Dissertação – Artigo de Revisão Bibliográfica Mestrado Integrado em Medicina 2012/2013 O CANCRO DA MAMA METASTIZADO É CURÁVEL? A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO Vânia Alexandra Rodrigues Gomes Orientador: Dr. Franklim Peixoto Marques Porto 2013 Dissertação – Artigo de Revisão Bibliográfica Mestrado Integrado em Medicina 2012/2013 O CANCRO DA MAMA METASTIZADO É CURÁVEL? A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO Vânia Alexandra Rodrigues Gomes1 Orientador: Dr. Franklim Peixoto Marques2 1 aluna do 6º ano profissionalizante do Mestrado Integrado em Medicina, nº071001144. [email protected] 2 Professor Auxiliar convidado do ICBAS Assistente Hospitalar Graduado do CHP – HGSA Porto 2013 O CANCRO DA MAMA METASTIZADO É CURÁVEL ? A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO RESUMO O cancro da mama é a neoplasia obtidos com a cirurgia e a radioterapia ao mais frequente e a principal causa de tumor primário e às metástases, têm morte por doença oncológica na mulher, sugerido a possibilidade de cura. De correspondendo a 23% de todos os facto, numa fração de doentes com cancros. doença oligometastática, uma abordagem Aproximadamente 5 a 10% das multidisciplinar agressiva, englobando o doentes com cancro da mama encontram- tratamento local da doença macroscópica se do e a terapêutica sistémica para a doença diagnóstico e 20 a 50% irão desenvolver microscópica, pode ser potencialmente metástases curativa. metastizadas à no distância, momento apesar dos avanços nas estratégias terapêuticas. Este artigo tem como objetivos a O tratamento do cancro da mama revisão sistemática da literatura científica metastizado é um grande desafio, pois mais relevante sobre o tratamento do existem padrão cancro da mama metastizado, assim como estabelecidas para a sua abordagem, a abordagem da possibilidade da sua principalmente após o tratamento de cura. primeira linha. apresentado um caso clínico de uma poucas terapêuticas Para ilustrar este tema será A maioria dos cancros da mama mulher de 67 anos que apresentou metastizados é incurável, portanto os carcinomatose peritoneal por carcinoma principais objetivos do tratamento são a da mama, 13 anos após o tratamento do paliação dos sintomas e o prolongamento tumor primário, e que está em remissão da sobrevida, com o menor número de completa há mais de 5 anos. efeitos secundários possível. No entanto, PALAVRAS-CHAVE a melhoria da sobrevida alcançada com a introdução de novas terapêuticas sistémicas, e os resultados favoráveis Cancro da mama, metastizado, terapêutica sistémica, tratamento locoregional, cura, oligometástases O CANCRO DA MAMA METASTIZADO É CURÁVEL ? A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO ABSTRACT Breast cancer is the most frequently In fact, in a fraction of patients with diagnosed cancer and the leading cause of oligometastatic disease, an aggressive cancer death among females, accounting multidisciplinary approach including both for 23% of the total cancer cases. local treatment of macroscopic disease Approximately 5–10% of breast cancer patients are metastatic at first and systemic treatment of microscopic disease can be potentially curative. diagnosis and 20–50% of patients will This article aims to provide a develop metastatic disease, in spite of systematic review of the most relevant advances in treatment strategies. scientific literature about metastatic The treatment of metastatic breast breast cancer treatment, as well as cancer is a major challenge, since there addressing the possibility of cure. To are only a few proven standards of care in illustrate this theme will be presented a management of this disease, especially case report of a 67 years old female, who after the first-line therapy. presented with peritoneal carcinomatosis The majority of metastatic breast of breast carcinoma, 13 years after cancer is incurable and hence the main treatment of the primary tumor, and is in treatment goals are the palliation of complete remission for more than 5 symptoms and prolongation of survival, years. with the least possible side effects. However, the improved KEYWORDS survival, achieved with the introduction of newer Breast systemic therapies and the favorable therapy, results of surgery and radiotherapy to the oligometastasis primary tumor and distant metastases have suggested the possibility of a cure. cancer, metastatic, loco-regional systemic therapy, cure, O CANCRO DA MAMA METASTIZADO É CURÁVEL ? A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO INTRODUÇÃO O cancro da mama é a neoplasia torácica e dos gânglios linfáticos mais frequente e a principal causa de regionais. A metastização pode ocorrer morte por doença oncológica na mulher.1 por via sanguínea, linfática, perineural ou Cerca são por extensão direta através da parede ea torácica. Acomete, mais frequentemente de 89% dos casos diagnosticados a partir dos 40 anos 2 proporção entre homens e mulheres é de o osso, o pulmão, o fígado e o cérebro.11 1:150.3 No Segundo Portugal, no a GLOBOCAN, ano de 2008, CMM o tratamento é em essencialmente paliativo, à exceção de foram alguns casos de doença oligometastática, diagnosticados 5333 novos casos e 1537 para os quais há esperança de cura.10 mulheres morreram por cancro da mama. Este trabalho tem como objetivos a A nível mundial, nesse mesmo ano, revisão sistemática da literatura científica estimaram-se 1 380 000 novos casos mais relevante sobre o tratamento do (23% de todos os cancros) e 458 000 cancro mortes.4 A incidência tem aumentado nas abordagem da possibilidade da sua cura, últimas décadas, porém a mortalidade sendo ilustrado com um caso clínico. está a diminuir, devido ao rastreio precoce e aos avanços na terapêutica.5,6 distância, apresenta no metastização entanto, um mama metastizado e a FATORES DE RISCO PARA CANCRO DA MAMA Ao diagnóstico, apenas 5 a 10% das doentes da à número Vários fatores de risco para o cancro da mama foram identificados, nomeadamente, a idade avançada, a significativo das doentes tratadas com exposição intenção curativa, vem a desenvolver (menarca precoce, nuliparidade, primeira doença metastática (20 a 50%). 7,8 a hormonas endógenas A gravidez e menopausa tardias) e exógenas sobrevida média das doentes metastizadas (terapêutica hormonal de substituição), é de 2-3 anos, variando de acordo com o estilos de vida (dieta rica em gorduras e subtipo histológico, molecular e extensão obesidade), doença benigna da mama e da metastização, tendo melhorado com as fatores ambientais (exposição a radiações 9,10 terapêuticas atuais. ionizantes).11 A história familiar de O cancro da mama metastizado cancro da mama, particularmente em (CMM) define-se como a disseminação familiares de primeiro grau e com idade tumoral para além da mama, da parede jovem ao diagnóstico é, igualmente, um 1 O CANCRO DA MAMA METASTIZADO É CURÁVEL ? A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO fator de risco reconhecido.11 As mutações O prognóstico é mau, com uma taxa nos genes BRCA 1 e BRCA 2 associam- de sobrevida global (SG) aos 5 anos -se a cancro da mama e do ovário, sendo inferior a 20%.13 responsáveis por 5 a 10 % de todos os DIAGNÓSTICO cancros da mama.11 Estas mutações são autossómica Os sintomas do CMM relacionam-se dominante, com penetrância variável, com a localização e extensão das consequentemente o risco estimado de metástases. A dor óssea, linfadenopatias, desenvolvimento de cancro da mama em alterações cutâneas, tosse, dispneia ou portadoras varia de 26% a 85%.11 fadiga são sintomas / sinais comuns, mas herdadas de forma inespecíficos.11 Perante suspeita clínica FATORES DE PROGNÓSTICO de CMM, a avaliação mínima deve Os fatores que afetam o prognóstico incluir: uma história clínica e exame do CMM incluem: o número de locais de físico metastização, carga tumoral, idade da plaquetas, testes bioquímicos (função doente, estado geral, intervalo livre de hepática, função renal, eletrólitos, cálcio, doença após tratamento inicial e a fosfatase alcalina, proteínas totais e biologia do tumor - grau histológico, albumina) e exames imagiológicos de recetores e tórax, abdómen e osso.7,9,14 Na maior progesterona (RP) e o recetor 2 do fator parte dos casos, o raio-x de tórax, a de ecografia abdominal e a cintilografia de estrogénio crescimento (RE) epidérmico humano (HER2).12 completo, hemograma com óssea são suficientes.9 A tomografia Os tumores com recetores hormonais computorizada (TC) e/ou ressonância (RH) positivos são mais propensos a magnética (RM) do sistema nervoso metastatizar inicialmente para o osso, central (SNC) devem ser realizadas enquanto os tumores com RH negativos apenas e/ou maior sugestivos do seu envolvimento, mesmo probabilidade de disseminação para as em doentes com CMM HER2 positivo ou vísceras. O tipo lobular, contrariamente triplo ao dutal, está mais frequentemente associados associado a metástases serosas (pleura e metástases cerebrais.7,9 A tomografia por peritoneu).11 emissão HER2 positivos têm na presença negativo, a de os maior positrões de dois sintomas subtipos incidência / de tomografia computorizada (PET-TC) está indicada 2 O CANCRO DA MAMA METASTIZADO É CURÁVEL ? A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO em situações específicas, como por TRATAMENTO exemplo, para a confirmação de uma O CMM é uma doença heterogénea, possível doença oligometastática, quando com uma multiplicidade de cenários há suspeita de recidiva não comprovada clínicos, pelos exames iniciais ou lesões duvidosas metastáticas solitárias envolvimento difuso 7,15 em outros meios de imagem. Sempre que possível, as lesões metastáticas devem ser confirmadas por biópsia, especialmente no caso de lesões variando desde lesões até de ao múltiplos órgãos,19 sendo essencial uma abordagem individualizada. A maioria dos CMM é incurável, isoladas. A biópsia é importante para a portanto avaliação preditivos tratamento são a paliação dos sintomas, relevantes para a decisão terapêutica manutenção ou melhoria da qualidade de (como os RH e o HER2) e pela vida e o prolongamento da sobrevida, probabilidade de alteração dos recetores com o menor número possível de efeitos de marcadores ao longo do curso da doença. 16,17 estadiamento do geralmente cancro é fundamental, pois permite estimar o prognóstico e orientar a terapêutica. Usa - se o sistema de estadiamento TNM da The American Joint Committee principais objetivos do secundários.16,19 ESTADIAMENTO O os on Cancer, (AJCC, 7º edição, 2010), que classifica o tumor baseando-se no tipo de tumor primário (invasivo ou in situ), tamanho (T), presença ou ausência de Estes obtidos objetivos com a são terapia sistémica (hormonoterapia, quimioterapia ou terapêuticas dirigidas) e, em algumas circunstâncias, com o tratamento loco- regional (por exemplo, radioterapia para paliar a dor óssea).7,20 A tabela 1 ilustra os fatores mais relevantes a ter em conta na decisão terapêutica.7 envolvimento dos gânglios linfáticos Tratamento loco-regional do tumor primário regionais (N) e presença ou ausência de A terapêutica sistémica é a base do A tratamento das doentes com CMM, combinação destas características define mesmo naquelas com tumor primário quatro estadios. O CMM corresponde ao intacto.14 Geralmente, considera-se que o estadio com pior prognóstico (estadio IV- tratamento metástases à distância (M). loco-regional não possui qualquer T, qualquer N, M1).18 3 O CANCRO DA MAMA METASTIZADO É CURÁVEL ? A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO Tabela 1: Fatores a considerar na avaliação do risco e decisão de tratamento do CMM* Fatores relacionados com a doença Fatores relacionados com a doente Intervalo livre de doença Preferências da doente Terapêuticas prévias e resposta Idade biológica Fatores biológicos (RH, HER2) Estado de menopausa Carga tumoral (número e locais de metástases) Comorbilidades e estado de performance Necessidade de rápido controlo da Estado socioeconómico e fatores psicológicos doença/sintomas Terapêuticas disponíveis no país da doente *Adaptado de: Cardoso F, et al. Annals of Oncology 2012; 23 Suppl 7: vii11–vii19 7 impacto sobre a sobrevida, estando tumor, sendo esta mais rápida num tumor reservado, unicamente, para o controlo cujo tamanho foi reduzido. Além disso, local da doença, a fim de reduzir a pode ajudar a restaurar a imunidade, a sintomatologia.13 A cirurgia é um meio de tornar as metástases mais quimiossen- paliação das complicações locais como a síveis, a eliminar a disseminação de stem hemorragia, dor ou ulceração.21 Em cells do tumor primário e a limitar o alternativa aparecimento pode radioterapia. 14 desafiado este ser considerada a Várias publicações têm paradigma. de células quimiorre- 31 sistentes. Estudos O estado das margens cirúrgicas é o retrospetivos sugerem que a ressecção principal fator de prognóstico. Quando se cirúrgica do tumor primário em doentes obtêm margens negativas a taxa de metastizadas é benéfica em termos de sobrevida é maior. 23 sobrevida (tabela 2). 21-30 -análise confirmou recente, Uma meta- Existem vieses de seleção esses substanciais, em todos estes estudos, resultados e mostrou uma redução de suscetíveis de confundir os resultados.13 30% do risco de morte.20 O papel da radioterapia também não está O benefício da remoção do tumor bem definido devido às limitações primário pode dever-se à redução da inerentes à análise retrospetiva.13 Estudos carga tumoral total, o que aumenta a randomizados estão em curso para 31 eficácia das terapêuticas sistémicas. confirmar o valor do tratamento loco- Segundo a teoria de Norton-Simon32 a -regional do tumor primário, avaliar a efetividade altura da quimioterapia é proporcional à taxa de crescimento do mais favorável para a sua realização e as melhores candidatas. 13 4 O CANCRO DA MAMA METASTIZADO É CURÁVEL ? A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO Tabela 2: Estudos retrospetivos que avaliaram o papel da cirurgia ao tumor primário no CMM* Autores Período do estudo Nº de doentes Nº de doentes submetidos a cirurgia (%) Khan et al. 22 1990–1993 16023 Rapiti et al.23 1977–1996 Fields et al.24 Sobrevida global Com Cirurgia Sem cirurgia Valor de p 9162 (57) 27,7– 31.8% (3 anos) 17,3% (3 anos) <0.0001 300 127 (42) 27% (5 anos) 12% (5 anos) 0.0002 1996–2005 409 187 (46) 26,8 meses (média) 12,6 meses (media) <0.0001 Gnerlich et al. 25 1988–2003 9734 4578 (47) 36 meses (média) 21 meses (media) <0.001 Cady et al. 26 1970–2002 622 234 (38) 44% (3anos) 24% (3anos) <0.0001 27 1973–1991 395 242 (61) 27,1 meses (média) 16,8 meses (média) <0.0001 Bafford et al.21 1998–2005 147 64 (41) 4,1anos (média) 2,4 anos (média) 0.003 McGuire et al. 28 1990–2007 566 154 (27) 33% (5 anos) 20% (5anos) 0.0015 Ruiterkamp et al.29 1993–2004 728 288 (40) 24,5% (5 anos) 13,1% (5 anos) <0.0001 Pérez- Fidalgo et al.30 1982–2005 208 123 (59) 40,4 meses (média) 24,3 meses (média) <0.001 Blanchard et al. *Adaptado de: Khodari W et al. Crit Rev Oncol Hematol. 2013 Jan 28. pii: S1040-8428(12)00251-X 13 tratamento sistémico para eliminar a Tratamento local das metástases Embora o tratamento sistémico seja eficaz tanto para a doença macroscópica como microscópica, o tratamento local pode ser útil para paliar sintomas e até potencialmente curativo em casos de doença oligometastática.33 caracterizada por uma Esta ou é poucas metástases, normalmente limitadas a um órgão. Nestes casos, o tratamento local, geralmente, é complementado por doença microscópica.33 Metástases pulmonares Cerca de 10 a 25% das doentes com CMM apresentam envolvimento pulmonar isolado. Alguns estudos que avaliaram a metastasectomia pulmonar demonstraram uma sobrevida média de 32 a 96,9 meses e taxas de sobrevida aos 5 anos de 27 a 80%. Esses estudos sugeriram, igualmente, que as doentes 5 O CANCRO DA MAMA METASTIZADO É CURÁVEL ? A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO com metástases pulmonares solitárias, e arterial, com intervalo livre de doença longo, transarterial. Todas estas terapêuticas submetidas a metastasectomia radical estão melhor estudadas em doentes com obtêm melhores resultados.33 oligometástases hepáticas de cancro colo-retal Metástases hepáticas uma modalidade de tratamento bem estudada e aceite em doentes com cancro colo-retal. O seu papel no cancro da é, contudo, muito menos reconhecido.34 Contrariamente ao cancro colo-retal, o envolvimento hepático no cancro da mama é geralmente um evento tardio e difuso, tendo por isso, um pior 33 prognóstico. doentes Cerca de metade das com CMM apresentam metastização hepática durante o curso da doença, e cerca de 5 a 12% têm envolvimento hepático isolado. Os estudos realizados sobre metastasectomia hepática revelaram uma sobrevida média que variou de 15 a 63 meses e taxas de sobrevida aos 5 anos de 12 a 61%. Fatores como metástases hepáticas solitárias, reserva hepática normal e intervalo livre de doença longo antes da metastização à e em quimioembolização casos de carcinoma hepatocelular primário irressecável. A A cirurgia de metástases hepáticas é mama e distância, predizem resultados clínicos mais favoráveis.33 Outras terapêuticas locais incluem a ablação por radiofrequência, crioterapia, injeção percutânea de etanol, terapia intersticial por laser, infusão hepática utilização destas abordagens locais não cirúrgicas nas oligometástases hepáticas de cancro da mama tem sido limitada. Em geral, os resultados com os tratamentos não cirúrgicos são inferiores aos da metastasectomia hepática. A combinação das terapêuticas cirúrgicas e não cirúrgicas pode ter utilidade em situações particulares.33 A ablação por radiofrequência, uma das técnicas locais mais utilizadas, recorre a energia térmica para induzir necrose por coagulação das células tumorais. O controlo local eficaz pode ser alcançado em lesões solitárias, com diâmetro inferior a 3 cm. Na ausência de doença extra-hepática terapêutica visceral, esta taxas de proporciona sobrevida promissoras.35,36 A maior parte das doentes submetidas a metastasectomia pulmonar desenvolve recorrência extra-pulmonar ou doença disseminada. Em contraste, nas ressecções hepáticas, a maioria das recidivas ocorre no fígado. As ressecções repetidas proporcionam resultados favoráveis em algumas doentes.34 6 O CANCRO DA MAMA METASTIZADO É CURÁVEL ? A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO Metástases ósseas curso da doença, e está associado a mau No cancro da mama, o osso é o local prognóstico, mais frequente metastização à ausência de à controlo da doença extracraniana. No distância, responsável por até 80% dos HER2 positivo, a disseminação cerebral casos. está tende a surgir mais tardiamente. Quando associado a um curso da doença mais há resposta à terapêutica anti-HER2 e indolente.33 Cerca de 20% dos casos controlo da doença extracraniana, a apresentam apenas metastização óssea.33 sobrevida após o diagnóstico e tratamento A radioterapia é uma boa opção para a local das metástases cerebrais, pode ser paliação da dor óssea.9,33 Quando há longa. 9 O de devido envolvimento ósseo fratura de um osso longo ou na sua iminência, o tratamento pela constituiu o tratamento padrão. Todavia, normalmente na abordagem de metástases cerebrais seguida de radioterapia. Na ausência de isoladas, a associação de ICT com a um a ressecção cirúrgica proporciona uma radioterapia é a melhor opção.9 Na sobrevida média superior (28 meses compressão défices versus 14 a 16 meses para as doentes a tratadas apenas com ICT). Sempre que a descompressão cirúrgica, se tecnicamente ICT seja necessária, deve ser discutido possível, é a primeira opção, seguida de com a doente, o risco de défices consolidação neurocognitivos.9 estabilização risco passa A irradiação cerebral total (ICT) cirúrgica, evidente de medular neurológicos fratura, sem estabelecidos, com radioterapia. A ressecção cirúrgica agressiva pode ter benefício quando há envolvimento isolado.33 cerca de 10 a 16% dos casos, mas menos têm envolvimento isolado.33 São subtipos HER2 negativo. No envolvimento mais cerebral frequentes positivo triplo cerebral, uma alternativa viável para o tratamento de lesões cerebrais em locais As metástases cerebrais surgem em 5% efeitos tóxicos da ICT no SNC. Trata-se de Metástases cerebrais de A radiocirurgia estereotática evita os ou nos triplo negativo, o normalmente ocorre mais precocemente, ao longo do de difícil abordagem cirúrgica, adjacentes a áreas nobres, ou para os casos de recorrência após ressecção cirúrgica ou ICT.33 Para determinar o melhor tratamento para cada doente, é indispensável uma equipa multidisciplinar neurocirurgiões, que inclua radioterapeutas e 7 O CANCRO DA MAMA METASTIZADO É CURÁVEL ? A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO oncologistas tratamento médicos. pode O englobar plano de que nos tumores com RH positivos, as três frequentemente, a resposta à quimiote- abordagens terapêuticas disponíveis.9 rapia é menor.38,39A combinação de Em suma, os dados disponíveis demonstram resultados favoráveis num subgrupo de doentes submetidas a terapêutica local agressiva para a doença metastática. Os vieses de seleção e a natureza retrospetiva dos estudos não permitem a generalização dos resultados. O uso destas abordagens deve ser individualizada.34 hormonoterapia com quimioterapia não mostrou benefício na sobrevida, pelo que não quimioterapia a pode ser uma opção razoável. 9 A escolha do agente endócrino deve ser baseada no estado de menopausa, comorbilidades, e perfil terapêutica de adjuvante segurança dos fármacos.7 Aproximadamente 75% das doentes Pré-menopausa com CMM apresentam RH positivos (recetores de estrogénio ou progesterona).37 A hormonoterapia é o tratamento preferencial para estas doentes, mesmo na presença de doença visceral, exceto se existir: doença rapidamente progressiva, Nas mulheres em pré-menopausa, não submetidas a tratamento adjuvante com tamoxifeno ou que descontinuaram a terapêutica há mais de 12 meses, a combinação da ablação/supressão ovárica com tamoxifeno é a opção de escolha.7,38 doença visceral extensa ou elevada suspeita de resistência à hormonoterapia, devendo nestes casos ser considerada a quimioterapia.7,9,11 tumores recomendada. Contudo, hormonoterapia de manutenção após prévia Hormonoterapia Os está Os estudos demonstram que a terapêutica combinada com tamoxifeno e supressão ovárica é superior, em termos de sobrevida, a cada modalidade de RH positivos representam os subtipos luminal A e luminal B e têm um prognóstico melhor que os subtipos HER2 positivos e tipo basal.38 A hormonoterapia apresenta um melhor perfil de toxicidade e pode até ser tratamento isoladamente.11,38 Numa meta-análise de 4 estudos randomizados, levada a cabo por Klijn e colaboradores40, a combinação de tamoxifeno com análogos da LHRH (hormona libertadora da hormona luteinizante) foi superior em termos de SG, taxa de resposta global mais eficaz do que a quimioterapia, visto 8 O CANCRO DA MAMA METASTIZADO É CURÁVEL ? A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO (TRG) e sobrevida livre de progressão esteroide, exemestano, liga-se irrever- (SLP) relativamente ao análogo da sívelmente, sendo necessária nova síntese LHRH da isoladamente. O tratamento enzima para a produção de combinado foi associado a uma taxa de estrogénio.16 resposta mais elevada (39% versus 30%), monoterapia estão contraindicados nas a redução significativa de 30% no risco mulheres de progressão, a redução de 22% na suprimem adequadamente a síntese de mortalidade aos 6,8 anos e a um aumento estrogénio pelo ovário, podendo inclusive na SG média de 2 a 3 meses.40 induzir a sua produção.38,43 Outro estudo, que incluiu um grupo de controlo com tamoxifeno em Estes fármacos pré-menopausa, pois em não Estudos de fase II demonstraram resultados promissores para os IA quando monoterapia, também concluiu que a combinados terapêutica combinada buserelina ovário.43,44 Esta combinação é também (análogo da LHRH) com tamoxifeno usada para tratamento das mulheres que mostrou maior taxa de resposta (TR), progridem em menos de 12 meses após SLP e SG, do que cada fármaco terapêutica adjuvante com tamoxifeno. isoladamente. de 41 cirúrgica semelhante ou à irradiação ooforectomia ovárica na redução dos níveis de estrogénio.42 Em alternativa ao tamoxifeno podem ser usados os inibidores da aromatase de terceira geração (IA) em associação com castração médica ou cirúrgica. Os IA bloqueiam a atividade da aromatase, inibindo a a supressão do Após supressão ovárica as linhas Os agonistas LHRH evidenciam eficácia com conversão periférica de androgénios em estrogénios.38 Dividemse em duas classes, com base na sua estrutura e mecanismo de ação.16 Os IA não esteroides, letrozol e anastrozol, ligam-se reversivelmente ao local ativo da enzima aromatase, enquanto o IA subsequentes de hormonoterapia são semelhantes às das mulheres pós- menopausa.7 Pós-menopausa Com a evolução do tratamento do cancro da mama, tem havido um uso crescente de tamoxifeno e IA em contexto adjuvante, como tal uma proporção significativa de mulheres pósmenopáusicas com doença metastizada já terá recebido estes fármacos. Isto tem implicações na escolha do tratamento subsequente.16 A decisão baseia-se, muitas vezes, na experiência clínica do médico, comorbilidades e contraindi9 O CANCRO DA MAMA METASTIZADO É CURÁVEL ? A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO cações, por não existirem recomendações claras para a sequência ótima de tratamento.16 Nas doentes Quando se opta pelo tratamento com IA é necessária a monitorização da densidade óssea e suplementação com sem tratamento adjuvante prévio ou que descontinuaram cálcio e vitamina D para minimizar a perda óssea.50 a terapêutica há mais de 12 meses, os IA O fulvestrant é um antagonista puro de 3ª geração constituem a terapêutica de do recetor de estrogénio, ao qual se liga primeira linha,14,16 pois têm eficácia de forma competitiva, dessensibilizando- superior ao tamoxifeno 45-47 ou outras terapêuticas endócrinas.48 -o. Não tem atividade agonista, ao contrário do tamoxifeno.51O fulvestrant, Estes tratamentos têm diferentes na dose de 250 mg, mostrou ter atividade mecanismos de ação e diferentes perfis de equivalente eventos adversos. Os IA aumentam a terapêutica perda óssea e estão associados a mialgias CMM.52 No estudo randomizado de fase e artralgias. O tamoxifeno, para além de II, FIRST, foi usada uma dose mais funcionar como antagonista da ação do elevada que mostrou ser mais eficaz estrogénio ao nível da mama, apresenta (fulvestrant 500 mg). Quando comparado efeitos agonistas parciais noutros locais, com anastrozol, o grupo com fulvestrant como o osso ou o útero.38 O efeito obteve maior tempo para a progressão53, agonista é prejudicial ao aumentar o risco porém, de cancro do endométrio ou eventos estudos, antes de ser aceite como uma tromboembólicos, mas é vantajoso na alternativa apropriada aos IA, para a prevenção da desmineralização óssea. 38 ao de tamoxifeno primeira ainda são linha necessários como para mais terapêutica de primeira linha.49 O tamoxifeno continua a ser uma Tem sido levantada a hipótese de que opção aceitável para tratamento de a combinação de fulvestrant com IA primeira poderia melhorar a eficácia e atrasar o linha, nomeadamente em subgrupos específicos de doentes que não desenvolvimento toleram o tratamento com IA (mialgias ou bloquear o recetor de estrogénio e inibir a artralgias), doentes com osteoporose de aromatase.54 Dois estudos compararam a base e risco aumentado de fraturas, ou terapêutica combinada versus anastrozol, outras contraindicações para uso dos em mulheres não tratadas previamente IA.49 para CMM, discordantes. de resistência apresentando No estudo ao resultados FACT, a 10 O CANCRO DA MAMA METASTIZADO É CURÁVEL ? A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO combinação de anastrozol não benefício clínico terapêutica mente. 55 mostrou com com alternativas possíveis.9 Os diferentes qualquer perfis de toxicidade e efeitos laterais, fulvestrant relativamente anastrozol à isolada- Por outro lado, o estudo clínico S0226 SWOG demonstrou ganhos a nível bem como a via de administração devem ser considerados na escolha do 57 tratamento para cada doente. Um mecanismo hormonoterapia de da SLP e SG com a terapêutica resistência combinada.56 relacionado com a ativação da via de de à emergente está As doentes que recidivam em menos sinalização intracelular mTOR (alvo da 12 rapamicina nos mamíferos).60 meses, após terminarem a hormonoterapia adjuvante, devem mudar Recentemente, o everolimus, inibidor de classe de agente, assim como as que mTOR, recebeu aprovação da FDA progridem em tratamento para CMM.49 (Food and Drug Administration) e EMA De facto, nem todas obtêm resposta (European Medicines Agency) com base favorável com a hormonoterapia de nos resultados do estudo BOLERO-2, primeira linha (resistência primária), e para o tratamento em combinação com mesmo as eventualmente, que respondem, exemestano, em mulheres elegíveis para progridem (resistência hormonoterapia, após recorrência ou adquirida). A evidência científica é escassa no que se refere à hormonoterapia progressão com um IA não esteróide.61 Perante evidência de resistência de segunda linha, principalmente, em endócrina ou doença visceral sintomática relação à melhor opção após progressão deve ser proposta quimioterapia7,14 Na com IA.16 ausência de benefício clínico, após 3 Após falha do tratamento com tamoxifeno, as opções são IA e o fulvestrant.57 Quando ocorre progressão com IA de 3ª geração não esteroide, o tamoxifeno, ou IA esteroide são uma boa opção (os estudos sugerem ausência de resistência cruzada entre IA esteroides e não esteroides58,59). O fulvestrant ou o acetato de megestrol (progestativo) são outras regimes de hormonoterapia consecutiva, deve ser considerada a quimioterapia.14 Tratamento dirigido ao HER 2 As terapêuticas dirigidas, especificamente concebidas para bloquear vias essenciais envolvidas no crescimento de células cancerígenas e metástases, conduziram a grandes avanços clínicos no tratamento do CMM.62 Cerca de 20% 11 O CANCRO DA MAMA METASTIZADO É CURÁVEL ? A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO dos cancros amplificação da apresentam sobre-expressão terapêutica de primeira linha das doentes de com CMM HER2 positivo, quer como HER263, um recetor transmembranar com agente único quer em combinação com atividade de tirosina-cinase.64 Até à hormonoterapia ou quimioterapia.63 O descoberta de terapêuticas dirigidas ao trastuzumab liga-se ao subdomínio IV do HER2, como o trastuzumab, este subtipo domínio extracelular do HER2 e exerce estava associado a doença mais agressiva os seus efeitos anti-tumorais. Bloqueia a e a pior prognóstico.63-65 O tratamento clivagem do HER2,70 inibindo, assim, a com agentes dirigidos ao HER2 conduziu sinalização mitogénica HER2 mediada a ligando independente71 e estimula a uma ou mama melhoria significativa dos resultados clínicos, incluindo a SG, citoxicidade alterando assim a história natural da dependente de anticorpos.72 Os estudos doença.64,66 O efeito terapêutico da randomizados demonstraram benefício na inibição da via de sinalização de HER2 associação de trastuzumab com agentes restringe-se às células cancerígenas que quimioterápicos como o paclitaxel (com expressam esse recetor, sem toxicidade ou para as células normais.64 vinorelbina74 sem mediada por células carboplatina),73-75docetaxel74, e capecitabina.76,77 O A positividade para o HER2 é trastuzumab em monoterapia é, também, expressa pelo resultado 3+ na coloração uma opção viável, particularmente em imuno-histoquímica a doentes com metástases limitadas (por proteína HER2 ou pela evidência de exemplo, apenas metástases ósseas) e/ou amplificação por assintomáticas78,79 ou em doentes idosas, hibridização fluorescente in situ (FISH cujo estado clínico não permita a ratio > 2.2 ou > 6.0 cópias do gene associação com quimioterapia.65 Em HER2)67.Ambos os critérios predizem a situações em que seja necessária uma sensibilidade para a terapêutica dirigida resposta rápida, a terapêutica combinada ao HER2 e são usados para a seleção dos é preferível.65 doentes do (IHQ) gene elegíveis para HER2 para essa O trastuzumab está associado a terapêutica.67,68 Um resultado 2+ na IHQ cardiotoxicidade, pelo que durante o deve ser confirmado por outra técnica.67 tratamento, a função cardíaca deve ser O trastuzumab é um anticorpo monitorizada e a combinação com monoclonal IgG1 murino humanizado antraciclinas deve ser evitada, pelo risco recombinante69 e está indicado para a aumentado de disfunção cardíaca.80 12 O CANCRO DA MAMA METASTIZADO É CURÁVEL ? A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO Em junho de 2012 a FDA aprovou Com base nestes resultados, a National um novo agente dirigido, o pertuzumab, Comprehensive Cancer Network (NCCN) em combinação com trastuzumab e recomenda docetaxel para o tratamento de doentes tratamento preferencial, relativamente ao com trastuzumab isolado.14 CMM HER2 positivo, não previamente tratadas com terapêutica esta combinação como Após progressão da doença com dirigida ao HER2 ou quimioterapia.81 O regimes pertuzumab é um anticorpo monoclonal trastuzumab, existe evidência que suporta recombinante humanizado, dirigido ao a continuação do bloqueio da via domínio de dimerização extracelular HER2.83 Contudo, algumas questões (subdomínio II) do HER2.Este agente ainda permanecem sem resposta, como a bloqueia a heterodimerização, ligando duração ótima da terapia anti-HER284 e a dependente, melhor do HER2 com outros terapêuticos opção de baseados tratamento, em na membros da sua família, incluindo o progressão com terapêutica combinada HER1, HER3 e HER4.82 O pertuzumab e (trastuzumab e agente citotóxico). Não o epítopos está claro se apenas deve ser mudado o diferentes do recetor HER2 e têm agente citotóxico ou se o trastuzumab mecanismos de ação complementares.82 deve, igualmente, ser substituído por A aprovação foi baseada num estudo outro agente dirigido ao HER2 (por randomizado, duplo-cego, multicêntrico, exemplo, lapatinib).84 trastuzumab ligam-se a placebo-controlado (CLEOPATRA), que demonstrou que a combinação O lapatinib é um fármaco de toma de oral e um potente inibidor seletivo e pertuzumab, trastuzumab e docetaxel, reversível dos domínios de tirosina-cinase prolongou SLP do HER1 e do HER2.85 Em vários comparativamente com placebo mais estudos, a associação de lapatinib com trastuzumab e docetaxel, sem aumentar a capecitabina (anti-metabólito), mostrou toxicidade cardíaca.82. As doentes que ser ativa em doentes pré-tratadas com receberam pertuzumab obtiveram uma antraciclinas, taxanos e trastuzumab, com melhoria estatisticamente significativa, de baixo risco de toxicidade cardíaca, sendo 6,1 meses, da SLP média em comparação uma opção para a doença refratária ao com aquelas que receberam placebo. trastuzumab.86-89 Dois destes estudos [hazard de incluíram confiança- 95%: 0,51-0,75), p <0,0001].82 cerebrais significativamente ratio: 0,62 a (intervalo doentes e com demonstraram metástases que esta 13 O CANCRO DA MAMA METASTIZADO É CURÁVEL ? A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO combinação apresenta a vantagem Em doentes com CMM, HER2 adicional de ter atividade contra a doença positivo e RH positivos, candidatas a metastática a nível do SNC.88,89 Os hormonoterapia, está recomendada a efeitos secundários, mais frequentes, adição de trastuzumab ou lapatinib à relacionados com o uso de lapatinib são a terapêutica hormonal, tendo em conta os diarreia, náuseas, rash acneiforme e resultados favoráveis na SLP.96,97 prurido. Agentes anti-angiogénicos Outra opção de segunda linha, O bevacizumab, anticorpo monoclo- aprovada em fevereiro de 2013, é o adotrastuzumab emtansine (T-DM1). Este conjugado anticorpo-fármaco combina a atividade anti-HER2 do trastuzumab com a atividade citotóxica do agente inibidor de microtúbulos, DM1 (derivado da maitansina).90 Assim, a quimioterapia é direcionada para as células que sobreexpressam HER2, minimizando a exposição dos tecidos normais.91 O estudo fase III recém-publicado (EMILIA) demonstrou que o T-DM1 prolonga significativamente a SLP e SG e está associada a menor toxicidade, em comparação com a combinação de Evidência emergente sugere que a combinação de agentes dirigidos ao HER2 pode produzir efeito aditivo ou conduzindo resultados clínicos. 63 a melhores Alguns estudos suportam a combinação de trastuzumab quer com pertuzumab. lapatinib 92,93 , endotélio vascular, foi aprovado para o tratamento de primeira linha do CMM, tendo em conta os resultados positivos nos estudos iniciais. No entanto, os estudos subsequentes demonstraram que os benefícios eram moderados e limitados à SLP, sem melhoria da SG.98 Por esta razão e também, pelo perfil de segurança desfavorável do bevacizumab, a FDA retirou a sua aprovação condicional, considerando que os seus benefícios não suplantavam os riscos. Na Europa, continua aprovado em combinação com paclitaxel ou capecitabina. O seu uso capecitabina mais lapatinib.90 sinérgico, nal que se liga ao fator de crescimento do quer com pode ser considerado em doentes criteriosamente selecionadas, com opções de tratamento limitadas, mas é fundamental ponderar os seus efeitos secundários, benefícios e custos.7 Quimioterapia A quimioterapia é o pilar do 94,95 tratamento do CMM. Está indicada para doentes com tumores com RH negativos, 14 O CANCRO DA MAMA METASTIZADO É CURÁVEL ? A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO metástases viscerais sintomáticas ou os taxanos (como o paclitaxel e tumores com RH positivos refratários à docetaxel) são os mais efetivos, quer para hormonoterapia.14 O tratamento pode ser a doença metastizada quer para a doença com monoterapia ou com poliquimio- precoce.102 Com o uso crescente destas terapia. Alguns exemplos de regimes de classes de fármacos em contexto de poliquimioterapia incluem: o FAC/CAF tratamento adjuvante ou neoadjuvante, a (ciclofosfamida, doxorrubicina, fluoro- seleção da quimioterapia para a doença uracil), FEC (fluorouracil, epirrubicina, em ciclofosfamida), (doxorrubicina, influenciada por questões de toxicidade ciclofosfamida); EC (epirrubicina, ciclo- cumulativa e resistência.103 A cardioto- fosfamida), CMF (ciclofosfamida, meto- xicidade cumulativa (antraciclinas) e a trexato,fluorouracil)14A poliquimioterapia neuropatia (taxanos) podem limitar a proporciona maiores taxas de resposta duração da terapêutica ou impedir o objetiva e tempo para progressão, porém retratamento à custa do aumento da toxicidade10 e com fármacos, se utilizadas previamente.102 AC SG semelhante à terapia sequencial com agente único. 99-101 estadio Caso IV é com não cada estas tenha vez mais classes sido de realizada Assim, a terapêutica terapêutica prévia,em contexto adjuvante, sequencial com agente único é a melhor com antraciclinas ou taxanos, estas são opção para a maioria das doentes.11 opções de primeira linha.9 Reserva-se a poliquimioterapia para casos de doença mais ou CMM refratário às antraciclinas ou com envolvimento visceral extenso, particular- toxicidade cumulativa para as mesmas, os mente em doentes mais jovens, que, regimes baseados em taxanos são o normalmente têm melhor tolerância e tratamento de escolha.9 No entanto, menos comorbilidades.10. Nos triplos existem outras alternativas, nomeada- negativos que, geralmente, são mais mente a capecitabina (anti-metabólito) e a quimiossensíveis, vinorelbina (inibidor dos microtúbulos a agressiva Nas doentes taxanos-naive e com poliquimioterapia também pode ser considerada. não-taxano), principalmente quando a O cancro da mama é um tumor quimiossensível, estando disponíveis evicção da alopecia é uma prioridade para a doente.9 diversos agentes quimioterápicos para o Nas doentes previamente expostas a seu tratamento. As antraciclinas (por antraciclinas e a taxanos (quer em exemplo, doxorrubicina e epirrubicina) e tratamento adjuvante quer em contexto de 15 O CANCRO DA MAMA METASTIZADO É CURÁVEL ? A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO doença metastática), não concluiu que a quimioterapia de longa necessitam de terapêutica combinada, a duração está associada a um aumento capecitabina em monoterapia é uma marginal 9,104 possibilidade, e que da SG e a uma SLP dada a sua eficácia e substancialmente mais prolongada do que facilidade de administração por via o uso de um número certo de ciclos e oral. 105 A gemcitabina (anti-metabólito), cisplatina e alquilantes), carboplatina vinorelbina, (agentes proposto que a quimioterapia seja usada irinotecano até progressão da doença ou toxicidade (inibidor da topoisomerase I) e as antraciclinas lipossomais especificamente aprovadas indicação são, usadas mas na não para clínica.102 esta Como alternativas possíveis existem dois outros fármacos aprovados para esta população de doentes, o eribulin (inibidor dos microtúbulos não-taxano) e o ixabepilone (inibidor dos microtúbulos, análogo do Pode ser considerado o retratamento com taxanos, em primeira linha para a doença metastizada, após ter sido usado em contexto adjuvante, particularmente se decorrido um ano ou mais de livre de doença.106 O retratamento com antraciclinas é limitado pelo risco cumulativa, de sendo cardiotoxicidade preferidas outras As metástases ósseas são predominantemente osteolíticas, podendo causar complicações como dor óssea, hipercalcemia e vários outros eventos relacionados com o esqueleto (ERE).110 Os ERE incluem a necessidade de cirurgia ou radioterapia paliativa, fraturas podem resultar em incontinência e paralisia. causam diminuição 111 parestesias, Estes eventos significativa da qualidade de vida das doentes, da independência funcional e da mobilidade.112 As células tumorais afetam os ossos ao libertarem proteínas relacionadas com a hormona paratiroide (PrPTH) e outras citocinas, e fatores de crescimento que alternativas. A duração, o número de regimes quimioterápicos e a decisão de cessar a terapêutica devem ser adaptados a cada doente.107,108 Agentes dirigidos ao osso patológicas e compressão medular, que epothilone B).102 sobrevida inaceitável.109 estão frequentemente, prática retratamento na progressão. Assim, foi Uma meta-análise109 estimulam os osteoblastos a produzir ligante ativador do recetor do fator nuclear kappa beta (RANKL). O RANKL liga-se ao RANK, expresso na superfície 16 O CANCRO DA MAMA METASTIZADO É CURÁVEL ? A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO dos precursores estimulando a dos sua osteoclastos, diferenciação melhoria da qualidade de vida.118 Os e bifosfonatos intravenosos (por exemplo, ativação. Os osteoclastos reabsorvem o o pamidronato e o ácido zoledrónico) osso e libertam uma variedade de estão recomendados para as doentes com citocinas e fatores de crescimento que metástases estimulam uma secreção adicional de líticas e/ou em ossos de suporte de peso) PrPTH e outros fatores pelas células para as quais se prevê sobrevida de pelo tumorais, criando um ciclo vicioso.110 menos 3 meses, e, se os níveis de ósseas (especialmente se osso creatinina forem inferiores a 3,0 mg/dL.14 (bifosfonatos e o denosumab) têm o O ácido zoledrónico pode ter vantagem potencial de quebrar este ciclo e prevenir em a perda óssea110, podendo ser usados em metástases líticas.119 De modo geral, os combinação terapêuticas bifosfonatos são bem tolerados, mas sistémicas.113-115 Estes fármacos reduzem podem surgir complicações como reações o risco e retardam o aparecimento de de ERE, melhorando a qualidade de vida das hipocalcemia, doentes, mas não parecem afetar a osteonecrose da mandíbula (ONM). Esta sobrevida global.114 última complicação também foi relatada Os agentes dirigidos com outras ao A American Society of Clinical relação fase com ao aguda, o pamidronato insuficiência inflamação uso nas de renal, ocular denosumab. e Os Oncology (ASCO) sugere a iniciação da procedimentos dentários e a saúde oral terapêutica apenas quando há evidência precária são fatores de risco para ONM, de metástases ósseas (destruição óssea pelo que nas doentes propostas para nas radiografias, TC ou RM), mesmo em terapêutica com agentes dirigidos ao doentes assintomáticas. 114 osso, está recomendada a realização de Os bifosfonatos análogos exames dentários, previamente ao início estruturais do pirofosfato endógeno que da terapêutica, a manutenção de uma boa se ligam à hidroxiapatite da matriz higiene oral, bem como a evicção de mineral do osso, inibindo a ação dos procedimentos odontológicos invasivos, osteoclastos.116 sempre que possível.114 Os são estudos têm evidenciado que estes fármacos reduzem O denosumab é um agente significativamente a incidência de ERE terapêutico dirigido aos osteoclastos, em comparação com placebo113,117, além novo e eficaz. Trata-se de um anticorpo de terem efeito na paliação da dor e monoclonal totalmente humanizado, 17 O CANCRO DA MAMA METASTIZADO É CURÁVEL ? A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO administrado por via subcutânea (120 mg Os inibidores da catepsina K são a cada 4 semanas), que neutraliza o outra classe de agentes sob investigação. RANKL. Ao inibir a via de sinalização A do a secretada por osteoclastos, que degrada o sobrevivência e função dos osteoclastos, osso. É também produzida pelas células RANKL, afeta a formação, diminuindo a reabsorção óssea. estudo randomizado, Stopeck et al 111 120,121 conduzido é uma proteinase, tumorais, que metastizam para o osso, por promovendo a invasão.123 , este fármaco foi bem zoledrónico a retardar ou prevenir o risco de ERE. Possui as vantagens adicionais de ser administrado por via subcutânea e de não requerer monitorização da função renal, sendo uma boa opção para doentes com insuficiência renal.111 agentes dirigidos ao osso e, na ausência de contraindicações, está recomendada a suplementação com vitamina D e cálcio oral para promover a saúde óssea e risco de AVALIAÇÃO DA RESPOSTA AO TRATAMENTO E SEGUIMENTO A avaliação da resposta faz-se pela pesquisa de sintomas, exame físico, testes laboratoriais (como hemograma, função hepática, fosfatase alcalina, cálcio e marcadores tumorais) e repetição dos exames de imagem inicialmente alterados Nas doentes sob terapêutica com o K No tolerado e mostrou ser superior ao ácido diminuir catepsina hipocalcemia induzida pela inibição dos osteoclastos. 114 Novas terapêuticas como o dasatinib, inibidor da tirosina cinase da família do sarcoma, estão em investigação. Dados pré-clínicos demonstraram que a tirosina para comparação. Está recomendada a avaliação a cada 2 a 4 meses para a hormonoterapia e a cada 2 a 4 ciclos para a quimioterapia. Os marcadores tumorais (como o CA 15-3 e/ou CEA), se inicialmente elevados podem ser úteis, particularmente em doentes com doença metastática não mensurável.7 Contudo a alteração em cascatas de sinalização importantes para a formação da zona de selagem entre o osteoclasto e a matriz óssea, necessária para a reabsorção óssea.122 marcadores tumorais, isoladamente, não deve ser o único fator determinante da decisão terapêutica.7 cinase da família do sarcoma regula a função dos osteoclastos e está envolvida dos O principal objetivo da avaliação é excluir doença progressiva, principalmente em doentes para as quais existam outras opções terapêuticas ou naquelas que manifestam significativos. O efeitos intervalo secundários entre as avaliações é definido de acordo com as 18 O CANCRO DA MAMA METASTIZADO É CURÁVEL ? A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO necessidades clínicas da doente e a introdução de novas terapêuticas agressividade da doença, podendo ser sistémicas mais eficazes, como os agentes prolongado no caso de doença indolente e citotóxicos respostas duradouras.7 capecitabina, gemcitabina, antraciclinas (taxanos, vinorelbina, As doentes devem ser observadas lipossomais, etc.), agentes endócrinos com a frequência necessária para a (inibidores da aromatase de terceira melhor geração e fulvestrant) e terapêuticas paliação manutenção da dos sintomas qualidade de e vida. dirigidas (trastuzumab, lapatinib, Normalmente corresponde a cada 2 a 4 pertuzumab) tem melhorado a sobrevida meses para a hormonoterapia e antes de das doentes com CMM cada com tem melhorado ao longo do tempo, com o avaliação dos efeitos tóxicos e contagens risco de morte a diminuir 1 a 2% a cada sanguíneas. de ano.124-126 Cerca de 5 a 10 % das doentes ou sobrevive mais de 5 anos e 2 a 5 % ciclo de quimioterapia, Se progressão houver suspeita (agravamento aparecimento de novos sinais/sintomas e/ou aumento O prognóstico tornam-se sobreviventes a longo prazo.33 dos A definição de cura do cancro ainda marcadores tumorais) a avaliação da não está unanimemente definida. Alguns resposta realizada autores sugerem que a cura implica a imediatamente. É fundamental que sejam erradicação das células cancerígenas, prestados esclarecimentos às doentes e permitindo cuidadores sobre o plano de cuidados, o normal, sem ameaça de recorrência e sem propósito dos diferentes tratamentos, os sintomas relacionados com o cancro. Pelo efeitos laterais e o seu potencial impacto contrário, outros consideram que a cura sobre o bem-estar funcional, emocional e não social da doente. 7 destruição da totalidade das células deve significativo 34 ser uma significa esperança de necessariamente vida a malignas, mas sim tornar a doença inócua CURA DO CARCINOMA DA MAMA METASTIZADO A maioria dos CMM é considerada incurável. Contudo, tem sido levantada a possibilidade de cura dados os resultados promissores do tratamento local na abordagem do tumor primário e das metástases à distância.34 Além disso, a (sem efeitos adversos clinicamente significativos) por períodos de tempo prolongados.34,127 A resposta completa e a sobrevida livre de progressão a longo prazo têm sido usadas como substitutos para cura no CMM.34 A doença oligometastática constitui 19 O CANCRO DA MAMA METASTIZADO É CURÁVEL ? A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO um subgrupo distinto do CMM.34 No doentes permaneceram livres de doença estudo conduzido por Kobayashi por mais de 20 anos.128 e colaboradores127 foram avaliadas doentes tratadas, em primeira com oligometastática, apesar de representar terapêutica sistémica, sendo que as que apenas uma minoria de doentes (1 a 3%), obtiveram uma resposta completa (RC) é suscetível de beneficiar de uma ou abordagem resposta parcial linha, Estes dados sugerem que a doença (RP) foram multidisciplinar mais posteriormente tratadas com terapêutica agressiva e potencialmente curativa.34 local, para manter a RC ou induzir Esta abordagem deve incluir o tratamento ausência de evidência de doença. Os da doença macroscópica (cirurgia e/ou autores radioterapia) e da doença microscópica concluíram que a doença oligometastática é um subgrupo com (terapêutica sistémica).33 prognóstico a longo prazo superior ao do Para além da doença oligometastá- CMM disseminado, com probabilidade tica existem várias outras características de alcançar a cura clínica (ausência de comuns evidência de doença a longo prazo).127 probabilidade de beneficiar com uma Hanrahan analisaram e doentes colaboradores com 128 às abordagem doentes com potencialmente maior curativa: doença idade jovem, bom estado geral, reserva oligometastática, que numa primeira fase, funcional adequada, intervalo livre de foram tratadas com uma abordagem local doença extenso antes da recorrência e radical (cirurgia e/ou radioterapia) do carga tumoral sistémica reduzida.33 tumor primário e das metástases e que, posteriormente receberam Os dados disponíveis sobre o tratamento potencial curativo de alguns cancros da adjuvante sistémico. Neste estudo, foram mama metastizados são de estudos de avaliados 285 casos com um período cariz retrospetivo, sendo necessária a médio de observação de 212,5 meses. A realização de estudos prospetivos para taxa de sobrevida global média foi de 87 melhor determinar o papel da abordagem meses, com SG de 56%, 42%, e 26% aos curativa .O cancro da mama metastizado 5, 10, e 20 anos, respectivamente. A nem sempre é uma sentença de morte.33 média do tempo de sobrevida livre de CASO CLÍNICO recidiva (SLR) foi 42 meses, com taxas Doente do sexo feminino, atualmente de SLR de 41%, 34%, e 26% aos 5, 10, e 20 anos, respetivamente. 10,8% das com 67 anos, sem antecedentes 20 O CANCRO DA MAMA METASTIZADO É CURÁVEL ? A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO patológicos pessoais relevantes. Em diagnosticado ou familiares 1994, um foi-lhe da mama. dutal Apresentou-se com ascite de grande invasor da mama esquerda no estadio volume com repetidas citologias positivas T2N0M0 G2. Recetores de estrogénio e para células de adenocarcinoma. A progesterona negativos. O tratamento investigação consistiu radical neoplasia, recidiva local do carcinoma da modificada seguida de radioterapia da mama e a pesquisa de outros locais de parede torácica na dose total de 50 Gy. metastização foi negativa. A investigação na carcinoma curativa de um carcinoma dutal invasor mastectomia Após 13 anos (junho de 2007) apresentou um quadro de ascite cuja exaustiva de segunda para carcinoma primário do ovário ou peritoneu foi negativa. citologia revelou células neoplásicas Após revisão das lâminas do compatíveis com carcinoma da mama. A carcinoma dutal da mama diagnosticado investigação para tumor primário foi há 13 anos concluiu-se que se tratava de negativa e não apresentava complexo de metastização peritoneal de carcinoma da massas. recetores mama triplo negativo, sem complexo de hormonais e HER2 na peça operatória massas. Como os recetores hormonais e confirmou que eram negativos. Em HER2 eram negativos não teve indicação consulta para A revisão de dos grupo oncológica multidisciplinar foi decidido tratamento com quimioterapia (docetaxel hormonoterapia ou terapêutica dirigida ao HER2. e Nesta fase, uma vez que era triplo epirrubicina), tendo realizado 9 ciclos, negativo, levantou-se a discussão se a que terminou a 28 de dezembro de 2007. doente Desde dezembro de 2007 até à data atual mantém vigilância clínica deveria ser tratada com quimioterapia em monoterapia, ou mais e agressivamente com poliquimioterapia. imagiológica sem evidência de doença Tendo em conta que a doente tinha bom oncológica e com PS ECOG 0. estado geral (PS ECOG - 0), sem comorbilidades, baixa carga tumoral e DISCUSSÃO idade relativamente baixa, optou-se por A doente do caso clínico descrito uma quimioterapia mais agressiva com revelou metastização para a cavidade epirrubicina e docetaxel apesar de não ser abdominal (carcinomatose peritoneal), 13 possível anos após tratamento com intenção macroscópica numa primeira fase ou após a ressecção da doença 21 O CANCRO DA MAMA METASTIZADO É CURÁVEL ? A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO tratamento sistémico. A doente alcançou mais frequentemente acometidos, embora a remissão completa, que mantém há outros locais como o peritoneu também mais de 5 anos, após terminar a possam ser afetados. terapêutica. O tratamento do CMM é complexo e Embora a percentagem dos casos de desafiante. Ao contrário do cancro em carcinoma da mama metastizados que é fase precoce, para o qual existe elevado possível relativamente nível de evidência para a maioria das pequena, a atitude terapêutica deve ser opções terapêuticas, no CMM há poucos sempre discutida multidisciplinarmente e standards terapêuticos, principalmente com a doente. O estado geral da doente, após o tratamento de primeira linha. A carga terapêutica curar seja tumoral, comorbilidades, adjuvante prévia e os possibilidade de ressecção de toda a mecanismos de resistência associados doença tornam ainda mais difícil a abordagem do macroscópica sistémicas e disponíveis terapêuticas devem ser consideradas para o plano terapêutico. fatores A literatura destaca que apenas as doentes com oligometástases CMM. O plano terapêutico depende de são potenciais candidatas à cura. Esta doente relacionados com a doença (clínicos e biológicos), bem como de fatores relativos à doente. Na maioria dos casos o tratamento é apesar de não ter uma lesão metastática paliativo, ressecável, uma vez que apresentava baseando-se em terapêutica sistémica carcinomatose (quimioterapia, peritoneal, entrou em sem potencial curativo, hormonoterapia e/ou remissão com a quimioterapia, o que terapêuticas dirigidas) e em medidas de levanta a hipótese se haverá possibilidade suporte. de cura apenas com terapêutica sistémica. importantes avanços na investigação, Apenas uma pequena proporção das doentes com cancro da mama apresenta metastização à distância no momento do diagnóstico, porém, 20 a 50%, das tratadas com últimos anos houve conduzindo ao desenvolvimento de novos CONCLUSÃO previamente Nos intenção curativa, desenvolve doença metastática. O osso, o pulmão, o fígado e o cérebro são, por ordem decrescente, os locais agentes quimioterápicos, agentes dirigidos e hormonais, o que tem melhorado a sobrevida livre de progressão e global. Além disso, numa pequena percentagem de doentes com oligometástases, a abordagem multidisciplinar agressiva, pode resultar em controlo prolongado da doença e mesmo 22 O CANCRO DA MAMA METASTIZADO É CURÁVEL ? A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO na cura. Esta abordagem potencialmente NCCN- National Comprehensive Cancer curativa associa o tratamento sistémico Network da doença microscópica ao tratamento ONM- osteonecrose da mandibula local da doença macroscópica (com a PET/CT- tomografia por emissão de remoção do tumor primário e/ou lesões positrões / tomografia computorizada metastáticas isoladas). PrPTH- proteínas relacionadas com a Atualmente é difícil afirmar que as hormona paratiroide doentes com CMM possam ser curadas. RANKL- ligante ativador do recetor do A fator nuclear kappa beta cura nesta situação é bastante controversa, sendo necessários estudos RANK-recetor do fator nuclear kappa prospetivos beta randomizados para determinar o verdadeiro benefício de uma RC- resposta completa abordagem RE- recetores de estrogénio agressiva com intenção curativa. RH- recetores hormonais RM- ressonância magnética ABREVIATURAS RP- recetores de progesterona AJCC- The American Joint Committee on Cancer RP- resposta parcial SG- sobrevida global ASCO- American Society of Clinical SLP- sobrevida livre de progressão Oncology SLR – sobrevida livre de recidiva CMM- cancro da mama metastizado SNC – sistema nervoso central EMA- European Medicines Agency ERE- eventos relacionados com TC -tomografia computorizada o esqueleto FDA - Food and Drug Administration FISH - hibridização fluorescente in situ HER 1/2/3/4- recetor 1/2/3/4 do fator de T-DM1- ado-trastuzumab emtansine TNM- tumor, nodes, metastasis (tumor, gânglios linfáticos, metástases) TR- taxa de resposta TRG- taxa de resposta global crescimento epidérmico humano IA- inibidores da aromatase AGRADECIMENTOS ICT- irradiação cerebral total Agradeço ao Dr. Franklim Marques o IHQ- imuno-histoquímica seu LHRH - hormona libertadora da hormona disponibilidade e o seu empenho na luteinizante realização deste trabalho. contributo científico, a sua 23 O CANCRO DA MAMA METASTIZADO É CURÁVEL ? A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO Agradeço ao Luís, à Liliana e à minha família pelo apoio que me deram. BIBLIOGRAFIA 1. Jemal A, Bray F, Center MM, Ferlay J, studies. J Med Screen. 2012;19 Suppl Ward E, Forman D. Global cancer 1:33-41 statistics.CA Cancer J Clin 2011 Mar- 7. Cardoso F, Harbeck N, Fallowfield L, Apr;61(2):69-90 Kyriakides S, Senkus 2. Youlden DR Cramb SM, Dunn NA, recurrent or metastatic breast cancer: Muller JM, Pyke CM, Baade PD. The ESMO Clinical Practice Guidelines for descriptive epidemiology of female breast diagnosis, treatment and follow-up. Ann cancer: An international comparison of Oncol.2012 Oct;23 Suppl 7:vii11-9. screening, 8. Lu incidence, survival and J, Steeg PS, E. Locally Price JE, mortality. Cancer Epidemiol 2012 Jun;36 Krishnamurthy S, Mani SA, Reuben J, et (3):237-48. al Breast Cancer Metastasis : Challenges 3. Lippman ME. Breast Cancer. In: and Opportunities Cancer Res 2009 Jun Longo D, Fauci A, Kasper D, Hauser S, 15; 69(12):4951-3. 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