Biologia de Microrganismos - 2º Semestre de 2012 05/05/2016 UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA DEPARTAMENTO DE PARASITOLOGIA, MICROBIOLOGIA E IMUNOLOGIA Aspectos ecológicos da relação bactéria-hospedeiro & Biofilmes Ciências Biológicas/Química Profa. Vânia Lúcia da Silva O mundo microbiano Os microrganismos são ubíquos. Os ecossistemas são normalmente colonizados por uma ampla e diversa microbiota, formada principalmente por bactérias, protozoários e fungos. Prof. Cláudio 1 Biologia de Microrganismos - 2º Semestre de 2012 05/05/2016 Ecologia Microbiana => estudo das inter-relações entre os microrganismos e o mundo – como os microrganismos interagem entre si, como eles interagem com o hospedeiro (plantas, animais, homem) e como eles interagem com o mundo inanimado. Os temas ambientais estão se tornando mais e mais populares. Contudo, os microrganismos têm sido deixados um pouco de lado. Há uma grande preocupação com a conservação da diversidade biológica visível, mas ao mundo microbiano é dada pouca atenção pelas autoridades mundiais ligadas a esta preservação. Qual a porcentagem da população que reconhece os papéis críticos que os microrganismos representam na natureza, na manutenção de toda a vida no planeta? INTER-RELAÇÕES MICRORGANISMO-MICRORGANISMO Simbiose: Associação de dois organismos (geralmente de espécies diferentes) vivendo juntos em íntima associação => simbiontes. Quando a relação simbiótica é benéfica para ambos os simbiontes, ou seja, tanto o hospedeiro quanto o microrganismo se beneficiam de sua inter-relação, ela é denominada “mutualismo”. Esta relação é extremamente estável, visto que a sobrevivência de ambos os membros depende dela. Quando a relação simbiótica é benéfica apenas para um simbionte, sem acarretar qualquer consequência para o outro, é denominada “comensalismo”. Quando a relação simbiótica é danosa para um simbionte (hospedeiro) e benéfica para o outro (parasita), é denominada de “parasitismo”. Competição: Relação na qual uma espécie compete com outra no ecossistema por espaço e nutrientes, que pode ser atingida por diferentes estratégias: Produção de substâncias antagonistas (bacteriocinas ou antibióticos): bloqueio do crescimento ou reprodução numa relação “antibiótica” ou “antagônica”. Resposta adaptativa a variações ambientais por populações microbianas com maior plasticidade fisiológica e molecular. Consórcio: Coexistência de diferentes populações microbianas em comunidades estáveis como aquelas encontradas em biofilmes. Em geral estas relações são mutualísticas, mas nem sempre. Predação: relação menos comum no Domínio Bacteria. Ex:Bdellovibrio spp. são bactérias predadoras, invadem o periplasma da “vítima”, enquanto consomem os compostos do citoplasma. Prof. Cláudio 2 Biologia de Microrganismos - 2º Semestre de 2012 05/05/2016 INTER-RELAÇÕES MICRORGANISMO-HOSPEDEIRO ECOSSISTEMA HUMANO Número de células do nosso corpo: 10 trilhões Número de células microbianas no nosso corpo: 100 trilhões Número de células microbianas no trato gastrintestinal humano: 1013 Biomassa bacteriana no intestino humano: 1,2 kg (40 a 50% do peso fecal) Nascidos em um ambiente repleto de micróbios, todos os animais tornam-se infectados desde o momento do nascimento e, por toda a vida, tanto o homem como outros seres vivos albergam uma variedade de espécies bacterianas. COLONIZAÇÃO x DOENÇA COLONIZAÇÃO (OU INFECÇÃO): utilizado para indicar a presença e multiplicação de um microrganismo em um hospedeiro, que não apresenta sinais e sintomas clínicos de doença. DOENÇA: ocorre quando se verifica uma alteração do estado normal do organismo => alteração da homeostase. Infecção pode existir sem doença detectável Tanto a colonização quanto a doença resultam das inter-relações entre os microrganismos e seus hospedeiros Microbiota do corpo humano Prof. Cláudio 3 Biologia de Microrganismos - 2º Semestre de 2012 05/05/2016 • Todos os micro-organismos relativamente fixos. • Encontrados com regularidade em determinada área. • Apresentam diversificada habilidade metabólica que permite tanto sua colonização em determinados sítios, quanto a coexistência uns com os outros Representantes da microbiota residente em diferentes regiões do corpo Papel importante na manutenção da integridade do hospedeiro, quando em equilíbrio em um sítio específico: - Barreiras contra colonização por patógenos; - Produção de substâncias utilizáveis pelo hospedeiro; - Degradação de produtos tóxicos ao hospedeiro -Modulação do sistema imune dos hospedeiros Prof. Cláudio 4 Biologia de Microrganismos - 2º Semestre de 2012 05/05/2016 Caráter anfibiôntico Microrganismos podem se comportar como patógenos oportunistas em situações de desequilíbrio ou ao serem introduzidos em sítios estéreis ou não específicos. Ex: E. coli no intestino delgado – inofensivo E. coli no trato urinário – infecção urinária (doença) Microrganismos da microbiota residente humana Microbiota Intestinal Atua: • Modulação do sistema imune; • Degradação de componentes não digeríveis da dieta • Produção de ácido graxo de cadeia curta; • Proteção do epitélio intestinal contra patógenos; • Degradação de produtos tóxicos. Papel importante na manutenção da integridade do hospedeiro, forte impacto na fisiologia e na nutrição do hospedeiro e é crucial para a vida humana. Prof. Cláudio 5 Biologia de Microrganismos - 2º Semestre de 2012 Microrganismos patogênicos não patogênicos ou 05/05/2016 potencialmente Superfícies externas e internas, presentes temporariamente Geralmente adquiridos pelo contato direto com o ambiente (objetos, superfícies, poeira); adquiridos por meio de bebidas e alimentos Alguns microrganismos transitórios têm pouca importância, desde que a microbiota residente esteja em equilíbrio Alteração nesse equilíbrio - os microrganismos transitórios podem proliferar-se e causar doença Eliminados por lavagem das mãos ou antisepsia Relações entre a microbiota e o hospedeiro Simbiose – relação entre dois organismos na qual pelo menos um é dependente do outro Muitos microrganismos que fazem parte da microbiota residente Prof. Cláudio Bactérias do intestino grosso que sintetizam vitamina K – absorvidas pelos vasos sanguíneo IG fornece nutrientes Muitas bactérias causadoras de doenças são parasitas 6 Biologia de Microrganismos - 2º Semestre de 2012 05/05/2016 Um microrganismo é um patógeno se for capaz de causar doença Patogenicidade – propriedade de um microrganismo provocar alterações fisiológicas no hospedeiro, ou seja, capacidade de produzir doença. Virulência – Grau de patogenicidade, determinada pelos – fatores de virulência - habilidades dos microrganismos. O resultado da relação microrganismo-hospedeiro depende da: Patogenicidade do microrganismo Fatores de virulência (invasão e toxicidade) X Resistência do hospedeiro Mecanismo de defesa Inespecíficos e específicos Fatores de virulência Estruturas, produtos ou estratégias que contribuem para o aumento da capacidade da bactéria de causar doença Prof. Cláudio 7 Biologia de Microrganismos - 2º Semestre de 2012 05/05/2016 Doença infecciosa Defesa do hospedeiro Fatores do hospedeiro nas doenças infecciosas Fatores de risco do hospedeiro na infecção – contribuem para a susceptibilidade do hospedeiro • Idade - Crianças: sistema imunológico não amadurecido. - Idosos: doenças de base; mais susceptíveis as infecções respiratórias. • Estresse e dieta - Fontes de estresse fisiológico (fadiga, dieta pobre, desidratação, mudanças climáticas bruscas) – aumentam a incidência e gravidade das doenças infecciosas. • Hospedeiro imunocomprometido - Um ou mais mecanismos de defesa estão inativados - Probabilidade de infecção e maior. Prof. Cláudio 8 Biologia de Microrganismos - 2º Semestre de 2012 05/05/2016 Portas de entrada Portas de saída BIOFILMES Prof. Cláudio 9 Biologia de Microrganismos - 2º Semestre de 2012 05/05/2016 Nossa percepção de bactérias como organismos unicelulares baseiase essencialmente no conceito de culturas. Na realidade, a maioria das bactérias se encontra na natureza vivendo em comunidades, de maior ou menor estruturação. Biofilmes Ecossistemas complexos que podem ser formados por populações sésseis desenvolvidas a partir de uma única célula, ou de múltiplas espécies, e são encontrados em uma variedade de superfícies bióticas e/ou abióticas. Dinâmica de formação de um biofilme: 1. Colonizadores primários - se aderem a uma superfície, geralmente contendo proteínas ou outros compostos orgânicos; 2. As células aderidas passam a se desenvolver, originando microcolônias que sintetizam uma matriz exopolissacarídica (EPS), que passam a atuar como substrato para a aderência de microrganismos denominados colonizadores secundários. 3. Colonizadores secundários podem se aderir diretamente aos primários, ou promoverem a formação de coagregados com outros microrganismos e então se aderirem aos primários. Lopes e Siqueira Jr., 2004 Prof. Cláudio 10 Biologia de Microrganismos - 2º Semestre de 2012 05/05/2016 Há várias décadas, foi proposto que as bactérias poderiam ser organismos interativos, capazes de atuar coletivamente, facilitando sua adaptação às alterações ambientais. Para que um biofilme de uma ou várias espécies seja formado, é necessário o estabelecimento de um comportamento multicelular, que se reflete em atividades coordenadas de interação e comunicação dos vários organismos. Um dos mecanismos de comunicação interbacteriana que vem se mostrando extremamente importante na formação e desenvolvimento de biofilmes corresponde ao quorum sensing => mecanismos de sinalização celular. Comunidades associadas às superfícies Os biofilmes têm importantes papéis na natureza, seja na degradação de matéria orgânica, na degradação de poluentes, ou na reciclagem de nitrogênio, enxofre e vários metais. Estas estruturas agem como ponto de contaminação constante, liberando microrganismos patogênicos e deteriorantes que podem comprometer a qualidade microbiológica de matérias primas e outros insumos. Importância: • Metabolismo de esgotos e águas contaminadas - biorremediação; • Separação de metais na natureza – biolixiviação • Oxidação de tubos, brocas de perfuração, encanamentos, rotores e pás de máquinas... • Reciclagem de substratos na superfície dentária na cavidade bucal (placa bacteriana) de seres humanos e outros animais. Prof. Cláudio 11 Biologia de Microrganismos - 2º Semestre de 2012 05/05/2016 Por que formar um biofilme? Associado à proteção contra o ambiente. Bactérias em um biofilme encontram-se abrigadas e em relativa homeostase, graças à presença da matriz exopolissacarídica ou EPS. A matriz contém vários componentes: polissacarídeos, proteínas, ácidos nucléicos, entre outros. O EPS tem diferentes estruturas e funções, dependendo das comunidades e/ou condições ambientais: - impedir fisicamente a penetração de agentes antimicrobianos; - sequestrar cátions, metais e toxinas; - proteção contra: radiações UV, alterações de pH, choques osmóticos e dessecação. Papel dos biofilmes nas doenças Estudos atuais mostram que a formação de biofilmes pode ser considerado um fator de falha da antibioticoterapia no tratamento de doenças infecciosas ou falha no controle de população microbiana de equipamentos médico-hospitalares. Em um biofilme, as bactérias podem ser 1000 vezes mais resistentes a um antibiótico, quando comparadas às mesmas células planctônicas, embora os mecanismos envolvidos nesta resistência sejam ainda pouco conhecidos. Acredita-se que possa haver a inativação da droga por polímeros ou enzimas extracelulares, ou a ineficiência da droga em decorrência de baixas taxas de penetração nos biofilmes. Biofilmes formados sobre ou dentro de aparatos médicos constituem uma séria ameaça à saúde pública Bactérias presentes nos biofilmes estão protegidas da antibioticoterapia e do sistema imune do hospedeiro. Prof. Cláudio 12 Biologia de Microrganismos - 2º Semestre de 2012 05/05/2016 Dispersão de biofilmes Em determinados momentos, os biofilmes sofrem dispersão, liberando microrganismos que podem vir a colonizar novos ambientes. Prof. Cláudio 13