16 | 7. Política Fiscal Perspectivas para as Contas Públicas: Uma Metamorfose Ambulante Com o encerramento de 2012 marcado pela dificuldade do governo central em fechar suas contas, armadilha evidente na complexidade e volume das operações atípicas feitas no final do ano passado, as perspectivas do equilíbrio fiscal adicionam maior incerteza, risco e pessimismo quanto ao futuro das contas públicas. Não obstante a deterioração desse esforço ser caracterizada por um processo desencadeado com maior vigor no período pós-crise, a retomada da atividade econômica tem sido lenta e gradual em resposta aos incentivos fiscais, que em 2012 superaram R$ 46 bilhões. A extensão e aprofundamento das desonerações tributárias, da ordem aproximada de R$ 50 e R$ 60 bilhões para 2013 e 2014, respectivamente, sinalizam de forma clara a opção pela redução estrutural do superávit primário. Ainda que o esforço na direção de reduzir a elevada carga tributária seja louvável, é preciso fazê-la com cautela e à luz dos diversos impactos, de forma que novo e superior equilíbrio fiscal seja alcançado. É sob esse panorama, ainda mutante e controverso, que se elabora o cenário fiscal para 2013. Tabela 5: Projeção das Contas Públicas (deflacionado pela IPCA, a preços de 2012) *Superávit primário após ajuste metodológico, discrepância estatística. Considera superávit/ déficit do Banco Central do Brasil Fontes: Secretaria do Tesouro Nacional, Banco Central e Senado Federal. Elaboração: IBRE/FGV. 17 | O resultado fiscal primário esperado para este ano referente ao setor público consolidado é de apenas 1,5% do PIB, ante o resultado oficial e o ajustado pelas operações “atípicas” 6 do ano anterior de 2,4% e 1,2% do PIB, respectivamente, significativamente abaixo da meta “cheia” de 3,1% do PIB. O destaque negativo fica por conta do esforço da esfera federal, que deverá situar-se em 0,84% do produto ante 1,95% do ano anterior e ligeiramente acima de 0,77% quando ajustado por receitas atípicas. A melhoria esperada do esforço fiscal dos governos regionais, de 0,7% em contraposição a 0,49% verificado no ano anterior, ficará, contudo, abaixo da meta oficial de 0,95% do PIB. Pela ótica das receitas primárias, a retomada da atividade econômica apoiará o crescimento real da receita líquida em 1,9%, patamar inferior aos 2,4% esperados para as despesas federais, conforme mostrado na Tabela 5. Já pelo lado das despesas, o menor crescimento do salário mínimo (de 9,1% ante 14,1% em 2012) pressionará menos as despesas indexadas ao piso nacional, como os benefícios assistenciais e da previdência, abono e seguro desemprego. Quanto aos investimentos7 espera-se uma elevação de 0,05 pontos percentuais do PIB: de 1,10% para 1,15% em 2013. Esse patamar é ainda bastante baixo e aquém das necessidades em termos de crescimento e multiplicador das inversões privadas. O custeio por sua vez, manter-se-á constante como percentual do PIB. Portanto, a vigorosa deterioração esperada das contas públicas deverá impor cada vez menos graus de liberdade à política fiscal, tanto no que se refere à execução do orçamento e avanço do investimento público quanto do cumprimento de suas metas. Gabriel Leal de Barros 6 Entre as operações atípicas que garantiram maior receita primária no ano de 2012, tem-se: Antecipação de dividendos (R$ 23 bilhões), Refis da Crise (R$ 16,6 bilhões) e resgate do Fundo Soberano (R$ 12,4 bilhões), cujo total chega a R$ 52 bilhões.Dados de antecipação de dividendos sujeitos a alteração. 7 Os investimentos aqui relacionados se referem àqueles líquidos dos subsídios ao programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), despesas devidamente consideradas na rubrica de custeio.