Juventude 20% EXCESSO DE PESO Cerca de 10% dos rapazes e das raparigas entre os 10 e os 18 anos são obesos. doces e fritos mais caros? Está disposto a pagar mais para comer um doce? Não está provado que vender mais caro produtos com excesso de açúcares ou de gordura contribui para promover uma alimentação saudável S abem bem, chegam a ser viciantes, proporcionam momentos de prazer, mas... quando consumidos em excesso, são prejudiciais à saúde. E é só por causa desta última parte da história que alguns alimentos tão apetitosos, mas cheios de açúcares ou de gordura, se transformam em inimigos a abater. Ou, pelo menos, a manter mais vezes longe da vista. E da boca. Foi perante a necessidade de promover uma alimentação saudável e de travar o avanço da obesidade, reconhecida como uma das epidemias do século xxi, que a questão começou a ser equacionada: o eventual agravamento da carga fiscal que incide sobre alimentos com elevado teor de açúcar e de gordura poderia contribuir para a redução do seu consumo? A resposta não é consensual e por toda a Europa tem gerado intensos debates, com tomadas de posição diferenciadas por parte dos estados, dos partidos políticos e até dos técnicos de saúde. 30 testesaúde 114 não deixariam de comprar alimentos pouco saudáveis, mesmo com taxas 18% deixariam de comprar alimentos com demasiado açúcar ou gordura se o seu preço subisse 10% SABER O QUE SE ESTÁ A COMER 6% estão convictos de que criar taxas reduziria a obesidade Em Portugal, não chegou a ser formulada nenhuma proposta legal nesse sentido, mas o debate mantém-se. Em teoria, aplicar uma taxa a produtos com excesso de açúcares ou de gordura, por exemplo, obrigaria a encarecê-los junto do consumidor final, na esperança de que tal demovesse os portugueses de procurarem alimentos menos amigos da sua saúde. Mas esta é a teoria. E na prática? Alimentos mais caros substituídos Apesar de ser expectável que os consumidores se afastem ou, pelo menos, reduzam a procura de produtos visivelmente mais caros, não está provado que, com este aumento de custos, a ingestão de alimentos saudáveis passe a ter um lugar mais relevante nos hábitos quotidianos dos consumidores. Aliás, a experiência tem demonstrado que os consumidores tendem a substituir com rapidez o produto que encareceu por outro, não necessariamente melhor. Aconteceu assim noutros países e o inquérito que realizámos sugere que a tendência seria semelhante em Portugal. Para isso, recorremos às opiniões de 1187 inquiridos, que compõem uma amostra do nosso painel de subscritores (“Voz Ativa”). Os dados foram ajustados estatisticamente, de forma a seguir a distribuição populacional portuguesa em função de grupos etários, sexo e nível educacional. Um em cada cinco inquiridos garante que nunca deixará de comprar esses alimentos, mesmo que fiquem mais caros. Só 18% dos inquiridos acreditam que deixariam de comprar alimentos nocivos para a saúde (com excesso de açúcares ou de gordura) se os mesmos sofressem um acréscimo de preço na ordem dos 10 por cento. E apenas 5,7% dos consumidores questionados estão convictos de que encarecer produtos menos saudáveis poderá reduzir de forma expressiva a obesidade em Portugal. Em alternativa a aumentar o preço dos alimentos considerados prejudiciais para a saúde, os consumidores veriam com bons olhos uma eventual redução > COMBATE À OBESIDADE Quem sofre de obesidade no estádio menos grave tem três vezes mais probabilidades de vir a sofrer de doenças cardiovasculares do que as pessoas com peso normal. Nos casos mais graves (obesidade mórbida), essa probabilidade sobe até dez vezes. Tipicamente, quando há obesidade na família, há maior propensão para sofrer do mesmo mal, não só por predisposição genética, mas porque os maus hábitos alimentares são, no geral, comuns à família. Informação esclarecedora Antes de taxar os alimentos que contêm doses excessivas de açúcares ou de gordura, há que implementar um conjunto de medidas que poderão ser mais eficazes. Reduzir porções Disponibilizar embalagens com doses mais reduzidas de alguns alimentos pode limitar o seu consumo. Reformular produtos Alguns géneros alimentares devem ser legislados e reformulados para que cheguem ao mercado com menos açúcar e gordura. Símbolos coloridos Há que implementar um sistema uniforme de informação nutricional na frente das embalagens (tipo “semáforo”), para o consumidor identificar de imediato que tipo de alimento está a comprar e fazer uma escolha mais informada. Restrições publicitárias Impor mais limitações na publicidade de alimentos com gorduras e açúcares em excesso, sobretudo junto do público infantojuvenil, é uma prioridade. Mais informação Informar e educar os consumidores são estratégias eficazes para garantir a escolha de bons alimentos e para a adoção de uma dieta saudável. 114 testesaúde 31 Estatística OBESIDADE A obesidade afeta 19% dos adultos. Depois dos 65 anos, atinge 17% dos homens e 22% das mulheres. > da carga fiscal que incide sobre alimentos saudáveis: 72% encaram até com grande entusiasmo a ideia de baixar o preço final de vegetais e frutas. Afinal, a adoção de hábitos alimentares saudáveis não parece estar apenas ligada a questões financeiras. Dinheiro não é tudo Reconhecendo que o agravamento de taxas sobre produtos demasiado doces ou gordurosos nunca deve ser encarado como medida isolada de combate à má nutrição e à obesidade, o potencial efeito limitador do consumo de produtos prejudiciais à saúde pode, no entanto, ser contemplado no seio de um projeto mais global de promoção de hábitos alimentares saudáveis. E só nesse âmbito poderia ser admitida a possibilidade de encarecer alimentos, embora não seja desejável que se sobrecarregue o consumidor com mais uma taxa, sobretudo quando em causa está a sua alimentação. Além disso, seriam as classes sociais desfavorecidas a sofrer mais o impacto da medida, que também teria menos efeitos positivos, em termos de saúde, nestes grupos de baixo rendimento. É aqui que se encontram habitualmente níveis menos adequados de literacia em saúde e, por consequência, hábitos alimentares menos saudáveis. Já a alternativa de discriminar de forma positiva os alimentos saudáveis poderá ser mais eficaz e também mais apreciada pelos inquiridos. Bons hábitos alimentares começam em casa Desenhar e implementar um programa multidisciplinar passa por muito mais do que medidas fiscais. Implica, desde logo, uma aposta clara na construção de hábitos alimentares saudáveis, que teriam necessariamente de envolver as escolas e campanhas de educação para a saúde, de forma a chegar onde são mais precisos: às casas de todas as famílias. 32 testesaúde 114 Taxar alimentos "maus" não pode ser a única medida de combate à obesidade GUIA PRÁTICO Aprenda a perder peso de forma equlibrada deco.proteste. pt/guiaspraticos www.ficanalinha.pt Uma dieta equilibrada, completa e variada é a proposta do projeto que lançámos para apoiar pais e educadores nas escolhas diárias dos alimentos que fornecem às crianças. 21 lanches para a escola Porque a lancheira das crianças não tem de ser uma dor de cabeça para os pais, sugerimos diferentes combinações de alimentos saudáveis para enriquecer as refeições dos seus filhos. Ementas saudáveis e económicas Para provar que comer bem está ao alcance de todos, elaborámos propostas de refeições nutricionalmente equilibradas, que lhe permitem variar todos os dias e ainda poupar no orçamento doméstico. 30 a 60 minutos de atividade física O sedentarismo combate-se com movimento e o Fica na Linha propõe diversos tipos de atividade física, que poderá ajustar aos seus hábitos diários e eventuais limitações. Mas, admitindo a possibilidade de aplicar taxas a alimentos com excesso de açúcar ou de gordura no âmbito de um programa de fundo, seria preciso garantir desde já parâmetros de avaliação e de controlo da eficácia dessas medidas, precavendo a possibilidade de ajustar, com regularidade, a sua aplicação. Aliás, também a sua abolição, caso a caso, deve estar prevista, em função de uma comprovada falta de eficácia. Imperativo seria ainda que a receita gerada pela aplicação desta taxa não revertesse a favor do Orçamento do Estado, desvirtuando os fins da sua implementação. No nosso painel de consumidores, 61% dos inquiridos concordam com a utilização dessa verba no reforço de campanhas informativas sobre os riscos de uma alimentação pouco saudável. Assim, toda a receita proveniente desta eventual taxa deveria ser canalizada para fins predefinidos e obrigatoriamente ligados à promoção de bons hábitos alimentares. Só desta forma se garantiria um impacto mais otimizado junto dos consumidores. Porque, se estes tiverem de pagar mais por alguns alimentos, é justo que despendam menos por outros. Por aqueles que devem integrar diariamente as suas refeições. Pelos melhores para a sua saúde.