Acúmulo de Matéria Seca e Teor de Clorofila em Diferentes Estádios do Milho em Ambiente Controlado Ivan, V. A. F.; Renzo, G. V. P.; Fabrício, V.A.F.; Rodolfo, G. F.; Matheus, R. C.; Calil, S. L.; Indalécio, C. V. J.; Universidade Federal de Lavras, Departamento de Agricultura, Cep. 37.200-000, Caixa postal 37, Lavras-MG. E-mail: ivanvaf@ yahoo.com.br Palavras-chave: Zea mays, acúmulo de matéria seca, teor de clorofila, adubação Para um melhor entendimento dos fatores relacionados à nutrição mineral de uma cultura, é fundamental conhecer os seus padrões normais de acúmulo de matéria seca. Considerando que há um acúmulo diferencial de matéria seca e nutrientes variável com a cultivar, parte da planta, estádio fenológico, fertilidade do solo e condições climáticas (Borges, 2006). Condições que possam incrementar a intensidade fotossintética das folhas propiciam um aumento na produção de matéria seca da planta como: teor de clorofila, disponibilidade de água no solo; fertilidade do solo; arranjo espacial das plantas etc. O arsenal fotossintético da planta de milho é quase na sua totalidade construído até o florescimento a partir de quando a planta começa a priorizar o desenvolvimento de suas partes reprodutivas, ocorrendo acentuada mobilização de fotoassimilados das folhas para os grãos Na segunda metade do período de enchimento de grãos há uma significativa remobilização da matéria seca do colmo para as espigas, podendo ocorrer perda absoluta de massa do colmo; isto pode ser devido ao aumento da capacidade de dreno da espiga. O acúmulo de matéria seca na espiga inicia com a fertilização, é inicialmente lento, e é crescente até a maturidade fisiológica. O que observa é intensa mobilização de fotoassimilados das folhas e remobilização de matéria seca do colmo para o enchimento das espigas (Vasconcellos et al.1983). O entendimento do ciclo da planta de milho baseando-se em dias após a emergência (DAE), pode levar a equívocos de interpretação, pois as cultivares podem ter variações quanto ao tempo para a ocorrência de eventos fisiológicos na planta devido a variações na idade cronológica com a região de cultivo e época de semeadura (Von Pinho, 2009). Com o objetivo de avaliar o acúmulo de matéria seca nas diferentes partes da planta e clorofila em função de estádios fenológicos e fontes de adubos associados ou não ao enxofre, o experimento foi conduzido em casa de vegetação, localizada na UFLA, em novembro de 2008. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado em esquema fatorial 2 (tipos de solo) x 3 (tipos de adubos) x 6 (estádios fenológicos) com três repetições. Foram utilizados dois tipos de solo contrastantes, de acordo com análises de solo, quanto a fertilidade, sendo um solo proveniente de cultivada com milho (Cultivo) e o outro proveniente de barranco (Barranco). Utilizou-se três tipos de adubos formulados (N:P:K) associados ou não ao enxofre, conforme tabela 1. Os estádios fenológicos foram: E1 (6 folhas expandidas), E2 (10 folhas expandidas), E3 (14 folhas expandidas), E4 (pendoamento), E5 (florescimento) e E6 (maturidade fisiológica). Uma vez que, o experimento foi em casa-de-vegetação sem controle de temperatura e estas diferem das encontradas no campo, esses estágios foram adaptados de Fancelli, 1986. A semeadura foi realizada no dia 17 de novembro de 2008 sendo semeadas quatro sementes por vaso, com capacidade de 30 l, preenchidos com uma mistura de terra seca e peneirada e areia (2:1, respectivamente). Após a emergência procedeu-se o desbaste, deixando-se apenas uma planta por vaso. Foi utilizado o híbrido simples de milho DKB 390. A adubação N, P e K por vaso, foi baseada em lavoura de alta tecnologia (500 Kg de 8-28-16 no plantio e 400 Kg de 22-00-20 em cobertura). Foram utilizados por vaso, 75 g. do adubo de plantio e 50 g. do XXVIII Congresso Nacional de Milho e Sorgo, 2010, Goiânia: Associação Brasileira de Milho e Sorgo. CD-Rom 110 adubo de cobertura. A adubação de cobertura foi feita com 4 folhas expandidas, sendo incorporada a 5 cm de profundidade. Aplicou-se micronutrientes por solução nutritiva, utilizando-se reagentes sem a presença de enxofre. A umidade do solo foi mantida em 70% da capacidade de campo. Tabela 1 – Descrição dos adubos formulados N:P:K utilizados no experimento. UFLA, Lavras –MG, 2009. Adubação DESCRIÇÃO 1 2 3 SEM ENXOFRE ENXOFRE DO SULFATO DE AMONIO ENXOFRE ELEMENTAR ADUBAÇÃO PLANTIO COBERTURA 08-28-16 22-00-20 08-28-16 + 2,5 S 22-00-20 + 7,3 S 08-28-16 + 2,5 S 22-00-20 + 7,3 S Foram avaliadas as seguintes características: matéria seca da folha, matéria seca da raiz, matéria seca do caule, matéria seca da parte aérea, altura de plantas e teor de clorofila (através de medições no último par de folhas da planta de milho com o clorofilômetro SPAD). Todos os dados foram submetidos a análise de variância, pelo programa Sisvar, as médias foram comparadas pelo teste de Tukey, a 1% de probabilidade. Constatou-se diferenças significativas (P<0,01) para as fontes de variação tipo de solo, estádios fenológicos, interação tipos de solo x estádios fenológicos e interação tipos de adubos x estádios fenológicos para a maioria das características avaliadas (Tabela 2). Tabela 2 – Resumo da análise de variância para as características altura de plantas (cm), matéria seca da folha (g), matéria seca da raiz (g), matéria seca do caule (g), matéria seca da parte aérea (g), altura de plantas (cm) e clorofila (µg/cm2). UFLA, Lavras – MG, 2009. FV GL MSF(g) Tipo de Solo (S) 1 4498** Adubos (A) 2 66 Estádios Fenológicos (E) 5 24811** S*A 2 46 S*E 5 143 A*E 10 138 S*A*E 10 C. V.(%) 60 13,02 Média geral 69,99 Q.M. MSR(g) MSC(g) MSPA(g) 26894** 1337** 27260** 99 173 22726** 16046** 16755** 843079** 106 275 1122 3699** 1535** 4049 737** 554** 24923** 101 188 740 15,81 13,81 23,45 45,03 69,96 205,62 AP(cm) 2 Clorofila(µg/cm 88 670** 28 76 143582** 15845** 274 30 1765** 708** 264 65 123 338 7,88 9,97 160,14 42,93 ). ** Teste F, significativo a 1 %. O acúmulo de todas as características foi superior no solo de cultivo o que era esperado em função da sua maior fertilidade natural (Tabela 3). Pelos resultados médios das características avaliadas quanto ao tipo de adubo (Tabela 4), constatou-se diferenças significativas apenas para matéria seca da parte aérea, evidenciando a superioridade dos adubos contendo enxofre na forma elementar em relação aos outros. Em relação a coleta dos dados nos diferentes estádios fenológicos, houve diferenças significativas entre os estádios para todas as características evidenciando diferentes valores, o que já era esperado (Tabela 5). Tabela 3 – Resultados médios das características avaliadas, considerando os dois tipos de solo. UFLA, Lavras – MG, 2009. Tipos de solo: MSF(g) Solo de barranco 63,5 b Solo de cultivo 76,4 a MSR(g) 29,2 b MSC(g) 66,1 b MSPA(g) 189,7b 60,8 a 73,8 a 221,5a AP (cm) 159,2 a 161,1 a Clorofila (µg/cm2) 40,4 b 45,4 a As médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey, a 1 % de probabilidade XXVIII Congresso Nacional de Milho e Sorgo, 2010, Goiânia: Associação Brasileira de Milho e Sorgo. CD-Rom 111 Tabela 4 – Resultados médios das características avaliadas, considerando os três tipos de adubos. UFLA, Lavras – MG, 2009. Adubos: 1- Sem enxofre 2- Enxofre do sulfato 3- Enxofre elementar Clorofila (µg/cm2) MSR(g) MSC(g) MSPA(g) 69,3 a 46,2 a 67,5 a 194,9 b 159,8 a 41,7 a 69,0 a 43,1 a 69,9 a 187,6 b 159,4 a 43,4 a 71,5 a 45,6 a 72,3 a 234,3 a 161,1 a 43,5 a MSF(g) AP (cm) As médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey, a 1% de probabilidade. Tabela 5 – Resultados médios das características avaliadas, considerando os seis estádios fenológicos. UFLA, Lavras – MG, 2009. Estádios fenológicos MSF(g) 1 (6 folhas) 5,8 d MSR(g) MSC(g) MSPA(g) Clorofila (µg/cm2) AP(cm) 7,9 f 0,0 e 5,7 d 18,2 d 62,6 c 88,1 d 40,0 c 18,1 e 2 (10 folhas) 44,2 c 15,0 e 3 (14 folhas) 88,27 b 38,6 d 69,2 c 157,9 b 169,4 c 54,1 a 4 (pendão) 94,38 ab 55,7 c 78,6 b 186,8 b 215,3 b 49,6 b 5 (floresc.) 99,9 a 71,1 b 89,2 a 201,3 b 244,1 a 39,5 c 87,16 b 81,7 a 94,4 a 619,3 a 225,8 b 19,5 d 6 (maturidade) 54,8 a As médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey, a 1% de probabilidade. A matéria seca das folhas apresentou comportamento quadrático durante os estádios com pico máximo durante o estádio 5 (florescimento), sendo que a equação explica 98% da variação total dos dados (Figura 1). Nas folhas o acúmulo de matéria seca é lento no início do desenvolvimento vegetativo; após este período ocorre incremento considerável na acumulação de matéria seca que é máxima no florescimento. Depois do florescimento as folhas não mais acumulam matéria seca e ainda sofrem redução de massa seca devido à intensa mobilização de fotoassimilados para as partes reprodutivas (Vasconcellos et al., 1998). y = -7,3143x 2 + 67,763x - 56,32 R2 = 0,98 Matéria seca da folha (g) 120 100 80 60 40 20 0 1 2 3 4 5 6 Estádios fenológicos Figura 1. Matéria seca da folha (g) em função dos estádios fenológicos. UFLA, 2009. Para matéria seca da raiz observou-se tendência linear de crescimento durante os estádios com seu máximo acúmulo durante o estádio 6 (PMF), sendo que as equações explicam 85, 99 e 92 % da variação dos dados, respectivamente para os três tipos de adubação ( Figura 2). SEM ENXOFRE ENXOFRE DO SULFATO DE AMONIO Matéria seca da raiz (g) ENXOFRE ELEMENTAR 120 ysem = -1,7791x2 + 28,541x - 26,635; R2 = 0,85 ySA = -0,0061x 2 + 14,861x - 8,78; R2 = 0,99 100 yelementar = 0,9577x 2 + 9,8931x - 3,479; R2 = 0,92 80 60 40 20 0 1 2 3 4 5 6 Estádios fenológicos Figura 2. Matéria seca da raiz (g) nos três tipos de adubação em função dos estádios fenológicos. UFLA, 2009. XXVIII Congresso Nacional de Milho e Sorgo, 2010, Goiânia: Associação Brasileira de Milho e Sorgo. CD-Rom 112 A matéria seca do caule apresentou tendências quadráticas para as adubações durante os estádios com seu máximo acúmulo durante o estádio 5 (florescimento), sendo que essas explicam 95, 91 e 94 % da variação dos dados, para os três tipos de adubação ( Figura 3). No colmo o acúmulo de matéria seca é lento no início, com incremento a partir dos 30 dias após emergência (E1) atingindo o máximo cerca de três semanas após o florescimento, quando começa a ocorrer perda absoluta de massa no colmo devido à remobilização da matéria seca para os grãos devido ao aumento da capacidade de dreno da espiga (Borges,2006). SEM ENXOFRE ENXOFRE DO SULFATO DE AMONIO ENXOFRE ELEMENTAR Matéria seca do caule (g) 120 100 ysem = -4,3286x 2 + 49,045x - 51,396; R2 = 0,95 ySA = -5,9354x 2 + 59,442x - 59,722; R2 = 0,91 ySelementar = -5,6136x 2 + 57,348x - 58,624; R2 = 0,94 80 60 40 20 0 1 -20 2 3 4 5 6 Estádios fenológicos Figura 3. Matéria seca do caule (g) nos nos três tipos de adubação em função dos estádios fenológicos. UFLA, 2009. Para a matéria seca da parte aérea houve crescimento quadrático durante os estádios, para os três tipos de adubação, sendo que as equações explicam 89, 87 e 83 % da variação total dos dados (Figura 4). Observa-se no estádio 6 (maturidade fisiológica), o máximo acúmulo de matéria seca da parte aérea. Pode-se concluir que o aumento da matéria seca da planta de milho após o florescimento é devido principalmente ao acúmulo de que ocorre na espiga, ou seja, grãos, palha e sabugo. As cultivares de milho acumulam matéria seca até próximo à maturidade fisiológica, quando são obtidos os acúmulos máximos (Von Pinho, 2009). SEM ENXOFRE ENXOFRE DO SULFATO DE AMONIO Matéria seca da parte aérea (g) ENXOFRE ELEMENTAR 1000 800 ysem = 23,007x 2 - 67x + 80,51; R2 = 0,89 ySA = 14,544x2 - 19,701x + 35,968; R2 = 0,87 ySelementar = 41,839x 2 - 167,92x + 187,5; R2 = 0,83 600 400 200 0 1 2 3 4 5 6 Estádios fenológicos Figura 4. Matéria seca da parte aérea (g) nos nos três tipos de adubação em função dos estádios fenológicos. UFLA, 2009. A altura de plantas teve comportamento linear durante os estádios tendo seu máximo valor durante o estádio 5 (florescimento), sendo que as equações explicam 84 e 87% da variação total dos dados, respectivamente para os dois tipos de solo ( Figura 9 ). XXVIII Congresso Nacional de Milho e Sorgo, 2010, Goiânia: Associação Brasileira de Milho e Sorgo. CD-Rom 113 Solo Barranco Altura de plantas (cm) 300 Solo Cultivo yB = 46,251x - 2,68; R2 = 0,84 yC = 42,489x + 12,307; R2 = 0,87 250 200 150 100 50 0 1 2 3 4 5 6 Estádios fenológicos Figura 9. Altura de plantas (cm) nos dois tipos de solo em função dos estádios fenológicos. UFLA, 2009. Para a clorofila total houve tendência quadrática durante os estádios, para os dois tipos de solo, sendo que as equações explicam 94 e 95 % da variação total dos dados ( Figura 10). Observa-se que a partir do estádio 2 (10 folhas) houve o pico máximo de clorofila com posterior declínio . Solo Barranco Solo Cultivo Clorofila total (Mg/cm2) 60 50 40 30 yB = -3,9089x 2 + 22,508x + 20,89; R2 = 0,94 20 yC = -3,6429x 2 + 21,631x + 24,94; R2 = 0,95 10 0 1 2 3 4 5 6 Estádios fenológicos Figura 10. Clorofila total (µ.cm2) nos dois tipos de solo em função dos estádios fenológicos. UFLA, 2009. Conclui-se que o acúmulo de todas caracteristicas foi superior no solo de cultivo, evidenciando sua maior fertilidade. Todas as características foram influenciados pelo estádios fenológicos. Baseado nas características avaliadas o adubo contendo enxofre elementar revestindo a uréia poderá substituir adubos contendo enxofre na forma de sulfato de amônio, independentemente do tipo de solo e do estádio fenológico considerado. Evidenciou-se a superioridade do adubo contendo enxofre na forma elementar em relação aos outros tipos de adubo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BORGES, I. D. Marcha de absorção de nutrientes e acúmulo de matéria seca em milho. 2006, 172p. Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Lavras, Lavras- MG. FANCELLI, A. L. Plantas alimentícias: guia para aula, estudos e discussão. Piracicaba: ESALQ, 1986.131 p. VASCONCELLOS, C.A.; BARBOSA, J.V.A.; SANTOS, H.L. dos; FRANÇA, G.E Acumulação de massa seca e de nutrientes por duas cultivares de milho com e sem irrigação suplementar. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.18, n.8, p.887-901, 1983. VON PINHO, R. G.; BORGES, I.D.; PEREIRA, J. L. A. R. Marcha de absorção de macronutrientes e acúmulo de matéria seca em milho. Revista Brasileira de Milho e Sorgo, v.8, n.2, p. 157-173, 2009. XXVIII Congresso Nacional de Milho e Sorgo, 2010, Goiânia: Associação Brasileira de Milho e Sorgo. CD-Rom 114