Portal SulAmérica Investimentos Educação Financeira 16/09/13 Superávit primário estrutural No ano de 2012 foram explicados diversos conceitos sobre política fiscal, em especial o de resultado fiscal, que é a diferença entre receitas e despesas do governo. Este valor pode ser calculado de duas formas: acima da linha (por meio do cálculo exato de receitas e despesas do governo no período) ou abaixo da linha (sendo a diferença entre os estoques de dívida pública entre dois períodos). O primeiro cálculo é realizado com a soma e subtração de todos os fluxos relevantes, enquanto o segundo é feito por meio da diferença entre os estoques. O Banco Central usa a segunda metodologia para divulgar a sua série sobre resultado fiscal das esferas federal, regional e estatais de governo. Já a Secretaria do Tesouro Nacional divulga os resultados do governo central (o federal mais INSS) utilizando o primeiro método. É importante destacar que, além das diversas formas de calcular o resultado fiscal, há outros indicadores que são usados na análise da situação fiscal do país. Estes indicadores estão relacionados ao cálculo simples do resultado fiscal e levam em conta outros fatores econômicos. Um deles é o resultado fiscal ciclicamente ajustado. Economistas perceberam há muito tempo que diversas variáveis econômicas, ao longo da história, seguem uma tendência,usualmente de crescimento, e que em torno dessa tendência são observados ciclos, com a variável acima ou abaixo da tendência. Estes são os chamados ciclos econômicos, que têm duração variável, mas geralmente ficam entre seis e 12 trimestres. Os ciclos econômicos afetam diversas variáveis, em especial as relacionadas à atividade econômica, ao emprego e à inflação. Impactando todas essas variáveis, principalmente a atividade, não é de se surpreender que os ciclos econômicos também influenciem as variáveis fiscais. A lógica por trás disso é relacionada à base das receitas e dos gastos do governo. A maior parte da taxação do governo recai sobre a produção, o trabalho, o consumo ou a propriedade de ativos. Isso acontece em todos os países do mundo, exceto em uma minoria no qual os impostos independem da atividade econômica, como aqueles fixos sobre cabeça, ou seja, residência de uma pessoa no país, que existiam no século XIX nos EUA e no Canadá. As bases sobre as quais são calculados os impostos dependem do ciclo econômico, que, por sua vez, afeta o nível de produção, de emprego, de consumo e o preço dos ativos. Quando a economia está aquecida, todas essas variáveis são mais altas, fazendo a base sobre a qual os impostos são calculados ser maior. Isso faz com que a quantidade de impostos que o governo consegue arrecadar com a mesma taxa seja maior. O inverso ocorre durante uma recessão. Neste caso, a taxação é considerada uma variável pró-cíclica, aquela que varia positivamente com o ciclo, sendo maior quando a economia está aquecida e menor quando há uma recessão. Os gastos do governo também são afetados pelo ciclo econômico, responsável por impactar também muitos dos serviços que o governo tem a obrigação de ofertar. Um exemplo é o seguro desemprego, a renda que o desempregado recebe por certa quantidade de tempo enquanto não acha outra ocupação profissional. Como o emprego é uma das variáveis afetadas pelo ciclo econômico (aumentando nas expansões e caindo nas recessões), os gastos com o seguro desemprego também o são. O aumento do número de desempregados nas recessões faz com que os gastos do governo aumentem nessa parte do ciclo. Deve-se notar que a queda nas receitas e o aumento das despesas numa recessão (e vice-versa numa expansão) ocorrem independentemente da decisão do governo ou de sua consciência sobre em que parte do ciclo a economia está. É importante fazer essa distinção porque o governo também usa a política fiscal ativamente para tentar afetar o ciclo econômico, normalmente tentando suavizá-lo e evitar, assim, uma queda muito grande da atividade ou o aumento do desemprego durante as recessões. E é para tentar ver qual a situação da política fiscal, ou seja, se ela está tentando expandir a demanda agregada ou contraí-la, que indicadores como o superávit primário ciclicamente ajustado foram inventados. O superávit primário ciclicamente ajustado consiste em calcular as variáveis de receitas e despesas do governo tomando como base os números da tendência do emprego e da atividade. O superávit estrutural, por sua vez, consiste em, além de calcular o superávit ciclicamente ajustado, desconsiderar as variáveis fiscais que não afetem a demanda agregada. Algumas variáveis no cálculo do resultado fiscal, como receitas conseguidas através de privatizações ou de concessões, importam para o cálculo da dívida pública, porém não têm importância para a atividade naquele período. Ou seja, neste caso, elas não afetam as decisões de consumo ou investimento imediatamente, caracterizando mais uma transferência de propriedade e não um aumento de atividade. Essas variáveis são excluídas do cálculo do resultado fiscal estrutural. No caso do Brasil, em que o governo federal tem recorrido a expedientes como aumento dos dividendos pagos pelas empresas estatais ao governo ou antecipação de receitas para cumprir as metas fiscais, o cálculo do resultado fiscal estrutural mostra um número menor que o do resultado fiscal ciclicamente ajustado e que o resultado fiscal oficial. Redator: Rafael Yamano Este material foi preparado pela SulAmérica Investimentos DTVM S.A. e apresenta caráter meramente informativo, não podendo ser reproduzido ou copiado sem a expressa concordância da mesma. As análises aqui contidas foram elaboradas a partir de fontes fidedignas e de boa-fé. As informações aqui apresentadas deverão ser consideradas confiáveis apenas na data em que este foi publicado. Ainda assim, a SulAmérica Investimentos DTVM não garante, expressa ou tacitamente, exatidão, nem tampouco assertividade sobre os temas aqui abordados. Todas as análises aqui contidas estão sujeitas a alteração sem aviso prévio. As opiniões aqui expressas não devem ser entendidas, em hipótese alguma, como uma oferta para comprar ou vender quaisquer títulos e valores mobiliários ou outros instrumentos financeiros. Sul América Investimentos Rua Pedro Avancine, 73 2ºandar São Paulo – SP CEP: 05679-160