Alimentada pela escassez, "indústria da seca" fatura com a

Propaganda
19/05/201206h02
Alimentada pela escassez, "indústria da
seca" fatura com a estiagem no Nordeste
Carlos Madeiro
Do UOL, em Tacaratu (PE)
A seca no Nordeste é sempre sinal de sofrimento para o sertanejo. Mas a falta de chuva
também movimenta o meio político e o comércio das cidades atingidas pela estiagem. A
chamada "indústria da seca" fatura alto com a falta de alimentos para os animais e de
água para os moradores.
o exemplo
mais conhecido no sertão -e relatado por diversos moradores ao UOL- é o
político na distribuição dos carros-pipa, marca registrada do assistencialismo
simples. Segundo os relatos, alguns políticos visitam as comunidades e se apresentam
como "responsáveis" pelo envio da água. Os moradores também reclamam da alta nos
preços de serviços e alimentos para os animais.
LISO
"A prefeitura nos ajuda muito, nos mandando água por carros-pipa. Às vezes demora,
mas sempre vem", conta a agricultora Maria Gildaci, 66, de Tacaratu (PE), sempre
citando que o prefeito é "quem manda" o carro para a sobrevivência dela e da família,
que vive em uma pequena casa no sítio Espinheiro.
Falas como a Gildaci, agradecendo os políticos, são comuns, mas a prática está sendo
combatida por organizações do semiárido. "Água é um direito, não é dada de favor.
Agricultores relatam com frequência que vereadores se apresentam trazendo carros-pipa
e que prefeitos estão se utilizando disso para as eleições. Estamos fazendo
levantamentos e vamos tentar identificar onde isso está ocorrendo para tomarmos
providências", afirma o coordenador da ASA (Articulação do Semiárido), Naidson
Batista.
Para Batista, o uso político da água é histórico no Nordeste, mas vem perdendo força
nos últimos anos. "A indústria da seca, na história brasileira, é um instrumento de
alguns, em detrimento de outros, para aumento de poder econômico, político ou social
de determinado grupos. Embora ela venha perdendo força, não seria possível erradicar
uma prática de 400 anos em apenas 10", afirma.
Segundo o coordenador, os investimentos cobrados, como poços, barragens e cisternas,
não foram feitos a contento ao longo dos anos, o que facilitou a política assistencialista.
"Isso faz parte da indústria da seca, pois deixa o sertanejo vulnerável, à espera sempre
de ações emergenciais."
.
o diretor do Polo Sindical do Médio São Francisco da Fetape (Federação dos
Trabalhadores em Agricultura de Pernambuco), Jorge de Melo, também relata que
políticos e fazendeiros ainda se aproveitam da seca para lucrar. "É só começar a
escassez de alimentos para ter gente aumentando o preço das coisas. É o que chamam da
Download