emissões otoacústicas

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CEFAC
CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA
AUDIOLOGIA CLÍNICA
EMISSÕES OTOACÚSTICAS E A DETECÇÃO
PRECOCE DA DEFICIÊNCIA AUDITIVA
EM RECÉM-NASCIDOS
Monografia de conclusão do curso de
Especialização em Audiologia Clínica
Orientadora: Mirian Goldenberg
ALESSANDRA JÁCOMO LOYOLA
GOIÂNIA
1999
CEFAC (16)
CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA (12)
AUDIOLOGIA CLÍNICA (14)
EMISSÕES OTOACÚSTICAS E A DETECÇÃO (18)
PRECOCE DA DEFICIÊNCIA AUDITIVA
EM RECÉM-NASCIDOS
ALESSANDRA JÁCOMO LOYOLA (14)
GOIÂNIA (14)
1999 (14)
2
marido
Dedico essa pesquisa ao meu
e ao meu filho pela compreensão da
ausência e pelo estímulo
constante.
3
RESUMO
A incidência da surdez em bebês é maior que outras doenças que já são
avaliadas na maternidade. Estatísticas indicam que em cada 1000 recém-nascidos, 2
a 6 apresentam algum tipo de perda auditiva. Esta incidência é alta quando
comparada com outros teste de Triagem Neonatal. Qualquer recém-nascido pode
apresentar um problema auditivo ao nascimento ou adquirí-lo nos primeiros anos de
vida. Isso pode ocorrer mesmo quando não haja caso de surdez na família ou fatores
de risco de parentes. O diagnóstico após os seis meses de idade, poderá acarretar
alterações inaceitáveis ao desenvolvimento global da criança.
A avaliação das Emissões Otoacústicas é executada pelo fonoaudiólogo e
pode ser realizada no próprio berçário em sono natural ou em clínica especializada.
É o mais recente método para detecção de perdas auditivas em neonatos. É um tipo
de intervenção não invasiva, rápida e de fácil aplicabilidade.
Emissões Otoacústicas são sons provenientes da cóclea - órgão sensorial
responsável pela audição - após a apresentação de um estímulo sonoro. O método
não tem o objetivo de quantificar a deficiência auditiva, porém detecta a sua
ocorrência, visto que as Emissões Otoacústicas estão presente em todas as orelhas
funcionalmente normais. Elas deixam de ser observadas quando os limiares
auditivos se encontram acima de 30dBNA, ou seja, quando existir qualquer alteração
auditiva.
4
SUMMARY
The incidence of the deafness in babies is greater that other illnesses that
alread are evaluated in the maternity. Statisticians indicate that in each 1000 justbeen born, 2 the 6 present some type of auditory loss. This incidence high when is
compared with other test of Neonatal Selection. Any
just-born can present na auditory problem to the
birth or acquire it in the first years of life. This can
occur exactly when it does not have case of
deafness in the family or factors of risk of relatives.
The diagnosis after the six months of age, will be
able to cause unacceptable alterations to the global
development of the child. The evaluation of
the Otoacústicas Emissions is executed by the fonoaudiólogo and can be carried
through in the proper nursery in natural sleep or specialized clinic. It is the most
recent method for detention of auditory losses in neonatos. It is a type of not invasive,
fast intervention and of easy applicability. Otoacústicas emissions are sounds
proceeding from the cóclea - responsible sensorial agency for the hearing.
5
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................1
A AUDIÇÃO E O DESENVOLVIMENTO DA
LINGUAGEM.........................................................................................4
PERÍODOS CRÍTICOS..........................................................................8
ANATOMOFISIOLOGIA DA AUDIÇÃO..............................................11
EMISSÕES OTOACÚSTICAS DOS PRODUTOS DE
DISTORÇÃO........................................................................................15
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................19
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS..............................................................................20
ANEXOS
6
INTRODUÇÃO
A incidência de deficiência auditiva em neonatos, aparentemente normais, é
avaliada em 1:1000, mas cresce drasticamente para 1:50 em recém-nascidos de alto
risco. O diagnóstico precoce da deficiência auditiva em crianças é preferencialmente
realizada nos primeiros 6 meses de vida, visto que essa deficiência poderá acarretar
alterações no processo de aquisição de linguagem e das habilidades cognitivas. Até
1993, a Audiometria de Respostas Elétricas do Tronco Cerebral (BERA) vinha sendo
utilizada como triagem auditiva para recém-nascidos. Porém como a maioria das
perdas auditivas congênitas e perinatais são de origem coclear, em anos recentes, o
estudo das
emissões otoacústicas vem sendo usado como o exame de escolha para triagem
auditiva em recém-natos, já que este exame avalia especificamente a audição
coclear. .
O exame das Emissões Otoacústica trata-se de um método objetivo,
relativamente simples, rápido, não invasivo, o qual dispensa o uso de eletrodos.
Pode ser realizado em qualquer faixa etária, ressaltando–se sua aplicação em
recém-nascidos. Geralmente é feito com o bebê em sono pós–prandial, não exigindo
sedação como o BERA. A avaliação das Emissões Otoacústicas é executada por
fonoaudiólogo e está entrando na rotina de audiologia clínica.
As Emissões Otoacústicas foram primeiramente observadas pelo inglês David
Kemp, em 1978, o qual as definiu como liberação de energia sonora originada da
cóclea , que se propaga pela orelha média, até alcançar o conduto auditivo externo.
O registro das ondas sonoras é captada através de uma pequena sonda introduzida
no meato acústico externo. Ele pode demonstrar que as Emissões Otoacústicas
estão presentes em todos ouvidos funcionalmente normais e que deixam de ser
detectadas quando os limiares tonais estiverem acima de 20 –30 dB.
O seu recente descobrimento contribuiu substancialmente para a formação de
novo conceito sobre a função da cóclea, mostrando que esta não é só capaz de
receber sons, mas também de produzir energia acústica (Prost, 1990). Este
fenômeno está relacionado ao processo de micromecânica coclear, além do fato de
que as Emissões Otoacústicas, ao serem geradas na cóclea, sugere que nesta
encontre-se um componente mecanicamente ativo, acoplado à membrana basilar
através do qual ocorre o processo reverso de transdução de energia sonora (Lim,
1986). Esta propriedade vem sendo recentemente atribuída às células ciliadas
externas (Plinkirt, 1991), e é controlada através das vias auditivas eferentes.
Brownel, em 1984, demonstrou “in vitro” que as células ciliadas externas possuem no
seu citoplasma proteínas contráteis. Essas células são pouco adaptadas à função
sensorial, pois a inervação aferente é pouco abundante, sem mielina. Por outro lado,
sua inervação aferente poderia modular, através do sistema nervoso central, o
sistema de proteínas contráteis, do seu citoplasma, colocados em evidência (Flock e
col, 1982).
Esses fenômenos gerados pela atividade das células ciliadas externas são
chamados de fenômenos ativos endococleares. Já as células ciliadas internas
realizavam a transdução da energia acústica em fenômenos bioelétricos. Essas
células seriam transdutores passivos, isto é, elementos que transduzem informações
mecânicas que lhe são transmitidas pelas estruturas cocleares. Assim, as células
ciliadas internas não poderiam ser a base das otoemissões (Bonfils, 1987). A função
auditiva normal depende de mecanismos cocleares ativos e passivos.
As Emissões Otoacústicas podem ser classificadas em duas categorias (Prost
et al.,1991): Espontâneas e Evocadas.
7
Emissões Otoacústicas Espontâneas foram descritas inicialmente por
Kemp, em 1979, como sinais acústicos de banda estreita que podem ser
mensurados na ausência de estímulo sonoro deliberado. Por não necessitarem de
estimulação sonora, uma sonda contendo apenas um microfone é suficiente para
captá-las. O microfone deve ter alta sensibilidade, e haver baixo ruído de fundo, para
salientar as pressões sonoras de pequena amplitude das Emissões Otoacústicas
Espontâneas, que geralmente não excede 20 dB NPS. Ela ocorre em 50% das
orelhas normais com incidência aproximadamente 10% maior em crianças, sendo
mais freqüentes em indivíduos do sexo feminino. Ocorrem menos em indivíduos
com mais de 50 anos. Tem pouca utilidade clínica, mas podem ter muitas
implicações em pesquisas.
Emissões Otoacústicas Evocadas ocorrem em 100% das orelhas normais e
são subdivididas em três tipos, de acordo com a natureza do estímulo utilizado:
1.TRANSIENTES: em resposta a sinais acústicos de curta duração, “clicks”,
“tone burst”. Têm sido sugerido que elas podem ser particularmente úteis na
detecção de desordens cocleares; na clínica, porém este método não quantifica a
deficiência auditiva.
2.ESTÍMULO – FREQUÊNCIA: são produzidas por tons puros contínuos e
mostram características semelhantes aquelas emissões transientes. Contudo, em
decorrência de seu registro oferecer muitas dificuldades técnicas e o tempo de
exame ser maior, elas não tem sido incorporadas aos testes de uso clínico.
3.PRODUTO DE DISTORÇÃO: são evocadas por dois tons puros de
diferentes freqüências (f1 e f2), apresentados simultâneamentes. Eles apresentam a
resposta não linear da orelha interna aos estímulos tonais e consiste de novas
freqüências diferentes daquelas inicialmente apresentadas, são os produtos
distorcidos. Através dos produtos de distorção, podemos avaliar a atividade da
cóclea em freqüências específicas, o que nos proporciona mais ampla aplicação
clínica quando comparado com as emissões transientes que por utilizarem um ruído
desencadeante de banda larga, avalia a cóclea de forma global. Produtos de
Distorção são importantes, uma vez que analisam as freqüências sonoras em faixa
que vão de 500Hz a 8000Hz.
Uma das importâncias das Emissões Otoacústicas é a possibilidade de
estudar os aspectos mecânicos da função coclear de forma não invasiva e objetiva, e
que independe do potencial de ação neural. Desta maneira, informações objetivas
podem ser obtidas, clinicamente, sobre os elementos pré-neurais da cóclea. Os
demais métodos objetivos, não permitam medir diretamente as respostas destes
elementos (Probst, 1990).
Essa pesquisa tem o objetivo de aumentar a consciência coletiva para o
problema da surdez na infância e salientar a necessidade da detecção precoce
através da avaliação das Emissões Otoacústicas dos Produtos de Distorção em
recém-nascidos. Com isso, facilitar a aquisição e desenvolvimento das habilidades
de comunicação dessas crianças e minimizar a influência que esta deficiência
sensorial terá em seu desenvolvimento global. Diante disso, vemos a necessidade
desse exame fazer parte da triagem universal de recém-nascidos.
Esse trabalho tem como metodologia a revisão bibliográfica.
A AUDIÇÃO E O DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
A surdez é uma deficiência não visível fisicamente e se limita a atingir uma
pequena parte da anatomia do indivíduo. Suas conseqüências, no entanto, são
extraordinárias no que diz respeito ao desenvolvimento emocional, social e
educacional do surdo (Fine, 1977), isto porque a privação de um dos sentidos devido
à existência de uma inter-relação funcional, tem como conseqüência uma
interferência direta no mecanismo perceptual. Automaticamente, há uma alteração
8
dos padrões de adaptação e de conduta do ser humano. Falta ao surdo a
capacidade de situar através do som um objeto no espaço, como também, as
indicações alertadoras e os avisos do nosso ambiente físico. Falta–lhe, sobretudo,
a facilidade de aquisição da linguagem a fim de que possa se servir dela, desde a
mais tenra idade para participar efetivamente do ambiente, expressar com facilidade
suas necessidades básicas e utilizá-las como instrumento mental, emocional e de
integração social.
Por muito tempo a psicologia não considerou a linguagem como fator
participante da formação dos processos mentais da criança. Vigotsky, por volta de
1934, diz ter a linguagem um papel decisivo na formação dos processos mentais e,
para prová-lo, empreendeu uma série de experiências que visaram testar a formação
da atenção ativa, processos de desenvolvimento da memória ( por meio da aquisição
da linguagem, a memorização passa a ser ativa e voluntária) e outros processos
mentais superiores. Outros estudiosos mostraram que a participação da fala na
elaboração de novas conexões mentais é essencial, e pode alterar-se no caso de
lesões cerebrais que provoquem um desenvolvimento anormal. Nestes casos, os
processos de atividade nervosa superior e a fala são imperfeitos e, chegando a ser
impossível a participação da linguagem na formação de novas conexões, estas se
elaboram sem a necessária participação da função abstrativa e generalizadora da
palavra. Ou seja, ao nomear os objetos e definir assim suas conexões e relações, o
adulto cria novas formas de reflexão da realidade na criança, incomparavelmente
mais profunda e complexas que as que esta poderia formar mediante sua
experiência individual. Todo este processo da transmissão do saber e a formação de
conceitos, que é o modo básico em que o adulto influi na criança, constitui o
processo central do desenvolvimento intelectual infantil.
A criança ao ficar excluída da comunicação verbal por sua deficiência auditiva,
deixa de possuir todas estas formas de reflexão da realidade que se produzem
graças à linguagem verbal. O surdo a quem não se ensinou a falar indica objetos ou
ações com um gesto e é incapaz de abstrair a qualidade ou a ação do próprio objeto,
incapaz de formar conceitos abstratos, de sistematizar os fenômenos do mundo
exterior com ajuda de sinais abstratos proporcionados pela linguagem e que não são
normais à experiência visual adquirida praticamente.
Segundo Myklebust (1964), precisar lutar para adquirir a linguagem própria de
sua cultura, desde a primeira infância, é , provavelmente, uma das tarefas mais
árduas do surdo, e é bastante possível que essa incapacidade de se comunicar do
mesmo modo que as demais pessoas, atue de modo significativo na
desenvolvimento da personalidade. Na fase decisiva da formação psíquica, ou seja,
do ativamento das estruturas inatas genético-constitucionais da personalidade
(primeiros anos de vida), a falta do intercâmbio auditivo-verbal, principalmente com a
mãe, traz ao D. A. prejuízos no desenvolvimento da personalidade. Com uma visão
mais ampla, pode-se dizer que a audição desempenha papel significativo na
evolução integral dos sentimentos de identificação.
A experiência pré-verbal da criança é de suma importância para o futuro
equilíbrio emocional. Assim, o isolamento, a carência de estímulos e a falta de
interação entre a criança e seus pais podem ter efeitos desintegradores na marcha
evolutiva emocional da criança.
O isolamento pela falta de audição deve ser colocado, também, como um dos
principais problemas de integração do surdo em termos emocionais, influindo,
portanto, em sua personalidade. Esse isolamento é causado não só pela falta do
domínio de um dos principais meios de comunicação que é a língua usada pelo
contexto em que vive o surdo, mas porque o sentido auditivo proporciona uma série
de informações referentes ao ambiente que o cerca. Estudos mostram que um dos
critérios fundamentais para se manter a estabilidade emocional é a capacidade de
comparar os próprios pensamentos e sentimentos com os das pessoas que fazem
parte do próprio meio social. Este tipo de comportamento tem como finalidade
manter um domínio firme da realidade. E para que este processo se realize em sua
totalidade, torna-se imprescindível a presença da audição e da linguagem.
O significado social da surdez está intimamente ligado a ausência da
linguagem comum e ao meio cultural em que vive o D. A. . Em decorrência da
limitação imposta pela dificuldade de comunicação através da linguagem, é menor no
surdo a tendência a agrupar-se no período da pré-adolescência, embora,
posteriormente, tende a fazê-lo. Prefere, no entanto, companheiros que apresente a
mesma deficiência. Neste sentido, distingui-se dois aspectos fundamentais da
reeducação do surdo: recuperação
( deficiente auditivo consegue uma
compensação das funções prejudicadas sem conseguir o desenvolvimento de um
9
processo de reintegração social), e reabilitação ( o surdo alcança o estado de
convivência e automanutenção no meio social dos ouvintes).
Sob todos os aspectos, a educação não será completa se o deficiente auditivo
isolar-se da sociedade que o cerca. A adaptação de uma pessoa ao seu meio social
depende diretamente de compreensão e aceitação mais ou menos críticos do
mesmo. É essencialmente através da linguagem que se amplia os círculos sociais,
da família à escola, ao grupo vicinal, esportivo, religioso, profissional e político e é
pela linguagem que o processo socializante vai exercendo sua influência contínua
por toda a existência do indivíduo, pronto a alterar seu comportamento social à
medida que toma consciência dos fatos e ocorrências que o cercam.
A linguagem envolve um processo altamente complexo, uma vez que está
diretamente relacionada à elaboração e simbolização do pensamento humano. É a
faculdade humana e abstrata de representação de conteúdos. É por seu intermédio
que o homem pode estabelecer contatos com seus semelhantes, desenvolvendo a
habilidade de compartilhar suas experiências, pensamentos, idéias, desejos, na
busca de novos conhecimentos, ou seja, comunicar-se com outrem.
A comunicação, além de satisfazer uma necessidade básica do ser humano,
isto é, o saber, é um dos mais penetrantes, complexos e importantes aglomerados
de seu comportamento social. Nossas vidas cotidianas são afetadas seriamente
pelas nossas comunicações com os outros.
A capacidade de aquisição da linguagem é uniforme e específica da raça
humana. A língua e seu funcionamento é complexa, abrangendo princípios ou
sistemas de organização altamente abstratos. Mesmo assim, nos primeiros anos de
vida, uma criança é capaz de dominar um sistema lingüístico idêntico àquele
empregado pelas pessoas que a cercam.
Entretanto , o desenvolvimento da
linguagem processa-se em seqüências inter-relacionadas.
A primeira etapa constitui a fase de recepção de estímulos sensoriais,
principalmente, auditivos, visuais e cinestésicos, sob o comando do Sistema Nervoso
Central. A audição tem um papel preponderante e decisivo para que a linguagem
falada se desenvolva. É pela integridade das vias auditivas que podemos localizar a
fonte sonora, possuir habilidade de distinguir e reconhecer o significado dos sons,
juntamente com sua capacidade de produzir e simbolizar variedade deles através da
fala. Assim, desenvolver um sistema de comunicação estruturado e único da
espécie humana, a linguagem falada.
A aquisição da linguagem pela audição “é uma função que depende do tempo
e está relacionada a períodos de maturação precoce, que são denominados períodos
críticos para o desenvolvimento de funções biológicas, as quais são responsáveis
pela aquisição da linguagem em tempo certo ” , segundo Lenneberg, citado por
Russo e Santos (1994). Um bebê que não recebe estimulação de linguagem
adequada durante os 2 ou 3 primeiros anos de vida nunca terá seu potencial de
linguagem completamente desenvolvido, não importa a razão de sua privação. Em
vista da necessidade de se ouvir bem é que se torna premente atacar os problemas
auditivos das crianças com toda a habilidade e possibilidades de que somos
capazes.
A segunda fase do desenvolvimento constitui na maturação precoce do
sistema receptivo estabelecendo a prontidão para a maturação do sistema
expressivo no devido tempo. O sistema receptivo desenvolve a capacidade de
compreender, decodificar, associar a linguagem falada, ou seja, a interpretação dos
sons lingüísticos que a criança ouve em seu ambiente. A interpretação depende da
integridade dos centros de associação do Sistema Nervoso Central para possibilitar o
funcionamento de processos complexos como : memória, não somente de símbolos
verbais, mas de pessoas; objetos; eventos; atividades e conceitos intelectuais que
eles representam; organização têmporo-espacial; análise-síntese; figura-fundo;
motivação, além de experiências emocionais.
A terceira fase do desenvolvimento da linguagem constitui na capacidade de
produzir os sons da fala, isto é, a emissão. Essa etapa envolve uma atividade motora
que é comandada pelo Sistema Nervoso Central. È a habilidade fonoarticulatória
necessária à produção dos sons da fala. Ao exteriorizar seu pensamento por meio da
linguagem verbal, o homem precisa desejar fazê-lo e ter a capacidade para isso, pois
este ato engloba uma seqüência de eventos que inclui separar a idéia principal;
colocá-la em simbologia verbal adequada, em forma gramatical e cadência vocal
apropriadas; mentalizar a imagem cinestésica e acionar adequadamente os órgãos
fonoarticulatórios (OFA), a fim de produzir os sons de fala desejados.
O choro da criança , organicamente determinado nos três primeiros meses de
vida, dá lugar a vocalização que por volta dos seis meses, transforma-se na fase do
balbucio. Segundo, Menyuk (1975), “ o uso de sons pela criança de modo repetitivo
10
indica a época em que o sistema de feedback está efetivo “. Por feedback acústico
articulatório entende-se a monitorização que o ouvido exerce sobre as produções
articulatórias do indivíduo.
Durante a fase do balbucio muitos sons são acrescentados e ocorrem além da
seqüência consoante-vogal, várias combinações complexas. Neste estágio o bebê
produz todos os sons que forma a base fonética das línguas. Por volta de nove
meses a um ano de vida a criança começa a usar as primeiras palavras.
As etapas do desenvolvimento da linguagem são inter-relacionados, diante
disso, podemos depreender que o material da linguagem falada consiste num longo
período de recepção dos símbolos auditivos da linguagem, o qual é pré- requisito
para a posterior emissão desta. Assim, é evidente que a concepção do mundo de
quem está privado da audição, desde o nascimento ou a partir de tenra idade, não
poderá ser a mesma de um ouvinte normal, visto serem muitos os processos que
dependem do sentido auditivo em termos de aprendizagem e constatações do
universo das pessoas e das coisas que o cercam. Muito embora comumente esteja
cercado de educação especial adequada, paciência, maturidade, perseverança,
muita atenção dos educadores e familiares, o surdo está substancialmente privado
de entender e participar de uma grande parte das circunstâncias e incidentes
cotidianos. Esta possibilidade da falta de experiência integradas aos fatos do dia-adia fatalmente poderá influir em seus sentimentos e atitudes.
PERÍODOS CRÍTICOS
Quando é necessário para uma criança, destituída da audição, receber
entrada de linguagem? A resposta está baseada em períodos críticos para o
desenvolvimento da linguagem de várias funções.
A teoria dos períodos críticos estabelece que há certos períodos, no
desenvolvimento do organismo, são programados para receber e utilizar tipos
particulares de estímulo, e que posteriormente, o estímulo terá potência
gradualmente diminuída em afetar o desenvolvimento do organismo, na função
representada. No caso da audição, significa que em um certo estágio de
desenvolvimento, os sinais auditivos serão recebidos e utilizados por atividades prélingüísticas importantes, mas uma vez que esse estágio tenha passado, a utilização
efetiva desses sinais gradualmente decresce (Northern e Downs, 1989). Uma teoria
análoga para o desenvolvimento da linguagem, sustenta que a entrada da linguagem
deve ser experimentada num determinado estágio, ou ela se torna decrescentemente
efetiva para utilização em habilidades emergentes de linguagem.
Lenneberg (1967) diz que a puberdade coloca o último marco importante para a
aquisição da linguagem. Com relação aos efeitos da privação precoce, ele menciona
a diferença entre a criança congenitamente surda e aquelas que adquire a surdez
através de meningite, após uma livre exposição à linguagem. Ele afirma que aquelas
que perdem a audição após terem sido expostas à experiência de fala, podem ser
treinadas muito mais facilmente em todas as artes de linguagem, mesmo que o
treinamento formal comece alguns anos depois delas terem ficado surdas. Conforme
Lenneberg (1967), “parece como se mesmo uma curta exposição à linguagem, um
breve momento durante o qual a cortina tivesse sido suspensa e estabelecida a
comunicação oral, fosse suficiente para dar à crianças algum alicerce no qual mais
linguagem posterior pode ser baseada. “ A maturidade cerebral e o término de um
estado de plasticidade organizacional são fatores limitantes do período crítico.
Templin , citado por Northern e Downs (1986), compara em um estudo as
habilidades da linguagem das crianças deficientes auditivas com as habilidades de
grupos de crianças normais. Em algumas áreas de linguagem, os deficientes
auditivos não mostraram melhora sistemática em seu desempenho depois dos 11
anos. Neste ponto, tais habilidades como o significados das palavras, a construção
da sentença e analogias, atingiram um platô e permaneceram lá sem discernimentos
ou melhoras. O indivíduo auditivo normal continua a alcançar o nível de linguagem
até os 14 anos, que foi o limite mais elevado do estudo. Deve ser enfatizado que não
havia diferença substancial nas habilidades intelectuais entre os grupos, e que o
11
deficiente auditivo havia tido treinamento intensivo de linguagem em suas escolas.
Sua taxa de aprendizagem até 11 anos era comparável com a do grupo de ouvintes
normais. Porém, um déficit irreversível de linguagem apareceu nesse nível de idade
e impediu um desenvolvimento mais adiantado. A complexidade das formas de
linguagem e símbolos da linguagem abstrata sofre um grande salto próximo a essa
idade e deixa um deficiente auditivo sem auxílio, atrás de si. A culpa pode ser
atribuída somente à privação precoce da linguagem, cobrindo muitos períodos
críticos para a aprendizagem.
Segundo Edwards (1968), nos primeiros anos de vida, ocorre a construção
do discernimento e resposta da linguagem, isso devido a
um mecanismo
neurológico subjacente para a aprendizagem de linguagem, presente em cada
organismo humano normal. “Experiência, a experiência correta, é essencial.” A
hereditariedade e o meio ambiente interagem. As possibilidades hereditárias são
configuradas pela influência que somente a raça humana pode fornecer; são
potencialidades que podem ser desenvolvidas enquanto o organismo neurológico
jovem está ainda crescendo rapidamente, maleavelmente, aberto ao estímulos. A
experiência certa deve vir no tempo certo, ou o potencial deve permanecer para
sempre não realizado.
Embora seja difícil tomar como alvo a idade exata na qual é fundamental o
fornecimento de estimulação de linguagem para bebês, Dennis (1973) realizou
estudos com crianças e descobriu que há um período próximo ao segundo
aniversário que é o período crítico para a recuperação completa dos efeitos de
privação experimental.
Considerando do ponto de vista fisiológico, o sistema auditivo do bebê é
plástico, isto é, pode ser modificado não apenas por alteração anatômica mas
também por variações nos estímulos acústicos. A ausência dos estímulos sonoros
resultará em desvio da função auditiva. Os sistemas auditivos periféricos e centrais
controlam-se mutuamente, segundo Rubens e Rapin, citado por Northren e Downs (
1986). Na medida em que o ouvido interno amadurece suas entradas é necessário o
desenvolvimento de pelo menos parte do sistema nervoso auditivo. Próximo ao
período em que o sistema auditivo periférico está completamente desenvolvido, sua
entrada parece ser necessária para maturação e inervações de porções do sistema
auditivo central. Portanto, os sons ambientais têm o maior efeito na configuração da
habilidade auditiva desde o tempo em que o ouvido interno e o oitavo nervo craniano
pela primeira vez tornam-se funcionais quando a maturação do SNC é alcançada. O
tempo para a ação é precoce no primeiro ano de vida.
Furth, citado por Katz (1989), realizou pesquisa comparando as pessoas
surdas com as de audição normal em medidas gerais quantitativa e qualitativa de
capacidade cognitiva. Entretanto, os indivíduos estudados demonstraram algumas
dificuldades em certos testes quando comparado com a população normal. Furth diz
que a maioria das dificuldades atribuídas a determinadas deficiências lingüísticas e
experimentais, ou seja, um grupo de pessoas que são tipicamente privadas de certos
tipos de experiências, estão privadas de certas capacidades cognitivas que são
aprendidas através destas experiências, então, são passíveis de prevenção ou
correção com educação adequada.
A perda auditiva têm grandes efeitos sobre um indivíduo. Esses efeitos são
especialmente debilitantes para uma criança pré-lingüísticamente surda, ou seja,
perda auditiva antes do desenvolvimento da linguagem, e incluem deficiências na
área da linguagem oral em algumas das funções cognitivas e na adaptação social e
emocional. A comunicação e as repercussões profissionais são extensas mesmo
para aqueles indivíduos com perda de grau abaixo de severo ou com surdez que
ocorre na idade adulta.
Apesar destas dificuldades, a maioria das pessoas com deficiência auditiva
pode trazer valiosas contribuições à sociedade. Os principais problemas
experimentados pelas pessoas com perda auditiva continuam sendo a falta de
serviços de intervenção, isto é, programas educacionais adequados, assim como a
falta de sensibilidade e de aceitação pela sociedade em geral.
Crianças com deficiência auditiva representam um desafio formidáve l para o
audiologista. Raramente completamos um teste diagnóstico em uma criança,
aconselhamos os pais, respondemos às perguntas de um professor de sala de aula,
ou concluímos uma sessão de terapia, sem nos dar conta do impacto que tem a
deficiência auditiva sobre todos os aspectos da vida de uma criança. Quando
trabalhamos com uma criança deficiente auditiva tanto no diagnóstico quanto na
habilitação, em pouco tempo obtemos uma estimativa da influência que tem a
deficiência auditiva, não apenas sobre a função comunicativa mas também sobre seu
desenvolvimento global, social, emocional, educacional e vocacional.
12
ANATOMOFISIOLOGIA DA AUDIÇÃO
O estudo da anatomia e fisiologia dos elementos é de suma importância para
entender qualquer doença, por mais simples que seja. Será apresentado a
anatomofisiologia da audição com a maior simplicidade possível, procurando dar
interpretação clínica aos pontos mais importantes.
O aparelho auditivo divide-se em três partes:
Orelha externa, orelha média e orelha interna.
A orelha externa compreende o pavilhão auricular
e o meato acústico externo.
O pavilhão auricular e o meato acústico externo têm como função proteger a
membrana timpânica contra danos mecânicos e promover a captação e o
encaminhamento da onda sonora para a orelha média. Além disso, a presença da
cabeça no campo sonoro tem, junto aos elementos estruturais da orelha externa
efeito na intensidade sonora que atinge a membrana timpânica, sendo sua “sombra
sonora” importante no processo de localização da fonte, a qual se faz devido à
audição binaural. O pavilhão auricular e o meato acústico externo possuem
propriedades acústicas que ampliam o efeito da “sombra sonora” da cabeça e
realçam a sensibilidade para determinados sons. O meato acústico externo termina
em uma membrana complacente que transmite e reflete a energia sonora. Modifica
o comprimento da onda, gerando uma ressonância acima de uma ampla faixa de
freqüência, que é ainda complementada pelo efeito de ressonância da concha do
pavilhão
A orelha média é constituída pelo antro mastoídeo, cavidade timpânica
e tuba auditiva. A cavidade timpânica preenchida por ar, escavada no osso temporal
contém a cadeia de ossículos; martelo, bigorna, e estribo; seus tendões, ligamentos
e os músculos, tensor do tímpano e estapédio. Comunica-se com a nasofaringe por
intermédio da tuba auditiva, responsável pela ventilação da cavidade timpânica. Os
ossículos estabelecem uma cadeia ininterrupta entre a membrana timpânica e a
janela oval. A orelha média tem função transformadora de energia sonora. Conduz o
som da orelha externa à orelha interna. A ação efetiva de transformação da
membrana timpânica e cadeia ossicular segundo Békésy, é o produto do efeito de
alavanca dos ossículos e efeito hidraúlico, pela maior superfície da membrana,
agindo sobre uma superfície 30 vezes menor.
A orelha interna localiza-se na parte petrosa do osso temporal e é
responsável pelos órgãos da audição (cóclea) e do equilíbrio (canais semicirculares).
Sistematicamente pode ser dividida em 3 partes: o labirinto endolinfático ou
membranoso, o labirinto perilinfático ou ósseo e a cápsula ótica. A seguir falaremos
de cada uma destas partes em separado.
Labirinto endolinfático ou membranoso:
Trata-se de um sistema de canais e tubos epiteliais preenchido por um
líquido claro chamado de endolinfa. É envolvido quase que totalmente por uma
parede óssea, o labirinto ósseo e sem tecido de sustentação. É divivido em
utrículo, sáculo, ducto e saco endolinfático, ductos semicirculares e suas
ampolas e finalmente pelo ducto coclear. As terminações do VII par terminam
no revestimento interno do sistema de ductos.
Dentre os diversos ductos daremos ênfase ao coclear. Seu assoalho é
formado por um espessamento do periósteo recobrindo a parte periférica da lâmina
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óssea espiral e continua como membrana basilar, alcançando o periósteo que se
situa na parede periférica do canal ósseo coclear. O epitélio do assoalho coclear é
altamente especializado, constituindo o órgão de Corti, aonde terminam as fibras do
nervo acústico. A estria vascular situa-se em um espessamento da parede periférica
do ducto coclear. O teto é constituído por uma membrana denominada membrana
vestibular ou de Reissner.
O órgão de Corti encontra-se apoiado sobre a membrana basilar. É
constituído basicamente de elementos sensoriais, as células ciliadas, das células de
sustentação e da membrana tectória que encontra-se fixa no limbo espiral e apoiada
sobre os estereocílios das células ciliadas. Existem dois grupos de elementos
sensoriais: as células ciliadas internas que formam uma única fileira ao longo do
neuroepitélio coclear e estão apoiadas em células de sustentação relativamente
rígidas e as células ciliadas externas que somam de três a quatro fileiras ao longo
das espiras da cóclea apoiadas em células de sustentação muito flexíveis.
A vascularização do labirinto é feita pela artéria auditiva interna – ramo
da artéria basilar e a drenagem venosa pela veia auditiva interna. A inervação é
dada pelo nervo vestíbulo-coclear.
Labirinto perilinfático ou ósseo:
É constituído por uma matriz óssea mais dura do que o resto do osso
petroso. Divide-se em três compartimentos: o vestíbulo, parte mais volumosa,
os canais semicirculares em número de três e a cóclea que se assemelha a
concha de um caracol.
Cápsula Ótica:
Envolve todo o labirinto, ossifica-se de numerosos centros sem formar suturas
e tem seu máximo desenvolvimento no 5° mês de gestação.
A cóclea possui paredes ósseas limitando três tubos enrolados em
espiral em torno de uma parte óssea chamada de modíolo ao redor do qual dão
duas voltas e meia. Esquematicamente, se a cóclea for desenrolada três tubos
se formarão assim como também três rampas: rampa vestibular, rampa média,
a qual contém o Órgão de Corti, e a rampa timpânica. As rampas vestibulares e
timpânicas se comunicam no ápice da cóclea e são preenchidas por perilinfa,
rica em sódio. Já o canal coclear contém endolinfa, rico em potássio e não se
comunica com as outras rampas. Sobre o órgão de Corti está a membrana
tectória.
As ondas sonoras transmitidas pelo sistema tímpano-ossicular através da
janela oval viajam através da perilinfa fazendo com que ocorram deslocamentos
simultâneos das membranas do canal coclear, de Reissner e da basilar. Cada onda
tem um ponto de deflexão máximo na membrana basilar entre a origem da onda,
junto ao estribo e até onde ela termina. Neste local que depende da frequência da
onda, a membrana vibra com facilidade e a energia da onda se dissipa. Para cada
frequência o máximo de vibração ocorre em áreas diferentes da membrana basilar.
Quanto maior a frequência mais próximo ao estribo e quanto menor mais próximo ao
helicotrema.
No órgão de Corti existem dois sistemas de células ciliadas: as externas e
as internas.
Células ciliadas externas:
Em número de 10.000 a 14.000 e dispostas em três fileiras ao longo das
espiras cocleares. O seu potencial elétrico de repouso é de – 70 mV. Não atuam
como receptor coclear, não codificando a mensagem sonora. Elas se contraem
quando estimuladas e possuem capacidade para dois tipos de contração:
rápida e lenta. Estas células, devido à energia mecânica liberada na contração
rápida são as responsáveis pelas otoemissões acústicas. Trata-se de um
biomecanismo ativo das células ciliadas externas e funcionaria como um
amplificador coclear, permitindo um aumento de até 50 dB do estímulo sonoro.
Já as contrações lentas não seguem ciclo por ciclo a estimulação sonora, ao
contrário do que ocorre com as contrações rápidas e seriam responsáveis pelo
controle da tonicidade das células ciliadas externas, regulando as
propriedades mecânicas da membrana basilar.
O sistema eferente das células ciliadas externas provocaria o
mecanismo das contrações lentas que modularia as contrações rápidas sendo
importante para: capacidade do indivíduo de detectar um sinal em um ruído;
afinamento da seletividade frequencial; proteção contra superestimulação;
focalizar um determinado fenômeno acústico; regular a amplificação coclear.
Podem também reduzir as otoemissões acústicas quando estimulados.
A inervação aferente das células ciliadas externas é dada por 5% das
fibras do nervo acústico. São fibras finas, ramificadas, não mielinizadas e cada fibra
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inerva de 10 a 20 células ciliadas externas. A inervação eferente compreende o
sistema eferente medial e lateral. No sistema eferente medial cada fibra mantém
contato com 15 a 30 células, são mielinizadas, podendo elevar o limiar das resposta
do nervo acústico. Funcionaria então como um sistema modulador das contrações
rápidas.
Células ciliadas internas:
São em número de 3.500, dispondo-se em uma só fileira sobre a
membrana basilar. Seu potencial de repouso é de – 40 mV e são os verdadeiros
receptores da mensagem sonora produzindo codificação em mensagem elétrica, que
seria então enviada pelas vias nervosas centrais aos centros auditivos do lobo
temporal. A inervação aferente é dada por 90 a 95% das fibras do nervo acústico, em
número de 10 neurônios para cada célula ciliada interna. O sistema eferente é
formado por fibras que se originam no bulbo e não se sabe a exata função deste
sistema.
Conforme a anatomia do órgão da audição descrito acima, será
apresentado o mecanismo da audição de forma simplificada.
A onda sonora entra no meato acústico externo, batendo diretamente na
membrana timpânica. O martelo, que se integra na membrana timpânica, é
deslocado e, por ser articulado á bigorna e estribo, move os ossículos. Eles
transferem a energia sonora para a orelha interna através da janela vestibular que
está presa à base do estribo pelo ligamento anular. Para que esta transferência de
energia seja suficiente, o espaço da orelha média aonde estão alojados os ossículos
devem funcionar à pressão atmosférica. Este equilíbrio de pressão é mantido pela
tuba auditiva funcionante.
A partir do estribo, o trajeto da energia sonora é feito em espaço
preenchido por líquido. Imaginamos o som como uma onda sonora de compressão
que passa pelas duas espiras e meia da escala vestibular da cóclea até seu ápice.
Neste ponto, a direção da onda de compressão é invertida, mandando a energia de
volta através das duas e meia espiras da escala timpânica. A compressão é
abrandada pela membrana móvel da janela coclear. Quando a base do estribo move
para dentro, a janela coclear move-se para fora com uma defasagem de 180º. A
onda de compressão produz um movimento ondulatório correspondente ao longo da
membrana basilar que sustenta o órgão de Corti. A onda em movimento, junto com a
distorção da membrana basilar associada, age sobre as células ciliadas, produzindo
o potencial do impulso nervoso. Este potencial atua primeiramente nas fibras do
nervo coclear que se une num tronco nervoso no modíolo. Estes pequenos
potenciais elétricos são transmitido para o gânglio espiral, para os núcleos do tronco
cerebral e, finalmente para o córtex auditivo do cérebro.
EMISSÕES OTOACÚSTICAS DOS PRODUTOS DE
DISTORÇÃO
Foram registradas pela primeira vez por Kemp em 1978. O autor relatou
detectar um sinal acústico no meato acústico externo que parecia um eco da cóclea
após uma estimulação acústica. As emissões detectadas por Kemp, antes não
haviam sido observadas por serem fracas e difíceis de detectar sem selar um
microfone no canal auditiva e usar uma técnica de promediaçao. Kemp, definiu
produtos de distorção, como energia acústica no canal auditivo originada da
interação não linear de dois tons puros simultâneos, aplicados dentro da cóclea. Os
dois tons puros apresentam-se com duas frequências diferentes (f1 e f2) , as quais
são chamadas de frequências primárias. Em humanos a mais ampla DPOAE
(produtos de distorção) ocorre na frequência equivalente a 2f1 – f2, onde f1 < f2 .
Sequndo Probst em 1990, produtos de distorção são fenômenos encontrados em
muitos sistemas físicos. São gerados por elementos não lineares , os quais
distorcem o sinal e desse modo criam frequências adicionais.
Quando dois sinais de tom puro de frequências diferentes passam por
um sinal não linear, como a cóclea , os dois sinais intermodulam e produzem
componentes de frequências no sinal de saída, as quais não estavam presentes no
sinal original. A intermodulação causada pela não lineariedade é devida à amplitude
e à modulação de frequência dos componentes de frequências mais altas pelos
componentes de frequências mais baixas (OSTERHAMMEL; RASMUSSEN, 1992).
Baseados em achados de pesquisas (BROWN; KEMP, 1985; MARTIN
et al., 1987), foi assumido que a geração de 2f1 – f2 DPOAE ocorre primariamente
no local de frequência ao longo da divisão coclear, onde a transmissão das ondas de
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deslocamento progressivo de f1 e f2 se sobrepõe ao máximo. Essa região de
frequência particular é representada facilmente como uma média geométrica de
frequência das duas primárias.
As otoemissões acústicas apareciam com um atraso mais longo do que
a resposta da orelha média. Sabia-se previamente, que após apresentação de um
breve clique existia no canal uma resposta oscilatória que caía rapidamente a zero
dentro de 6ms e que era uma resposta da orelha média. Kemp mostrou que após
6ms um outro sinal, a emissão começava a surgir. Este sinal crescia em amplitude
até cerca de 10 a 15ms e então declinava lentamente e desaparecia num período de
50 a 60ms.
As emissões otoacústicas dos produtos de distorção são avaliadas de
duas maneiras. Um dos métodos de registrar as DPOAE é chamado de DP-Gram,
onde são medidas as amplitudes das emissões, em respostas ao estímulo nos dois
tons puros primários (f1 e f2), numa mesma intensidade. Ao se apresentarem as
duas frequências na mesma intensidade, por uma razão de biomecânica da cóclea,
há uma distorção, e outras frequências são produzidas: estas são os produtos de
distorção. Quando se realiza o DP-Gram das DPOAE, as emissões são usualmente
evocadas por f1 e f2 com médias geométricas de frequências entre 500Hz a 8kHz
em 4 a 12 pontos por oitava, dependendo da necessidade da resolução de
frequência. O outro método DP Growth Rate ou resposta/crescimento ou função
input/output (entrada/saída), obtida através de uma frequência particular, em que a
amplitude da emissão é registrada como uma função de crescimento sistemático em
níveis de tons primários. A média geométrica específica de frequências examinadas
dessa maneira é equivalente às frequências audiométricas em 500Hz, 1kHz, 2kHz,
4kHz, 6kHz e 8kHz.
A intensidade do estímulo sonoro influencia a amplitude dos produtos de
distorção. Os níveis de intensidade das primárias nunca devem exceder 80 dB NPS,
para não excitar o músculo estapédio, o que afetaria a função de transferência do
ouvido médio.
Estas otoemissões com origem na cóclea provocariam vibrações da cadeia
ossicular que seriam transmitidas ao meato acústico externo onde podem ser
registradas com um microfone sensível.
O registro utilizado para medir as DPOAE consiste em dois osciladores
através dos quais os sinais de saída são enviados via atenuadores para dois
transdutores. A resposta é registrada no meato acústico externo fechado por uma
sonda, onde localiza um microfone sensível (emissor – receptor) que capta a
emissão vinda da orelha interna. O microfone serve também, como uma referência
para estabelecer os níveis de estímulo.
As amplitudes das emissões otoacústicas evocadas ou provocadas em
relação à amplitude dos estímulos são altamente não–lineares. Próximo ao limiar das
otoemissões, os desvios da linearidade são mínimos. A não- linearidade é máxima
em níveis moderados e altos de intensidade, ou seja, maior que 20 a 30 dB, quando
ocorre saturação. Isto significa que a resposta não se altera com intensidade dos
estímulos superiores a estas. Esta característica limita muito sua aplicação clínica,
pois as otoemissões não ocorrem em surdez coclear. Entretanto constitui uma nova
técnica de exploração do estado da função da cóclea (Bonfils e col., 1987).
Pelo fato das DPOAE medirem a atividade de frequências altas (entre 4kHz e
8kHz), apresentam sensibilidade para estágios iniciais de disfunção coclear. Sabe-se
que a maioria das perdas auditivas neurossensoriais, com exceção da doença de
Ménière, iniciam-se com lesão das células responsáveis pelas frequências agudas.
Esse teste pode trazer também um ótimo entendimento do local primário das lesões
que causam certas doenças otológicas, como por exemplo perda auditiva sensórioneural idiopática. Outra característica benéfica é o monitoramento da cóclea que
pode ser empregado em situações de tratamento em que utilizam drogas ototóxicas.
As emissões otoacústicas dos produtos de distorção apresentam uma
natureza contínua e baixa latência, o que permite testar intencionalmente qualquer
frequência situada entre 1kHz a 8kHz, aproximadamente. Sendo assim, indicadas
como um complemento ao audiograma convencional. Têm uma ampla faixa dinâmica
em termos de crescimento de amplitude de resposta, bem como, a função do nível
de estímulo para uma avaliação completa da função coclear em ambos os níveis de
estimulação
liminar e supraliminar e permite também estudar as funções
remanescentes das células ciliadas externas nos ouvidos dos pacientes com perda
auditiva de 45 a 55 dB NA.
Analisando os parâmetros de respostas das otoemissões, o limiar da detecção
é mais baixo que o limiar subjetivo em 10 dB, que aumenta com a idade. Aplicandose como estímulo, clique não-filtrado, gerado por onda retangular de 200ms,
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observa-se no registro o clique de estimulação durante mais ou menos 5ms e após
um outro som com duração em 15ms a 30ms. A amplitude máxima ocorre em 15ms
a 20ms; é a otoemissão acústica. As latências com menos 20ms são chamadas
curtas e as com mais que 20ms são latências longas.
As formas de ondas emitidas evidenciam dispersão de frequências com os
componentes de frequências mais altas , tendo as latências mais curtas; e os de
frequências baixas têm sucessivamente latências mais longas. O espectro de
frequência é de banda larga com frequência máxima de 1kHz a 2kHz, e vários picos
de frequência de banda estreita.
O mecanismo de produção das otoemissões deve-se a um mecanismo
biomecânico ativo dentro da cóclea. A possível origem deste mecanismo é nas
células ciliadas externas do órgão de Corti, devido a sua capacidade de
eletromotilidade, ou seja, de suas propriedades mecânicas (Brownell, 1990). A
produção das otoemissões seria resultante deste mecanismo bioativo da cóclea, ou
seja, contração das células ciliadas externas assim sendo, aumenta a sensibilidade
das células ciliadas internas devido à amplificação de energia sonora a que elas
chegam. Evidência da origem coclear das otoemissões acústicas é o fato de seu
desaparecimento quando as células ciliadas externas estão alteradas, como nas
deficiências auditivas cocleares.
O recém-nascido que teve anóxia, ou foi submetido a tratamento que utilizou
drogas ototóxicas, como àcidoetacrínico, furosemida, aspirina, salicilato de sódio,
antibióticos aminoglicosídeos, podem alterar as células ciliadas externas da cóclea e
assim diminuir ou abolir as otoemissões.
Orelhas com deficiências auditivas condutivas naturalmente não apresentam
as otoemissões. Quando a perda é sensorioneural, as otoemissões só aparecem
quando não ultrapassa 30 dB HL. Na ausência das otoemissões deve-se suspeitar
de deficiência auditiva e realizar uma bateria de testes complementares, como testes
audiométricos comportamentais, imitanciometria e ABR (BERA).
HALL et al. (1994) ressalva que a aplicação clínica de rotina das emissões
otoacústicas será facilitada por estudos em larga escala dos efeitos das
características individuais, como gênero e idade, em emissões otoacústicas por
transiente e produto de distorção; investigações clínicas das emissões otoacústicas
em grande populações de pacientes com diagnósticos neurológicos específicos;
orientações para os protocolos de testes das emissões em ambientes clínicos; e
critérios claros para análise de emissões otoacústicas em populações clínicas.
Uma das aplicações clínicas das emissões otoacústicas é a triagem auditiva
em berçários de terapia intensiva, já que é um método objetivo, não invasivo, fácil e
rápido de realizar.
Estudos experimentais e clínicos mais detalhados são necessários para a
melhor compreensão dos aspectos fisiopatológico e epidemiológico das emissões
otoacústicas e sua aplicabilidade clínica.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Essa pesquisa surgiu com os objetivos principais de aumentar a consciência
coletiva; médicos, fonoaudiólogos e a quem mais possa interessar, sobre o problema
da surdez na infância. E também, mostrar a necessidade da avaliação das Emissões
Otoacústicas na detecção precoce em recém-nascidos e com isso, minimizar as
alterações no desenvolvimento global das crianças.
Através dessa pesquisa, observei que a concepção do mundo de quem está
privado da audição, desde o nascimento ou a partir de tenra idade, não poderá ser a
mesma de um ouvinte normal, visto serem muitos os processos que dependem do
sentido auditivo em termos de aprendizagem e constatações do universo das
pessoas e das coisas que o cercam. A experiência sonora no primeiro ano de vida é
imprescindível para o desenvolvimento do processo da linguagem e das habilidades
cognitivas. Bebês com perda auditiva diagnosticada ao nascimento e com tratamento
iniciado até os 6 meses de idade, apresentam desenvolvimento muito próximo ao de
uma criança ouvinte. O diagnóstico após os seis meses traz prejuízos inaceitáveis ao
desenvolvimento da criança e sua relação com a família e ao mundo social.
Muito embora esteja cercado de educação especial adequada, paciência,
maturidade, perseverança e muita atenção dos educadores e familiares, o surdo está
substancialmente privado de entender e participar de uma grande parte das
circunstâncias e incidentes cotidianos. Esta possibilidade da falta de experiência
integradas aos fatos do dia-a-dia, fatalmente poderá influir em seus sentimentos e
atitudes.
Visto que, a deficiência auditiva
causa considerável
déficit no
desenvolvimento global de uma criança se não diagnosticada precocemente, é
esperado que essa pesquisa possa contribuir para a conscientização da importância
da avaliação das Emissões Otoacústicas como triagem auditiva neonatal universal.
Assim como o teste do pezinho diagnostica posssíveis doenças neurológicas, o
exame das Emissões Otoacústicas possa diagnosticar uma possível deficiência
auditiva. Através dos produtos de distorção, podemos avaliar a atividade da cóclea
em frequências específicas, o que nos proporciona mais ampla aplicação clínica
quando comparado com as emissões transientes que por utilizarem um ruído
desencadeante de banda larga, avalia a cóclea de forma global. Produtos de
Distorção são importantes, uma vez que analisam as freqüências sonoras em faixa
que vai de 500Hz a 8000Hz.
Uma das importâncias das Emissões Otoacústicas é a possibilidade de
estudar os aspectos mecânicos da função coclear de forma não invasiva e objetiva, e
que independe do potencial de ação neural. Desta maneira, informações objetivas
podem ser obtidas, clinicamente, sobre os elementos pré-neurais da cóclea. Os
demais métodos objetivos, não permitem medir diretamente as respostas destes
elementos (Probst, 1990).
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