UNIVERSIDADE VILA VELHA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA DE ECOSSISTEMAS Dissertação de Mestrado RAZÃO SEXUAL DE Podocnemis unifilis NO PARQUE INDÍGENA DO XINGU, MATO GROSSO, BRASIL. ALINE SILVA GOMES VILA VELHA DEZEMBRO DE 2011 UNIVERSIDADE VILA VELHA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA DE ECOSSISTEMAS Dissertação de Mestrado RAZÃO SEXUAL DE Podocnemis unifilis NO PARQUE INDÍGENA DO XINGU, MATO GROSSO, BRASIL. Dissertação apresentada a Universidade Vila Velha, como pré-requisito do Programa de Pós-graduação em Ecologia de Ecossistemas, para a obtenção do título de Mestre em Ecologia. ALINE SILVA GOMES Orientador: Prof. Dr. Paulo Dias Ferreira Júnior VILA VELHA DEZEMBRO DE 2011 Dissertação de Mestrado RAZÃO SEXUAL DE Podocnemis unifilis NO PARQUE INDÍGENA DO XINGU, MATO GROSSO, BRASIL. ALINE SILVA GOMES Aprovada em 16 de dezembro de 2011, Banca Examinadora: ________________________________________________________ Dra. Cecília Baptistotte – Projeto TAMAR/ICMBio ________________________________________________________ Prof. Dr. Ary Gomes da Silva – UVV ________________________________________________________ Prof. Dr. Paulo Dias Ferreira Júnior– UVV Dedico este trabalho à minha mãe, que nunca se importou em sonhar meus sonhos. Com todo amor e gratidão que uma filha pode ter na vida. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente ao CNPq, pela concessão da bolsa de mestrado que possibilitou a realização deste trabalho. Agradeço à Universidade Vila Velha e, especialmente, ao Programa de Pós Graduação em Ecologia de Ecossistemas pela estrutura e formação concedidos durante essa jornada. Agradeço à equipe do Projeto Tarekaja’a Xingu, que possibilitou a realização do trabalho. Ao RAN/ ICMBio, que sempre nos apoiou quando precisamos. A EMBRAPA/CENARGEN que possibilitou à execução de todas as etapas do trabalho. À comunidade indígena Kamayurá-Morená, que além de possibilitar a realização do trabalho, nos acolheu muito carinhosamente, permitindo que eu conhecesse a magia da vida em uma aldeia indígena (e não só a magia!). Agradeço carinhosamente ao meu orientador, Paulo Dias Ferreira Júnior, pela amizade e dedicação ao longo dos anos de trabalho juntos. Agradeço também pelos puxões de orelha, quando vieram a calhar, e por todas as oportunidades que tive em função da confiança depositada, principalmente a oportunidade de conhecer o “mundo novo” das tartarugas de água doce! A Alessandro Coutinho Ramos que, muito mais do um coordenador de pósgraduação, foi um grande amigo e me adotou como se fosse de sua equipe de trabalho e fez da Ecologia uma família para mim. Muito obrigada! Ao Laboratório de Histopatologia da UVV, em especial ao Carlos Roberto Marcos, que fez o preparo de todas as lâminas histológicas. Aos Professores do Curso de Medicina Veterinária Marcelo Renan e Taísse. A todos os colegas do Laboratório de Ecologia Aquática e Terrestre (LETA) que sempre acompanharam e apoiaram o trabalho, em especial à Alexandra Frossard, que desde o início do trabalho ajudou no foi preciso. À Aline Dassoler e Paulo Roberto de Jesus, que também prestaram grande auxílio. À Jordana Borini Freire, colega que sempre esteve disposta a fazer o intercâmbio entre campo e laboratório, ajudando no que fosse necessário. A Adélio Lubiana que, além de transmitir muito conhecimento nos meus tempos de estagiária, retribuiu a ajuda quando precisei. Agradeço especialmente à minha família, pelo apoio e compreensão nas minhas ausências em casa (nem sempre foi fácil!). A Felipe Tessarolo, que ultrapassou os limites do companheirismo, foi amigo, colega, auxiliar de laboratório (quando foi necessário), e sempre me impulsionou para frente, me puxou as orelhas e me manteve seguindo, muitas vezes abrindo mão dos seus próprios interesses em função dos meus deveres. Agradeço mais uma vez à minha mãe, que sempre “me cobriu” quando as coisas apertavam e possibilitou que eu seguisse em frente, mostrando que eu estava no caminho certo. Agradeço a Deus por ter mantido minha força de vontade e perseverança para chegar até aqui. SUMÁRIO 1. Introdução .............................................................................................................3 2. Fundamentação Teórica ...................................................................................... 7 Referências Bibliográficas I ................................................................................ 15 3. Capítulos .............................................................................................................24 3.1. Capítulo 1: Razão sexual de Podocnemis unifilis (Troschel 1848) (Testudines: Podocnemididae) no Parque Indígena do Xingu, Mato Grosso, Brasil...............23 Referências Bibliográficas II...............................................................................38 3.2. Capítulo 2: Influência do local da desova no desenvolvimento embrionário de Podocnemis unifilis (Troschel 1848) (Testudines: Podocnemididae) no Parque Indígena do Xingu, Mato Grosso, Brasil.............................................................41 Referências Bibliográficas III..............................................................................56 4. Considerações Finais .........................................................................................61 1 RESUMO GOMES. A.S. RAZÃO SEXUAL DE Podocnemis unifilis NO PARQUE INDÍGENA DO XINGU, MATO GROSSO, BRASIL. Orientador: Paulo Dias Ferreira Júnior. A determinação sexual dependente da temperatura é um dos aspectos mais importantes da biologia reprodutiva dos quelônios, fazendo do ambiente de incubação um fator limitante da reprodução, uma vez que as características do meio serão responsáveis pela definição da temperatura no interior do ninho e, conseqüentemente do sexo dos indivíduos. Entender a influência das características do meio físico no desenvolvimento dos embriões de tartarugas ainda é um desafio, uma vez que uma ampla gama de variáveis envolvidas dificulta a interpretação dos resultados obtidos em condições naturais. Visando preencher as lacunas acerca da temperatura responsável pela geração de machos e de fêmeas de Podocnemis unifilis foi monitorada a temperatura de 120 ninhos naturais em conjunto com a realização de incubação sob temperaturas controladas em laboratório. Foi realizada a sexagem dos filhotes, a fim de definir a temperatura pivotal e estabelecer a razão sexual dos filhotes gerados nas praias para a população do rio Xingu, na área do Parque Indígena do Xingu. A partir da sexagem dos filhotes eclodidos no laboratório foi possível estabelecer a temperatura pivotal, responsável pela produção de machos e fêmeas em proporções iguais e então foi estimada a razão sexual dos filhotes eclodidos nos ninhos situados nas praias do rio Xingu, no Parque Indígena do Xingu (MT). Com base no equivalente de temperatura constante a razão sexual dos filhotes na temporada de 2010 foi de 47% de fêmeas. O ambiente de desova é um importante fator para os ninhos sujeitos ao alagamento, mas não interferiu na temperatura dos ninhos. O manejo adotado pela comunidade indígena e que envolve a transferência de ninhos sujeitos ao alagamento e à predação não influenciou o sucesso da eclosão e a temperatura dos ninhos indicando que ele é adequado. Palavras chaves: tracajá, determinação sexual, incubação, comunidade indígena, manejo 2 ABSTRACT GOMES. A.S. RAZÃO SEXUAL DE Podocnemis unifilis NO PARQUE INDÍGENA DO XINGU, MATO GROSSO, BRASIL. Orientador: Paulo Dias Ferreira Júnior. Temperature-dependent sex determination is one of the most important aspects of turtle reproductive biology. The incubation environment is a limiting factor for reproduction, because environmental characteristics are responsible for the temperature in the interior of the nest and consequently for the sex ratio of the hatchlings. To understand the influence of the characteristics of the physical environment on embryo development is still a challenge, because the wide range of variables involved makes it difficult to interpret results obtained in natural conditions. Aiming to fill the gaps in understanding the role of temperature in the differentiation of male and female Podocnemis unifilis, the temperature of 120 natural nests was monitored, concomitantly with incubation of eggs under controlled temperatures in the laboratory. Based on the sexes of hatchlings incubated in the laboratory, it was possible to establish the pivotal temperature. Then, the sex ratio of clutches in natural nests located on the beaches of the Xingu River, in the Xingu Indigenous Park (MT), was estimated. According to the constant-temperature equivalent, the sex ratio of hatchlings in the 2010 nesting season was 47% females. Nest placement is important for hatching success, principally for nests subject to flooding; but did not affect the nest temperatures. The management protocol adopted by the indigenous community and which involves the transfer of nests that are subject to flooding and to predation, did not affect the hatching success or nest temperatures, showing that it is the most appropriate method. Keywords: incubation, management, sex determination, yellow spotted turtle, CTE. 3 1. INTRODUÇÃO O meio exerce papel fundamental no processo reprodutivo das tartarugas. As características do local de desova irão definir as condições da incubação e a viabilidade do ninho, garantindo o calor e o abrigo necessários para a eclosão dos filhotes (FERREIRA JÚNIOR et al. 2008, FERREIRA JÚNIOR 2009 a, b). O gênero Podocnemis, no Brasil, possui quatro espécies que ocupam as bacias dos rios Amazonas e Tocantins-Araguaia (RUEDA ALMOCINADE et al. 2007). O gênero, considerado como um dos melhor estudado do Brasil, conta com a tartaruga-daamazônia (P. expansa), o tracajá (P. unifilis), o iaçá (P. sextuberculata) e a irapuca (P. erythrocephala) amplamente distribuídos pelos rios amazônicos. Essas espécies são continuamente exploradas como fonte de alimento, tanto pelos seus ovos, quanto pela sua carne (PEZZUTI et al. 2005, KEMENES & PEZZUTI 2007, PEZZUTI et al. 2010). Todas as espécies o gênero Podocnemis testadas apresentam determinação sexual dependente da temperatura de incubação, o que significa que as características ambientais afetam a sua reprodução (VALENZUELA & LANCE 2004). Nestas espécies a incubação é um dos momentos mais críticos do ciclo de vida. Apesar de figurarem entre as espécies brasileiras mais estudadas, ainda existem grandes lacunas no que diz respeito à temperatura pivotal, uma das principais características reprodutivas para as espécies que apresentam determinação sexual dependente da temperatura da incubação. A temperatura pivotal é aquela que define a produção de machos e de fêmeas em proporções iguais e ainda não é muito bem conhecida para as tartarugas de água doce brasileiras. 4 O mecanismo da determinação sexual dependente da temperatura da incubação já foi comprovado para P. expansa (ALHO et al. 1984, MALVASIO 2001), P. unifilis (SOUZA & VOGT 1994) e P. sextuberculata (PEZZUTI & VOGT 1999), entretanto todos esses estudos foram conduzidos em campo onde as condições de temperatura são muito variadas. LUBIANA & FERREIRA JÚNIOR (2009) determinaram a temperatura pivotal para P. expansa, do rio Javaés (TO), analisando exclusivamente a influência da temperatura, através da incubação dos ovos em temperaturas constantes, assim como VALENZUELA (2001) que comparou dados de campo com dados obtidos em laboratório (VALENZUELA et al. 1997). É desejável que a temperatura pivotal seja avaliada considerando-se as mesmas condições de contorno e de experimentação. Em campo, sob condições naturais, as variações da temperatura são muito grandes (VALENZUELA et al. 1997) e dificultam a interpretação dos resultados (MALVASIO et al. 2002). Outros fatores como a umidade (PACKARD et al. 1991) a profundidade do ninho (FERREIRA JÚNIOR & CASTRO 2003), e o sombreamento (GOMES & FERREIRA JÚNIOR 2011), por exemplo, afetam o ambiente termal do ninho tornando difícil apontar a influência exclusiva da temperatura (GEORGES et al. 2004). No laboratório as temperaturas são mantidas constantes permitindo avaliar sua influência na diferenciação das gônadas dos embriões. Via de regra, os filhotes de quelônios não apresentam dimorfismo sexual nos primeiros anos de vida, o que se torna evidente apenas quando atingem a maturidade sexual (PRITCHARD & TREBBAU 1984). A despeito dos avanços nas técnicas de identificação do sexo de filhotes recém-eclodidos, e de animais juvenis por métodos não invasivos como a quantificação de hormônios esteróides (LANCE et al. 1992), ou da aplicação dos princípios da morfometria geométrica (VALENZUELA et al. 2004, LUBIANA & FERREIRA JÚNIOR 2009), a maneira mais segura e eficiente ainda é a análise histológica das gônadas que requer, além do sacrifício dos animais, 5 procedimentos relativamente complexos e onerosos (W YNEKEN et al. 1988, MALVASIO 2001). A proposta de investigação desse projeto visa preencher parte dessa lacuna, relativa aos primeiros momentos do ciclo de vida, determinando a temperatura pivotal de P. unifilis sob temperaturas constantes em laboratório e estimar a razão sexual dos ninhos naturais. As informações sobre a temperatura pivotal serão correlacionadas às características fisiográficas do local da desova, associando os locais de nidificação à faixa de temperatura na qual os filhotes são gerados na natureza. As características do meio físico podem influenciar o sucesso da eclosão (relação entre o número de filhotes vivos sobre o número total de ovos viáveis), a razão sexual (relação entre o número de fêmeas e o número total de filhotes de um ninho), e a duração da incubação (período transcorrido entre a desova e a eclosão dos filhotes) (FERREIRA JÚNIOR et al. 2008, FERREIRA JÚNIOR 2009a, b), apontando a importância do local escolhido pela fêmea na reprodução. A temperatura da incubação guarda uma relação direta com a taxa de desenvolvimento embrionário e nas espécies com determinação sexual dependente da temperatura de incubação a duração da incubação pode ser utilizada na predição do sexo dos filhotes e, por isso, pode ser importante na definição de áreas prioritárias de preservação (MARCOVALDI et al. 1997, MROSOVSKY et al. 1999). O presente trabalho foi desenvolvido sob a hipótese de que a razão sexual e o sucesso de eclosão são dependentes das condições do contorno do ninho. Testamos também a hipótese de que a temperatura média de incubação é dependente dos aspectos sedimentológicos dos ninhos e que, portanto, o local escolhido pela fêmea desempenha um papel crucial na reprodução de P. unifilis. 6 O objetivo do trabalho é determinar a razão sexual de P. unifilis baseado na temperatura pivotal obtida em condições controladas de temperatura. Os objetivos específicos do trabalho visam associar a duração de incubação e o sucesso de eclosão dos ovos às características sedimentológicas das áreas de desova e verificar se a duração de incubação pode ser utilizada como ferramenta preditiva da razão sexual dos ninhos mantidos no ambiente natural. 7 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Podocnemis unifilis é considerada uma espécie de tartaruga que ocupa pequenos rios e lagos pouco profundos, sendo encontrada também em rios de maior vazão (SANTOS 1994). Com o início do período chuvoso os rios transbordam e é comum a migração de P. unifilis para ambientes calmos como lagos e florestas inundadas (PRITCHARD & TREBBAU 1984). Podocnemis unifilis apresenta cerca de 8 kg quando adulto, podendo o comprimento do casco, que é ligeiramente côncavo, chegar a 68 cm de comprimento. Apresenta manchas amareladas bem evidentes na parte dorsal da cabeça e nas bordas das placas marginais da carapaça principalmente em filhotes. As manchas amarelas permanecem vivas nos machos, mas tendem a desaparecer nas fêmeas adultas, sendo uma característica que auxilia na identificação do sexo dos adultos. A cabeça é alongada com focinho proeminente; não possuindo sulco interorbital. Possui uma ou duas barbelas e quilha medial acentuada nos filhotes e restrita na região central (2ª e 3ª vértebras nos adultos) (ERNST & BARBOUR 1989). Segundo PRITCHARD & TREBBAU (1984), P. unifilis é primariamente herbívora. Entretanto LEGLER (1993) aponta a maioria das espécies de Testudines como onívoras oportunistas, apresentando o comportamento típico de onívoros aquáticos, rondando perto do leito do rio, investigando a vegetação e as frutas caídas das árvores, e aproveitando-se da disponibilidade de pequenos invertebrados. MALVASIO (2001), em estudos no Estado do Tocantins, confirma a dieta predominantemente herbívora e a ingestão de pequenas quantidades de insetos e crustáceos, para a espécie. 8 Dados importantes no que diz respeito à reprodução de P. unifilis são relacionadas às características do ninho. A fêmea desova entre 15 a 25 ovos por postura, sendo estes alongados e de casca rígida, em um ninho de profundidade máxima de 30 cm (ERNST & BARBOUR 1989). Diferentemente de outras espécies de tartarugas, cuja profundidade dos ninhos pode variar entre 45 e 100 cm. Dessa forma os ninhos de P. unifilis se tornam mais expostos à temperatura do meio externo e sujeitos às variações de temperatura ao longo do dia. Em um momento em que as mudanças climáticas são o foco de inúmeros debates políticos, econômicos e, principalmente, ambientais é fundamental que se entenda a influência da temperatura na reprodução de um dos mais importantes grupos de répteis brasileiros e no qual estão inseridas espécies ameaçadas de extinção (IUCN 2011) juntamente com espécies de grande relevância sócio-cultural e econômica (PEZZUTI et al. 2010). Somente assim será possível argumentar sobre as possíveis conseqüências das mudanças do clima global na ecologia reprodutiva, e no processo evolutivo desses animais (HAYS et al. 2003; GIRONDOT et al. 2004). A determinação da temperatura pivotal sob condições controladas permite a comparação de resultados entre espécies e populações, possibilitando a análise das diferenças entre os hábitos reprodutivos e, conseqüentemente, entre os fatores evolutivos de cada grupo (GIRONDOT et al. 2004). O conhecimento dessas informações também é de grande utilidade para os projetos de conservação que utilizam o manejo dos ovos, como alternativa para ampliar o sucesso de eclosão (MARCOVALDI & LAURENT 1996, GOMES & FERREIRA JÚNIOR 2011). No caso de transferências de ninhos, as diferenças no meio físico podem ocasionar mudanças na temperatura, podendo afetar o desenvolvimento embrionário e causar alterações na razão sexual dos ninhos transferidos (MILTON et al. 1999, NARO-MACIEL et al. 9 1999), o que pode afetar a estrutura populacional. Devido a este fator, o conhecimento da razão sexual das espécies que apresentam determinação sexual dependente da temperatura de incubação dos ovos é de extrema importância para o sucesso das ações conservacionistas que utilizam do manejo dos ovos (MORREALE et al. 1982, SPOTILA & STANDORA 1986, MROSOVSKY & PROVANCHA 1992, MROSOVSKY 1994). A duração da incubação é sugerida como ferramenta preditiva da razão sexual para tartarugas marinhas (MARCOVALDI et al. 1997, MROSOVSKY et al. 1999, GODFREY et al. 1999, BRODERICK et al. 2000, GODLEY et al. 2001). O método baseia-se na relação entre a temperatura de incubação na taxa de desenvolvimento embrionário. Em temperaturas elevadas o desenvolvimento embrionário é acelerado reduzindo a duração de incubação. Alternativamente, quando as temperaturas são mais baixas o desenvolvimento embrionário é mais lento levando a uma duração de incubação mais longa. Nesse contexto surgiu o conceito de duração pivotal de incubação, que determina a duração de incubação (em dias), responsável pela produção de cada sexo. Por isso a duração de incubação pode apresentar-se como ferramenta viável de predição da razão sexual também para quelônios continentais, uma vez que o clima das regiões centrais dos continentes apresenta certa estabilidade quando comparamos temporadas reprodutivas distintas. Contudo, esta metodologia vem sendo contestada, tendo em vista que, variações climáticas durante o período termosensitivo podem gerar um sexo não esperado para o período de incubação dos embriões (PIEAU 1982, GEORGES 1989, GEORGES 1992). Por exemplo, em um ninho de Podocnemis expansa com o período de incubação de 70 dias espera-se a prevalência de machos. No entanto, se durante o segundo terço da incubação ocorrer um aumento repentino na temperatura, mesmo que por poucos dias, as condições serão favoráveis ao desenvolvimento de fêmeas (BULL & VOGT 1981). Se 10 após esse período a temperatura voltar a cair, o desenvolvimento embrionário será prolongado levando a uma duração pivotal de incubação condizente com uma razão sexual favorável aos machos (PIEAU & DORIZZI 1981, GEORGES et al. 1994). Comprovar e testar a uma relação entre a duração de incubação e a determinação sexual de quelônios continentais é importante principalmente por se tratar de um método de baixo custo, não invasivo e de aplicação relativamente simples. Em um cenário onde os recursos e o conhecimento são escassos, esse método pode ser uma importante ferramenta para estimar a razão sexual das populações e ampliar o conhecimento sobre a ecologia das tartarugas (LUBIANA & FERREIRA JÚNIOR 2009). A importância da temperatura na reprodução de quelônios foi comprovada por MROSOVSKY & YNTEMA (1980), quando foi demonstrado experimentalmente que, em laboratório, a diminuição de apenas 1 °C na temperatura de incubação causou um aumento de cinco dias da duração de incubação e alterou significativamente a razão sexual de filhotes de Caretta caretta. No entanto, em ambientes naturais, as condições ambientais de ninhos rasos como P. unifilis (FERREIRA JUNIOR et al. 2007) são muito variáveis e oscilam dentro de um ciclo diário, o que inviabiliza a generalização desse método (GEORGES et al. 1994). Além disso, quando o universo amostral é pequeno, a margem de erro pode ser elevada e invalidar a utilização da duração da incubação como ferramenta de predição da razão sexual (MROSOVSKY et al. 1999). As principais restrições ao uso da duração da incubação da estimativa da razão sexual dos ninhos rasos das tartarugas continentais se baseiam nas variações diárias da temperatura (PIEAU 1982). Por outro lado, as variações diárias da temperatura nos ninhos de tartaruga marinha que são mais profundos é menos, entre 0,5 e 1,0 para Chelonia mydas (MORREALE et al. 1982), o que possibilita o estabelecimento de uma correlação entre a taxa de desenvolvimento embrionário e 11 a temperatura média do ninho e a utilização da duração pivotal de incubação na estimativa da razão sexual dos ninhos. Estudos que individualizam e quantificam separadamente os fatores ambientais envolvidos na incubação são fundamentais para esclarecer a maneira como estes fatores interferem no desenvolvimento embrionário de animais que apresentam determinação sexual dependente da temperatura. Com um número amostral ampliado é possível atingirmos a segurança necessária para indicar a duração da incubação como uma ferramenta preditiva da razão sexual natural, diminuindo-se a necessidade da utilização de métodos invasivos para a determinação do sexo dos filhotes. Essa estimativa pode ser de grande utilidade para os projetos de conservação que trabalham para ampliar ou manter a população de tartarugas, como o Projeto Tarekaja’a Xingu, que busca restabelecer a população de P. unifilis na bacia do Rio Xingu, junto à comunidade indígena da etnia Kamayurá. O principal objetivo do Projeto Tarekaja’a Xingu é recuperar a população e promover o manejo sustentável de P. unifilis (tracajá) no Parque Indígena do Xingu, no estado do Mato Grosso (Projeto Tarekaja’a Xingu/EMBRAPA). O tracajá está fortemente inserido na cultura indígena, fazendo parte dos aspectos culturais, folclóricos, religiosos e alimentares. Algumas etnias indígenas, como a Kamayurá, acreditam que o próprio Rio Xingu foi formado através de um tracajá que “deslizou por todo o caminho trazendo água de volta para todas as tribos que passavam sede” formando assim o rio e salvando os povos que ali vivem (Cultura Indígena). As comunidades indígenas da porção superior do rio Xingu sempre utilizaram P. unifilis como um de seus maiores e mais apreciados recursos alimentares, sendo igualmente consumidos os ovos, filhotes e animais adultos, principalmente fêmeas em período de desova (PEZZUTI et al. 2010). Entretanto há algumas décadas o 12 declínio da população de P. unifilis na região foi observado pelas próprias comunidades indígenas. Este declínio é explicado por um conjunto de fatores relacionados ao aumento da população indígena no parque, juntamente com o crescimento das áreas de desmatamento e, pela introdução de novas técnicas e ferramentas de captura introduzidas pelo “homem branco”, como o uso de barco a motor, lanterna e espinhel. Esses fatores têm aumentado significativamente a pressão de captura sobre os animais, que antes eram caçados com caminhadas noturnas apenas nas proximidades das aldeias e com uso de flechas e arpões (Projeto Tarekaja’a Xingu/EMBRAPA). PEZZUTI et al. (2010) apontaram a importância dos quelônios continentais como recurso alimentar e incremento protéico à dieta de populações indígenas e ribeirinhas da região amazônica. A utilização deste recurso, bem como seus ovos e seu óleo, envolve uma série de fatores que incluem preferências alimentares, tabus, usos medicinais e até valores de mercado, sendo estes variáveis entre as regiões. PEZZUTI et al. (2010) fazem referência sobre a preferência pela ingestão de fêmeas por determinadas culturas, uma vez que os machos possuem sabor menos agradável e existe a crença de que sua ingestão pode causar injúrias e não devem ser consumidos em certas épocas (gravidez, lactação, período menstrual ou acometido por doenças), o que pode aumentar ainda mais a pressão de captura sobre as fêmeas. A dificuldade de acesso a um recurso alimentar tão importante também é preocupante no que diz respeito aos valores nutricionais que P. unifilis acrescenta à dieta das comunidades, uma vez que praticamente todo incremento protéico da dieta indígena do alto Xingu é proveniente da pesca e as tartarugas fornecem um alto aditivo calórico à dieta. A preocupação em manter P. unifilis como recurso 13 sustentável surgiu da própria comunidade indígena, particularmente dos membros da aldeia Kamayurá-Morená, que iniciaram um programa de proteção de ninhos e filhotes, com intuito de promover o aumento da população a através da diminuição da predação de ninhos e da mortalidade dos filhotes e animais adultos (Comunicação pessoal). O rio Xingu apresenta uma grande heterogeneidade ambiental em suas praias, com sedimento em diversas frações granulométricas, disponibilizando uma área de grande diversidade para a postura dos ovos. Observa-se em uma mesma praia zonas com graus distintos de sombreamento e vegetação de entorno, altura diferenciada em relação ao leito do rio, diferentes frações granulométricas semelhante ao que foi descrito para outros ambientes fluviais do rio Crixás-Açu (FERREIRA JÚNIOR & CASTRO 2006), Araguaia (FERREIRA JÚNIOR & CASTRO 2005) e no rio Javaés (FERREIRA JÚNIOR et al. 2003). Todos esses fatores interferem diretamente no desenvolvimento dos embriões (FERREIRA JÚNIOR & CASTRO 2010), tornando as praias do rio Xingu um local apropriado para o desenvolvimento de estudos sobre a ecologia reprodutiva de P. unifilis. FERREIRA JÚNIOR & CASTRO (2003, 2006) e FERREIRA JÚNIOR et al. (2007) demonstraram a preferência de P. unifilis em desovar nas áreas mais baixas, próximas ao nível do rio, tornando os ninhos mais susceptíveis ao alagamento e morte dos embriões. O alagamento é a principal causa de perdas de ninhos para as espécies de quelônios continentais devido à instabilidade climática, que causa a subida repentina dos rios e afogamento dos embriões de ninhos das áreas mais baixas. Para P. unifilis e P. expansa o alagamento é uma das principais causas de perda de ninhos e filhotes nas mais diferentes áreas de ocorrência destas espécies (ALHO & PÁDUA 1982, IBAMA 1989, MITCHELL & QUIÑONES 1994, SOINI 1995, 14 FERREIRA JÚNIOR & CASTRO, 2005, 2006). Para evitar perda dos ovos o RAN/ICMBio recomenda a transferência dos ninhos para locais mais altos ou mais protegidos de predação por animais. Essa estratégia é utilizada há algum tempo por projetos de conservação de quelônios, como o Projeto TAMAR/ICMBio e o Projeto Quelônios da Amazônia/RAN/ICMBio (IBAMA 1989). No entanto quando se utiliza a transferência de ninhos deve-se atentar não apenas para altura da praia em relação ao ninho ou à proteção contra predadores, mas também se o local escolhido para receber os ovos apresenta características semelhantes ao local da desova. Essa preocupação se deve ao fato de que alterações no tamanho e na composição mineralógica dos sedimentos podem alterar substancialmente o perfil de transmissão de calor no interior o ninho (MILTON et al. 1999, FERREIRA JÚNIOR et al. 2007, FERREIRA JÚNIOR & CASTRO 2006), interferindo no desenvolvimento e alterando a determinação do sexo dos embriões. O ideal, nesse caso, é que o ambiente que irá receber os ovos proporcione condições de desenvolvimento que assegure uma razão sexual próxima daquela encontrada no local de origem do ninho. A razão sexual de equilíbrio para espécies com determinação sexual dependente da temperatura de incubação é desconhecida e de difícil determinação, uma vez que as interações entre fatores ambientais e biológicos são muito diversas (VALENZUELA & LANCE 2004). Assim, ressaltamos a importância da execução de experimentos laboratoriais conjuntos a trabalhos de campo, a fim de se estabelecer a razão sexual e as dinâmicas populacionais das espécies, para que os resultados sejam aplicados em projetos de manejo e conservação. A obtenção de dados, como a razão sexual dos filhotes, a temperatura pivotal, as faixas de temperatura responsáveis pela produção de cada sexo e a influência do local da desova no desenvolvimento embrionário são fundamentais para estabelecer as melhores estratégias de manejo para a população em questão. 15 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 ALHO, C.J.R. & L.F.M. PÁDUA. 1982. 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Ecology 79(6): 1884-1892. 23 3. CAPÍTULOS Os capítulos a seguir foram redigidos seguindo as normas de citações e referências da revista Zoologia (ISSN 1984-4670), no entanto não se encontram formatados para submissão, uma vez que alterações serão consideradas, de acordo com correções ou sugestões propostas pela banca examinadora. As normas encontram-se disponíveis em: http://www.scielo.br/revistas/zool/iinstruc.htm 3.1 CAPÍTULO I RAZÃO SEXUAL DE PODOCNEMIS UNIFILIS (TROSCHEL 1848) (TESTUDINES: PODOCNEMIDIDAE) NO PARQUE INDÍGENA DO XINGU, MATO GROSSO, BRASIL. Aline Silva Gomes1,3, José Roberto Moreira², Fábio de Oliveira Freitas² & Paulo Dias Ferreira Júnior¹ 1. Programa de Pós-graduação em Ecologia de Ecossistemas, Universidade Vila Velha, Rua Comissário José Dantas de Melo, 21, Boa Vista, 29102-770, Vila Velha, ES, Brasil. 2. Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Parque Estação Biológica, Av. W5 Norte, Caixa Postal 02372, 70770-917, Brasília, DF, Brasil. 3. [email protected], autor correspondente. RESUMO A razão sexual dos filhotes é fundamental para o conhecimento da dinâmica populacional e história de vida das espécies. Neste trabalho estimamos a razão sexual de ninhos naturais de Podocnemis unifilis no Parque Indígena do Xingu, no estado do Mato Grosso. Para isto, estabelecemos a temperatura pivotal desta população a partir da incubação em laboratório sob temperaturas constantes. A temperatura pivotal de P. unifilis no Parque Indígena do Xingu é de 31,8 °C. Para o cálculo da razão sexual foi monitorada a temperatura de 120 ninhos in situ durante toda a incubação. A razão sexual foi estimada com base na temperatura média no segundo terço de incubação e no CTE (Equivalente de Temperatura Constante), estabelecido a partir das variações diárias de temperatura nos ninhos. Para a temporada reprodutiva de 2010, 47% dos filhotes de P. unifilis eram fêmeas e a 24 duração de incubação média foi de 92 dias. Foi possível estabelecer uma correlação entre o CTE e a duração de incubação, indicando que este pode ser utilizado na estimativa da razão sexual. Palavras-chave: Incubação, Temperatura pivotal, Tracajá, manejo, CTE. INTRODUÇÃO A determinação do sexo de Podocnemis unifilis (TROSCHEL 1848) depende da temperatura de incubação dos ovos (SOUZA & VOGT 1994), sendo classificada como tipo TSD Ia (EWERT et al. 1994). Neste modelo, machos são gerados em temperaturas baixas e fêmeas em temperaturas elevadas. A temperatura responsável pela produção de machos e fêmeas em proporções iguais (1:1) é denominada temperatura pivotal (PIEAU 1976, BULL 1980, YNTEMA & MROSOVSKY 1982). Em um regime de temperaturas variáveis, em que as oscilações diárias são marcantes, são as variações acima e abaixo da temperatura pivotal que determinarão o sexo dos embriões (GEORGES et al. 2004). A determinação da temperatura pivotal é importante, pois ela pode variar entre as espécies e entre populações de acordo com a região geográfica (EWERT & NELSON 1991, EWERT et al. 1994). Uma espécie com ampla distribuição pode apresentar variações em torno de sua temperatura pivotal ao longo de sua área de ocorrência, como no caso de Chelydra serpentina e Trachemys scripta, (EWERT et al. 1994, 2004). Este mecanismo visa compensar as variações climáticas (EWERT & NELSON 1991, EWERT et al. 1994), uma vez que para a manutenção de uma população viável é necessário que a temperatura pivotal seja condizente com as características ambientais, para que ambos os sexos sejam gerados (BULL et al. 1982). 25 O conhecimento da temperatura pivotal para cada população pode auxiliar na escolha da técnica de manejo adequada as necessidades de cada uma delas (VOGT 1994). Devido à interação de fatores ambientais e biológicos, torna-se difícil determinar a uma razão sexual de equilíbrio para uma população com a determinação sexual dependente da temperatura de incubação (VALENZUELA & LANCE 2004). Desta forma, experimentos em laboratório e trabalhos de campo se tornam necessários para estabelecer a razão sexual de diferentes populações, principalmente em projetos de manejo e conservação que envolvem o manuseio dos ninhos (LUBIANA & FERREIRA JÚNIOR 2009). Na incubação em laboratório sob temperatura constante ou em ninhos naturais com pequena variação diária da temperatura, como por exemplo, os ninhos de tartaruga marinha cuja câmara de ovos situa-se a mais 50 cm de profundidade (NARO-MACIEL et al. 1999), o uso da temperatura média no segundo terço da incubação apresenta uma alta correlação com a razão sexual, permitindo inclusive que a duração da incubação seja utilizada na predição da proporção de filhotes machos e fêmeas (MROSOVSKY et al. 1997, Marcovaldi et al. 1999, GODFREY et al. 1999). Em estudos realizados em campo, onde vários fatores exercem influência na temperatura, é importante que além da temperatura pivotal, se conheça a dinâmica das variações diárias da temperatura (GEORGES et al. 2004). As oscilações em torno da temperatura pivotal terão grande influência no sexo dos embriões, uma vez que a diferenciação gonadal é influenciada pelo tempo acima ou abaixo da temperatura pivotal, no qual o desenvolvimento embrionário ocorre (BULL et al. 1985, MROSOVSKY et al. 1984, GEORGES 1989). O simples conhecimento da temperatura pivotal e da temperatura média de incubação, portanto, não são suficientes para estabelecer a razão sexual de ninhos naturais (GEORGES et al. 2004). Para contornar este 26 problema, GEORGES et al. (1994) sugeriram a utilização do “Equivalente de Temperatura Constante” (CTE), que consiste em um modelo matemático que sintetiza as variações diárias de temperatura em um único valor, estabelecendo uma relação direta com a taxa de desenvolvimento embrionário (GEORGES et al. 2004). No rio Xingu os dados sobre a ecologia reprodutiva de quelônios, especialmente de P. unifilis, espécie mais abundante na região, são escassos, não havendo informações relevantes sobre a estrutura e dinâmica populacional. O conhecimento da temperatura pivotal e do CTE será fundamental para a conservação e o manejo da espécie, evitando que as atividades de manejo que atualmente são executados nesta área possam afetar a razão sexual que normalmente seria gerada nos ninhos naturais. Realizamos o presente trabalho sob a hipótese de que o desenvolvimento de macho e fêmeas é dependente das variações diárias da temperatura de incubação. O objetivo deste trabalho foi determinar a razão sexual dos ninhos in situ de P. unifilis da porção norte do rio Xingu. MATERIAIS E MÉTODOS O estudo foi conduzido no Parque Indígena do Xingu (PIX), no estado do Mato Grosso, junto à área de influência da aldeia Kamayurá-Morená (53°33’W 11°56S), onde é executado o Projeto Tarekaja’a Xingu, que em conjunto com a comunidade indígena monitora, maneja e protege as desovas de P. unifilis. O PIX possui, cerca de 30.000 km², abrigando uma população de aproximadamente 6.000 índios (IBGE, 2010). A aldeia Kamayurá-Morená está localizada na região norte do PIX, próxima à confluência dos rios Batovi, Kuluene e Ronuro (MONDINI et al. 2007) (Figura 1). 27 Figura 1. Localização da área de estudo com as praias utilizadas na nidificação por P. unifilis (FERREIRA JÚNIOR et al. 2011) O território da aldeia possui nove praias fluviais arenosas, normalmente monitoradas desde 2007 pelos agentes do Projeto Tarekaja’a Xingu, a partir do mês de junho, quando as fêmeas de P. unifilis iniciam a desova. 28 Para a determinação da temperatura pivotal foram coletados 150 ovos oriundos de 10 ninhos das praias do entorno da aldeia. Todos os ovos foram coletados na manhã seguinte à desova, foram identificados e armazenados em caixa de isopor preenchida com areia e vermiculita umedecida. Esse procedimento protegeu os ovos contra rotações e choques mecânicos durante o transporte e garantiu a manutenção de uma temperatura compatível com o desenvolvimento dos embriões. Os ovos foram levados para o Laboratório de Ecologia Aquática e Terrestre, no Complexo de Atividades Biopráticas, Centro Universitário Vila Velha, onde foram distribuídos uniformemente entre dez incubadoras, com temperaturas variando entre 24 ºC e 35 ºC (variação aproximada de 1 ºC entre cada incubadora). Cada caixa foi preenchida com vermiculita umedecida. Juntamente com os ovos foi inserido um termógrafo digital do tipo i-button (Maxim DSG1921G), programado para medir e registrar a temperatura a cada quinze minutos, durante toda a incubação. Após a eclosão, os filhotes permaneceram na incubadora por aproximadamente cinco dias para completar a absorção do vitelo e o endurecimento da carapaça. Os filhotes foram marcados e encaminhados ao Biotério, também localizado no Complexo de Atividades Biopráticas, onde permaneceram por aproximadamente três meses. Os animais foram eutanasiados com uma injeção intracardíaca de 0,5 mL de tiopental sódico diluído a 25%. As gônadas foram extraídas para preparação de lâminas histológicas, coradas com HE, e analisadas segundo os critérios descritos por MALVASIO et al. (2002) e classificadas em ovários ou testículos. Após a sexagem dos filhotes e do estabelecimento da razão sexual de cada incubadora foi utilizado software TSD V.3.2.2 (GIRONDOT 1999, GODFREY & DELMAS 2003), para o cálculo da temperatura pivotal. Este programa permite escolher entre cinco descrições matemáticas, a equação que melhor se ajusta ao estabelecimento 29 da correlação entre a razão sexual e a temperatura, com base no AIC (Akaike Information Criterion), além de apresentar o erro padrão, permitindo a comparação com outros estudos (GIRONDOT 1999). Simultaneamente à incubação no laboratório, foi monitorada a temperatura de 120 ninhos nas praias do rio Xingu com termógrafos i-button (Maxim DSG1921G), inseridos no interior da câmara de ovos. Estes termógrafos registraram a temperatura a cada uma hora durante toda a incubação. A razão sexual destes ninhos foi estimada de duas maneiras, a partir da temperatura média no segundo terço de incubação (Temp ⅔) e do Equivalente de Temperatura Constante (CTE). O CTE se baseia no princípio de grau-dia e é indicado para estimar a razão sexual em um regime de temperatura variável (GEORGES et al. 1994, 2004). Para o estabelecimento do CTE é necessário que se conheça a taxa de desenvolvimento embrionário. Neste trabalho utilizou-se a relação obtida na incubação sob temperaturas constantes em laboratório (GEORGES 1989, DEMUTH 2001, CHU et al. 2002, BOOTH & FREEMAN 2006) durante o segundo terço da incubação, período termo sensível da determinação sexual, (YNTEMA & MROSOVSKY 1982). A relação encontrada neste trabalho, para P. unifilis, é expressa por: Duração de Incubação (dias) = 182 – (3, 727 x temperatura de incubação °C) Desta forma a fração do desenvolvimento embrionário que ocorre durante determinado período do dia é dado por: 1/ (-3,827+ 185,63 T) Onde T é a temperatura do intervalo de tempo. A soma de todas as frações do desenvolvimento embrionário durante o segundo terço de incubação foi multiplicada por 0,34 (a fração do desenvolvimento no qual o sexo é definido), permitindo o 30 estabelecimento do CTE para um dado ninho (BOOTH & FREEMAN 2006, CHU et al. 2008). Análise Estatística Para o cálculo da razão sexual dos ninhos foi utilizado o programa TSD V.3.2.2 (GODFREY et al.1994), que fornece os resultados a partir da temperatura. Para cada ninho foram calculadas duas razões sexuais, a primeira a partir da temperatura média, e a segunda do CTE, ambas utilizando o segundo terço da incubação. Para comparar a razão sexual nestes dois tratamentos foi aplicado o teste não paramétrico de Kruskal- Wallis. Para testar a relação do CTE e da temperatura média no segundo terço com a duração de incubação e com o sucesso de eclosão foi utilizada regressão linear e as equações de cada reta foram estabelecidas. Estas análises foram realizadas com o auxílio do software Sigma Stat 3.5, assumindo significância mínima de 95% (p < 0,05). RESULTADOS A temperatura pivotal de Podocnemis unifilis do rio Xingu foi de 31,77° C (Figura 2). Os valores de temperatura e razão sexual utilizados para o cálculo da razão sexual são apresentados na tabela 1. Tabela 1. Razão sexual de P. unifilis incubados em temperatura constante. Temperatura Média n Razão Sexual (%M) Duração de Incubação (dias) 28,4 ± 0,04 10 90 84 30,3 ± 2,11 8 75 63 30,9 ± 0,16 8 62,5 57 32,1 ± 0,19 15 46,6 65 31 Figura 2. Relação entre a freqüência de fêmeas em diferentes temperaturas de incubação constantes. A intercessão das linhas tracejadas representa o ponto onde às proporções de machos e fêmeas são equivalentes (31,77 °C). Para o calculo do CTE foi utilizada a correlação existente entre a temperatura de incubação e a duração de incubação (Figura 3). O CTE apresentou maior relação com as variáveis avaliadas (duração de incubação, razão sexual e sucesso de eclosão) que a temperatura média no segundo terço da incubação (Temp. ⅔) (Tabela 2). Existem diferenças significativas entre o CTE e a Temp. ⅔ (H= 54, 601; gl= 1; p< 0, 001) e a razão sexual gerada por elas, de modo que a razão sexual para o CTE foi de 47, 0 ± 0,28% de fêmeas, enquanto que para a Temp. ⅔ foi de 17,2 ± 0,07% de fêmeas. A análise de variância demonstrou que existe diferença altamente significativa entre as temperaturas (H= 55, 365; gl= 1; p< 0,001) (Figura 4). 32 Figura 3. Relação entre a temperatura e a duração de incubação em laboratório. Essa relação é utilizada para o calculo da taxa de desenvolvimento. Figura 4. Diferença entre temperatura média (Temp. ⅔) e o Equivalente da Temperatura Constante (CTE) do segundo terço da incubação. 33 Tabela 2. Relação existente entre a temperatura média do segundo terço da incubação (Temp. ⅔) e o Equivalente da Temperatura Constante (CTE) com a duração de incubação (DI), razão sexual (RS) e sucesso de eclosão (SE). Note que o R² é sempre maior para o CTE. Temp. ⅔ CTE Equação R² p Equação R² p DI CTE= 6, 465 + (0,273 DI) 0,582 < 0,001 Temp. ⅔= 31, 210 - (0,0211DI) 0,017 0,23 RS CTE = 27,501 +(8,687RS) 0,94 < 0,001 Temp. ⅔= 27, 330 +(11,35RS) 0,596 < 0,001 SE CTE= 34, 257 - (3,280SE) 0,11 < 0,001 Temp. ⅔= 30, 036 - (0,918SE) 0,04 0,04 DISCUSSÃO A temperatura pivotal de Podocnemis unifilis no rio Xingu foi de 31,8 °C, próxima dos 32 °C estabelecidos por SOUZA & VOGT (1994) para o rio Guaporé (RO). A semelhança das temperaturas pivotais destas duas populações é explicada pela localização dos rios Xingu (latidude 11,57°) e Guaporé (latitude 12,30° S). Dessa forma, as populações de P. unifilis que habitam estas regiões experimentam temperaturas de incubação muito semelhantes, o que leva ao estabelecimento de uma temperatura pivotal similares (PRITCHARD & TREBBAU 1984). A temperatura pivotal de P. unifilis no rio Xingu é próxima às temperaturas pivotais descritas para outros Podocnemidídeos, como P. expansa (33,5 °C) (LUBIANA & FERREIRA JÚNIOR 2009), P. sextuberculata (31,5 °C) (PEZZUTTI et al. 1998) e P. lewyana (33,4 °C) (PAÉZ et al. 2009). P. expansa, apresenta distribuição geográfica mais próxima à de P. unifilis. No entanto fatores intrínsecos à biologia das espécies levaram ao estabelecimento de uma temperatura pivotal mais elevada, como por exemplo, o comportamento reprodutivo de P. expansa, que desova no final do período de seca e apresenta um ninho mais profundo, o que os torna mais 34 susceptíveis ao alagamento. Desta forma uma temperatura mais elevada propicia um desenvolvimento embrionário acelerado encurtando a duração de incubação e permitindo a eclosão dos ovos (FERREIRA JÚNIOR & CASTRO 2006). Se comparadas com espécies de tartarugas marinhas, que também desovam em áreas abertas e ensolaradas, e possuem temperatura pivotal em torno de 29 °C (MROSOVSKY 1988, MARCOVALDI et al. 1997), a temperatura pivotal dos Podocnemidídeos é mais elevada (VALENZUELA & LANCE 2004). Essa característica é explicada pela ocorrência tropical dos Podocnemidídeos, (PRITCHARD & TREBBAU 1984), assim a incubação comumente ocorre em temperaturas elevadas, o que promove o aumento da temperatura pivotal como resultado da seleção natural, uma vez que a temperatura pivotal mais alta, nesses casos, garantirá o nascimento de ambos os sexos (BULL et al. 1982). Quelônios continentais sofrem com a instabilidade climática, que promove a subida repentina ou inconstante dos rios. Desta forma uma duração de incubação mais curta é essencial para as espécies que desovam em praias fluviais tropicais, o que não ocorre com os ninhos de tartarugas marinhas, que não estão sujeitos ao alagamento e apresentam ninhos relativamente mais frios, um desenvolvimento mais lento, e uma temperatura pivotal mais baixa (BULL & VOGT 1981, PIEAU & DORIZZI 1981, MROSOVSKY et al. 1984, Marcovaldi et al. 1997). Mesmo sem a validação do CTE para o presente estudo, recomenda-se sua utilização para a estimativa da razão sexual dos filhotes. A utilização do CTE para o cálculo da razão sexual (GEORGES et al. 1994, 2004) produziu resultados mais consistentes que o emprego da temperatura média de incubação. A razão sexual encontrada com a utilização da temperatura média de incubação (17% de fêmeas) poderia inviabilizar a manutenção da população na região do rio Xingu (CONGDON et 35 al. 2000). Já a proporção de fêmeas obtida utilizando o CTE (47%) é mais consistente com a manutenção de uma população viável e ecologicamente equilibrada. Nossos dados sugerem que em um regime de temperaturas diárias variáveis a temperatura média de incubação não é um bom preditivo da razão sexual (GEORGES et al. 1994, VALENZUELA et al. 1997, VALENZUELA 2001). A taxa de desenvolvimento embrionário é diretamente relacionada à temperatura da incubação (BULL & VOGT 1981, MROSOVSKY et al. 1984, MARCOVALDI et al. 1997), mas as oscilações diárias de temperatura, são melhor quantificadas com o uso do CTE, pois neste caso é o tempo desprendido acima e abaixo da temperatura pivotal que definirá o sexo do embrião (GEORGES et al. 1994). Para Peltocephalus dumerilianus a razão sexual de adultos é desviada para fêmeas (LA OSSA & VOGT 2010, PEZZUTI et al. 2008). Já P. unifilis, no rio Guaporé (RO), mostrou uma razão sexual desviada para machos (TÉRAN & MÜLHEN 2003). Para as tartarugas marinhas do litoral brasileiro é freqüente a razão sexual desviada para fêmeas (MARCOVALDI et al. 1997; MROSOVSKY et al. 1999; GODFREY et al. 1999; GODLEY et al. 2001) e apenas localmente tem-se áreas com uma produção maior de machos (BAPTISTOTTE et al. 1999). Estes fatos demonstram que pode não haver um padrão pré-estabelecido para a razão sexual em quelônios, ou indicam problemas relacionados à padronização da amostragem. Além disso, diferenças no comportamento das espécies podem levar a uma interpretação errônea dos dados. GIBBONS (1970) afirma que a determinação da razão sexual funcional deve ser baseada nos indivíduos que atingiram a maturidade sexual e portanto, a proporção de machos e fêmeas na eclosão deve ser utilizada com cautela nos programas de manejo e conservação, uma vez que essas espécies apresentam alta taxa de 36 mortalidade dos filhotes (FERREIRA JÚNIOR 2009) e a razão sexual no nascimento pode ser alterada ao longo dos anos. Para a utilização da duração de incubação como ferramenta preditiva da razão sexual, de espécies de ciclo de vida longo como P. unifilis, deve-se avaliar por longos períodos (MARCOVALDI et al. 1997), já que mudanças sazonais podem causar diferenças nas características de cada temporada reprodutiva (MROSOVSKY 1984). Este fato deve ser considerado, principalmente em ninhos rasos como P. unifilis, onde a taxa de desenvolvimento embrionário é muito sensível às variações ambientais (GEORGES et al. 1989). Os dados obtidos no presente trabalho demonstram que existe uma relação positiva entre o CTE, a duração de incubação e a razão sexual, indicando que tanto a temperatura quanto a duração de incubação possuem potencial preditivo em relação à porcentagem de machos e fêmeas que nascem no rio Xingu, bem como para as demais espécies de quelônios continentais. O CTE apresenta maior correlação (R²) que a temperatura média do segundo terço de incubação, sugerindo que sua utilização é mais adequada para o cálculo da razão sexual. Nossa hipótese de que as variações diárias de temperatura é que são responsáveis pela produção de machos e fêmeas, como proposto por GEORGES et al. (2004), foi aceita, assim recomendamos a utilização do CTE em estudos futuros. É importante ressaltar que os dados obtidos no presente trabalho são referentes à temporada reprodutiva de 2010, e apenas um ano não é suficiente para descrever a reprodução de uma espécie de vida longa, sendo necessário o monitoramento contínuo na região. Somente assim será possível estabelecer a dinâmica populacional de P. unifilis no rio Xingu e a influência da razão sexual dos filhotes na estrutura populacional. Nossos dados devem ser utilizados como ponto de partida para estudos sobre a ecologia e biologia reprodutiva da espécie, a fim de determinar 37 as melhores técnicas de manejo e conservação. Além disso, é importante que se amplie os esforços de pesquisa e se inicie um programa de captura e recaptura de juvenis e adultos (PEZZUTI et al. 1998, TERÁN & MÜLHEN 2003, LA OSSA & VOGT 2010) para caracterização efetiva da população protegida e manejada pelo Projeto Tarekaja’a Xingu. AGRADECIMENTOS Ao CNPq, pela concessão da bolsa de mestrado. A Universidade Vila Velha, pela estrutura disponibilizada. A Petrobras Ambiental e a EMBRAPA/CENARGEN, pelo apoio logístico e estrutural. Ao RAN/ICMBio e ao Projeto Tarekaja’a Xingu e todos os seus agentes pelo auxílio na coleta de dados. Agradecemos à comunidade indígena Kamayurá da aldeia Morená, pelo apoio no desenvolvimento das atividades de campo. Ao Laboratório de Histopatologia da UVV. A toda equipe de pesquisa do Laboratório de Ecologia Terrestre e Aquática da UVV, pelo apoio e colaboração. REFERÊNCIAS BAPTISTOTTE, C.; J.T. SCALFONI & N. MROSOVSKY. 1999. Male-producing thermal ecology of a southern loggerhead turtle nesting beach in Brazil: implications for conservation. Animal Conservation 2: 9-13. BOOTH, D. T. & C. FREEMAN. 2006. Sand and nest temperatures and an estimate of hatchling sex ratio from the Heron Island green turtle (Chelonia mydas) rookery, Southern Great Barrier Reef. Coral Reefs 25 629–633. BULL, J.J. 1980. Sex determination in reptiles. Quarterly Review of Biology 53(1): 3-20. 38 BULL, J.J. & R.C. VOGT. 1981. Temperature-sensitive periods of sex determination in Emydid turtles. Journal of Experimental Zoology 218:435–440. BULL, J.J.; R.C. VOGT, R.C. & C.J. MCCOY. 1982. Sex determining temperatures in turtles: a geographic comparison. Evolution 36(2): 326-332. BULL, J.J.; J.M. LEGLER & R.C VOGT. 1985. 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W5 Norte, Caixa Postal 02372, 70770-917, Brasília, DF, Brasil. 3. Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Répteis e Anfíbios, Rua 229, 95, Setor Leste Universitário, 74.605-090, Goiânia, GO, Brasil. 4. [email protected], autor correspondente RESUMO As características do meio físico são determinantes no desenvolvimento embrionário de Podocnemis unifilis, determinando o sexo dos embriões e influenciando o momento da eclosão. O presente trabalho avalia como o local da desova interfere no desenvolvimento embrionário de P. unifilis no rio Xingu e avalia o manejo dos ninhos realizado no local. Foi monitorada a temperatura de 120 ninhos durante todo o período de incubação e amostras de sedimento foram coletadas para análise granulométrica. Foram comparados o sucesso de eclosão, a razão sexual e a duração de incubação de ninhos oriundos de áreas arenosas, com alto teor de lama e no berçário com ninhos transferidos. O local da desova não influenciou a temperatura ou o desenvolvimento embrionário de P. unifilis, demonstrando que o manejo realizado é adequado, não havendo diferença significativa na razão sexual ou no sucesso de eclosão dos ninhos naturais e transferidos. Palavras-chave: determinação sexual, incubação, manejo, tracajá, transferência, razão sexual. 43 INTRODUÇÃO As características do ambiente de nidificação são fundamentais para o desenvolvimento e determinação sexual dos filhotes de Podocnemis unifilis (TROSCHEL 1848) (MALVASIO et al. 2002). A determinação sexual desta espécie se dá de acordo com a temperatura a qual os ovos são submetidos durante a embriogênese, sendo o conjunto das características ambientais o responsável pelo estabelecimento desta temperatura (SOUZA & VOGT 1994, MALVASIO et al. 2002). Para P. unifilis, temperaturas acima de 32 °C tendem a gerar prioritariamente fêmeas, enquanto temperaturas mais baixas são responsáveis pela produção de machos (SOUZA & VOGT 1994). Dessa forma, o momento da desova, as características do sedimento (tamanho do grão, albedo e composição mineralógica) e as condições de exposição e sombreamento são fatores determinantes da temperatura no interior dos ninhos e assim, exercem forte influência no sucesso de eclosão e no sexo dos filhotes (FERREIRA JÚNIOR 2009, FERREIRA JÚNIOR & CASTRO 2010, FADINI et al. 2011). A escolha do ambiente de nidificação é um fator crucial para o desenvolvimento embrionário, sendo a fêmea responsável por selecionar locais que sejam adequadas à postura. Estes locais devem ser altos o suficiente para evitar o alagamento dos ninhos e propiciar uma temperatura adequada ao desenvolvimento dos embriões, garantindo a manutenção de uma razão sexual compatível com a população local (MORREALE et al. 1982, VALENZUELA et al. 1997). No desenvolvimento embrionário de diversas espécies a temperatura pivotal é a responsável pela produção de machos e fêmeas em proporções iguais (50%), e é considerada um fator chave para a ecologia reprodutiva desses animais (PIEAU 1976, BULL 1980, YNTEMA & MROSOVSKY 1982). Machos e fêmeas desenvolvem-se em velocidades e temperaturas diferentes, de modo que temperaturas mais elevadas 44 promovem um desenvolvimento mais rápido e estimulam a produção de fêmeas. Assim fêmeas normalmente apresentam uma duração de incubação mais curta do que os machos (PIEAU 1976, YNTEMA & MROSOVSKY 1982). GEORGES et al. (2004) propuseram que, em regime variável de temperatura, fêmeas serão geradas quando mais da metade do desenvolvimento embrionário ocorrer acima da temperatura pivotal e machos serão produzidos quando mais da metade do desenvolvimento embrionário ocorrer abaixo da temperatura pivotal. Dessa forma pode-se relacionar a temperatura de incubação à taxa de desenvolvimento embrionário e, conseqüentemente, à duração de incubação dos ovos (MARCOVALDI et al. 1997). Para tartarugas marinhas a duração de incubação é utilizada na predição da razão sexual, e baseia-se no conhecimento da temperatura de incubação dos ovos e das faixas responsáveis pela produção de cada sexo (MARCOVALDI et al. 1997; MROSOVSKY et al. 1999; GODFREY et al. 1999; BRODERICK et al. 2000; GODLEY et al. 2001). Entretanto não existem estudos que confirmem a viabilidade da utilização da duração de incubação na estimativa da razão sexual para espécies de quelônios continentais. GOMES E FERREIRA JUNIOR (2011) demonstraram que a transferência de ninhos sujeitos ao alagamento, ou à predação pode ser uma alternativa viável para o manejo de espécies que se encontram em situação vulnerável, podendo esta ação representar um aumento significativo no sucesso de eclosão com reflexos no recrutamento de juvenis na população. Porém é necessário que se observe as condições de transferência, pois alterações no ambiente de nidificação podem repercutir na duração da incubação e na determinação sexual dos filhotes (FERREIRA JÚNIOR & CASTRO 2003). Assim, é imprescindível que se analise os parâmetros 45 fisiográficos do sítio de nidificação, bem como a influência que estes parâmetros exercem no desenvolvimento embrionário das tartarugas. A temperatura pivotal é fundamental na ecologia destes animais por se tratar de uma característica que pode definir a existência de uma determinada espécie em uma região (BULL et al. 1982). Espécies com grande distribuição geográfica tendem a possuir variações em torno de sua temperatura pivotal a fim de compensar a variações climáticas e viabilizar a ocupação da região (EWERT & NELSON 1991, EWERT et al.1994). Conhecer a maneira como o ambiente interfere no desenvolvimento dos embriões é fundamental para a definição de áreas apropriadas para a conservação e a execução do manejo sustentável da espécie (GOMES & FERREIRA JÚNIOR 2011). O presente trabalho tem como objetivos identificar como as características sedimentológicas do local da desova afetam a temperatura no interior dos ninhos, e as conseqüências no sucesso de eclosão e na razão sexual de P. unifilis no rio Xingu, analisando a eficiência das técnicas de manejo executadas atualmente na região. Para avaliar este último objetivo será analisada a influência da transferência de ninhos no sucesso de eclosão e na razão sexual dos filhotes gerados. MATERIAIS E MÉTODOS Durante a temporada reprodutiva de 2010, foram monitoradas as temperaturas de incubação de 120 ninhos distribuídos em duas das nove praias localizadas na região norte do Parque Indígena do Xingu (Figura 1). As praias estão situadas no território da aldeia Kamayurá-Morená e são monitoradas pelo Projeto Tarekaja’a Xingu, que 46 busca a conservação e executa o manejo de P. unifilis na região. Esta iniciativa tem o apoio da comunidade indígena para a realização do trabalho. Figura 1. Localização do Parque Indígena do Xingu e da área de estudo. O território da aldeia Kamayurá-Morená engloba as nove praias estudadas no rio Xingu (Ferreira Júnior et al 2011). Foi monitorada a temperatura de incubação dos ninhos das praias 1 (Morená) e 3 (Korone) Para avaliar a distribuição espacial dos ninhos foi realizado o mapeamento das praias com o auxílio de bússola e trena na escala de 1:1000 (FERREIRA JÚNIOR & 47 CASTRO 2003). Nesta escala foi possível plotar os ninhos e as principais feições geomorfológicas das praias. A temperatura no interior dos ninhos foi monitorada através de termógrafos digitais do tipo i-button (Maxim DSG1921G) inseridos no interior da câmara de ovos. Os termógrafos mediram e registraram a temperatura do ninho a cada hora durante toda a incubação. Foram coletadas amostras de sedimento do interior dos ninhos, destinados à análise granulométrica segundo o protocolo de FOLK (1974). Foram coletadas as informações sobre o sucesso de eclosão (razão entre filhotes vivos e ovos viáveis), a duração de incubação (número de dias transcorridos desde a desova até a eclosão) e a razão sexual (tomada como a porcentagem de fêmeas que cada ninho produziu). O nível do rio foi monitorado durante todo o período de incubação, caso houvesse necessidade de transferência por risco de alagamento, considerou-se o sucesso de eclosão igual a zero. Os ninhos alagados foram quantificados e analisados separadamente. As transferências de ninhos, no rio Xingu, são realizadas como alternativa para aumentar o número de eclosões por temporada e são motivadas, principalmente pela alta predação dos ninhos por canídeos, principalmente Cerdocyon thous (FERREIRA JÚNIOR et al. 2011). A predação é a principal causa de perda de ovos e filhotes na região, por esse motivo, todos os ninhos das praias 8 (Tepotsiy) e 9 (Janypawu) foram transferidos logo após a desova para um berçário localizado na praia 3 (Korone). Os ovos foram transportados em caixas de isopor preenchidas com areia oriunda do interior do próprio ninho, a fim de manter a temperatura e evitar o deslocamento dos ovos e, conseqüentemente, dos embriões (MARCELLINI & DAVIS 1982, MALVASIO et al. 2002). Todos os ninhos, transferidos ou não, foram protegidos com tela de metal e identificados com lacre numerado. Nas praias com maior 48 ocorrência de canídeos as telas foram reforçadas com ganchos de ferro enterrados na areia. Para a razão sexual dos ninhos foi utilizada a temperatura pivotal de 31,8 °C, calculada por GOMES & FERREIRA JÚNIOR (ver capítulo 1) que realizaram a incubação dos ovos desta população em temperatura constante. No cálculo da razão sexual foi empregado o CTE do segundo terço de incubação, que é mais indicado que a temperatura média em regimes de temperatura variável, como no caso de P. unifilis. O CTE é indicado nos trabalhos que envolvem um regime variável de temperatura (GEORGES 1989) em que as variações diárias são elevadas, como é o caso dos ninhos de P. unifilis (GEORGES et al. 1994, 2004). A taxa de desenvolvimento embrionário, necessária ao estabelecimento do CTE, foi calculada a partir da relação entre a duração de incubação em temperaturas constantes (GOMES & FERREIRA JÚNIOR capítulo 1) e expressa por: Duração da incubação (dias) = 182 – (3,727 Temperatura de incubação) A fração diária do desenvolvimento embrionário, portanto, é dada por: 1/ (-3,827+185,63 T) A soma de todas as frações durante o segundo terço da incubação foi multiplicada por 0,34 (correspondente à fração do desenvolvimento embrionário no qual o sexo é determinado irreversivelmente) obtendo-se assim o CTE do ninho. A análise granulométrica foi realizada por peneiramento e a porcentagem de cada classe de tamanho foi transformada para o seu arcoseno buscando a normalidade dos dados. O sucesso de eclosão e a razão sexual também foram transformados para seu arcoseno. Foi aplicado o teste de Shapiro-Will para avaliar a normalidade da distribuição dos dados. 49 Foram comparados ninhos transferidos e ninhos in situ, divididos em ninhos localizados em sedimentos francamente arenosos e sedimentos silto-arenosos, através de Análise de Variância para comparação entre o sucesso de eclosão, a duração de incubação, o CTE e a razão sexual (calculada com base no CTE). Para avaliar se a duração da incubação, o sucesso da eclosão e o tamanho dos sedimentos variaram entre os ninhos foi aplicado o teste não paramétrico de Kruskall-Wallis (quando dados não apresentaram distribuição normal mesmo após transformação), com significância de 5%. A influência do tamanho do sedimento na temperatura de incubação (CTE e temperatura média no segundo terço) e no sucesso da eclosão foi testada através da regressão linear múltipla. Devido à alta colinearidade algumas frações granulométricas foram removidas dos cálculos para que não inflacionassem os resultados. Os cálculos foram realizados com o auxílio do programa Systat 3.5, e a classificação dos sedimentos foi realizada com o programa Gradistat 4.0. Todas as análises estão de acordo com ZAR (2010). RESULTADOS Na temporada reprodutiva de 2010 ocorreram 1458 desovas de P. unifilis nas nove praias monitoradas. Foram transferidos 60 ninhos das praias 8 e 9 para o berçário da praia 3. No total, 524 ninhos foram encontrados predados e não puderam ser protegidos. Dos ninhos protegidos, 227 sofreram predação, principalmente por Cerdocyon thous (Linnaeus, 1706), e secundariamente por gaviões (Polyborus plancus, Miller 1777) urubus (Coragyps atratus, Bechstein 1793) e jacarés (Caiman crocodilos, Linnaeus, 1758). Vinte e nove ninhos foram alagados ou necessitaram ser transferidos por risco de afogamento dos embriões. Também foram registrados 31 ninhos de Phrynops geoffroanus, que compartilham com P. unifilis as áreas de 50 desova (FERREIRA JÚNIOR et al. 2011). Os ninhos se distribuem por toda a praia, mas pode-se perceber uma maior concentração nas áreas planas e baixas nas margens do canal e nas proximidades com a vegetação na porção externa do banco arenoso (Figura 2). A análise granulométrica indicou diferenças no tamanho dos sedimentos, caracterizando um ambiente heterogêneo ao longo das praias. Os sedimentos podem ser classificados primordialmente como arenosos, areno-lamosos e arenocascalhosos (Figura 3). Não houve diferença significativa para nenhuma das variáveis analisadas, ou seja, a localização e a transferência dos ninhos das praias 8 e 9 para a praia 3 não interferem no CTE (F= 1,011; p= 0,368), no sucesso de eclosão (H= 2,393; gl= 2; p= 0,302), na razão sexual (F= 0,663; p= 0,518) ou na duração de incubação (F= 2,330; p= 0,103) dos ninhos. Apenas a fração lama exerceu influencia na temperatura média no segundo terço de incubação (p= 0,006), indicando que as variáveis ambientais influenciam a temperatura média no segundo terço de incubação (F= 2,941; p= 0,034). O sucesso de eclosão também não foi afetado pelas variáveis ambientais (r²= 0,25; F= 1,641; p= 0,186). A data da desova e a altura dos ninhos são elementos que podem auxiliar na predição do alagamento das praias e afogamento dos embriões. Todos os ninhos alagados foram desovados no período entre 29 de julho até o final de agosto. A altura destes ninhos em relação ao rio no momento da desova para variou entre 22 cm e 100 cm nos ninhos alagados. 51 Figura 2. Distribuição dos ninhos de Podocnemis unifilis e Phrynops geoffroanus na Praia 1 (Morená) no Parque Indígena do Xingu na temporada reprodutiva de 2010. 52 Figura 2. Classificação do sedimento de acordo com Folk (1974). DISCUSSÃO Apesar das variações no tamanho do sedimento, na posição e altura dos ninhos em relação ao nível do rio, excluindo-se os ninhos sujeitos ao alagamento, o local da desova não apresentou grande importância para a reprodução de Podocnemis unifilis no rio Xingu e as características do meio físico não interferiram no desenvolvimento embrionário dos filhotes. As diferenças no tamanho do sedimento não foram suficientes para alterar o ambiente termal dos ninhos e influenciar o desenvolvimento embrionário. A pequena influência exercida pela fração “lama” não foi suficiente para afetar a temperatura. Desta forma, a razão sexual e o sucesso de eclosão não variaram entre os ninhos localizados em sedimentos arenosos, arenolamosos e areno-cascalhosos. 53 Esta relativa homogeneidade termal permitiu que a transferência dos ninhos não afetasse a razão sexual e o sucesso de eclosão. Em projetos de manejo que envolvem a transferência dos ninhos, estes são os principais objetivos a serem alcançados (MARCOVALDI & MARCOVALDI 1997, IBAMA 1989). Garantir que os locais de origem e de incubação dos ovos sejam semelhantes e não alterem a viabilidade de desenvolvimento, ou a razão sexual dos filhotes gerados é essencial para a manutenção das características populacionais da espécie na região (NARO-MACIEL et al. 1999, MILTON et al. 1999, GOMES & FERREIRA JÚNIOR 2011). Os resultados obtidos no presente trabalho demonstram que os locais de estudo não variam e não influenciam a reprodução de P. unifilis, o que amplia as possibilidades de manejo na região. As transferências de ninhos demonstram-se como alternativa viável de manejo dos ovos e garantem o aumento do número de eclosões por temporada reprodutiva (MARCOVALDI & MARCOVALDI 1997, IBAMA 1989), no entanto devem-se realizar as transferências do modo seguro (MARCELLINI & DAVIS 1982, MALVASIO et al. 2002) para a promoção do manejo sustentável (GOMES & FERREIRA JÚNIOR 2011). A transferência se mostrou viável e o sucesso de eclosão semelhante aos ninhos naturais indica que ela é realizada de forma adequada. A proteção, entretanto não se mostrou muito eficiente, pois cerca de 25 % dos ninhos protegidos com tela ainda foram predados, demonstrando que a proteção dos ninhos é um fator que necessita ser melhorado para ampliação das eclosões e da conservação de P. unifilis no Xingu. A distribuição dos ninhos de Podocnemis unifilis no PIX segue o padrão observado em outras áreas como nas praias arenosas do rio Javaés, no estado do Tocantins (FERREIRA JÚNIOR & CASTRO 2006, 2010). Apesar de não ocorrerem desovas regulares de P. expansa nesta parte do rio Xingu (MOREIRA et al. no prelo), P. unifilis 54 seleciona principalmente áreas baixas, nas proximidades do canal e as partes próximas à vegetação. A desova nas áreas mais baixas foi apontada como estratégia para evitar a sobreposição com P. expansa (LIMA et al. 2009), que desova mais tardiamente e poderia destruir os ninhos rasos de P. unifilis. No PIX esta possível destruição dos ninhos não é um problema e a manutenção da desova em áreas mais susceptíveis ao alagamento pode representar outra estratégia associada a uma menor exposição das fêmeas adultas à predação durante a desova (e.g.: predação por onça) (SALERA JÚNIOR et al. 2009), ou necessidades específicas voltadas às características dos ovos (PACKARD et al. 1981). O fato é que a escolha das áreas próximas ao leito do rio aumenta a predisposição ao alagamento e afogamento de filhotes e embriões durante à subida do rio (FERREIRA JÚNIOR & CASTRO 2003). Por isso o manejo de P. unifilis é indispensável para conservação da espécie nas áreas de ocorrência. Com a adesão da comunidade da aldeia Kamayurá-Morená ao projeto, a coleta de ovos e de fêmeas durante a desova cessam por completo e para P. unifilis, no PIX, a predação dos ninhos dos ninhos por canídeos e o alagamento são as principais causas de perda de ninhos. Em 2010 a utilização das telas se mostrou eficiente contra a predação. Para avaliar, entretanto, a influência da altura do ninho em relação e o risco d alagamento é necessário o monitoramento de médio prazo para que se possa avaliar a dinâmica dos períodos de cheia e vazante. O momento em que o rio inicia o alagamento das praias varia ao longo dos anos com reflexos distintos no sucesso da eclosão. Em uma mesma praia o percentual de alagamento dos ninhos varia ao longo dos anos e das espécies (FERREIRA JÚNIOR & CASTRO 2010) indicando a importância do 55 conhecimento da dinâmica fluvial no estabelecimento do manejo (GOMES & FERREIRA JÚNIOR 2011). No Parque Indígena do Xingu ninhos acima de 100 cm, independente do momento da desova completaram a incubação. Para os ninhos situados abaixo desta altura o momento da desova influenciou o risco de alagamento. Estabelecer, portanto, o momento de ascensão do nível do rio, a partir de uma série histórica, é essencial para indicar, no momento da desova, os ninhos mais susceptíveis ao alagamento e que, por isso, devem ser transferidos. É necessário quantificar a porcentagem de ninhos perdidos em outras temporadas reprodutivas e verificar quais as praias e trechos de praia mais susceptíveis ao alagamento. Assim será possível realizar o manejo específico, de acordo com a data e local da desova. Estudos aplicados possibilitariam a aplicação de estratégias de manejo sustentável junto à comunidade indígena que utiliza os ovos e filhotes como recurso alimentar em sua dieta (Pezzutti et al. 2010). Apesar de alcançarmos os objetivos propostos, mais estudos na região são necessários para efetivar os dados obtidos. Por se tratar de uma espécie de longa vida, dados de uma única temporada são insuficientes para avaliar dinâmica reprodutiva (MARCOVALDI et al. 1997, CONGDON et al. 2000, FERREIRA JÚNIOR 2009). São necessários maiores esforços de amostragem para analisar a utilização das praias ao longo os anos e, em especial, a influência da dinâmica fluvial no alagamento dos ninhos. Assim será possível definir com exatidão o status de conservação da população de P. unifilis na região do Alto Xingu, a eficiência do manejo e o possível uso sustentável pela comunidade Kamayurá-Morená. 56 AGRADECIMENTOS Ao CNPq, pela concessão da bolsa de mestrado. A Universidade Vila Velha, pela estrutura disponibilizada. A Petrobras Ambiental e a EMBRAPA/CENARGEN, pelo apoio logístico e estrutural. Ao RAN/ICMBio e ao Projeto Tarekaja’a Xingu e todos os seus agentes pelo auxílio na coleta de dados. Agradecemos à comunidade indígena Kamayurá da aldeia Morená, pelo apoio no desenvolvimento das atividades de campo. Ao Laboratório de Histopatologia da UVV. A toda equipe de pesquisa do LETA, pelo apoio e colaboração. REFERÊNCIAS BRODERICK, A.C.; B.J. GODLEY; S. REECE & J.R DOWNIE. 2000. Incubation periods and sex ratios of green turtles: highly female biased hatchling production in the eastern Mediterranean. Marine Ecology Progress Series 202: 273-281. BULL, J.J. 1980. Sex determination in reptiles. Quarterly Review of Biology 53(1): 3-20. BULL, J.J.; R.C. VOGT, R.C. & C.J. MCCOY. 1982. Sex determining temperatures in turtles: a geographic comparison. Evolution 36(2): 326-332. CONGDON, J.D.; R.D. NAGLE; O.M. KINNEY; M. OSENTOSKI; H.W. AVERY; C.R.S. 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Observamos também que o manejo realizado pelo Projeto Tarekaja’a Xingu é adequado e não gera alterações na população de P. unifilis, no entanto outras possibilidades de manejo são possíveis. Percebemos a necessidade de ampliação da observação dos ninhos sob risco de alagamento, e aumento da proteção dos ninhos, e praias, sob risco de predação. A perda desses ninhos ainda representa um grande percentual do total de filhotes que deveriam nascer em uma temporada, assim para que a proteção seja efetiva, estes pontos devem ser analisados com maior atenção e outras estratégias devem ser utilizadas, além das técnicas utilizadas atualmente. Sugerimos a ampliação do Projeto Tarekaja’a Xingu, iniciando trabalhos com indivíduos juvenis e adultos, além da caracterização genética e morfológica dos indivíduos. É importante, para um projeto de conservação, saber se existe fluxo gênico com outras populações próximas, assim é possível determinar o status e a viabilidade da população. 62 Por fim, indicamos a continuidade dos estudos realizados até o momento. Os dados obtidos no presente trabalho demonstram que estudar e caracterizar a população de P. unifilis no alto Xingu é possível, no entanto é indispensável a validação do CTE como índice da razão sexual dos filhotes, estudos de médio e longo prazo devem ser realizados para a confirmação dos dados obtidos. Todas as sugestões realizadas nesta seção foram feitas levando em conta o bem estar e a manutenção dos costumes e tradições da comunidade indígena KamauyráMorená, que centraliza o Projeto Tarekaja’a Xingu no Parque Indígena do Xingu.