ética e relações de cidadania professor/tutor: carlos

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SEMIPRESENCIAL
2013.2
MATERIAL COMPLEMENTAR I – UNIDADE I
DISCIPLINA: ÉTICA E RELAÇÕES DE CIDADANIA
PROFESSOR/TUTOR: CARLOS ALEX SANCHES
A ética é uma característica inerente a toda ação humana e, por esta razão,
é um elemento vital na produção da realidade social. Todo homem possui um
senso ético, uma espécie de "consciência moral", estando constantemente
avaliando e julgando suas ações para saber se são boas ou más, certas ou
erradas, justas ou injustas.
Existem sempre comportamentos humanos classificáveis sob a ótica do
certo e errado, do bem e do mal. Embora relacionadas com o agir individual,
essas classificações sempre têm relação com as matrizes culturais que
prevalecem em determinadas sociedades e contextos históricos.
A ética está relacionada à opção, ao desejo de realizar a vida, mantendo
com os outros relações justas e aceitáveis. Via de regra está fundamentada
nas ideias de bem e virtude, enquanto valores perseguidos por todo ser
humano e cujo alcance se traduz numa existência plena e feliz.
Em nossas relações cotidianas estamos sempre diante de problemas: devo
sempre dizer a verdade ou existem ocasiões em que posso mentir? Será que é
correto tomar tal atitude? Devo ajudar um amigo em perigo, mesmo correndo
risco de vida? Existe alguma ocasião em que seria correto atravessar um sinal
de trânsito vermelho? Os soldados que matam numa guerra podem ser
moralmente condenados por seus crimes ou estão apenas cumprindo ordens?
Essas perguntas nos colocam diante de problemas práticos, que aparecem
nas relações reais, efetivas entre indivíduos. São problemas cujas soluções, via
de regra, não envolvem apenas a pessoa que os propõe, mas também a outra
ou outras pessoas que poderão sofrer as consequências das decisões e ações,
consequências que poderão muitas vezes afetar uma comunidade inteira.
O homem é um “ser no mundo”, que só realiza sua existência no encontro
com outros homens, sendo que todas as suas ações e decisões afetam as
outras pessoas. Numa convivência, nessa coexistência, naturalmente há que
existir regras que coordenem e harmonizem essa relação. Essas regras, dentro
de um grupo qualquer, indicam os limites em relação aos quais podemos medir
as nossas possibilidades e as limitações a que devemos nos submeter. São os
códigos culturais que nos obrigam, mas ao mesmo tempo nos protegem.
Diante dos dilemas da vida, temos tendência a conduzir nossas ações de
forma quase instintiva, automática, fazendo uso de alguma "fórmula" ou
"receita" presente em nosso meio social, de normas que julgamos mais
adequadas de ser cumpridas, por terem sido aceitas intimamente e
reconhecidas como válidas e obrigatórias. Fazemos uso de normas,
praticarmos determinados atos e, muitas vezes, nos servimos de determinados
argumentos para tomar decisões, justificar nossas ações e no sentirmos dentro
da normalidade.
Tais normas têm relação com o que chamamos de valores morais. São os
meios pelos quais os valores morais de um grupo social são manifestos e
acabam adquirindo um caráter normativo e obrigatório. A palavra moral tem
sua origem no latim "mor” / “mores", que significa "costumes", no sentido do
conjunto de normas ou regras adquiridas por hábito. Note-se que a expressão:
"bons costumes" é usada como sendo sinônimo de moral ou moralidade.
A moral pode então ser entendida como o conjunto das práticas cristalizadas
pelos costumes e convenções histórico-sociais. Cada sociedade tem sido
caracterizada por seus conjuntos de normas, valores e regras. São as
prescrições e proibições do tipo "não matarás", "não roubarás", de
cumprimento obrigatório. Muitas vezes essas práticas são até mesmo
incompatíveis com os avanços e conhecimentos das ciências naturais e
sociais.
A moral tem um forte caráter social, estando apoiada na tríade cultura,
história e natureza humana. É algo adquirido como herança e preservado pela
comunidade. Quando os valores e costumes estabelecidos numa determinada
sociedade são bem aceitos, não há muita necessidade de reflexão sobre eles.
Mas, quando surgem questionamentos sobre a validade de certos costumes ou
valores consolidados pela prática, surge a necessidade de fundamentá-los
teoricamente, ou, para os que discordam deles, criticá-los.
Conceito de Ética
A ética seria então uma espécie de teoria sobre a prática moral, uma
reflexão teórica que analisa e critica os fundamentos e princípios que regem
um determinado sistema moral. O dicionário Abbagnado, entre outras
considerações nos diz que a ética é "em geral, a ciência da conduta"
(ABBAGNANO,sd,p.360) e Sanchez VASQUEZ (1995,p.12) amplia a definição
afirmando que "a ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos
homens em sociedade. Ou seja, é a ciência de uma forma especifica de
comportamento humano."
Na época da escravidão, por exemplo, as pessoas acreditavam que os
escravos eram seres inferiores por natureza (como dizia Aristóteles) ou pela
vontade divina (como diziam muitos na América colonial). Elas não se sentiam
eticamente questionadas diante da injustiça cometida contra os escravos. Isso
se deve ao fato de que o termo "injustiça" já é fruto de juízo ético de alguém
que percebe que a realidade não é o que deveria ser. A experiência existencial
de se rebelar diante de uma situação desumana ou injusta é chamada de
indignação ética.
Aristóteles (384-322 a.C.), não só organizou a ética como disciplina filosófica
mas,além disso,formulou a maior parte dos problemas que mais tarde iriam se
ocupar os filósofos morais: relação entre as normas e os bens, entre a ética
individual e a social,relações entre a vida teórica e prática, classificação das
virtudes, etc. Sua concepção ética privilegia as virtudes (justiça,caridade e
generosidade), tidas como propensas tanto a provocar um sentimento de
realização pessoal aquele que age quanto simultaneamente beneficiar a
sociedade em que vive. A ética aristotélica busca valorizar a harmonia entre a
moralidade e a natureza humana, concebendo a humanidade como parte da
ordem natural do mundo, sendo, portanto uma ética conhecida como
naturalista.
Segundo Aristóteles, toda a atividade humana, em qualquer campo, tende a
um fim que é, por sua vez um bem: o Bem Supremo ou Sumo Bem, que seria
resultado do exercício perfeito da razão, função própria do homem. Assim
sendo, o homem virtuoso é aquele capaz de deliberar e escolher o que é mais
adequado para si e para os outros.
SENSO COMUM E BOM SENSO
É o conhecimento que nos é passado pelos nossos ancestrais e com o
passar de nossas vidas vamos acrescentado as nossas experiências nesse
conhecimento. A partir daí temos algumas ideias que nos permitem interpretar
a realidade, bem como temos um conjunto de valores que vai nos orientar de
como vamos avaliar, julgar e agir em determinadas situações. Esse
conhecimento encontra-se misturado com crenças e preconceitos, ou seja, ele
é ingênuo, fragmentário e conservador.
Segundo o filósofo Gramsci, o bom senso é “o núcleo sadio do senso
comum” (ARANHA, 1993, p. 35).
Qualquer homem, se não foi ferido em sua liberdade e dignidade, será
capaz de autoconsciência, de elaborar criticamente o próprio pensamento e de
analisar adequadamente a situação em que vive. É nesse estágio que o bom
senso se aproxima da filosofia, da filosofia de vida.
Um conhecimento adquirido sem nenhuma base crítica e coerente
podemos denominar se senso comum. O senso comum é um conjunto de
crenças aceitas como verdadeiras em determinado meio social, mas cujos
membros acreditam que tais supostas verdades são compartilhadas por todas
as pessoas. (VIEIRA 2008).
MANGA COM LEITE MATA, ASSIM DIZ O DITADO
POPULAR
No senso comum, os elementos que compõe os conhecimentos surgem
emaranhados, sem que se reconheçam exatamente suas origens. Assim
aparecem no cotidiano como verdades consagradas e definitivas que devem
orientar a vida prática das pessoas:
NINGUÉM DEVE BEBER MANGA COM LEITE SE QUISER CONTINUAR
VIVO!
Segundo VIEIRA 2008, conhecimentos provisórios e parciais são
transformados, pelo senso comum, em “verdades” absolutas, sobre as quais
não há o que questionar.
Usualmente, o senso comum vê a realidade a partir de tendências
ditadas por políticas, publicitários, atores ou jogadores de futebol, por exemplo.
Essas supostas verdades, como “o importante é se dar bem” ou “siga apenas o
seu coração” seguem a moda de um determinado momento e são, na maior
parte das vezes, apenas mentiras sobre as quais a maioria concorda.
Os conhecimentos do senso comum se revelam generalizadores e
cheios de subjetividade e até preconceito, como por exemplo, em provérbios
“Deus ajuda a quem cedo madruga”, que poderia sugerir que os pobres são
preguiçosos ou que não foram ajudados por Deus e que todos os ricos são
trabalhadores e devotos. Embora a preguiça possa até resultar em pobreza, há
muitas outras causas que explicariam as diferenças sociais. Muitas das vezes o
senso comum deixa de ver a realidade como um todo, exagerando o valor de
alguns aspectos dessa realidade em detrimento de outros.
Embora nem sempre o senso comum seja mentiroso, não é dele que se
trata a filosofia. Na verdade, a origem do filosofar surge, exatamente, do desejo
de superar, questionando o senso comum.
QUEM DESEJA TORNAR-SE SÁBIO?
“A questão é que nenhum deus persegue a sabedoria ou deseja tornarse sábio, pois já o é, e ninguém mais que seja sábio persegue a sabedoria ou
deseja ser sábio; nisso, aliás, a ignorância é confrangedora: estar satisfeita
consigo mesma sem ser uma pessoa esclarecida nem inteligente. O homem
que não se sente deficiente não deseja aquilo de que não sente deficiência”
PLATÃO, O banquete, In: MARCONDES, Danilo. Textos básicos de filosofia:
dos pré-socráticos ao Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
Platão (428 – 348 aC.) foi o grande filósofo do período grego da filosofia. Por
meio de diálogos ele desenvolve uma profunda reflexão sobre alguns dos
principais temas da filosofia.
Para compreendermos melhor a procura da sabedoria pelos filósofos,
vejamos, a seguir, outro exemplo.
Já faz parte do nosso folclore, este tão famoso refrão de música:
Eu não sou cachorro, não
Pra viver tão humilhado
Eu não sou cachorro, não
Para ser tão desprezado
Waldick Soriano. Eu não sou cachorro não.
Essa música pode fazer-nos pensar muitas coisas. Desde “Puxa! Que
bobagem ele se sentir desprezado como um cachorro! Isso já era!” até “É
verdade que seres humanos e animais somos bem diferentes, mas em que
realmente somos diferentes?”. Encontrar uma resposta satisfatória a essa
pergunta obriga-nos a sair do senso comum. É quando começamos a filosofar.
REFERÊNCIAS
ÉTICA. Disponível em:
<http://passenaufrgs.com.br/redacao/materiais/etica.php.>. Acesso em: 02 set.
2013.
LOPES, Carlos Alex Sanches. Apostila de Filosofia e Sociologia para o Ensino
Médio. Rio de Janeiro, Simonsen, 2010.
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