CAP. VI – DIFERENCIAÇÃO E INTEGRAÇÃO NUMÉRICA 6.1 DIFERENCIAÇÃO NUMÉRICA Em muitas circunstâncias, torna-se difícil obter valores de derivadas de uma função: ¾ derivadas que não são de fácil obtenção; Exemplo (calcular a 2ª derivada): f(x) = exp (( x + ln (sin (x2 + arctan (1+x3)1/2)) +1)) x ) ¾ de não se conhecer a expressão analítica da função, sendo esta definida num número finito de pontos. MÉTODOS NUMÉRICOS Acetato 1- Diferenciação e Integração Numérica Seja f(x) uma função contínua com derivadas contínuas até à ordem n+1 no intervalo [a,b] , e xi , i = 0, ..., n , pontos do intervalo [a,b]. DERIVADAS DE 1ª ORDEM: Consideremos o polinómio interpolador de Newton de 1º grau que interpola f(x) nos nós x0 e x1: p1 (x) = y 0 + ∇ 1y .(x − x 0 ) 0 então, p1' (x) = ∇1y 0 [ = f x 0 , x1 ] e, se f (x ) ≈ p1 (x ) ⇒ f ' (x ) ≈ p1' (x ) , portanto f(x 1 ) − f(x 0 ) f ' (x) ≈ p1' (x) = ∇ 1y = f x 0 , x 1 = x1 − x 0 0 [ ] Fazendo x=x0, f(x 1 ) − f(x 0 ) f ' (x 0 ) ≈ ∇1y = f x 0 , x1 = x1 − x 0 0 [ ] Sendo h = x1 – x0 , podemos escrever [ ] f ' (x 0 ) ≈ f x 0 , x 1 = ∇ 1y = 0 ∆1y 0 h EXEMPLO: Calcular a 1ª derivada da função f(x)=exp(sinx) no ponto x = 0.5 com h=0.01. Acetato 2- Diferenciação e Integração Numérica DERIVADAS DE 2ª ORDEM: Consideremos o polinómio interpolador de Newton de 2º grau que interpola f(x) nos nós x0, x1 e x2: p 2 (x) = f(x 0 ) + ∇ 1y .(x − x 0 ) + ∇ 2y .(x − x 0 )(x - x 1 ) 0 0 p 2 ' ' (x) = 2 ⋅ ∇ 2y Então, Fazendo x = x0 0 f ' ' (x 0 ) ≈ 2 ⋅ ∇ 2y 0 [ = 2 ⋅ f x 0 , x1 , x 2 [ ] = 2 ⋅ f x 0 , x1 , x 2 ] Se os pontos forem igualmente espaçados h = x1 – x0 = x2 – x1, temos f(x 2 ) − 2 ⋅ f(x 1 ) + f(x 0 ) f x 0 , x1 , x 2 = 2 ⋅ h2 [ donde ou ] [ ] f ' ' (x 0 ) ≈ 2 ⋅ f x 0 , x 1 , x 2 = [ ] ou [ ] f x 0 , x 1 , x 2 = ∇ 2y = 0 ∆ 2y 0 2!⋅h 2 f(x 2 ) − 2 ⋅ f(x 1 ) + f(x 0 ) h2 f ' ' (x 0 ) ≈ 2 ⋅ f x 0 , x 1 , x 2 = 2 ⋅ ∇ 2y = 0 ∆ 2y 0 2 h EXEMPLO: Calcular a 2ª derivada da função f(x)=exp(sinx) no ponto x = 0.5 com h=0.01. DERIVADAS DE ORDEM SUPERIOR: Generalização desta técnica ao cálculo de derivadas de ordem superior !! Acetato 3- Diferenciação e Integração Numérica 6.2 INTEGRAÇÃO NUMÉRICA Se uma função f(x) é contínua no intervalo [a,b], e a sua primitiva F(x) é conhecida, o integral definido daquela função entre a e b pode ser calculado pela fórmula fundamental do cálculo integral: b I = ∫ f ( x ) dx = F(b) − F(a ) a No entanto, em muitos casos, o processo anterior pode ser complexo ou mesmo não ser possível, devido ao facto: ¾ de a primitiva de f(x) não ser conhecida ou de fácil obtenção; ¾ de não se conhecer a expressão analítica da função, sendo esta definida num número finito de pontos. MÉTODOS NUMÉRICOS A técnica utilizada consiste em substituir a função integranda f(x) por um polinómio pn(x) que aproxime f(x) no intervalo [a,b] : b I = ∫ f ( x) dx ≅ a b ∫ pn ( x) dx a Os métodos numéricos que vamos estudar pertencem ao grupo das FÓRMULAS DE NEWTON-CÔTES: Utilizam valores de f(x), onde os pontos são igualmente espaçados Acetato 4- Diferenciação e Integração Numérica 6.2.1 REGRA DOS TRAPÉZIOS ANALITICAMENTE: Seja f uma função com derivadas contínuas até à 2ª ordem em [a, b] e p1 o polinómio de grau 1 interpolador de f nos pontos a e b. Para a obtenção desta fórmula é utilizado o polinómio de Gregory-Newton de 1º grau: p1 ( x ) = y 0 + ∆1 y 0 .z Assim, b b a a I = ∫ f(x) dx ≅ ∫ p1 (x) dx . Para se aproximar a função f(x) por um polinómio de 1º grau, são necessários 2 pontos: x0 e x1. Efectuando uma mudança no intervalo de integração, isto é, passando do intervalo [a,b] para [x0, x1], tem-se: b x1 x1 a x0 x0 ( ) 1 ∫ p1 (x) dx = ∫ p1 (x)dx = ∫ y 0 + ∆ y 0 .z dx . Fazendo a mudança de variável z = x − x0 h ⇔ x = z.h + x 0 ⇒ dx = h.dz e x = x0 ⇒ z= x0 − x0 h ⇔ z=0 x = x1 ⇒ z= x1 − x 0 h ⇔ z= h =1 , h obtemos 1 ( ) 1 1 1 ⎡ ⎤ ⎛ ⎞ I ≅ ∫ y0 + ∆ y0.z . h.dz= h.⎢y0z + ∆1y0.z2 ⎥ = h⎜ y0 + ∆1y0 ⎟ 2 2 ⎣ ⎦0 ⎝ ⎠ 0 1 1 1 ⎞ ⎛ Como ∆ y 0 = y1 - y 0 ⇒ I ≅ h.⎜ y 0 + y1 − y 0 ⎟ 2 2 ⎠ ⎝ Acetato 5- Diferenciação e Integração Numérica I ≅ h .(y 0 + y1 ) 2 I ≅ (b - a) .(f(a) + f (b) ) 2 I ≅ x1 - x 0 .(f(x 0 ) + f ( x1 ) ) 2 Fórmula dos Trapézios ou ou GRAFICAMENTE : Pelos dois pontos do extremo do intervalo faz-se passar uma recta e o integral de f(x) é aproximado pela área sob esta recta (área de um trapézio). Acetato 6- Diferenciação e Integração Numérica ERRO DE TRUNCATURA : A diferença entre o integral exacto de f(x) (área sob a curva f(x)) e o integral aproximado (área do trapézio) é o erro de integração. Para se determinar o erro cometido ao utilizar a regra dos trapézios, basta integrar o erro de truncatura da aproximação polinomial: f ' ' (ξ ) e T = h z.(z − 1) , a<ξ<b 2! 2 Integrando, f ' ' (ξ ) h.dz E T = ∫ h z.(z − 1) 2! 0 1 2 Como z.(z - 1) não muda de sinal em ]a, b[, pelo teorema do valor médio para integrais, = 1 h3 '' f (η)∫ (z 2 - z) dz 2! 0 onde η ∈ ]a, b[ 1 h 3 ' ' ⎡ z3 z 2 ⎤ h3 '' h3 '' ⎛1 1⎞ = f (η)⎢ − ⎥ = f (η) ⎜ − ⎟ = − f (η) 2! 2 ⎦0 2 12 ⎝3 2⎠ ⎣3 Como h = b – a vem: (b − a) 3 ' ' h3 '' ET = − f (η) = − f (η), 12 12 a <η< b ou (b − a)3 h3 ET ≤ M2 = M2 , 12 12 M2 = max f ' ' (x ) a≤x≤b Acetato 7- Diferenciação e Integração Numérica EXEMPLO: Calcular o seguinte integral, pela regra dos trapézios, e determinar uma estimativa para o majorante do erro cometido. Calcular o integral analiticamente e o erro absoluto cometido. I= 3.6 1 dx x 3.0 ∫ Acetato 8- Diferenciação e Integração Numérica FÓRMULA COMPOSTA DA REGRA DOS TRAPÉZIOS: Uma forma para melhorar o resultado obtido utilizando a regra dos trapézios é dividir o intervalo [a, b] em n subintervalos [xi, xi+1] de amplitude h= b-a n e a cada subintervalo aplicar a regra dos trapézios. GRAFICAMENTE: ANALITICAMENTE: I ≅ OU I ≅ I ≅ h h h .(y 0 + y1 ) + (y1 + y 2 ) + ... + (y n −1 + y n ) 2 2 2 (b - a) .(y 0 + 2y1 + 2y 2 + ... + 2y n -1 + y n ) 2n h .(y 0 + 2y1 + 2y 2 + ... + 2y n -1 + y n ) 2 Acetato 9- Diferenciação e Integração Numérica Fórmula dos Trapézios Composta ERRO DE TRUNCATURA: O erro total cometido é a soma dos erros cometidos na aplicação da b−a ). fórmula dos trapézios a cada um dos subintervalos (h = n h3 '' h3 ET = ∑ − f (η i ) = − 12 12 i =1 n n ∑ f ' ' (ηi ), i =1 η i ∈ ]x i-1 , x i [ Pelo teorema do valor médio para somas finitas, n n n i =1 i =1 i =1 ∑ f ' ' (ηi ) = ∑ 1 ⋅ f ' ' (ηi ) = f ' ' (η ) ⋅ ∑ 1 = n ⋅ f ' ' (η ), Assim, ET = − h3 ⋅ n ⋅ f ' ' (η ) , 12 η ∈ ]a, b[ η ∈ ]a, b[ (b − a) 3 ' ' (b − a) 2 ' ' ET = − f (η) = h f (η), 2 12 12.n η ∈ ]a, b[ ou ET ≤ (b − a) 3 (b − a) 2 M = h M2, 2 12 12.n 2 M 2 = max f ' ' (x ) a ≤ x ≤b EXEMPLO: Calcular o integral utilizando a regra dos trapézios composta considerando seis subintervalos. Determinar uma estimativa para o majorante do erro cometido e o erro absoluto cometido. I= 3.6 1 dx x 3.0 ∫ Acetato 10- Diferenciação e Integração Numérica 6.2.2 PRIMEIRA REGRA DE SIMPSON ANALITICAMENTE: Para a obtenção desta fórmula é utilizado o polinómio de Gregory-Newton de 2º grau: 1 P2 (x) = y + ∆ y 0 . z + 0 ∆2y 2 0 .z.(z − 1) Assim, b b a a I = ∫ f(x) dx ≅ ∫ p 2 (x) dx Para se aproximar a função f(x) por um polinómio do 2º grau, são necessários 3 pontos: x0, x1 e x2, igualmente espaçados. Efectuando uma mudança no intervalo de integração, isto é, passando de [a,b] para [x0, x2], tem-se: b x2 x2 1 ∫ p 2 (x) dx = ∫ p 2 (x)dx = ∫ ( y 0 + ∆ y 0 .z + x x a Como z = 0 ∆ 2 y0 0 x − x0 ⇔ x = z.h + x 0 h 2 .z.(z − 1) )dx ⇒ dx = h.dz e, x = x0 = a ⇒ z = x0 − x0 ⇔ z=0 h x = x2 = b ⇒ z = x2 − x0 2h ⇔ z= =2 h h Acetato 11- Diferenciação e Integração Numérica temos que ⎡ ⎤ ∆2 y 1 0 .z.( z − 1) ⎥ h.dz I ≅ ∫ ⎢ y 0 + ∆ y 0 .z + 2 0⎢ ⎥ ⎣ ⎦ 2 Integrando, obtém-se: 1 I ≅ h (2 y 0 + 2∆1 y0 + ∆ 2 y 0 ) 3 Sabe-se que: ∆y 0 = y1 − y0 ∆2 y 0 = ∆y1 − ∆y0 = ( y 2 − y1 ) − ( y1 − y0 ) = y 2 − 2 y1 + y0 Logo, 1 ⎤ ⎡ I ≅ h ⎢2y 0 + 2(y1 − y 0 ) + (y 2 − 2y1 + y 0 )⎥ 3 ⎦ ⎣ I ≅ Primeira Regra de Simpson ou Regra do 1/3 h (y 0 + 4y1 + y 2 ) 3 GRAFICAMENTE: Y=f(x) f(x1) f(x0) f(x2) x0=a x1 h x2=b h Acetato 12- Diferenciação e Integração Numérica A primeira regra de Simpson utiliza a área sob uma parábola para aproximar a área sob a curva em dois intervalos adjacentes. ERRO DE TRUNCATURA: Tal como para a regra dos trapézios, para se determinar o erro cometido ao utilizar a primeira regra de Simpson, basta integrar o erro de truncatura da aproximação polinomial ( e ter em conta que h = ET = − (b − a ) 5 (4 ) h 5 (4 ) = − f (η), f ( η ) 90 2 5.90 b−a ). 2 a <η<b ou h5 (b − a) 5 M4, M4 = ET ≤ 90 2880 M 4 = max f (4) (x ) a ≤x ≤b NOTA: Era de esperar que tal como a regra dos trapézios é exacta para polinómios de grau 1, a regra de Simpson fosse exacta para polinómios de grau 2 ou menor. Pela fórmula do erro, a 1ª regra de Simpson fornece valores exactos não só para o integral de polinómios de grau 2, mas também, para polinómios de grau 3 (derivada de 4ª ordem é nula). Acetato 13- Diferenciação e Integração Numérica FÓRMULA COMPOSTA DA PRIMEIRA REGRA DE SIMPSON: ANALITICAMENTE: Para obter a fórmula composta deve dividir-se o intervalo de integração [a,b] em n subintervalos iguais de amplitude h e a cada par de subintervalos aplicar a primeira regra de Simpson. Nota: Como a regra de Simpson simples é aplicada a pares de subintervalos, o número de subintervalos tem que ser par e cada subintervalo tem amplitude h = b−a . n Obtém-se então: I≅ h h h ( y 0 + 4 y1 + y 2 ) + ( y 2 + 4 y 3 + y 4 ) + ... + ( y n −2 + 4 y n −1 + y n ) 3 3 3 I≅ h ( y 0 + 4 y1 + 2 y 2 + 4 y 3 + 2 y 4 + . .. + 2 y n −2 + 4 y n −1 + y n ) 3 - Primeira Regra de Simpson Composta ERRO DE TRUNCATURA: O erro total cometido pela primeira regra de Simpson composta é a soma dos erros cometidos na aplicação da regra de Simpson simples a cada par de subintervalos. (b − a) 5 ( 4 ) (b − a) 4 ( 4 ) ( ) ET = − f η = − h .f (η), 180 180.n 4 η ∈ ]a, b[ ou (b − a) 4 (b − a)5 M4 = h .M4 , ET ≤ 4 180 180.n M4 = max f (4)(x) a≤x≤b Acetato 14- Diferenciação e Integração Numérica EXEMPLO: 1 Calcular o valor de Π = 4 ∫ dx 2 01 + x utilizando a primeira regra de Simpson em 4 subintervalos. Acetato 15- Diferenciação e Integração Numérica 6.2.3 SEGUNDA REGRA DE SIMPSON Para a obtenção desta fórmula é utilizado o polinómio de Gregory-Newton de 3º grau: 1 P3 (x) = y 0 + ∆ y 0 .z + ∆ 2y0 2 .z.(z − 1) + ∆3y0 6 .z.(z − 1).(z − 2 ) Assim, b b a a I = ∫ f(x) dx ≅ ∫ p 3 (x) dx Para se aproximar a função f(x) por um polinómio do 3º grau (n=3), são necessários 4 pontos: a=x0, x1, x2 e x3=b, igualmente espaçados (h= b−a ). 3 Integrando, obtem-se: I ≅ 3h ( y + 3 y1 + 3y 2 + y3 ) 8 0 Segunda Regra de Simpson ou Regra dos 3/8 ERRO DE TRUNCATURA: Para se determinar o erro cometido ao utilizar a segunda regra de Simpson, basta integrar o erro de truncatura da aproximação polinomial ( e ter em conta que h = b−a ). 3 (b − a ) ( 4 ) 3h 5 (4 ) ET = − ⋅ f (η) = − ⋅ f (η), 80 6480 5 η ∈ ]a, b[ ou (b − a ) 3h5 ET ≤ ⋅ M4 = ⋅ M4 , 80 6480 5 M4 = max f (4)(x) a≤x≤b Acetato 16- Diferenciação e Integração Numérica FÓRMULA COMPOSTA DA SEGUNDA REGRA DE SIMPSON: ANALITICAMENTE: Para obter a fórmula composta deve dividir-se o intervalo de integração [a,b] em n subintervalos iguais de amplitude h e a cada conjunto de três subintervalos aplicar a segunda regra de Simpson. Nota: Como a regra de Simpson é aplicada a conjuntos de três subintervalos, o número total de subintervalos pode ser ímpar ou par. Obtém-se então: I≅ 3h 3h ( y 0 + 3 y1 + 3 y 2 + y 3 ) + ( y 3 + 3 y 4 + 3 y 5 + y 6 ) + ... 8 8 3h ... + ( y n − 3 + 3 y n − 2 + 3 y n −1 + y n ) 8 I≅ - 3h ( y 0 + 3y1 + 3y 2 + 2 y 3 + 3y 4 + . .. + 2 y n − 3 + 3y n − 2 + 3y n −1 + y n ) 8 Segunda Regra de Simpson Composta EXEMPLO: 4 ( ) Calcular o integral ∫ ln x 3 + e x + 1 dx aplicando a 2ª regra de Simpson 1 com 3 e 9 subintervalos. Acetato 17- Diferenciação e Integração Numérica Acetato 18- Diferenciação e Integração Numérica Acetato 19- Diferenciação e Integração Numérica Acetato 20- Diferenciação e Integração Numérica Acetato 21- Diferenciação e Integração Numérica