Silva LD, Pazos AL A INFLUENCIA DA DOR NA QUALIDADE DE VIDA DO PACIENTE COM LESÃO CRÔNICA DE PELE Artigos de Revisão THE INFLUENCE OF PAIN IN THE QUALITY OF LIFE OF PATIENTS WITH CHRONICAL SKIN INJURY Lolita Dopico da Silva* Ana Lucia Pazos** RESUMO: Trata-se de um levantamento bibliográfico realizado na Biblioteca Regional de Medicina sobre a produção científica acerca da temática qualidade de vida e como ela é influenciada pela dor proveniente de lesão crônica de pele em pacientes portadores de úlceras venosas e de pressão. O objetivo foi analisar os artigos que se referiam à influência da dor na qualidade de vida de pacientes portadores de úlceras venosas. O levantamento se realizou em Agosto de 2004 nas bases de dados Medline 1993-2004. A metodologia estabelecida para definir os critérios de inclusão dos artigos foi: os artigos deveriam ser de pesquisa de campo; deveriam correlacionar claramente os descritores: qualidade de vida, dor, ulceras venosas e ulceras de pressão; os resultados deveriam estar detalhados. Os resultados mostram que a dor é um importante fator que afeta a qualidade de vida dos pacientes com lesões como aqui foram estudadas. Palavras chave: Enfermagem; dor; lesão de pele; qualidade de vida. ABSTRACT ABSTRACT:: This bibliographical survey, accomplished at the Regional Medicine Library – Bireme, deals with the scientific production on the influence of pain upon the quality of life of patients with chronic skin injury resulted from venous ulcers and pressure ulcers. The purpose was to analyze the articles about the influence of pain in the quality of life of patients with venous ulcers. The survey was carried out in August of 2004, and focused the Medline databases from 1993 to 2004. The criteria for selection of the articles to be analyzed were: a) the articles should be based on field research; b) they should clearly correlate the descriptors: quality of life, pain, venous ulcers and pressure ulcers; c) their results should be presented in detail. The results of the survey showed that pain is an important factor that can modify the quality of life of patients with the studied skin injuries. Keywords: Nursing; pain; skin injury; quality of life. INTRODUÇÃO O objeto deste artigo de revisão se refere à qualidade de vida e sua relação com a dor proveniente da lesão crônica de pele, em especial em pacientes portadores de úlceras venosas e de pressão. A expressão qualidade de vida tem sido utilizada com diversos enfoques: na área política como critérios de raciocínio para saber as condições de vida populacionais, mais consistentemen*** te; na literatura científica partilhada por cientistas sociais, filósofos, educadores, psicólogos, entre outros. Se por um lado a popularidade do conceito produziu no senso comum uma distorção na sua profundidade, por outro lado promoveu um movimento, ganhando magnitude e evoluindo conforme as transformações progressivas da ciência. R Enferm UERJ 2005; 13:375-81. • p.375 A dor em portadores de feridas crônicas Dessa forma, a preocupação com o conceito de qualidade de vida passa a ser vista também nas ciências humanas e biológicas, com ênfase em aspectos mais amplos que o controle de sintomas, diminuição da mortalidade e aumento de expectativa de vida1. Observa-se, no entanto, que o aumento na expectativa de vida das pessoas não é acompanhado de melhorias na qualidade de vida. As pessoas estão atingindo idades avançadas com a capacidade funcional, muitas vezes, deteriorada, principalmente pela forte relação entre a condição de vida que é determinada por fatores socioeconômicos, culturais, políticos e da própria concepção da assistência à saúde vigente no mundo e no Brasil que levanta questões relacionadas ao dilema quantidade versus qualidade de vida. A Organização Mundial de Saúde (OMS), que desempenha um papel decisivo no incentivo a estudos para a qualidade de vida, definiu a saúde, em 1948, como um completo estado de bemestar físico, mental e social e não somente ausência de enfermidade. Atualmente, na avaliação da saúde de uma pessoa, além de sua capacidade física, leva-se em conta também seu contexto social e sua saúde mental. Essa idéia ao longo do tempo evoluiu para o conceito norteador do estudo realizado pelo Grupo de Qualidade de Vida da OMS que passou a definir qualidade de vida como “a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistemas de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”2:87. Esse conceito de qualidade de vida tem orientado pesquisas através da aplicação de instrumentos, como o WHOQOL, brief que foi empregado nesta pesquisa, e já foi testado e validado no Brasil3. O mesmo grupo de estudos da OMS2 observou que, apesar de não haver definição consensual, existe razoável concordância entre os pesquisadores acerca do construto qualidade de vida, cujas características são: subjetividade, multidimensionalidade e relatividade. Essas mesmas características se aplicam ao entendimento da dor que é conceituada pela Associação Internacional de Estudos da Dor (IASP) como uma experiência sensorial, associada à lesão tecidual real ou potencial, ou descrita em termos dessa lesão4. Consensualmente, qualidade de vida e dor admitem interpretações combinadas com múltiplas variáveis biopsicossociais. Respostas individuais à dor revelam que ela não pode ser consip.376 • R Enferm UERJ 2005; 13:375-81. derada como um simples fenômeno de estímuloresposta. Mais do que isso, a sua compreensão na doença crônica deve ser sempre considerada. A dor crônica é a segunda causa de procura pela assistência médica que aliada à dor do aparelho locomotor são as mais rebeldes ao tratamento, portanto, as estratégias terapêuticas devem adaptar-se às situações dos pacientes, aos seus receios e conceitos, considerando os desapontamentos com resultados insatisfatórios anteriores. O sofrimento crônico modifica o inter-relacionamento familiar e social e favorece a instalação de depressão, ansiedade e desespero, agravando o estado geral e a qualidade de vida desses indivíduos4. O melhor conhecimento da influência da dor na qualidade de vida permitirá incorporar na avaliação integral do indivíduo critérios de direcionamento terapêutico. Conhecer e tratar a dor devem ser uma preocupação daquele que se propõe a cuidar do paciente crônico. A eliminação completa da sensação dolorosa pode não ser possível, mas o seu controle, a moderação dos efeitos associados e das incapacidades podem ser obtidos e assim interferir nos impactos psicossociais desses pacientes e na sua qualidade de vida. O estudo teve como objetivo identificar na literatura o que se encontra publicado sobre a influência da dor proveniente de lesão crônica de pele na qualidade de vida, tendo em conta as alterações funcionais e sociais dos pacientes portadores de úlceras venosas e de pressão. METODOLOGIA F oi realizado um levantamento bibliográfico na biblioteca virtual da Biblioteca Regional de Medicina (Bireme) para atender aos objetivos deste trabalho. A caracterização dos aspectos metodológicos dos artigos aqui revisados foi buscada através de seus resumos obtidos pelo levantamento on-line. Para a coleta de dados, foram utilizados os seguintes critérios: a) tempo – utilizou-se o corte temporal praticado pela Medline no formulário de pesquisa livre, selecionando-se os artigos publicados entre 1993 e agosto de 2004; b) descritores – para selecioná-los, foi acessado na home-page da Bireme o link para pesquisa em bases de dados e empregado o formulário básico para pesquisa avançada específica. Na área de seleção dos campos de busca, os descritores foram assim ordenados: na primeira linha, qualidade de vida; na se- Silva LD, Pazos AL gunda linha, dor; a terceira linha alternou descritores de lesões crônicas de pele, úlcera de perna, úlcera de decúbito, úlcera de pressão, úlcera por estase, úlcera varicosa e úlcera venosa. Para recuperar os documentos com as três palavras/expressões, ocorrendo simultaneamente nos campos, foi utilizado o operador lógico and. Os critérios de inclusão dos artigos neste estudo foram os seguintes: correlacionar os descritores anteriormente referidos; apontar resultados de pesquisa de campo; apresentar resultados com clareza; especificar a metodologia do tratamento dos dados. A busca combinada de assuntos evidenciou 31 artigos, porém, ao serem analisados, 18 não foram utilizados, pois se referiam duplamente ao mesmo conteúdo e não definiam com precisão a forma de tratamento dos dados. Os textos encontrados a partir dos descritores úlcera de decúbito e úlcera de pressão são os mesmos, assim como os obtidos em úlcera por estase, úlcera varicosa e úlcera venosa. Por não apresentarem com clareza a metodologia aplicada, foram excluídos outros cinco trabalhos. Dessa forma, somam-se oito os artigos utilizados nesta análise, que foram caracterizados segundo o ano de publicação o tipo de produção, o delineamento e a população estudada. RESULTADOS O E DISCUSSÃO s resultados da apreciação dos estudos primários serão apresentados levando-se em conta a ordem cronológica em que foram publicados. Assim, observa-se produção científica sobre as temáticas associadas, já a partir de 1993, em um estudo realizado por Lindholm do Departamento de Dermatologia, Malmo General Hospital, na Suécia5. Nesse trabalho, o autor examina a influencia da úlcera crônica de perna sobre a qualidade de vida em seis áreas da vida, a saber: dor, mobilidade, sono, energia, isolamento social e reações emocionais. Partiu da idéia de que tradicionalmente pouco interesse foi devotado ao estudo do impacto dessa doença na qualidade de vida. Para esta avaliação foi usado um questionário, o Nottingham Health Profile (NHP). Prosseguindo, foram obtidos dados de 125 pacientes com a doença que demonstrou, nos homens, o maior impacto na qualidade de vida, especialmente na área da dor, relações sociais, restrições físicas. Uma outra conclusão que este estudo apresentou é que a duração da doença não pa- receu influenciar a qualidade de vida. Os pacientes com maior tempo de lesão relataram poucos problemas ao serem comparados com aqueles com menor tempo, sugerindo mecanismos de adaptação. Conclui o estudo que maiores esforços devem ser feitos para aliviar a dor desses pacientes, salientando a importância do entendimento do problema por inteiro e não somente da úlcera5. Em 1995, na Inglaterra, o enfermeiro Walshe6, do North East Worcestershire Community Healthcare, descreveu a experiência de viver com úlcera venosa sob a perspectiva do paciente, buscando responder à seguinte pergunta: Como é viver com uma úlcera venosa? Sua proposta foi entender como as pessoas são afetadas pela doença e como podem ser dispensados cuidados mais efetivos. Utilizou o método fenomenológico com 13 sujeitos, através de entrevistas gravadas e transcritas, e analisou suas vivências e seus significados. Constatou que a dor é a pior experiência por eles vivida. Conclui que os sintomas causam restrições significativas na vida das pessoas, particularmente comprometendo a locomoção. Inferiu que, se o tratamento dispensado a eles tem como objetivo conhecer as suas necessidades, então o controle dos sintomas deve receber alta prioridade. Outro estudo qualitativo foi realizado, em 1998, por Krasner7, no Johns Hopkins University School of Nursing, em Baltimore, Estados Unidos. A proposta do estudo era descrever e explorar o significado da experiência de viver com dolorosas úlceras venosas, utilizando a Fenomenologia Hermenêutica Heidegeriana. Utilizou-se como instrumento de coleta de dados a entrevista semiestruturada em 14 sujeitos, que foram gravadas, transcritas e analisadas usando o software Martin Qualitative Analysis. O resultado apontou a dor como a implicação mais importante, distribuída nas categorias temáticas: expectativa da dor, não suportando a dor, começando a dor outra vez e aumento da dor. Krasner7 conclui seu estudo e indica o padrão instituído prosseguir apesar da dor como uma direção, com implicações importantes para a prática de enfermagem, educação e pesquisa. O mesmo autor8, ainda em 1998, publicou outro artigo, baseado na mesma pesquisa, no qual apresentou quatro dos oito temas levantados nas entrevistas com esses pacientes e que foram identificados como aqueles que mais interferem na sua qualidade de vida e provocados principalmente R Enferm UERJ 2005; 13:375-81. • p.377 A dor em portadores de feridas crônicas pela dor. São eles: sentimentos frustrados, interferência no trabalho, mudanças significativas na vida e necessidade de encontrar satisfação em outras atividades. Conclui que um aumento na sensibilidade e no entendimento do impacto nas úlceras venosas doloridas na qualidade de vida pode gerar melhores estratégias de intervenção e aumentar os seus efeitos. Nesse mesmo ano, 1998, Franks9, no Center for Research and Implementation of Clinical Pratice, Thames Valley University (Londres, Inglaterra) avaliou a correlação entre idade e sexo de pacientes com úlceras venosas de perna e o impacto na qualidade de vida expressa pela relação saúde/qualidade de vida ( HRQoL). Utilizou o Nottinghan Health Profile (NHP) em 758 pacientes afetados pela doença em uma média de 10.5 meses. Prosseguindo, Franks9 obteve os seguintes resultados: a) quanto maior a idade maior o déficit de energia e mobilidade, conduzindo ao isolamento social; b) as mulheres mais velhas experimentaram maior déficit de energia, padrões de sono, reações emocionais, mobilidade, isolamento físico e aumento da dor em relação aos homens mais velhos; c) pacientes mais novos demonstraram um déficit maior na relação saúde/qualidade de vida sobre todos os domínios do NHP; d) homens mais novos apresentaram o maior déficit nos domínios dor, sono, isolamento social e energia, do que nas mulheres mais novas. Concluiu que as úlceras de perna têm grande impacto na HRQoL e os valores combinados indicam que é em pacientes masculinos mais novos que a doença provoca um impacto maior. No ano de 2000, Mathias10, do Lewin Group, São Francisco, Estados Unidos, elaborou um estudo piloto para avaliar o impacto na relação saúde/qualidade de vida em pacientes com úlceras venosas e tratados com Apligraf, intervenção esta indicada para tratamentos compressivos em úlceras não infectadas. Durante 12 semanas foram entrevistados por telefone pacientes submetidos a esse tratamento. Um total de 14 pacientes completou o questionário. Todos os pacientes informaram melhorias na relação saúde/qualidade de vida, depois do tratamento com êxito. O maior impacto (79%) foi na melhora da dor e em outras dimensões da saúde física. Vale destacar que, apesar do pequeno tamanho da amostra e do desenho do estudo10, diferenças estatisticamente significativas foram observadas e validaram a importância do entendip.378 • R Enferm UERJ 2005; 13:375-81. mento e da mediação da dor no tratamento de pacientes com lesões crônicas de pele. Nesse mesmo ano, 2000, Pieper, Szczepaniak e Templin11, da Wayne State University, College of Nursing, Detroit, Estados Unidos, realizaram um estudo cross-sectional que examinou o ajuste psicossocial, a qualidade de vida e a dor das pessoas com úlceras venosas, com histórico de uso de drogas intravenosas. Foram coletados dados de 32 pacientes não hospitalizados, com idade média de 44, 6 anos, sendo 91% afro-americanos e 72% do sexo masculino. Foi utilizado um questionário, para avaliar esses domínios, com questões referentes à qualidade de vida, ulcera venosa, dor e ao histórico de abuso de substâncias. Dando prosseguimento, o estudo evidenciou que a área da lesão foi significativamente correlacionada com o ambiente doméstico e o desconforto psicossocial; a área da lesão foi correlacionada negativamente com a pontuação da qualidade de vida. Concluiu que uma área maior da ferida gera maiores dificuldades no ambiente doméstico, associada com o desconforto psicossocial e uma baixa qualidade de vida. A interferência da dor foi associada com um maior esforço para equilibrar os sentimentos e ações dos pacientes, suplantar as dificuldades domésticas bem como uma baixa qualidade de vida. Loftus12, do Leicester Royal Infirmary, Inglaterra, em 2001, apresentou um estudo longitudinal para investigar e comparar as mudanças na qualidade de vida dos pacientes com úlceras venosas submetidos a tratamentos curativos com bandagens e aos submetidos a tratamentos cirúrgicos. Foram selecionados 15 pacientes a partir desses dois grupos. Cada um recebeu os questionários via postal em três momentos: um no pré-tratamento, outro quando completadas 4 semanas de tratamento e outro questionário 12 semanas após o início do tratamento. Foi aplicado o questionário do Euro qol quality of life. Os dados foram analisados a partir de métodos estatísticos válidos. Continuando a descrição do estudo12, o tratamento realizado durante o período de 12 semanas resultou na melhora da qualidade de vida de ambos os grupos, não tendo sido encontradas diferenças estatísticas consideráveis entre os mesmos, na quarta ou mesmo na décima segunda semana. O grupo submetido ao tratamento com bandagens curativas apresentou índices de melhora da dor e da qualidade de vida geral sutilmente mais elevados, com p=0.001 para o grupo Silva LD, Pazos AL da cirurgia e p=0.019 para o grupo das bandagens. As conclusões apontaram que os sistemas de cuidado que oferecem rápida melhora na qualidade de vida e bem-estar dos pacientes precisam ser considerados quando do planejamento do efetivo cuidado com a úlcera. Na Inglaterra, em 2001, os enfermeiros Jones e Nelson13, da Southport and Formby Primary Care Trust, analisaram a influência das úlceras venosas na qualidade de vida das pessoas idosas. Considerando que essa doença é um problema comum na clientela e se constitui na maior causa de morbidade, discutem o uso da compressão na prevenção e tratamento das úlceras venosas, associando a dor e o desconforto dos pacientes como resultado dessas condições e dos altos custos anuais para os sistemas de saúde. Acrescentam que a boa administração dos cuidados de enfermagem e o correto uso da terapia de compressão podem elevar os índices de cicatrização e redução do tempo de trabalho da enfermagem com esses pacientes. Com relação ao ano de publicação e início de estudos que denotem preocupação com os temas relativos aos descritores, já se pode observar, no artigo publicado5 em 1993, questionamentos quanto ao pouco interesse na pesquisa do impacto das lesões crônicas de pele na qualidade de vida. Essas lesões eram tratadas, via de regra, subestimando-se os seus sintomas. A dor e o desconforto por ela causada eram considerados comuns, julgando-se que o paciente crônico deveria aprender a conviver com essas manifestações. A partir do referido estudo5, também é possível perceber a divisão das facetas no domínio físico para um melhor entendimento do fenômeno e, assim, melhor compreender alguns comportamentos. No domínio físico, os conceitos interrelacionados pela OMS são: dor e desconforto, energia e fadiga, sono e repouso, mobilidade, atividades da vida cotidiana, dependência de medicações ou de tratamentos,capacidade de trabalho. A busca de evidências relacionando dor e qualidade de vida em lesões crônicas identificou, em todos (100%) os artigos selecionados, a presença de feridas vasculogênicas. A ocorrência da dor nesse tipo de lesão é um aspecto relativamente explorado e respaldado por autores5 devido, provavelmente, aos seus índices de prevalência e incidência. Em contrapartida, os poucos trabalhos publicados sobre as úlceras por pressão não consideram prioritárias as sensações dolorosas, e sim os fatores ambientais, afetivos e de locomoção, não sendo, por isso, utilizados neste estudo. Torna-se importante que estes assuntos sejam mais explorados e discutidos, a fim de direcionar o cuidado, favorecendo a implementação de medidas terapêuticas que contribuam para uma melhor qualidade de vida. Considerando-se os estudos mencionados neste artigo, nota-se um crescente aumento de publicações no ano de 1998 (33%), dos quais 66% são estudos de natureza qualitativa, elaborados por enfermeiros que apontam uma visão ampliada da assistência, incluindo a habilidade de interpretar e analisar o mecanismo fisiopatológico da dor. Tais fatos nos levam a indagar: como os enfermeiros brasileiros, hoje, estão cuidando desses pacientes? Estão preparados para abordar a dor crônica? Estão capacitados para avaliar o contexto, critérios e atitudes no cuidar da pessoa que sente dor crônica? Com relação à associação entre os assuntos, observa-se que todos os artigos relatam a dor influenciando a qualidade de vida dos pacientes com lesões crônicas de pele, especificamente as lesões vasculogênicas. Entre os artigos levantados, 44% constatam a dor como a principal experiência ou a implicação mais importante dentro da problemática, comprometendo, assim, a qualidade de vida dessas pessoas. CONCLUSÃO A análise dos estudos referentes à associa- ção entre a dor e a qualidade de vida das pessoas com lesões crônicas de pele identificou pontos importantes em relação ao acompanhamento das patologias crônicas. A abordagem dos aspectos subjetivos dos pacientes, que era, até há pouco tempo, menos valorizada em trabalhos científicos e considerada secundária em relação aos parâmetros objetivos das doenças, tem sido mais aplicada e vem se modificando com a introdução do conceito de qualidade de vida na pesquisa e na prática assistencial. Os resultados obtidos mostram que a produção sobre o impacto da dor na qualidade de vida de pessoas com lesões crônicas de pele não é muito extensa. Os dados na literatura14 demonstram que a temática ainda é recente e segue uma tendência mundial. As condições crônicas são, atualmente, o maior problema de saúde em países desenvolvidos. Nos Estados Unidos, as lesões crônicas repreR Enferm UERJ 2005; 13:375-81. • p.379 A dor em portadores de feridas crônicas sentam um gasto de 1,33 milhões de dólares/ano15. Esses pacientes são atendidos geralmente valorizando-se o controle de sintomas sem se avaliar as suas condições de vida. Um importante aspecto a ser considerado é o atual entendimento do conceito de crônico. Entende-se por condições crônicas “todos os problemas de saúde que persistem no tempo e requerem algum grau de gerenciamento do sistema de saúde” 14:12. A presença de doenças crônicas, necessitando de um tratamento contínuo e presença de comorbidades, como a dor, constitui fator importante na determinação da qualidade de vida. Um melhor conhecimento dos mecanismos para medir a qualidade de vida permitirá incorporar estes conceitos na avaliação global das pessoas e na condução de ensaios clínicos e de estruturação dos serviços de saúde. Tratar a dor do paciente não significa simplesmente tratar a nocicepção, por encerrar conceitos distintos16. Tratar a dor implica uma abordagem humana mais ampla. Significa reabilitar o paciente globalmente, tanto em seu aspecto físico,quanto comportamental, integrando-o à sociedade e proporcionando-lhe melhor qualidade de vida16. Para atingir este objetivo, talvez o melhor caminho seja um cuidado humanizado que minimize o desconforto e que integre o paciente ao seu tratamento. REFERÊNCIAS 1. Kimura M, Ferreira K. Avaliação da qualidade de vida em indivíduos com dor. In: Chaves LD, Leão ER. Dor 5º sinal vital: reflexões e intervenções de enfermagem. Curitiba(Pr):Editora Maio; 2004. 2. Grupo de estudos em qualidade de vida.[site de internet].Disponível em World Web http: //www.ufrgs.br. Acesso em 30 ago. 2004. 3. Fleck MPA, Louzada S, Xavier M, Chachamovich E, Vieira G, Santos L et al. Aplicação da versão em português do instrumento abreviado de avaliação da qualidade de vida “WHOQOL-bref”. Rev Saúde Pública 2000; 34(2):83. 4. Teixeira MJ, Pimenta CAM, Lin TY, Figueiró JAB. Assistência ao paciente com dor. Rev Médicos p.380 • R Enferm UERJ 2005; 13:375-81. 1998;1(1):105-9. 5. Lindholm C.Quality of life in chronic leg ulcer patients. 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La encuesta se ha hecho en agosto de 2004, en las bases de datos Medline 1993-2004. La metodología para definir los criterios de inclusión de los artículos fue: ellos tendrían que ser de investigaciones de campo; tendrían que correlacionar claramente los descriptores: calidad de vida, dolor, úlceras venosas y úlceras de presión; los resultados tendrían que estar detallados. Los resultados demuestran que el dolor es un factor importante que afecta la calidad de vida de los pacientes con lesiones crónicas. Palabras Clave: Calidad de vida; dolor; lesión de piel, enfermería. Recebido em: 28.04.2005 Aprovado em: 26.09.2005 Notas Enfermeira do Ministério da Saúde. Doutora em Enfermagem;Professora Adjunta da UERJ integrante do Programa de Mestrado em Enfermagem da UERJ, Especialista em enfermagem intensivista, Coordenadora do curso de Especialização em Enfermagem Intensivista na UERJ. Rua Flordelice 505 casa 1, Condomínio Bosque dos Esquilos Jacarepaguá, CEP: 22753-800, e-mail: [email protected] ** Mestranda do Programa de Mestrado da Faculdade de Enfermagem da UERJ e enfermeira do Ministério da Saúde. Especialista em Prevenção e controle de Infecções Hospitalares; coordenadora da Comissão de Curativos do Hospital Geral de Bonsucesso (MSRJ).Aluna do Programa de Mestrado da FUERJ - R. Leopoldina Rego nº 764 – Penha – Rio de Janeiro. [email protected]. *** É um recorte do projeto de pesquisa desenvolvido no Programa de Mestrado em Enfermagem na UERJ, que se refere ao impacto da consulta de enfermagem na qualidade de vida de pacientes portadores de lesões crônicas da pele. * R Enferm UERJ 2005; 13:375-81. • p.381