em que a troca
de energia está subentendida no valor peculiar de cada um. Mesmo que o meio social impeça
uma ação verdadeira do ser humano, este pode, a partir de sua própria motivação interior, o
curso de seus acontecimentos na busca de maior satisfação pessoal, vencendo barreiras e
ultrapassando obstáculos.
Sintetizando o que foi apresentado nestes itens, verificamos que o tema motivação
faz parte de um universo complexo, porém não menos importante. A motivação constitui um
elemento essencial de estudo para se poder entender o comportamento humano. O desafio
fundamental da motivação está no enfoque segundo o qual ela é um elemento chave para o
desenvolvimento e realização das ações humanas e não um aspecto mecanicista e
condicionante dos comportamentos sociais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERGAMINI, Cecília Whitaker. Motivação nas organizações. 4.ed. São Paulo: Atlas,1997.
DE LA PUENTE, Miguel (org). Tendências contemporâneas em psicologia da motivação.
São Paulo: Autores Associados Cortez, 1982.
GEIWITZ, P. James. Teorias não-freudianas da personalidade. São Paulo: EPU, 1973.
LEITE FILHO, Ivo.
A motivação analisada no processo ensino-aprendizagem de John
Dewey. Revista de Educação Pública, Cuiabá, v.5, n.8, jul./dez. 1996.
LÉVY-LEBOYER, Claude. A crise das motivações. São Paulo: Atlas, 1994.
MCLAUGHLIN, Barry. Theories of second-language. London: Edward Arnold, 1987.
MASLOW, Abraham H. Introdução à psicologia do ser. 2.ed. Rio de Janeiro : Eldorado,
1968.
MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento interpessoal: treinamento em grupo. 7.ed. Rio de
Janeiro : José Olímpio, 1997.
MURRAY, Edward J. Motivação humana. 5.ed. Rio de Janeiro : Zahar, 1983.
PENNA, Antônio Gomes. Motivação e emoção. Rio de Janeiro: Rio, 1975.
PRETTO, Siloé Pereira Neves. Educação humanista. São Paulo: Cortez e Moraes, 1978.
VERNON, M. D. Motivação humana. Petrópolis: Vozes, 1973.
A MOTIVAÇÃO DO AGIR HUMANO
Zilpa Helena Lovisi de Abreu1
RESUMO
Este artigo apresenta uma revisão bibliográfica sobre algumas concepções a respeito da
motivação e a sua centralidade no agir humano. Apesar de o tema motivação ser bastante
estudado, muitos aspectos que o envolvem necessitam ainda de aproximações teóricas, além
de análises empíricas, isto é, baseadas na experiência humana, em situações e condições
subjetivas específicas. Pretendemos, portanto, expor algumas considerações feitas por autores
que dedicaram parte de seus estudos ao tema em questão. Entre estes, destacamos Maslow,
Murray, Lindzey, Bergamini e Moscovici.
Palavras-chave: Teorias Motivacionais; Motivação e Educação; Maslow
ABSTRACT
This article presents a literature review on certain ideas about the motivation and its centrality
in human act. Although the theme motivation rather be studied, many aspects that still need to
involve theoretical approaches, and empirical analysis, that is, based on human experience, in
specific situations and subjective conditions. We want therefore expose a few comments made
by authors who have devoted part of their studies on the subject matter. Among these, we
highlight Maslow, Murray, lindzey, Bergamini and Moscovici.
Keywords: motivational theories, motivation and education; Maslow
1
Mestre em Educação CES/JF- Coordenadora do Curso de Pedagogia – Instituto Superior de Educação de
Santos Dumont-MG – Professora de Espanhol.
INTRODUÇÃO
De acordo com BERGAMINI (1990), ao estudar motivação, deparamo-nos com
obstáculos que devem ser transpostos para a compreensão da natureza humana, isto é, lutar
contra os mitos, em torno do assunto, que estão arraigados nas crenças populares sobre
motivação, como, por exemplo, que as pessoas fazem coisas pelas mesmas razões, conceito
este que não se sustenta, ao compreendermos que temos feições individuais, próprias e únicas.
Não existe uma regra universal para explicar a motivação e as ações humanas. Cada
um busca a sua satisfação de forma diferenciada da dos demais, portanto, diferentes motivos
interferem no desenvolvimento e no nível de realização e investimento do indivíduo em suas
variadas atitudes e comportamentos no mundo. No âmbito educacional esses fatores devem
ser, constantemente, analisados e observados pelos profissionais da área para conseguir uma
aprendizagem efetiva de seus alunos e uma constante motivação pela busca do conhecimento.
ABORDAGENS TEÓRICAS SOBRE A MOTIVAÇÃO
Cumpre, agora, nos determos, ainda que apenas brevemente, em algumas abordagens
teóricas acerca da motivação. Inicialmente, pretendemos correlacionar as concepções dos
autores considerados clássicos no estudo deste tema. Portanto, serão sucintamente discutidas
as idéias propostas por Murray, Lindsey, Moscovici e mais detalhadamente acerca da
perspectiva teórica desenvolvida por Maslow.
MURRAY (1983) acredita que possam ser descritas três teorias centrais nos estudos
do comportamento e seus motivadores: a Cognitiva, a Hedonista e a do Instinto ou Instintiva.
A Teoria Cognitiva parte do pressuposto de que a vontade do indivíduo seria o que determina
suas ações, suas escolhas e o faz responsável por elas. A motivação estaria relacionada com a
dimensão essencialmente cognitiva frente à escolha feita diante das várias alternativas que o
sujeito encontra.
As Teorias Hedonistas enfatizam a busca do prazer como chave para o entendimento
do comportamento humano. Destaca que a natureza humana busca ou se aproxima do que dá
prazer e evita o que não o proporciona, gerando os comportamentos de aproximação e
evitação. Os motivos para a ação humana estariam alicerçados nos dois efeitos, ou seja, o
indivíduo estará motivado, quando vivencia o prazer ou quando pode se afastar dele quando
não o obtém, buscando-o em outra situação.
A Teoria do Instinto, segundo MURRAY (1983), é aquela que sustenta que o
indivíduo está motivado quando segue seus instintos interiores e as suas decisões estão
alicerçadas neste comportamento:
Podemos, assim, definir um instinto como uma disposição psicofísica herdada
ou inata, a qual determina ao seu possuidor perceber ou dar atenção a objetos de
certa classe, experimentar uma excitação emocional de determinada qualidade
ao perceber tal objeto, e atuar em relação ao mesmo de um modo particular, ou
experimentar, pelo menos, um impulso para tal ação (Mcdougall, in
MURRAY, 1983:17).
Para Murray, o conceito de instinto caminha junto com o de impulso. O impulso é
um elemento significativo para a compreensão da motivação. Por meio dos impulsos,
poderíamos explicar os motivos mais prementes que conduzem um indivíduo à realização de
uma ação. Essa correlação já foi apresentada em 1918, por Robert S. Woodworth (MURRAY,
1983:18). De acordo com aquele autor, o impulso é uma dotação de energia para a ação. É ele
que impele o organismo ao movimento, ao estar motivado no empreendimento de uma meta.
Explica que o impulso relaciona-se, diretamente, com os instintos inerentes a cada pessoa. Os
dois conceitos juntos se somam, se comunicam.
Diante desses conceitos, os autores, Murray e Woodworth, definem a motivação
como uma ação estimulada pelos impulsos, que irão agir no comportamento geral de uma
pessoa. Se há um desequilíbrio, uma instabilidade ou um objetivo a ser alcançado, a pessoa
passa a agir por meio de seus impulsos advindos dos seus instintos primários, para conseguir
equilíbrio, satisfação e prazer.
LINDZEY et al, esclarece melhor o assunto, ao afirmar:
que o impulso ou drive é a energia que incita à ação, podendo originar-se por
processos orgânicos internos, identificáveis, chamados de impulsos nãoaprendidos ou primários, como a fome, por exemplo. Outros são adquiridos pela
aprendizagem, como a competição, ou seja, uma necessidade aprendida. Definese, então, que “um motivo é qualquer coisa que inicia o comportamento”
(1977:328).
A concepção do que é impulso, segundo os autores citados, está relacionada a algo
que pode ou não sofrer influência da aprendizagem. Percebemos que, por exemplo, muitas
vezes, os alunos encontram-se motivados para os estudos por receberem incentivos que se
transformam em impulsos, reforçando os estímulos para prosseguirem no processo de
aprendizagem. Vemos que a motivação é maior quando parte daquilo que lhe é inerente,
interno, e não de condicionamentos pré-fixados.
Lindzey et al enfatiza que obter aprovação e realização sobre algum ato, por
exemplo, torna-se fator de aprendizagem, ao ser reforçado continuadamente, mediante os
incentivos recebidos. Os dois conceitos somados aclaram a compreensão da vivência da
pessoa, uns primariamente - satisfazendo as necessidades fundamentais -, e os outros
aprendidos, ajustando o indivíduo ao seu meio social.
O autor conclui que
Excitação (arousal) é a energização do comportamento. Um motivo nos torna
mais ativos e inquietos. O comportamento motivado também tem propósitos ou
intenção. A pessoa motivada tem direção, um objetivo ou meta. O sentimento
de querer ou desejar é experimentado como tensão, esforço e expectativa.
Quando o objetivo é alcançado, a tensão e o esforço desaparecem juntamente
com a atividade energética (Ibidem:329).
O impulso, como fonte de energia, poderá esclarecer muito sobre o comportamento
motivado, pois, como há impulsos primários e aprendidos, as ações motivadas estarão aliadas
a esses impulsos orgânicos primários.
As ações motivadas pelo impulso são chamadas atos instrumentais porque são
os instrumentos por meio dos quais o objetivo do impulso é atingido. Os objetos
para satisfazer a fonte do impulso são chamados de objetos instrumentais. Os
atos e objetos instrumentais variam de cultura, para cultura, indivíduo para
indivíduo, e mesmo de dia para dia em relação ao mesmo sujeito...O costume é
um fator importante na modelagem de formas específicas de satisfação dos
impulsos primários (Ibidem:331-32).
Segundo MASLOW (1968), os estudos da motivação são de grande importância para
se compreender o comportamento humano. Ao apresentarmos as pesquisas sobre a natureza
humana, podemos extrair algumas conclusões sobre a motivação. Os conceitos e as teorias
que serviram e servem de base para compreender a dimensão motivacional do comportamento
humano estão presentes em vários campos de estudos, inclusive o educacional (MOSCOVICI,
1997).
O estudo da motivação, enquanto campo de estudo da Psicologia, tem ainda muito
que desenvolver, dada a sua complexidade, tornando-se necessário lançar mão de
instrumentos de abordagem de diversas ciências, tais como a Sociologia, a Antropologia e a
Biologia.
A rede de conceitos relacionados à motivação deixa entrever que o comportamento
humano deriva de um organismo complexo, o que inviabiliza a construção de um referencial
teórico único para a análise da condição humana. Segundo MURRAY (1983), os motivos que
damos às nossas capacidades individuais dependem da motivação, ou dos desejos, das
carências, das necessidades que cada ser humano possui, em sua natureza individual. E a
busca por sua singularidade é que faz a diferença entre cada um de nós.
A Psicologia, como qualquer ciência, utiliza diversos conceitos teóricos na tentativa
de compreender o comportamento humano enquanto ser social e individual. Uma dessas
abordagens, que parece melhor atender à temática da motivação, estaria alicerçada no que se
convencionou chamar de Psicologia Humanista.
A abordagem teórica da Psicologia Humanista tem como um de seus principais
pesquisadores MASLOW (1968)2, que pode ser considerado o fundador dessa corrente de
psicologia. Mosquera considera que Maslow foi o expoente e o criador de uma Terceira força
em Psicologia ou também denominada Psicologia Humanista Existencial (1968:21).
Foi através dos trabalhos de Maslow (1968) que o termo motivação passou a ser
referendado como objeto de estudo significativo no campo da Psicologia. Em suas pesquisas,
procurava não só observar os critérios objetivos que faziam parte de suas experiências, mas
procurava se informar a respeito da presença de um comportamento motivado que poderia ser
verificado através de elementos subjetivos no desenvolvimento da pesquisa analisada.
O autor apresenta uma concepção de homem diferente das visões até então existentes
em Psicologia. Seus estudos estão baseados num enfoque de um homem visto como um
complexo biopsicossocial, ou seja, um ser capaz de gerir sua própria existência, quando busca
melhores condições de desenvolvimento e satisfação de suas necessidades (MURRAY,
1983:9).
Para Maslow, os estudos da motivação devem apontar para um ser humano que seja
visto em sua totalidade; totalidade esta que envolve sua formação geral, sua consciência
histórica, escolhas e necessidades. Como afirma FADIMAN e FRAGER (1979:261),
2
- Abraham Maslow, estudioso norte-americano foi o precursor da abordagem humanista na Psicologia. As duas
outras correntes psicológicas importantes são: psicanálise e o behaviorismo, estas não serão objetos deste
trabalho.
referindo-se à obra de Maslow (1968), "as atividades humanas de que o homem se orgulha e
que dão sentido, riqueza e valor à sua vida são omitidas ou classificadas como patológicas".
Neste sentido, a teoria de Maslow e de outros autores, dessa mesma corrente, procura situar o
indivíduo numa visão mais positiva e saudável frente à existência.
Maslow (1968) sustenta que existem muitas maneiras de entender e interpretar o
comportamento humano, ou seja, as diferentes abordagens e teorias psicológicas apontam,
cada uma a sua maneira, aspectos fundamentais para uma análise mais global do ser humano.
Porém, o que ele apresenta são instrumentos teóricos que vêem o homem de uma forma
mais saudável, motivado intrínseca e extrinsecamente, com relação à busca de seus
anseios e do modo positivo que cada um vivencia seus atos para atingir seus propósitos.
Os estudos da motivação realizados por Maslow trazem uma maneira nova de
observação do comportamento humano, ou seja, o ser humano é visto mais em seus aspectos
positivos e em suas potencialidades atuais e naquelas que podem vir a ser manifestadas. Isso
equivale dizer que Maslow acredita em um homem autônomo, capaz de satisfazer suas
necessidades, partindo em busca de outras que vão surgindo ao longo de seu processo de
existência.
O autor, segundo LINDZEY et al (1977:328), explica que, ao buscar a realização de
algo, o homem passa a apresentar motivos para determinados comportamentos, em busca da
satisfação de suas necessidades e o papel que eles desempenham na determinação de seu
comportamento.
Essa visão de homem mais centrado e positivo, passa a gerar, segundo a ética
humanista, idéias mais voltadas para o valor do humano. Segundo MOSCOVICI, tal
concepção centra-se no fato de o indivíduo poder aprender a pensar de forma crítica, a
enfrentar situações novas sem pânico, e também de forma mais livre ou criativa, a confiar em
si e nos outros, a descobrir e desenvolver suas potencialidades, no sentido de tornar-se mais
autêntico e produtivo. A consideração deste aspecto coloca os estudos da motivação como
uma fonte geradora de compreensão da natureza humana e do que venha a ser um
comportamento motivado. Daí a importância de percepção do homem mais valorizado e
acreditado.
Toda conscientização traz em si as possibilidades de mudança, através da nova
percepção da realidade externa ou interna. Se a percepção se modifica, vários
outros planos do processo psicológico também se modificam, o indivíduo não
apenas passa a ver diferente, mas a sentir e pensar de forma diferente e,
conseqüentemente, agir de outra maneira (MOSCOVICI, 1977:XX).
Os estudos sobre a motivação vão, então, abranger esferas realmente importantes do
comportamento humano, ao considerar o homem como agente central de seus motivos e de
suas escolhas.
Na abordagem teórica, proposta por Maslow, observamos uma série de
considerações sobre o tema da motivação, que foram inicialmente tomadas como linhas
mestras para interpretar e estudar os motivadores do comportamento humano. Estas
possibilitam uma avaliação individual, ou seja, levam em consideração o que é próprio de
cada indivíduo, indo em direção à valorização da saúde psicológica, uma vez que o
desenvolvimento é visto como um processo mais positivo e não-patológico no conhecimento
de si mesmo. Isto significa dizer que a proposta da Psicologia Humanista é a de correlacionar
o que há de saudável em um ser humano, como a busca de um maior entendimento de si
mesmo e de seu comportamento.
Em suas pesquisas sobre a dimensão motivacional, Maslow não perde de vista o que
ele chama de consciência intrínseca de cada sujeito. Explica que essa consciência está sempre
presente de forma positiva no interior de cada um, isto, segundo ele, aponta para a busca da
satisfação de necessidades que são inerentes a cada ser humano.
Maslow enfatizou um conjunto de necessidades, que denominou como necessidades
básicas, objetivando compreender melhor uma série de situações típicas do comportamento
humano. Para ele, as necessidades básicas são aquelas que estão vinculadas ao imperativo da
manutenção da vida, aquilo que mantém o homem vivo e atuante no mundo de que faz parte.
As necessidades humanas seguem uma hierarquia que, segundo Maslow, passa por
níveis diferentes de satisfação, sendo que todas devem ser satisfeitas para que haja equilíbrio
no organismo humano. Após a satisfação de suas necessidades mais básicas, ligadas ao
próprio funcionamento biológico - instintivo, a pessoa irá à busca de satisfazer necessidades
cada vez mais complexas, o que quer dizer cada vez mais individualizadas. Argumenta que
sempre surgem novas necessidades, à medida que as anteriores atingem um grau adequado de
satisfação.
MOSCOVICI, pesquisando o desenvolvimento interpessoal, afirma, com relação à
satisfação das necessidades básicas, que
Quando o organismo humano está dominado por uma determinada necessidade
fisiológica, tende a mudar até sua filosofia de futuro. Por exemplo: um homem
faminto relega tudo o mais em favor do alimento. A satisfação é tão importante
quanto à privação, pois libera o organismo do domínio das necessidades
fisiológicas, permitindo o aparecimento de outros impulsos ou motivos
(1997:77).
FADIMAN e FRAGER (1979) argumentam, a partir de MASLOW (1968), que uma
vez satisfeitas as necessidades básicas, principalmente as preponderantes, o comportamento
do sujeito passa para a "metamotivação". Para Maslow (Apud, FADIMAN e FRAGER,
1979), a metamotivação é um nível avançado de conhecimento do ser humano, quando este já
satisfez suas necessidades primeiras, de acordo com a hierarquia apresentada, e sabe que elas
serão de uma forma ou de outra supridas. O ser humano tem como avançar em suas buscas
para níveis superiores de satisfação, como, por exemplo, Maslow apresenta o aspecto
espiritual e intelectual que cada um deseja alcançar. Isto significa dizer que o indivíduo ao
sair de seus estágios iniciais estará dando passos largos em busca de sua individuação e um
conhecimento maior de si mesmo.
Compreender a motivação humana sob o referencial proposto por Maslow é
interpretar as reações de cada organismo com relação à sua maneira de agir, de se motivar,
nos diversos campos de atuação no mundo, pois as necessidades estarão vinculadas à
satisfação de cada um.
Das propostas teóricas de Maslow, alguns autores tentaram definir e delimitar melhor
o tema motivação. Encontraram, nessa tarefa, sérias dificuldades, conseqüência da busca
exclusiva de critérios comportamentais, externamente observáveis. O critério original e até
hoje utilizado é o objetivo, aquele que observa o fato na maneira como se processa. A exceção
quanto a esse critério de observação vem dos psicólogos humanistas que verificam a presença
de elementos subjetivos em suas pesquisas, ou seja, partem dos critérios subjetivos para
obterem as melhores respostas às suas hipóteses.
Maslow diz textualmente: "sou motivado quando sinto desejo, ou carência, anseio ou
falta" de alguma coisa ou de alguém. Considera que ainda não foi descoberto qualquer estado
objetivamente observável que se relacione decentemente com essas informações subjetivas,
isto é, ainda não foi encontrada uma boa definição comportamental de motivação.
Algumas respostas estão nos mecanismos de busca de cada um; estes são individuais,
pois estão relacionados aos processos de elaboração de mundo de cada um, na dinâmica
particular do desenvolvimento de cada um de nós. A compreensão dos motivos centrais do
comportamento está alicerçada naquilo que BERGAMINI (1990) chama de Psicodinâmica
Motivacional, em que as razões de "como ele o faz e como o faz, promove(m) a configuração
especial do comportamento humano".
Essa psicodinâmica vai além de fatores mensuráveis e objetivos, porque explica
aquilo que é freqüentemente esquecido no indivíduo, ou seja, como este se estrutura, o que
está em seu interior que coloca em jogo o desenvolvimento de suas capacidades individuais e
o seu relacionamento no coletivo, distinguindo-o do outro.
O mais amplo entendimento do desencadeamento do comportamento
motivacional é atingindo a partir do momento em que se consiga pôr em relevo
as principais marcas individuais de cada pessoa, marcas essas que determinarão
exatamente aquilo que se pode denominar de “estilo de comportamento
motivacional” (BERGAMINI, 1990:18).
Para BERGAMINI (1990:18), motivar, então, "é ultrapassar os limites do tempo, é
engajar-se no processo lento ou dinâmico do crescimento individual, é observar a natureza
humana própria e singular de cada um".
Diz a autora:
Cada vez mais se percebe que a felicidade motivacional é função de uma árdua
e profunda luta de cada um e que não há ninguém que possua um molde
especial no qual se possa cunhá-la a granel (p.16).
À medida que a discussão do tema se torna mais complexa, a definição da motivação
humana mostra-se além das proposições oriundas das várias correntes psicológicas, assim
como estas quiseram apregoar. O fato de que as pessoas motivadas agem de modo
semelhante, sob condicionamentos aprendidos (esquema estímulo – resposta), não significa
que elas se motivam da mesma forma, pois, perante os critérios da motivação, ninguém
motiva a quem quer que seja (Ibidem).
Visto sob este aspecto, a relevância do estudo da motivação é grande. As
perspectivas teóricas voltam-se para o entendimento das singularidades humanas, gerando,
daí, um respeito genuíno àquilo que é próprio de cada um. BERGAMINI (1990:130) afirma
que "Ninguém se modifica se conscientemente não o deseja". Ela chama a atenção para o fato
de que não conseguimos motivar quem quer que seja, mas somos capazes de desmotivar as
pessoas por não respeitarmos suas diferenças individuais, por não respeitarmos o seu próprio
estilo, a sua maneira de ser e de estar no mundo.
A configuração mais nítida do comportamento motivacional começa, antes de
mais nada, quando se consegue diferenciar dois tipos distintos de ação dos seres
humanos: as primeiras são as ações empreendidas pelos indivíduos a partir de
condicionantes que estão fora dele, as segundas são levadas a efeito de maneira
espontânea, isto é, são os resultados de forças impulsoras internas (Ibidem:
24).
A natureza da motivação humana passa a ser vista, interpretada, de um outro lugar, o
do sujeito que vive o seu próprio processo de busca, procurando atender aos seus anseios na
satisfação e equilíbrio de suas necessidades.
MASLOW (1968) sustenta que o objetivo dos estudos que analisam as sutilezas de
um comportamento motivado no ser humano é proporcionar elemento de pesquisa. Neste
sentido, existe a suposição de que, para além de qualquer influência externa que possa
interferir no processo de motivação, estaria algo que realmente impulsiona o sujeito para o ato
motivacional, e isto seria a sua vontade, sua força interior.
Ainda, segundo o autor, a melhor forma de se estudar motivação é aquela que utiliza
os critérios subjetivos. Estes são os principais elementos para avançar nos estudos da
motivação humana, pois eles se relacionam com aquilo que a pessoa traz em sua
individualidade, como força motriz que a leva para a realização de alguma coisa e na maneira
como realiza estas ações.
Por fim, argumenta que uma sociedade saudável e motivada é aquela em que a troca
de energia está subentendida no valor peculiar de cada um. Mesmo que o meio social impeça
uma ação verdadeira do ser humano, este pode, a partir de sua própria motivação interior, o
curso de seus acontecimentos na busca de maior satisfação pessoal, vencendo barreiras e
ultrapassando obstáculos.
Sintetizando o que foi apresentado nestes itens, verificamos que o tema motivação
faz parte de um universo complexo, porém não menos importante. A motivação constitui um
elemento essencial de estudo para se poder entender o comportamento humano. O desafio
fundamental da motivação está no enfoque segundo o qual ela é um elemento chave para o
desenvolvimento e realização das ações humanas e não um aspecto mecanicista e
condicionante dos comportamentos sociais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERGAMINI, Cecília Whitaker. Motivação nas organizações. 4.ed. São Paulo: Atlas,1997.
DE LA PUENTE, Miguel (org). Tendências contemporâneas em psicologia da motivação.
São Paulo: Autores Associados Cortez, 1982.
GEIWITZ, P. James. Teorias não-freudianas da personalidade. São Paulo: EPU, 1973.
LEITE FILHO, Ivo.
A motivação analisada no processo ensino-aprendizagem de John
Dewey. Revista de Educação Pública, Cuiabá, v.5, n.8, jul./dez. 1996.
LÉVY-LEBOYER, Claude. A crise das motivações. São Paulo: Atlas, 1994.
MCLAUGHLIN, Barry. Theories of second-language. London: Edward Arnold, 1987.
MASLOW, Abraham H. Introdução à psicologia do ser. 2.ed. Rio de Janeiro : Eldorado,
1968.
MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento interpessoal: treinamento em grupo. 7.ed. Rio de
Janeiro : José Olímpio, 1997.
MURRAY, Edward J. Motivação humana. 5.ed. Rio de Janeiro : Zahar, 1983.
PENNA, Antônio Gomes. Motivação e emoção. Rio de Janeiro: Rio, 1975.
PRETTO, Siloé Pereira Neves. Educação humanista. São Paulo: Cortez e Moraes, 1978.
VERNON, M. D. Motivação humana. Petrópolis: Vozes, 1973.
A MOTIVAÇÃO DO AGIR HUMANO
Zilpa Helena Lovisi de Abreu1
RESUMO
Este artigo apresenta uma revisão bibliográfica sobre algumas concepções a respeito da
motivação e a sua centralidade no agir humano. Apesar de o tema motivação ser bastante
estudado, muitos aspectos que o envolvem necessitam ainda de aproximações teóricas, além
de análises empíricas, isto é, baseadas na experiência humana, em situações e condições
subjetivas específicas. Pretendemos, portanto, expor algumas considerações feitas por autores
que dedicaram parte de seus estudos ao tema em questão. Entre estes, destacamos Maslow,
Murray, Lindzey, Bergamini e Moscovici.
Palavras-chave: Teorias Motivacionais; Motivação e Educação; Maslow
ABSTRACT
This article presents a literature review on certain ideas about the motivation and its centrality
in human act. Although the theme motivation rather be studied, many aspects that still need to
involve theoretical approaches, and empirical analysis, that is, based on human experience, in
specific situations and subjective conditions. We want therefore expose a few comments made
by authors who have devoted part of their studies on the subject matter. Among these, we
highlight Maslow, Murray, lindzey, Bergamini and Moscovici.
Keywords: motivational theories, motivation and education; Maslow
1
Mestre em Educação CES/JF- Coordenadora do Curso de Pedagogia – Instituto Superior de Educação de
Santos Dumont-MG – Professora de Espanhol.
INTRODUÇÃO
De acordo com BERGAMINI (1990), ao estudar motivação, deparamo-nos com
obstáculos que devem ser transpostos para a compreensão da natureza humana, isto é, lutar
contra os mitos, em torno do assunto, que estão arraigados nas crenças populares sobre
motivação, como, por exemplo, que as pessoas fazem coisas pelas mesmas razões, conceito
este que não se sustenta, ao compreendermos que temos feições individuais, próprias e únicas.
Não existe uma regra universal para explicar a motivação e as ações humanas. Cada
um busca a sua satisfação de forma diferenciada da dos demais, portanto, diferentes motivos
interferem no desenvolvimento e no nível de realização e investimento do indivíduo em suas
variadas atitudes e comportamentos no mundo. No âmbito educacional esses fatores devem
ser, constantemente, analisados e observados pelos profissionais da área para conseguir uma
aprendizagem efetiva de seus alunos e uma constante motivação pela busca do conhecimento.
ABORDAGENS TEÓRICAS SOBRE A MOTIVAÇÃO
Cumpre, agora, nos determos, ainda que apenas brevemente, em algumas abordagens
teóricas acerca da motivação. Inicialmente, pretendemos correlacionar as concepções dos
autores considerados clássicos no estudo deste tema. Portanto, serão sucintamente discutidas
as idéias propostas por Murray, Lindsey, Moscovici e mais detalhadamente acerca da
perspectiva teórica desenvolvida por Maslow.
MURRAY (1983) acredita que possam ser descritas três teorias centrais nos estudos
do comportamento e seus motivadores: a Cognitiva, a Hedonista e a do Instinto ou Instintiva.
A Teoria Cognitiva parte do pressuposto de que a vontade do indivíduo seria o que determina
suas ações, suas escolhas e o faz responsável por elas. A motivação estaria relacionada com a
dimensão essencialmente cognitiva frente à escolha feita diante das várias alternativas que o
sujeito encontra.
As Teorias Hedonistas enfatizam a busca do prazer como chave para o entendimento
do comportamento humano. Destaca que a natureza humana busca ou se aproxima do que dá
prazer e evita o que não o proporciona, gerando os comportamentos de aproximação e
evitação. Os motivos para a ação humana estariam alicerçados nos dois efeitos, ou seja, o
indivíduo estará motivado, quando vivencia o prazer ou quando pode se afastar dele quando
não o obtém, buscando-o em outra situação.
A Teoria do Instinto, segundo MURRAY (1983), é aquela que sustenta que o
indivíduo está motivado quando segue seus instintos interiores e as suas decisões estão
alicerçadas neste comportamento:
Podemos, assim, definir um instinto como uma disposição psicofísica herdada
ou inata, a qual determina ao seu possuidor perceber ou dar atenção a objetos de
certa classe, experimentar uma excitação emocional de determinada qualidade
ao perceber tal objeto, e atuar em relação ao mesmo de um modo particular, ou
experimentar, pelo menos, um impulso para tal ação (Mcdougall, in
MURRAY, 1983:17).
Para Murray, o conceito de instinto caminha junto com o de impulso. O impulso é
um elemento significativo para a compreensão da motivação. Por meio dos impulsos,
poderíamos explicar os motivos mais prementes que conduzem um indivíduo à realização de
uma ação. Essa correlação já foi apresentada em 1918, por Robert S. Woodworth (MURRAY,
1983:18). De acordo com aquele autor, o impulso é uma dotação de energia para a ação. É ele
que impele o organismo ao movimento, ao estar motivado no empreendimento de uma meta.
Explica que o impulso relaciona-se, diretamente, com os instintos inerentes a cada pessoa. Os
dois conceitos juntos se somam, se comunicam.
Diante desses conceitos, os autores, Murray e Woodworth, definem a motivação
como uma ação estimulada pelos impulsos, que irão agir no comportamento geral de uma
pessoa. Se há um desequilíbrio, uma instabilidade ou um objetivo a ser alcançado, a pessoa
passa a agir por meio de seus impulsos advindos dos seus instintos primários, para conseguir
equilíbrio, satisfação e prazer.
LINDZEY et al, esclarece melhor o assunto, ao afirmar:
que o impulso ou drive é a energia que incita à ação, podendo originar-se por
processos orgânicos internos, identificáveis, chamados de impulsos nãoaprendidos ou primários, como a fome, por exemplo. Outros são adquiridos pela
aprendizagem, como a competição, ou seja, uma necessidade aprendida. Definese, então, que “um motivo é qualquer coisa que inicia o comportamento”
(1977:328).
A concepção do que é impulso, segundo os autores citados, está relacionada a algo
que pode ou não sofrer influência da aprendizagem. Percebemos que, por exemplo, muitas
vezes, os alunos encontram-se motivados para os estudos por receberem incentivos que se
transformam em impulsos, reforçando os estímulos para prosseguirem no processo de
aprendizagem. Vemos que a motivação é maior quando parte daquilo que lhe é inerente,
interno, e não de condicionamentos pré-fixados.
Lindzey et al enfatiza que obter aprovação e realização sobre algum ato, por
exemplo, torna-se fator de aprendizagem, ao ser reforçado continuadamente, mediante os
incentivos recebidos. Os dois conceitos somados aclaram a compreensão da vivência da
pessoa, uns primariamente - satisfazendo as necessidades fundamentais -, e os outros
aprendidos, ajustando o indivíduo ao seu meio social.
O autor conclui que
Excitação (arousal) é a energização do comportamento. Um motivo nos torna
mais ativos e inquietos. O comportamento motivado também tem propósitos ou
intenção. A pessoa motivada tem direção, um objetivo ou meta. O sentimento
de querer ou desejar é experimentado como tensão, esforço e expectativa.
Quando o objetivo é alcançado, a tensão e o esforço desaparecem juntamente
com a atividade energética (Ibidem:329).
O impulso, como fonte de energia, poderá esclarecer muito sobre o comportamento
motivado, pois, como há impulsos primários e aprendidos, as ações motivadas estarão aliadas
a esses impulsos orgânicos primários.
As ações motivadas pelo impulso são chamadas atos instrumentais porque são
os instrumentos por meio dos quais o objetivo do impulso é atingido. Os objetos
para satisfazer a fonte do impulso são chamados de objetos instrumentais. Os
atos e objetos instrumentais variam de cultura, para cultura, indivíduo para
indivíduo, e mesmo de dia para dia em relação ao mesmo sujeito...O costume é
um fator importante na modelagem de formas específicas de satisfação dos
impulsos primários (Ibidem:331-32).
Segundo MASLOW (1968), os estudos da motivação são de grande importância para
se compreender o comportamento humano. Ao apresentarmos as pesquisas sobre a natureza
humana, podemos extrair algumas conclusões sobre a motivação. Os conceitos e as teorias
que serviram e servem de base para compreender a dimensão motivacional do comportamento
humano estão presentes em vários campos de estudos, inclusive o educacional (MOSCOVICI,
1997).
O estudo da motivação, enquanto campo de estudo da Psicologia, tem ainda muito
que desenvolver, dada a sua complexidade, tornando-se necessário lançar mão de
instrumentos de abordagem de diversas ciências, tais como a Sociologia, a Antropologia e a
Biologia.
A rede de conceitos relacionados à motivação deixa entrever que o comportamento
humano deriva de um organismo complexo, o que inviabiliza a construção de um referencial
teórico único para a análise da condição humana. Segundo MURRAY (1983), os motivos que
damos às nossas capacidades individuais dependem da motivação, ou dos desejos, das
carências, das necessidades que cada ser humano possui, em sua natureza individual. E a
busca por sua singularidade é que faz a diferença entre cada um de nós.
A Psicologia, como qualquer ciência, utiliza diversos conceitos teóricos na tentativa
de compreender o comportamento humano enquanto ser social e individual. Uma dessas
abordagens, que parece melhor atender à temática da motivação, estaria alicerçada no que se
convencionou chamar de Psicologia Humanista.
A abordagem teórica da Psicologia Humanista tem como um de seus principais
pesquisadores MASLOW (1968)2, que pode ser considerado o fundador dessa corrente de
psicologia. Mosquera considera que Maslow foi o expoente e o criador de uma Terceira força
em Psicologia ou também denominada Psicologia Humanista Existencial (1968:21).
Foi através dos trabalhos de Maslow (1968) que o termo motivação passou a ser
referendado como objeto de estudo significativo no campo da Psicologia. Em suas pesquisas,
procurava não só observar os critérios objetivos que faziam parte de suas experiências, mas
procurava se informar a respeito da presença de um comportamento motivado que poderia ser
verificado através de elementos subjetivos no desenvolvimento da pesquisa analisada.
O autor apresenta uma concepção de homem diferente das visões até então existentes
em Psicologia. Seus estudos estão baseados num enfoque de um homem visto como um
complexo biopsicossocial, ou seja, um ser capaz de gerir sua própria existência, quando busca
melhores condições de desenvolvimento e satisfação de suas necessidades (MURRAY,
1983:9).
Para Maslow, os estudos da motivação devem apontar para um ser humano que seja
visto em sua totalidade; totalidade esta que envolve sua formação geral, sua consciência
histórica, escolhas e necessidades. Como afirma FADIMAN e FRAGER (1979:261),
2
- Abraham Maslow, estudioso norte-americano foi o precursor da abordagem humanista na Psicologia. As duas
outras correntes psicológicas importantes são: psicanálise e o behaviorismo, estas não serão objetos deste
trabalho.
referindo-se à obra de Maslow (1968), "as atividades humanas de que o homem se orgulha e
que dão sentido, riqueza e valor à sua vida são omitidas ou classificadas como patológicas".
Neste sentido, a teoria de Maslow e de outros autores, dessa mesma corrente, procura situar o
indivíduo numa visão mais positiva e saudável frente à existência.
Maslow (1968) sustenta que existem muitas maneiras de entender e interpretar o
comportamento humano, ou seja, as diferentes abordagens e teorias psicológicas apontam,
cada uma a sua maneira, aspectos fundamentais para uma análise mais global do ser humano.
Porém, o que ele apresenta são instrumentos teóricos que vêem o homem de uma forma
mais saudável, motivado intrínseca e extrinsecamente, com relação à busca de seus
anseios e do modo positivo que cada um vivencia seus atos para atingir seus propósitos.
Os estudos da motivação realizados por Maslow trazem uma maneira nova de
observação do comportamento humano, ou seja, o ser humano é visto mais em seus aspectos
positivos e em suas potencialidades atuais e naquelas que podem vir a ser manifestadas. Isso
equivale dizer que Maslow acredita em um homem autônomo, capaz de satisfazer suas
necessidades, partindo em busca de outras que vão surgindo ao longo de seu processo de
existência.
O autor, segundo LINDZEY et al (1977:328), explica que, ao buscar a realização de
algo, o homem passa a apresentar motivos para determinados comportamentos, em busca da
satisfação de suas necessidades e o papel que eles desempenham na determinação de seu
comportamento.
Essa visão de homem mais centrado e positivo, passa a gerar, segundo a ética
humanista, idéias mais voltadas para o valor do humano. Segundo MOSCOVICI, tal
concepção centra-se no fato de o indivíduo poder aprender a pensar de forma crítica, a
enfrentar situações novas sem pânico, e também de forma mais livre ou criativa, a confiar em
si e nos outros, a descobrir e desenvolver suas potencialidades, no sentido de tornar-se mais
autêntico e produtivo. A consideração deste aspecto coloca os estudos da motivação como
uma fonte geradora de compreensão da natureza humana e do que venha a ser um
comportamento motivado. Daí a importância de percepção do homem mais valorizado e
acreditado.
Toda conscientização traz em si as possibilidades de mudança, através da nova
percepção da realidade externa ou interna. Se a percepção se modifica, vários
outros planos do processo psicológico também se modificam, o indivíduo não
apenas passa a ver diferente, mas a sentir e pensar de forma diferente e,
conseqüentemente, agir de outra maneira (MOSCOVICI, 1977:XX).
Os estudos sobre a motivação vão, então, abranger esferas realmente importantes do
comportamento humano, ao considerar o homem como agente central de seus motivos e de
suas escolhas.
Na abordagem teórica, proposta por Maslow, observamos uma série de
considerações sobre o tema da motivação, que foram inicialmente tomadas como linhas
mestras para interpretar e estudar os motivadores do comportamento humano. Estas
possibilitam uma avaliação individual, ou seja, levam em consideração o que é próprio de
cada indivíduo, indo em direção à valorização da saúde psicológica, uma vez que o
desenvolvimento é visto como um processo mais positivo e não-patológico no conhecimento
de si mesmo. Isto significa dizer que a proposta da Psicologia Humanista é a de correlacionar
o que há de saudável em um ser humano, como a busca de um maior entendimento de si
mesmo e de seu comportamento.
Em suas pesquisas sobre a dimensão motivacional, Maslow não perde de vista o que
ele chama de consciência intrínseca de cada sujeito. Explica que essa consciência está sempre
presente de forma positiva no interior de cada um, isto, segundo ele, aponta para a busca da
satisfação de necessidades que são inerentes a cada ser humano.
Maslow enfatizou um conjunto de necessidades, que denominou como necessidades
básicas, objetivando compreender melhor uma série de situações típicas do comportamento
humano. Para ele, as necessidades básicas são aquelas que estão vinculadas ao imperativo da
manutenção da vida, aquilo que mantém o homem vivo e atuante no mundo de que faz parte.
As necessidades humanas seguem uma hierarquia que, segundo Maslow, passa por
níveis diferentes de satisfação, sendo que todas devem ser satisfeitas para que haja equilíbrio
no organismo humano. Após a satisfação de suas necessidades mais básicas, ligadas ao
próprio funcionamento biológico - instintivo, a pessoa irá à busca de satisfazer necessidades
cada vez mais complexas, o que quer dizer cada vez mais individualizadas. Argumenta que
sempre surgem novas necessidades, à medida que as anteriores atingem um grau adequado de
satisfação.
MOSCOVICI, pesquisando o desenvolvimento interpessoal, afirma, com relação à
satisfação das necessidades básicas, que
Quando o organismo humano está dominado por uma determinada necessidade
fisiológica, tende a mudar até sua filosofia de futuro. Por exemplo: um homem
faminto relega tudo o mais em favor do alimento. A satisfação é tão importante
quanto à privação, pois libera o organismo do domínio das necessidades
fisiológicas, permitindo o aparecimento de outros impulsos ou motivos
(1997:77).
FADIMAN e FRAGER (1979) argumentam, a partir de MASLOW (1968), que uma
vez satisfeitas as necessidades básicas, principalmente as preponderantes, o comportamento
do sujeito passa para a "metamotivação". Para Maslow (Apud, FADIMAN e FRAGER,
1979), a metamotivação é um nível avançado de conhecimento do ser humano, quando este já
satisfez suas necessidades primeiras, de acordo com a hierarquia apresentada, e sabe que elas
serão de uma forma ou de outra supridas. O ser humano tem como avançar em suas buscas
para níveis superiores de satisfação, como, por exemplo, Maslow apresenta o aspecto
espiritual e intelectual que cada um deseja alcançar. Isto significa dizer que o indivíduo ao
sair de seus estágios iniciais estará dando passos largos em busca de sua individuação e um
conhecimento maior de si mesmo.
Compreender a motivação humana sob o referencial proposto por Maslow é
interpretar as reações de cada organismo com relação à sua maneira de agir, de se motivar,
nos diversos campos de atuação no mundo, pois as necessidades estarão vinculadas à
satisfação de cada um.
Das propostas teóricas de Maslow, alguns autores tentaram definir e delimitar melhor
o tema motivação. Encontraram, nessa tarefa, sérias dificuldades, conseqüência da busca
exclusiva de critérios comportamentais, externamente observáveis. O critério original e até
hoje utilizado é o objetivo, aquele que observa o fato na maneira como se processa. A exceção
quanto a esse critério de observação vem dos psicólogos humanistas que verificam a presença
de elementos subjetivos em suas pesquisas, ou seja, partem dos critérios subjetivos para
obterem as melhores respostas às suas hipóteses.
Maslow diz textualmente: "sou motivado quando sinto desejo, ou carência, anseio ou
falta" de alguma coisa ou de alguém. Considera que ainda não foi descoberto qualquer estado
objetivamente observável que se relacione decentemente com essas informações subjetivas,
isto é, ainda não foi encontrada uma boa definição comportamental de motivação.
Algumas respostas estão nos mecanismos de busca de cada um; estes são individuais,
pois estão relacionados aos processos de elaboração de mundo de cada um, na dinâmica
particular do desenvolvimento de cada um de nós. A compreensão dos motivos centrais do
comportamento está alicerçada naquilo que BERGAMINI (1990) chama de Psicodinâmica
Motivacional, em que as razões de "como ele o faz e como o faz, promove(m) a configuração
especial do comportamento humano".
Essa psicodinâmica vai além de fatores mensuráveis e objetivos, porque explica
aquilo que é freqüentemente esquecido no indivíduo, ou seja, como este se estrutura, o que
está em seu interior que coloca em jogo o desenvolvimento de suas capacidades individuais e
o seu relacionamento no coletivo, distinguindo-o do outro.
O mais amplo entendimento do desencadeamento do comportamento
motivacional é atingindo a partir do momento em que se consiga pôr em relevo
as principais marcas individuais de cada pessoa, marcas essas que determinarão
exatamente aquilo que se pode denominar de “estilo de comportamento
motivacional” (BERGAMINI, 1990:18).
Para BERGAMINI (1990:18), motivar, então, "é ultrapassar os limites do tempo, é
engajar-se no processo lento ou dinâmico do crescimento individual, é observar a natureza
humana própria e singular de cada um".
Diz a autora:
Cada vez mais se percebe que a felicidade motivacional é função de uma árdua
e profunda luta de cada um e que não há ninguém que possua um molde
especial no qual se possa cunhá-la a granel (p.16).
À medida que a discussão do tema se torna mais complexa, a definição da motivação
humana mostra-se além das proposições oriundas das várias correntes psicológicas, assim
como estas quiseram apregoar. O fato de que as pessoas motivadas agem de modo
semelhante, sob condicionamentos aprendidos (esquema estímulo – resposta), não significa
que elas se motivam da mesma forma, pois, perante os critérios da motivação, ninguém
motiva a quem quer que seja (Ibidem).
Visto sob este aspecto, a relevância do estudo da motivação é grande. As
perspectivas teóricas voltam-se para o entendimento das singularidades humanas, gerando,
daí, um respeito genuíno àquilo que é próprio de cada um. BERGAMINI (1990:130) afirma
que "Ninguém se modifica se conscientemente não o deseja". Ela chama a atenção para o fato
de que não conseguimos motivar quem quer que seja, mas somos capazes de desmotivar as
pessoas por não respeitarmos suas diferenças individuais, por não respeitarmos o seu próprio
estilo, a sua maneira de ser e de estar no mundo.
A configuração mais nítida do comportamento motivacional começa, antes de
mais nada, quando se consegue diferenciar dois tipos distintos de ação dos seres
humanos: as primeiras são as ações empreendidas pelos indivíduos a partir de
condicionantes que estão fora dele, as segundas são levadas a efeito de maneira
espontânea, isto é, são os resultados de forças impulsoras internas (Ibidem:
24).
A natureza da motivação humana passa a ser vista, interpretada, de um outro lugar, o
do sujeito que vive o seu próprio processo de busca, procurando atender aos seus anseios na
satisfação e equilíbrio de suas necessidades.
MASLOW (1968) sustenta que o objetivo dos estudos que analisam as sutilezas de
um comportamento motivado no ser humano é proporcionar elemento de pesquisa. Neste
sentido, existe a suposição de que, para além de qualquer influência externa que possa
interferir no processo de motivação, estaria algo que realmente impulsiona o sujeito para o ato
motivacional, e isto seria a sua vontade, sua força interior.
Ainda, segundo o autor, a melhor forma de se estudar motivação é aquela que utiliza
os critérios subjetivos. Estes são os principais elementos para avançar nos estudos da
motivação humana, pois eles se relacionam com aquilo que a pessoa traz em sua
individualidade, como força motriz que a leva para a realização de alguma coisa e na maneira
como realiza estas ações.
Por fim, argumenta que uma sociedade saudável e motivada é aquela em que a troca
de energia está subentendida no valor peculiar de cada um. Mesmo que o meio social impeça
uma ação verdadeira do ser humano, este pode, a partir de sua própria motivação interior, o
curso de seus acontecimentos na busca de maior satisfação pessoal, vencendo barreiras e
ultrapassando obstáculos.
Sintetizando o que foi apresentado nestes itens, verificamos que o tema motivação
faz parte de um universo complexo, porém não menos importante. A motivação constitui um
elemento essencial de estudo para se poder entender o comportamento humano. O desafio
fundamental da motivação está no enfoque segundo o qual ela é um elemento chave para o
desenvolvimento e realização das ações humanas e não um aspecto mecanicista e
condicionante dos comportamentos sociais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERGAMINI, Cecília Whitaker. Motivação nas organizações. 4.ed. São Paulo: Atlas,1997.
DE LA PUENTE, Miguel (org). Tendências contemporâneas em psicologia da motivação.
São Paulo: Autores Associados Cortez, 1982.
GEIWITZ, P. James. Teorias não-freudianas da personalidade. São Paulo: EPU, 1973.
LEITE FILHO, Ivo.
A motivação analisada no processo ensino-aprendizagem de John
Dewey. Revista de Educação Pública, Cuiabá, v.5, n.8, jul./dez. 1996.
LÉVY-LEBOYER, Claude. A crise das motivações. São Paulo: Atlas, 1994.
MCLAUGHLIN, Barry. Theories of second-language. London: Edward Arnold, 1987.
MASLOW, Abraham H. Introdução à psicologia do ser. 2.ed. Rio de Janeiro : Eldorado,
1968.
MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento interpessoal: treinamento em grupo. 7.ed. Rio de
Janeiro : José Olímpio, 1997.
MURRAY, Edward J. Motivação humana. 5.ed. Rio de Janeiro : Zahar, 1983.
PENNA, Antônio Gomes. Motivação e emoção. Rio de Janeiro: Rio, 1975.
PRETTO, Siloé Pereira Neves. Educação humanista. São Paulo: Cortez e Moraes, 1978.
VERNON, M. D. Motivação humana. Petrópolis: Vozes, 1973.
A MOTIVAÇÃO DO AGIR HUMANO
Zilpa Helena Lovisi de Abreu1
RESUMO
Este artigo apresenta uma revisão bibliográfica sobre algumas concepções a respeito da
motivação e a sua centralidade no agir humano. Apesar de o tema motivação ser bastante
estudado, muitos aspectos que o envolvem necessitam ainda de aproximações teóricas, além
de análises empíricas, isto é, baseadas na experiência humana, em situações e condições
subjetivas específicas. Pretendemos, portanto, expor algumas considerações feitas por autores
que dedicaram parte de seus estudos ao tema em questão. Entre estes, destacamos Maslow,
Murray, Lindzey, Bergamini e Moscovici.
Palavras-chave: Teorias Motivacionais; Motivação e Educação; Maslow
ABSTRACT
This article presents a literature review on certain ideas about the motivation and its centrality
in human act. Although the theme motivation rather be studied, many aspects that still need to
involve theoretical approaches, and empirical analysis, that is, based on human experience, in
specific situations and subjective conditions. We want therefore expose a few comments made
by authors who have devoted part of their studies on the subject matter. Among these, we
highlight Maslow, Murray, lindzey, Bergamini and Moscovici.
Keywords: motivational theories, motivation and education; Maslow
1
Mestre em Educação CES/JF- Coordenadora do Curso de Pedagogia – Instituto Superior de Educação de
Santos Dumont-MG – Professora de Espanhol.
INTRODUÇÃO
De acordo com BERGAMINI (1990), ao estudar motivação, deparamo-nos com
obstáculos que devem ser transpostos para a compreensão da natureza humana, isto é, lutar
contra os mitos, em torno do assunto, que estão arraigados nas crenças populares sobre
motivação, como, por exemplo, que as pessoas fazem coisas pelas mesmas razões, conceito
este que não se sustenta, ao compreendermos que temos feições individuais, próprias e únicas.
Não existe uma regra universal para explicar a motivação e as ações humanas. Cada
um busca a sua satisfação de forma diferenciada da dos demais, portanto, diferentes motivos
interferem no desenvolvimento e no nível de realização e investimento do indivíduo em suas
variadas atitudes e comportamentos no mundo. No âmbito educacional esses fatores devem
ser, constantemente, analisados e observados pelos profissionais da área para conseguir uma
aprendizagem efetiva de seus alunos e uma constante motivação pela busca do conhecimento.
ABORDAGENS TEÓRICAS SOBRE A MOTIVAÇÃO
Cumpre, agora, nos determos, ainda que apenas brevemente, em algumas abordagens
teóricas acerca da motivação. Inicialmente, pretendemos correlacionar as concepções dos
autores considerados clássicos no estudo deste tema. Portanto, serão sucintamente discutidas
as idéias propostas por Murray, Lindsey, Moscovici e mais detalhadamente acerca da
perspectiva teórica desenvolvida por Maslow.
MURRAY (1983) acredita que possam ser descritas três teorias centrais nos estudos
do comportamento e seus motivadores: a Cognitiva, a Hedonista e a do Instinto ou Instintiva.
A Teoria Cognitiva parte do pressuposto de que a vontade do indivíduo seria o que determina
suas ações, suas escolhas e o faz responsável por elas. A motivação estaria relacionada com a
dimensão essencialmente cognitiva frente à escolha feita diante das várias alternativas que o
sujeito encontra.
As Teorias Hedonistas enfatizam a busca do prazer como chave para o entendimento
do comportamento humano. Destaca que a natureza humana busca ou se aproxima do que dá
prazer e evita o que não o proporciona, gerando os comportamentos de aproximação e
evitação. Os motivos para a ação humana estariam alicerçados nos dois efeitos, ou seja, o
indivíduo estará motivado, quando vivencia o prazer ou quando pode se afastar dele quando
não o obtém, buscando-o em outra situação.
A Teoria do Instinto, segundo MURRAY (1983), é aquela que sustenta que o
indivíduo está motivado quando segue seus instintos interiores e as suas decisões estão
alicerçadas neste comportamento:
Podemos, assim, definir um instinto como uma disposição psicofísica herdada
ou inata, a qual determina ao seu possuidor perceber ou dar atenção a objetos de
certa classe, experimentar uma excitação emocional de determinada qualidade
ao perceber tal objeto, e atuar em relação ao mesmo de um modo particular, ou
experimentar, pelo menos, um impulso para tal ação (Mcdougall, in
MURRAY, 1983:17).
Para Murray, o conceito de instinto caminha junto com o de impulso. O impulso é
um elemento significativo para a compreensão da motivação. Por meio dos impulsos,
poderíamos explicar os motivos mais prementes que conduzem um indivíduo à realização de
uma ação. Essa correlação já foi apresentada em 1918, por Robert S. Woodworth (MURRAY,
1983:18). De acordo com aquele autor, o impulso é uma dotação de energia para a ação. É ele
que impele o organismo ao movimento, ao estar motivado no empreendimento de uma meta.
Explica que o impulso relaciona-se, diretamente, com os instintos inerentes a cada pessoa. Os
dois conceitos juntos se somam, se comunicam.
Diante desses conceitos, os autores, Murray e Woodworth, definem a motivação
como uma ação estimulada pelos impulsos, que irão agir no comportamento geral de uma
pessoa. Se há um desequilíbrio, uma instabilidade ou um objetivo a ser alcançado, a pessoa
passa a agir por meio de seus impulsos advindos dos seus instintos primários, para conseguir
equilíbrio, satisfação e prazer.
LINDZEY et al, esclarece melhor o assunto, ao afirmar:
que o impulso ou drive é a energia que incita à ação, podendo originar-se por
processos orgânicos internos, identificáveis, chamados de impulsos nãoaprendidos ou primários, como a fome, por exemplo. Outros são adquiridos pela
aprendizagem, como a competição, ou seja, uma necessidade aprendida. Definese, então, que “um motivo é qualquer coisa que inicia o comportamento”
(1977:328).
A concepção do que é impulso, segundo os autores citados, está relacionada a algo
que pode ou não sofrer influência da aprendizagem. Percebemos que, por exemplo, muitas
vezes, os alunos encontram-se motivados para os estudos por receberem incentivos que se
transformam em impulsos, reforçando os estímulos para prosseguirem no processo de
aprendizagem. Vemos que a motivação é maior quando parte daquilo que lhe é inerente,
interno, e não de condicionamentos pré-fixados.
Lindzey et al enfatiza que obter aprovação e realização sobre algum ato, por
exemplo, torna-se fator de aprendizagem, ao ser reforçado continuadamente, mediante os
incentivos recebidos. Os dois conceitos somados aclaram a compreensão da vivência da
pessoa, uns primariamente - satisfazendo as necessidades fundamentais -, e os outros
aprendidos, ajustando o indivíduo ao seu meio social.
O autor conclui que
Excitação (arousal) é a energização do comportamento. Um motivo nos torna
mais ativos e inquietos. O comportamento motivado também tem propósitos ou
intenção. A pessoa motivada tem direção, um objetivo ou meta. O sentimento
de querer ou desejar é experimentado como tensão, esforço e expectativa.
Quando o objetivo é alcançado, a tensão e o esforço desaparecem juntamente
com a atividade energética (Ibidem:329).
O impulso, como fonte de energia, poderá esclarecer muito sobre o comportamento
motivado, pois, como há impulsos primários e aprendidos, as ações motivadas estarão aliadas
a esses impulsos orgânicos primários.
As ações motivadas pelo impulso são chamadas atos instrumentais porque são
os instrumentos por meio dos quais o objetivo do impulso é atingido. Os objetos
para satisfazer a fonte do impulso são chamados de objetos instrumentais. Os
atos e objetos instrumentais variam de cultura, para cultura, indivíduo para
indivíduo, e mesmo de dia para dia em relação ao mesmo sujeito...O costume é
um fator importante na modelagem de formas específicas de satisfação dos
impulsos primários (Ibidem:331-32).
Segundo MASLOW (1968), os estudos da motivação são de grande importância para
se compreender o comportamento humano. Ao apresentarmos as pesquisas sobre a natureza
humana, podemos extrair algumas conclusões sobre a motivação. Os conceitos e as teorias
que serviram e servem de base para compreender a dimensão motivacional do comportamento
humano estão presentes em vários campos de estudos, inclusive o educacional (MOSCOVICI,
1997).
O estudo da motivação, enquanto campo de estudo da Psicologia, tem ainda muito
que desenvolver, dada a sua complexidade, tornando-se necessário lançar mão de
instrumentos de abordagem de diversas ciências, tais como a Sociologia, a Antropologia e a
Biologia.
A rede de conceitos relacionados à motivação deixa entrever que o comportamento
humano deriva de um organismo complexo, o que inviabiliza a construção de um referencial
teórico único para a análise da condição humana. Segundo MURRAY (1983), os motivos que
damos às nossas capacidades individuais dependem da motivação, ou dos desejos, das
carências, das necessidades que cada ser humano possui, em sua natureza individual. E a
busca por sua singularidade é que faz a diferença entre cada um de nós.
A Psicologia, como qualquer ciência, utiliza diversos conceitos teóricos na tentativa
de compreender o comportamento humano enquanto ser social e individual. Uma dessas
abordagens, que parece melhor atender à temática da motivação, estaria alicerçada no que se
convencionou chamar de Psicologia Humanista.
A abordagem teórica da Psicologia Humanista tem como um de seus principais
pesquisadores MASLOW (1968)2, que pode ser considerado o fundador dessa corrente de
psicologia. Mosquera considera que Maslow foi o expoente e o criador de uma Terceira força
em Psicologia ou também denominada Psicologia Humanista Existencial (1968:21).
Foi através dos trabalhos de Maslow (1968) que o termo motivação passou a ser
referendado como objeto de estudo significativo no campo da Psicologia. Em suas pesquisas,
procurava não só observar os critérios objetivos que faziam parte de suas experiências, mas
procurava se informar a respeito da presença de um comportamento motivado que poderia ser
verificado através de elementos subjetivos no desenvolvimento da pesquisa analisada.
O autor apresenta uma concepção de homem diferente das visões até então existentes
em Psicologia. Seus estudos estão baseados num enfoque de um homem visto como um
complexo biopsicossocial, ou seja, um ser capaz de gerir sua própria existência, quando busca
melhores condições de desenvolvimento e satisfação de suas necessidades (MURRAY,
1983:9).
Para Maslow, os estudos da motivação devem apontar para um ser humano que seja
visto em sua totalidade; totalidade esta que envolve sua formação geral, sua consciência
histórica, escolhas e necessidades. Como afirma FADIMAN e FRAGER (1979:261),
2
- Abraham Maslow, estudioso norte-americano foi o precursor da abordagem humanista na Psicologia. As duas
outras correntes psicológicas importantes são: psicanálise e o behaviorismo, estas não serão objetos deste
trabalho.
referindo-se à obra de Maslow (1968), "as atividades humanas de que o homem se orgulha e
que dão sentido, riqueza e valor à sua vida são omitidas ou classificadas como patológicas".
Neste sentido, a teoria de Maslow e de outros autores, dessa mesma corrente, procura situar o
indivíduo numa visão mais positiva e saudável frente à existência.
Maslow (1968) sustenta que existem muitas maneiras de entender e interpretar o
comportamento humano, ou seja, as diferentes abordagens e teorias psicológicas apontam,
cada uma a sua maneira, aspectos fundamentais para uma análise mais global do ser humano.
Porém, o que ele apresenta são instrumentos teóricos que vêem o homem de uma forma
mais saudável, motivado intrínseca e extrinsecamente, com relação à busca de seus
anseios e do modo positivo que cada um vivencia seus atos para atingir seus propósitos.
Os estudos da motivação realizados por Maslow trazem uma maneira nova de
observação do comportamento humano, ou seja, o ser humano é visto mais em seus aspectos
positivos e em suas potencialidades atuais e naquelas que podem vir a ser manifestadas. Isso
equivale dizer que Maslow acredita em um homem autônomo, capaz de satisfazer suas
necessidades, partindo em busca de outras que vão surgindo ao longo de seu processo de
existência.
O autor, segundo LINDZEY et al (1977:328), explica que, ao buscar a realização de
algo, o homem passa a apresentar motivos para determinados comportamentos, em busca da
satisfação de suas necessidades e o papel que eles desempenham na determinação de seu
comportamento.
Essa visão de homem mais centrado e positivo, passa a gerar, segundo a ética
humanista, idéias mais voltadas para o valor do humano. Segundo MOSCOVICI, tal
concepção centra-se no fato de o indivíduo poder aprender a pensar de forma crítica, a
enfrentar situações novas sem pânico, e também de forma mais livre ou criativa, a confiar em
si e nos outros, a descobrir e desenvolver suas potencialidades, no sentido de tornar-se mais
autêntico e produtivo. A consideração deste aspecto coloca os estudos da motivação como
uma fonte geradora de compreensão da natureza humana e do que venha a ser um
comportamento motivado. Daí a importância de percepção do homem mais valorizado e
acreditado.
Toda conscientização traz em si as possibilidades de mudança, através da nova
percepção da realidade externa ou interna. Se a percepção se modifica, vários
outros planos do processo psicológico também se modificam, o indivíduo não
apenas passa a ver diferente, mas a sentir e pensar de forma diferente e,
conseqüentemente, agir de outra maneira (MOSCOVICI, 1977:XX).
Os estudos sobre a motivação vão, então, abranger esferas realmente importantes do
comportamento humano, ao considerar o homem como agente central de seus motivos e de
suas escolhas.
Na abordagem teórica, proposta por Maslow, observamos uma série de
considerações sobre o tema da motivação, que foram inicialmente tomadas como linhas
mestras para interpretar e estudar os motivadores do comportamento humano. Estas
possibilitam uma avaliação individual, ou seja, levam em consideração o que é próprio de
cada indivíduo, indo em direção à valorização da saúde psicológica, uma vez que o
desenvolvimento é visto como um processo mais positivo e não-patológico no conhecimento
de si mesmo. Isto significa dizer que a proposta da Psicologia Humanista é a de correlacionar
o que há de saudável em um ser humano, como a busca de um maior entendimento de si
mesmo e de seu comportamento.
Em suas pesquisas sobre a dimensão motivacional, Maslow não perde de vista o que
ele chama de consciência intrínseca de cada sujeito. Explica que essa consciência está sempre
presente de forma positiva no interior de cada um, isto, segundo ele, aponta para a busca da
satisfação de necessidades que são inerentes a cada ser humano.
Maslow enfatizou um conjunto de necessidades, que denominou como necessidades
básicas, objetivando compreender melhor uma série de situações típicas do comportamento
humano. Para ele, as necessidades básicas são aquelas que estão vinculadas ao imperativo da
manutenção da vida, aquilo que mantém o homem vivo e atuante no mundo de que faz parte.
As necessidades humanas seguem uma hierarquia que, segundo Maslow, passa por
níveis diferentes de satisfação, sendo que todas devem ser satisfeitas para que haja equilíbrio
no organismo humano. Após a satisfação de suas necessidades mais básicas, ligadas ao
próprio funcionamento biológico - instintivo, a pessoa irá à busca de satisfazer necessidades
cada vez mais complexas, o que quer dizer cada vez mais individualizadas. Argumenta que
sempre surgem novas necessidades, à medida que as anteriores atingem um grau adequado de
satisfação.
MOSCOVICI, pesquisando o desenvolvimento interpessoal, afirma, com relação à
satisfação das necessidades básicas, que
Quando o organismo humano está dominado por uma determinada necessidade
fisiológica, tende a mudar até sua filosofia de futuro. Por exemplo: um homem
faminto relega tudo o mais em favor do alimento. A satisfação é tão importante
quanto à privação, pois libera o organismo do domínio das necessidades
fisiológicas, permitindo o aparecimento de outros impulsos ou motivos
(1997:77).
FADIMAN e FRAGER (1979) argumentam, a partir de MASLOW (1968), que uma
vez satisfeitas as necessidades básicas, principalmente as preponderantes, o comportamento
do sujeito passa para a "metamotivação". Para Maslow (Apud, FADIMAN e FRAGER,
1979), a metamotivação é um nível avançado de conhecimento do ser humano, quando este já
satisfez suas necessidades primeiras, de acordo com a hierarquia apresentada, e sabe que elas
serão de uma forma ou de outra supridas. O ser humano tem como avançar em suas buscas
para níveis superiores de satisfação, como, por exemplo, Maslow apresenta o aspecto
espiritual e intelectual que cada um deseja alcançar. Isto significa dizer que o indivíduo ao
sair de seus estágios iniciais estará dando passos largos em busca de sua individuação e um
conhecimento maior de si mesmo.
Compreender a motivação humana sob o referencial proposto por Maslow é
interpretar as reações de cada organismo com relação à sua maneira de agir, de se motivar,
nos diversos campos de atuação no mundo, pois as necessidades estarão vinculadas à
satisfação de cada um.
Das propostas teóricas de Maslow, alguns autores tentaram definir e delimitar melhor
o tema motivação. Encontraram, nessa tarefa, sérias dificuldades, conseqüência da busca
exclusiva de critérios comportamentais, externamente observáveis. O critério original e até
hoje utilizado é o objetivo, aquele que observa o fato na maneira como se processa. A exceção
quanto a esse critério de observação vem dos psicólogos humanistas que verificam a presença
de elementos subjetivos em suas pesquisas, ou seja, partem dos critérios subjetivos para
obterem as melhores respostas às suas hipóteses.
Maslow diz textualmente: "sou motivado quando sinto desejo, ou carência, anseio ou
falta" de alguma coisa ou de alguém. Considera que ainda não foi descoberto qualquer estado
objetivamente observável que se relacione decentemente com essas informações subjetivas,
isto é, ainda não foi encontrada uma boa definição comportamental de motivação.
Algumas respostas estão nos mecanismos de busca de cada um; estes são individuais,
pois estão relacionados aos processos de elaboração de mundo de cada um, na dinâmica
particular do desenvolvimento de cada um de nós. A compreensão dos motivos centrais do
comportamento está alicerçada naquilo que BERGAMINI (1990) chama de Psicodinâmica
Motivacional, em que as razões de "como ele o faz e como o faz, promove(m) a configuração
especial do comportamento humano".
Essa psicodinâmica vai além de fatores mensuráveis e objetivos, porque explica
aquilo que é freqüentemente esquecido no indivíduo, ou seja, como este se estrutura, o que
está em seu interior que coloca em jogo o desenvolvimento de suas capacidades individuais e
o seu relacionamento no coletivo, distinguindo-o do outro.
O mais amplo entendimento do desencadeamento do comportamento
motivacional é atingindo a partir do momento em que se consiga pôr em relevo
as principais marcas individuais de cada pessoa, marcas essas que determinarão
exatamente aquilo que se pode denominar de “estilo de comportamento
motivacional” (BERGAMINI, 1990:18).
Para BERGAMINI (1990:18), motivar, então, "é ultrapassar os limites do tempo, é
engajar-se no processo lento ou dinâmico do crescimento individual, é observar a natureza
humana própria e singular de cada um".
Diz a autora:
Cada vez mais se percebe que a felicidade motivacional é função de uma árdua
e profunda luta de cada um e que não há ninguém que possua um molde
especial no qual se possa cunhá-la a granel (p.16).
À medida que a discussão do tema se torna mais complexa, a definição da motivação
humana mostra-se além das proposições oriundas das várias correntes psicológicas, assim
como estas quiseram apregoar. O fato de que as pessoas motivadas agem de modo
semelhante, sob condicionamentos aprendidos (esquema estímulo – resposta), não significa
que elas se motivam da mesma forma, pois, perante os critérios da motivação, ninguém
motiva a quem quer que seja (Ibidem).
Visto sob este aspecto, a relevância do estudo da motivação é grande. As
perspectivas teóricas voltam-se para o entendimento das singularidades humanas, gerando,
daí, um respeito genuíno àquilo que é próprio de cada um. BERGAMINI (1990:130) afirma
que "Ninguém se modifica se conscientemente não o deseja". Ela chama a atenção para o fato
de que não conseguimos motivar quem quer que seja, mas somos capazes de desmotivar as
pessoas por não respeitarmos suas diferenças individuais, por não respeitarmos o seu próprio
estilo, a sua maneira de ser e de estar no mundo.
A configuração mais nítida do comportamento motivacional começa, antes de
mais nada, quando se consegue diferenciar dois tipos distintos de ação dos seres
humanos: as primeiras são as ações empreendidas pelos indivíduos a partir de
condicionantes que estão fora dele, as segundas são levadas a efeito de maneira
espontânea, isto é, são os resultados de forças impulsoras internas (Ibidem:
24).
A natureza da motivação humana passa a ser vista, interpretada, de um outro lugar, o
do sujeito que vive o seu próprio processo de busca, procurando atender aos seus anseios na
satisfação e equilíbrio de suas necessidades.
MASLOW (1968) sustenta que o objetivo dos estudos que analisam as sutilezas de
um comportamento motivado no ser humano é proporcionar elemento de pesquisa. Neste
sentido, existe a suposição de que, para além de qualquer influência externa que possa
interferir no processo de motivação, estaria algo que realmente impulsiona o sujeito para o ato
motivacional, e isto seria a sua vontade, sua força interior.
Ainda, segundo o autor, a melhor forma de se estudar motivação é aquela que utiliza
os critérios subjetivos. Estes são os principais elementos para avançar nos estudos da
motivação humana, pois eles se relacionam com aquilo que a pessoa traz em sua
individualidade, como força motriz que a leva para a realização de alguma coisa e na maneira
como realiza estas ações.
Por fim, argumenta que uma sociedade saudável e motivada é aquela em que a troca
de energia está subentendida no valor peculiar de cada um. Mesmo que o meio social impeça
uma ação verdadeira do ser humano, este pode, a partir de sua própria motivação interior, o
curso de seus acontecimentos na busca de maior satisfação pessoal, vencendo barreiras e
ultrapassando obstáculos.
Sintetizando o que foi apresentado nestes itens, verificamos que o tema motivação
faz parte de um universo complexo, porém não menos importante. A motivação constitui um
elemento essencial de estudo para se poder entender o comportamento humano. O desafio
fundamental da motivação está no enfoque segundo o qual ela é um elemento chave para o
desenvolvimento e realização das ações humanas e não um aspecto mecanicista e
condicionante dos comportamentos sociais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERGAMINI, Cecília Whitaker. Motivação nas organizações. 4.ed. São Paulo: Atlas,1997.
DE LA PUENTE, Miguel (org). Tendências contemporâneas em psicologia da motivação.
São Paulo: Autores Associados Cortez, 1982.
GEIWITZ, P. James. Teorias não-freudianas da personalidade. São Paulo: EPU, 1973.
LEITE FILHO, Ivo.
A motivação analisada no processo ensino-aprendizagem de John
Dewey. Revista de Educação Pública, Cuiabá, v.5, n.8, jul./dez. 1996.
LÉVY-LEBOYER, Claude. A crise das motivações. São Paulo: Atlas, 1994.
MCLAUGHLIN, Barry. Theories of second-language. London: Edward Arnold, 1987.
MASLOW, Abraham H. Introdução à psicologia do ser. 2.ed. Rio de Janeiro : Eldorado,
1968.
MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento interpessoal: treinamento em grupo. 7.ed. Rio de
Janeiro : José Olímpio, 1997.
MURRAY, Edward J. Motivação humana. 5.ed. Rio de Janeiro : Zahar, 1983.
PENNA, Antônio Gomes. Motivação e emoção. Rio de Janeiro: Rio, 1975.
PRETTO, Siloé Pereira Neves. Educação humanista. São Paulo: Cortez e Moraes, 1978.
VERNON, M. D. Motivação humana. Petrópolis: Vozes, 1973.
A MOTIVAÇÃO DO AGIR HUMANO
Zilpa Helena Lovisi de Abreu1
RESUMO
Este artigo apresenta uma revisão bibliográfica sobre algumas concepções a respeito da
motivação e a sua centralidade no agir humano. Apesar de o tema motivação ser bastante
estudado, muitos aspectos que o envolvem necessitam ainda de aproximações teóricas, além
de análises empíricas, isto é, baseadas na experiência humana, em situações e condições
subjetivas específicas. Pretendemos, portanto, expor algumas considerações feitas por autores
que dedicaram parte de seus estudos ao tema em questão. Entre estes, destacamos Maslow,
Murray, Lindzey, Bergamini e Moscovici.
Palavras-chave: Teorias Motivacionais; Motivação e Educação; Maslow
ABSTRACT
This article presents a literature review on certain ideas about the motivation and its centrality
in human act. Although the theme motivation rather be studied, many aspects that still need to
involve theoretical approaches, and empirical analysis, that is, based on human experience, in
specific situations and subjective conditions. We want therefore expose a few comments made
by authors who have devoted part of their studies on the subject matter. Among these, we
highlight Maslow, Murray, lindzey, Bergamini and Moscovici.
Keywords: motivational theories, motivation and education; Maslow
1
Mestre em Educação CES/JF- Coordenadora do Curso de Pedagogia – Instituto Superior de Educação de
Santos Dumont-MG – Professora de Espanhol.
INTRODUÇÃO
De acordo com BERGAMINI (1990), ao estudar motivação, deparamo-nos com
obstáculos que devem ser transpostos para a compreensão da natureza humana, isto é, lutar
contra os mitos, em torno do assunto, que estão arraigados nas crenças populares sobre
motivação, como, por exemplo, que as pessoas fazem coisas pelas mesmas razões, conceito
este que não se sustenta, ao compreendermos que temos feições individuais, próprias e únicas.
Não existe uma regra universal para explicar a motivação e as ações humanas. Cada
um busca a sua satisfação de forma diferenciada da dos demais, portanto, diferentes motivos
interferem no desenvolvimento e no nível de realização e investimento do indivíduo em suas
variadas atitudes e comportamentos no mundo. No âmbito educacional esses fatores devem
ser, constantemente, analisados e observados pelos profissionais da área para conseguir uma
aprendizagem efetiva de seus alunos e uma constante motivação pela busca do conhecimento.
ABORDAGENS TEÓRICAS SOBRE A MOTIVAÇÃO
Cumpre, agora, nos determos, ainda que apenas brevemente, em algumas abordagens
teóricas acerca da motivação. Inicialmente, pretendemos correlacionar as concepções dos
autores considerados clássicos no estudo deste tema. Portanto, serão sucintamente discutidas
as idéias propostas por Murray, Lindsey, Moscovici e mais detalhadamente acerca da
perspectiva teórica desenvolvida por Maslow.
MURRAY (1983) acredita que possam ser descritas três teorias centrais nos estudos
do comportamento e seus motivadores: a Cognitiva, a Hedonista e a do Instinto ou Instintiva.
A Teoria Cognitiva parte do pressuposto de que a vontade do indivíduo seria o que determina
suas ações, suas escolhas e o faz responsável por elas. A motivação estaria relacionada com a
dimensão essencialmente cognitiva frente à escolha feita diante das várias alternativas que o
sujeito encontra.
As Teorias Hedonistas enfatizam a busca do prazer como chave para o entendimento
do comportamento humano. Destaca que a natureza humana busca ou se aproxima do que dá
prazer e evita o que não o proporciona, gerando os comportamentos de aproximação e
evitação. Os motivos para a ação humana estariam alicerçados nos dois efeitos, ou seja, o
indivíduo estará motivado, quando vivencia o prazer ou quando pode se afastar dele quando
não o obtém, buscando-o em outra situação.
A Teoria do Instinto, segundo MURRAY (1983), é aquela que sustenta que o
indivíduo está motivado quando segue seus instintos interiores e as suas decisões estão
alicerçadas neste comportamento:
Podemos, assim, definir um instinto como uma disposição psicofísica herdada
ou inata, a qual determina ao seu possuidor perceber ou dar atenção a objetos de
certa classe, experimentar uma excitação emocional de determinada qualidade
ao perceber tal objeto, e atuar em relação ao mesmo de um modo particular, ou
experimentar, pelo menos, um impulso para tal ação (Mcdougall, in
MURRAY, 1983:17).
Para Murray, o conceito de instinto caminha junto com o de impulso. O impulso é
um elemento significativo para a compreensão da motivação. Por meio dos impulsos,
poderíamos explicar os motivos mais prementes que conduzem um indivíduo à realização de
uma ação. Essa correlação já foi apresentada em 1918, por Robert S. Woodworth (MURRAY,
1983:18). De acordo com aquele autor, o impulso é uma dotação de energia para a ação. É ele
que impele o organismo ao movimento, ao estar motivado no empreendimento de uma meta.
Explica que o impulso relaciona-se, diretamente, com os instintos inerentes a cada pessoa. Os
dois conceitos juntos se somam, se comunicam.
Diante desses conceitos, os autores, Murray e Woodworth, definem a motivação
como uma ação estimulada pelos impulsos, que irão agir no comportamento geral de uma
pessoa. Se há um desequilíbrio, uma instabilidade ou um objetivo a ser alcançado, a pessoa
passa a agir por meio de seus impulsos advindos dos seus instintos primários, para conseguir
equilíbrio, satisfação e prazer.
LINDZEY et al, esclarece melhor o assunto, ao afirmar:
que o impulso ou drive é a energia que incita à ação, podendo originar-se por
processos orgânicos internos, identificáveis, chamados de impulsos nãoaprendidos ou primários, como a fome, por exemplo. Outros são adquiridos pela
aprendizagem, como a competição, ou seja, uma necessidade aprendida. Definese, então, que “um motivo é qualquer coisa que inicia o comportamento”
(1977:328).
A concepção do que é impulso, segundo os autores citados, está relacionada a algo
que pode ou não sofrer influência da aprendizagem. Percebemos que, por exemplo, muitas
vezes, os alunos encontram-se motivados para os estudos por receberem incentivos que se
transformam em impulsos, reforçando os estímulos para prosseguirem no processo de
aprendizagem. Vemos que a motivação é maior quando parte daquilo que lhe é inerente,
interno, e não de condicionamentos pré-fixados.
Lindzey et al enfatiza que obter aprovação e realização sobre algum ato, por
exemplo, torna-se fator de aprendizagem, ao ser reforçado continuadamente, mediante os
incentivos recebidos. Os dois conceitos somados aclaram a compreensão da vivência da
pessoa, uns primariamente - satisfazendo as necessidades fundamentais -, e os outros
aprendidos, ajustando o indivíduo ao seu meio social.
O autor conclui que
Excitação (arousal) é a energização do comportamento. Um motivo nos torna
mais ativos e inquietos. O comportamento motivado também tem propósitos ou
intenção. A pessoa motivada tem direção, um objetivo ou meta. O sentimento
de querer ou desejar é experimentado como tensão, esforço e expectativa.
Quando o objetivo é alcançado, a tensão e o esforço desaparecem juntamente
com a atividade energética (Ibidem:329).
O impulso, como fonte de energia, poderá esclarecer muito sobre o comportamento
motivado, pois, como há impulsos primários e aprendidos, as ações motivadas estarão aliadas
a esses impulsos orgânicos primários.
As ações motivadas pelo impulso são chamadas atos instrumentais porque são
os instrumentos por meio dos quais o objetivo do impulso é atingido. Os objetos
para satisfazer a fonte do impulso são chamados de objetos instrumentais. Os
atos e objetos instrumentais variam de cultura, para cultura, indivíduo para
indivíduo, e mesmo de dia para dia em relação ao mesmo sujeito...O costume é
um fator importante na modelagem de formas específicas de satisfação dos
impulsos primários (Ibidem:331-32).
Segundo MASLOW (1968), os estudos da motivação são de grande importância para
se compreender o comportamento humano. Ao apresentarmos as pesquisas sobre a natureza
humana, podemos extrair algumas conclusões sobre a motivação. Os conceitos e as teorias
que serviram e servem de base para compreender a dimensão motivacional do comportamento
humano estão presentes em vários campos de estudos, inclusive o educacional (MOSCOVICI,
1997).
O estudo da motivação, enquanto campo de estudo da Psicologia, tem ainda muito
que desenvolver, dada a sua complexidade, tornando-se necessário lançar mão de
instrumentos de abordagem de diversas ciências, tais como a Sociologia, a Antropologia e a
Biologia.
A rede de conceitos relacionados à motivação deixa entrever que o comportamento
humano deriva de um organismo complexo, o que inviabiliza a construção de um referencial
teórico único para a análise da condição humana. Segundo MURRAY (1983), os motivos que
damos às nossas capacidades individuais dependem da motivação, ou dos desejos, das
carências, das necessidades que cada ser humano possui, em sua natureza individual. E a
busca por sua singularidade é que faz a diferença entre cada um de nós.
A Psicologia, como qualquer ciência, utiliza diversos conceitos teóricos na tentativa
de compreender o comportamento humano enquanto ser social e individual. Uma dessas
abordagens, que parece melhor atender à temática da motivação, estaria alicerçada no que se
convencionou chamar de Psicologia Humanista.
A abordagem teórica da Psicologia Humanista tem como um de seus principais
pesquisadores MASLOW (1968)2, que pode ser considerado o fundador dessa corrente de
psicologia. Mosquera considera que Maslow foi o expoente e o criador de uma Terceira força
em Psicologia ou também denominada Psicologia Humanista Existencial (1968:21).
Foi através dos trabalhos de Maslow (1968) que o termo motivação passou a ser
referendado como objeto de estudo significativo no campo da Psicologia. Em suas pesquisas,
procurava não só observar os critérios objetivos que faziam parte de suas experiências, mas
procurava se informar a respeito da presença de um comportamento motivado que poderia ser
verificado através de elementos subjetivos no desenvolvimento da pesquisa analisada.
O autor apresenta uma concepção de homem diferente das visões até então existentes
em Psicologia. Seus estudos estão baseados num enfoque de um homem visto como um
complexo biopsicossocial, ou seja, um ser capaz de gerir sua própria existência, quando busca
melhores condições de desenvolvimento e satisfação de suas necessidades (MURRAY,
1983:9).
Para Maslow, os estudos da motivação devem apontar para um ser humano que seja
visto em sua totalidade; totalidade esta que envolve sua formação geral, sua consciência
histórica, escolhas e necessidades. Como afirma FADIMAN e FRAGER (1979:261),
2
- Abraham Maslow, estudioso norte-americano foi o precursor da abordagem humanista na Psicologia. As duas
outras correntes psicológicas importantes são: psicanálise e o behaviorismo, estas não serão objetos deste
trabalho.
referindo-se à obra de Maslow (1968), "as atividades humanas de que o homem se orgulha e
que dão sentido, riqueza e valor à sua vida são omitidas ou classificadas como patológicas".
Neste sentido, a teoria de Maslow e de outros autores, dessa mesma corrente, procura situar o
indivíduo numa visão mais positiva e saudável frente à existência.
Maslow (1968) sustenta que existem muitas maneiras de entender e interpretar o
comportamento humano, ou seja, as diferentes abordagens e teorias psicológicas apontam,
cada uma a sua maneira, aspectos fundamentais para uma análise mais global do ser humano.
Porém, o que ele apresenta são instrumentos teóricos que vêem o homem de uma forma
mais saudável, motivado intrínseca e extrinsecamente, com relação à busca de seus
anseios e do modo positivo que cada um vivencia seus atos para atingir seus propósitos.
Os estudos da motivação realizados por Maslow trazem uma maneira nova de
observação do comportamento humano, ou seja, o ser humano é visto mais em seus aspectos
positivos e em suas potencialidades atuais e naquelas que podem vir a ser manifestadas. Isso
equivale dizer que Maslow acredita em um homem autônomo, capaz de satisfazer suas
necessidades, partindo em busca de outras que vão surgindo ao longo de seu processo de
existência.
O autor, segundo LINDZEY et al (1977:328), explica que, ao buscar a realização de
algo, o homem passa a apresentar motivos para determinados comportamentos, em busca da
satisfação de suas necessidades e o papel que eles desempenham na determinação de seu
comportamento.
Essa visão de homem mais centrado e positivo, passa a gerar, segundo a ética
humanista, idéias mais voltadas para o valor do humano. Segundo MOSCOVICI, tal
concepção centra-se no fato de o indivíduo poder aprender a pensar de forma crítica, a
enfrentar situações novas sem pânico, e também de forma mais livre ou criativa, a confiar em
si e nos outros, a descobrir e desenvolver suas potencialidades, no sentido de tornar-se mais
autêntico e produtivo. A consideração deste aspecto coloca os estudos da motivação como
uma fonte geradora de compreensão da natureza humana e do que venha a ser um
comportamento motivado. Daí a importância de percepção do homem mais valorizado e
acreditado.
Toda conscientização traz em si as possibilidades de mudança, através da nova
percepção da realidade externa ou interna. Se a percepção se modifica, vários
outros planos do processo psicológico também se modificam, o indivíduo não
apenas passa a ver diferente, mas a sentir e pensar de forma diferente e,
conseqüentemente, agir de outra maneira (MOSCOVICI, 1977:XX).
Os estudos sobre a motivação vão, então, abranger esferas realmente importantes do
comportamento humano, ao considerar o homem como agente central de seus motivos e de
suas escolhas.
Na abordagem teórica, proposta por Maslow, observamos uma série de
considerações sobre o tema da motivação, que foram inicialmente tomadas como linhas
mestras para interpretar e estudar os motivadores do comportamento humano. Estas
possibilitam uma avaliação individual, ou seja, levam em consideração o que é próprio de
cada indivíduo, indo em direção à valorização da saúde psicológica, uma vez que o
desenvolvimento é visto como um processo mais positivo e não-patológico no conhecimento
de si mesmo. Isto significa dizer que a proposta da Psicologia Humanista é a de correlacionar
o que há de saudável em um ser humano, como a busca de um maior entendimento de si
mesmo e de seu comportamento.
Em suas pesquisas sobre a dimensão motivacional, Maslow não perde de vista o que
ele chama de consciência intrínseca de cada sujeito. Explica que essa consciência está sempre
presente de forma positiva no interior de cada um, isto, segundo ele, aponta para a busca da
satisfação de necessidades que são inerentes a cada ser humano.
Maslow enfatizou um conjunto de necessidades, que denominou como necessidades
básicas, objetivando compreender melhor uma série de situações típicas do comportamento
humano. Para ele, as necessidades básicas são aquelas que estão vinculadas ao imperativo da
manutenção da vida, aquilo que mantém o homem vivo e atuante no mundo de que faz parte.
As necessidades humanas seguem uma hierarquia que, segundo Maslow, passa por
níveis diferentes de satisfação, sendo que todas devem ser satisfeitas para que haja equilíbrio
no organismo humano. Após a satisfação de suas necessidades mais básicas, ligadas ao
próprio funcionamento biológico - instintivo, a pessoa irá à busca de satisfazer necessidades
cada vez mais complexas, o que quer dizer cada vez mais individualizadas. Argumenta que
sempre surgem novas necessidades, à medida que as anteriores atingem um grau adequado de
satisfação.
MOSCOVICI, pesquisando o desenvolvimento interpessoal, afirma, com relação à
satisfação das necessidades básicas, que
Quando o organismo humano está dominado por uma determinada necessidade
fisiológica, tende a mudar até sua filosofia de futuro. Por exemplo: um homem
faminto relega tudo o mais em favor do alimento. A satisfação é tão importante
quanto à privação, pois libera o organismo do domínio das necessidades
fisiológicas, permitindo o aparecimento de outros impulsos ou motivos
(1997:77).
FADIMAN e FRAGER (1979) argumentam, a partir de MASLOW (1968), que uma
vez satisfeitas as necessidades básicas, principalmente as preponderantes, o comportamento
do sujeito passa para a "metamotivação". Para Maslow (Apud, FADIMAN e FRAGER,
1979), a metamotivação é um nível avançado de conhecimento do ser humano, quando este já
satisfez suas necessidades primeiras, de acordo com a hierarquia apresentada, e sabe que elas
serão de uma forma ou de outra supridas. O ser humano tem como avançar em suas buscas
para níveis superiores de satisfação, como, por exemplo, Maslow apresenta o aspecto
espiritual e intelectual que cada um deseja alcançar. Isto significa dizer que o indivíduo ao
sair de seus estágios iniciais estará dando passos largos em busca de sua individuação e um
conhecimento maior de si mesmo.
Compreender a motivação humana sob o referencial proposto por Maslow é
interpretar as reações de cada organismo com relação à sua maneira de agir, de se motivar,
nos diversos campos de atuação no mundo, pois as necessidades estarão vinculadas à
satisfação de cada um.
Das propostas teóricas de Maslow, alguns autores tentaram definir e delimitar melhor
o tema motivação. Encontraram, nessa tarefa, sérias dificuldades, conseqüência da busca
exclusiva de critérios comportamentais, externamente observáveis. O critério original e até
hoje utilizado é o objetivo, aquele que observa o fato na maneira como se processa. A exceção
quanto a esse critério de observação vem dos psicólogos humanistas que verificam a presença
de elementos subjetivos em suas pesquisas, ou seja, partem dos critérios subjetivos para
obterem as melhores respostas às suas hipóteses.
Maslow diz textualmente: "sou motivado quando sinto desejo, ou carência, anseio ou
falta" de alguma coisa ou de alguém. Considera que ainda não foi descoberto qualquer estado
objetivamente observável que se relacione decentemente com essas informações subjetivas,
isto é, ainda não foi encontrada uma boa definição comportamental de motivação.
Algumas respostas estão nos mecanismos de busca de cada um; estes são individuais,
pois estão relacionados aos processos de elaboração de mundo de cada um, na dinâmica
particular do desenvolvimento de cada um de nós. A compreensão dos motivos centrais do
comportamento está alicerçada naquilo que BERGAMINI (1990) chama de Psicodinâmica
Motivacional, em que as razões de "como ele o faz e como o faz, promove(m) a configuração
especial do comportamento humano".
Essa psicodinâmica vai além de fatores mensuráveis e objetivos, porque explica
aquilo que é freqüentemente esquecido no indivíduo, ou seja, como este se estrutura, o que
está em seu interior que coloca em jogo o desenvolvimento de suas capacidades individuais e
o seu relacionamento no coletivo, distinguindo-o do outro.
O mais amplo entendimento do desencadeamento do comportamento
motivacional é atingindo a partir do momento em que se consiga pôr em relevo
as principais marcas individuais de cada pessoa, marcas essas que determinarão
exatamente aquilo que se pode denominar de “estilo de comportamento
motivacional” (BERGAMINI, 1990:18).
Para BERGAMINI (1990:18), motivar, então, "é ultrapassar os limites do tempo, é
engajar-se no processo lento ou dinâmico do crescimento individual, é observar a natureza
humana própria e singular de cada um".
Diz a autora:
Cada vez mais se percebe que a felicidade motivacional é função de uma árdua
e profunda luta de cada um e que não há ninguém que possua um molde
especial no qual se possa cunhá-la a granel (p.16).
À medida que a discussão do tema se torna mais complexa, a definição da motivação
humana mostra-se além das proposições oriundas das várias correntes psicológicas, assim
como estas quiseram apregoar. O fato de que as pessoas motivadas agem de modo
semelhante, sob condicionamentos aprendidos (esquema estímulo – resposta), não significa
que elas se motivam da mesma forma, pois, perante os critérios da motivação, ninguém
motiva a quem quer que seja (Ibidem).
Visto sob este aspecto, a relevância do estudo da motivação é grande. As
perspectivas teóricas voltam-se para o entendimento das singularidades humanas, gerando,
daí, um respeito genuíno àquilo que é próprio de cada um. BERGAMINI (1990:130) afirma
que "Ninguém se modifica se conscientemente não o deseja". Ela chama a atenção para o fato
de que não conseguimos motivar quem quer que seja, mas somos capazes de desmotivar as
pessoas por não respeitarmos suas diferenças individuais, por não respeitarmos o seu próprio
estilo, a sua maneira de ser e de estar no mundo.
A configuração mais nítida do comportamento motivacional começa, antes de
mais nada, quando se consegue diferenciar dois tipos distintos de ação dos seres
humanos: as primeiras são as ações empreendidas pelos indivíduos a partir de
condicionantes que estão fora dele, as segundas são levadas a efeito de maneira
espontânea, isto é, são os resultados de forças impulsoras internas (Ibidem:
24).
A natureza da motivação humana passa a ser vista, interpretada, de um outro lugar, o
do sujeito que vive o seu próprio processo de busca, procurando atender aos seus anseios na
satisfação e equilíbrio de suas necessidades.
MASLOW (1968) sustenta que o objetivo dos estudos que analisam as sutilezas de
um comportamento motivado no ser humano é proporcionar elemento de pesquisa. Neste
sentido, existe a suposição de que, para além de qualquer influência externa que possa
interferir no processo de motivação, estaria algo que realmente impulsiona o sujeito para o ato
motivacional, e isto seria a sua vontade, sua força interior.
Ainda, segundo o autor, a melhor forma de se estudar motivação é aquela que utiliza
os critérios subjetivos. Estes são os principais elementos para avançar nos estudos da
motivação humana, pois eles se relacionam com aquilo que a pessoa traz em sua
individualidade, como força motriz que a leva para a realização de alguma coisa e na maneira
como realiza estas ações.
Por fim, argumenta que uma sociedade saudável e motivada é aquela em que a troca
de energia está subentendida no valor peculiar de cada um. Mesmo que o meio social impeça
uma ação verdadeira do ser humano, este pode, a partir de sua própria motivação interior, o
curso de seus acontecimentos na busca de maior satisfação pessoal, vencendo barreiras e
ultrapassando obstáculos.
Sintetizando o que foi apresentado nestes itens, verificamos que o tema motivação
faz parte de um universo complexo, porém não menos importante. A motivação constitui um
elemento essencial de estudo para se poder entender o comportamento humano. O desafio
fundamental da motivação está no enfoque segundo o qual ela é um elemento chave para o
desenvolvimento e realização das ações humanas e não um aspecto mecanicista e
condicionante dos comportamentos sociais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERGAMINI, Cecília Whitaker. Motivação nas organizações. 4.ed. São Paulo: Atlas,1997.
DE LA PUENTE, Miguel (org). Tendências contemporâneas em psicologia da motivação.
São Paulo: Autores Associados Cortez, 1982.
GEIWITZ, P. James. Teorias não-freudianas da personalidade. São Paulo: EPU, 1973.
LEITE FILHO, Ivo.
A motivação analisada no processo ensino-aprendizagem de John
Dewey. Revista de Educação Pública, Cuiabá, v.5, n.8, jul./dez. 1996.
LÉVY-LEBOYER, Claude. A crise das motivações. São Paulo: Atlas, 1994.
MCLAUGHLIN, Barry. Theories of second-language. London: Edward Arnold, 1987.
MASLOW, Abraham H. Introdução à psicologia do ser. 2.ed. Rio de Janeiro : Eldorado,
1968.
MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento interpessoal: treinamento em grupo. 7.ed. Rio de
Janeiro : José Olímpio, 1997.
MURRAY, Edward J. Motivação humana. 5.ed. Rio de Janeiro : Zahar, 1983.
PENNA, Antônio Gomes. Motivação e emoção. Rio de Janeiro: Rio, 1975.
PRETTO, Siloé Pereira Neves. Educação humanista. São Paulo: Cortez e Moraes, 1978.
VERNON, M. D. Motivação humana. Petrópolis: Vozes, 1973.
Download