EFEITO DO MOMENTO DE APLICAÇÃO DE FUNGICIDA NO CONTROLE DE MANCHA DE CERCOSPORA (Cercospora zeae-maydis) NA CULTURA DO MILHO CULTIVADO NA REGIÃO DOS CHAPADÕES Eric Fabiano Seraguzi (1), Alfredo Riciere Dias (2), Edson Pereira Borges (2), Lennis Afraire Rodrigues (3), Tiago da Silva Rodrigues (1), Rafael Gonçalves Vilela (2) Introdução Com a expansão das fronteiras agrícolas e a ampliação das épocas de plantio, os problemas fitossanitários da cultura do milho começaram a surgir, principalmente aqueles relacionados às doenças (PEREIRA et al., 2005). Desde a germinação das sementes no solo até o final do ciclo de desenvolvimento e reprodução, as plantas de milho estão sujeitas a várias doenças que podem alterar a fisiologia da planta, resultando em baixos rendimentos (BALMER, 1980). A utilização de fungicidas na cultura do milho já é consolidada há alguns anos como alternativa eficaz de controle das doenças foliares em lavouras comerciais. O aumento da utilização do controle químico é estimulado por fatores como a maior incidência e severidade das doenças foliares nas diferentes épocas de plantio (SCHIPANSKI, 2008). Influenciado pela grande expansão da cultura, pelos plantios sucessivos de milho após milho e também com o advento do cultivo na safrinha existe uma vasta gama de doenças que estão se tornando um problema para a cultura. Dentre elas estão as doenças foliares, com destaque para a mancha de cercospora (Cercospora zeae maydis) (SANTOS et al., 2011). A mancha de cercospora é uma doença que está presente em todo centro sul do Brasil, ocorrendo com alta severidade em cultivares suscetíveis, gerando perdas superiores a 80%. Suas características são de fácil identificação, consistindo em manchas de 1 Estagiário Fundação Chapadão convenio UEMS, Rodovia MS 306, km 06, 79540-000 Cassilândia. [email protected] 2 Engenheiro-Agrônomo, Pesquisador da Fundação Chapadão, BR 060, km 11, 79560-000 Chapadão do Sul, MS. [email protected] 3 Engenheira-Agrônoma, Estagiaria Fundação Chapadão convenio Pós-Graduação UFMS. [1] coloração acinzentada e retangulares, desenvolvendo-se paralelamente às nervuras (CASELA et al., 2006). Seu manejo consiste na adoção de cultivares resistentes, plantio antecipado, rotação de culturas (CASELA et al., 2006) e controle químico no momento adequado. O momento de aplicação depende do ciclo da cultura e dos patógenos presentes, havendo necessidade de adequação para cada caso e cada região. O objetivo deste trabalho foi avaliar a influência do momento de aplicação de fungicida no controle da mancha de cercospora (Cercospora zeae-maydis) na cultura do milho cultivado na região dos Chapadões Material e Métodos O experimento foi conduzido na safra 2012/13, em área experimental da Fundação Chapadão, em Chapadão do Sul – MS, tendo como coordenadas geográficas S 018º46’32,3” W 052º38’42,9”, a uma altitude média de 810 m. Foi utilizado o híbrido de milho Formula, semeado no dia 12 de dezembro de 2012, logo após dessecação das plantas remanescentes, com herbicida WG 2,0 kg ha -1 + Aurora 50 mL ha-1 + Assist® 0,5%. O solo foi corrigido com 400 kg ha -1 da formulação 08-24-12 na semeadura, e com 100 kg ha-1 de KCl e 330 kg ha-1 de Serrana 33-00-00 em adubação de cobertura, sendo que o sistema de produção utilizado foi o de semeadura direta. O tratamento das sementes foi realizado com Cruiser 350 fs (120 mL ha-1) + Maxim XL (100 mL ha-1), e para controle de lagartas e percevejos, foram utilizados Engeo Pleno® 200 mL ha-1; Larvin® + Certero® (200 mL + 50g ha-1) e Lannate® + Dimilin® (800 mL + 30g ha-1). O controle de plantas daninhas foi realizado com uma aplicação de Atrazina na dose de 4 L ha-1 + Sanson® 150 mL ha-1 + Assist® 0,5%, em pós-emergência do milho e das plantas daninhas. O delineamento experimental foi o de blocos ao acaso com quatro repetições. As parcelas constituíram-se de 4 linhas, espaçadas 0,90 m entre si, e com comprimento de 5,5 metros, resultando em 19,8 m2, considerando área útil para a coleta dos dados as 2 linhas centrais. [2] O experimento foi constituído por 8 tratamentos (Tabela 1), sendo eles a aplicação em diferentes momentos do fungicida + adjuvante. Foram escolhidas ao acaso e identificadas dez plantas por parcela para as avaliações. Estimou-se a severidade de cada doença nas duas folhas abaixo e acima da inserção da espiga, com o auxilio da escala diagramática proposta por NASCIMENTO et al., (2002), adaptado por Dias. Os índices médios de severidade das cinco avaliações foram transformados em Área Abaixo da Curva de Progresso da Doença (AACPD), calculados conforme procedimento proposto por Campbell e Madden (1990). Também foi realizada a colheita das espigas na área útil da parcela, sendo a umidade dos grãos corrigida para 14%. Os resultados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Scott Knott, a 5% de probabilidade, com a utilização do programa estatístico SASM- Agri (CANTERI et al., 2001). Tabela 1. Descrição dos tratamentos, fungicidas utilizados (produto comercial), ingrediente ativo, dose (mL de p.c. ha-1), estádio da planta de Milho Safrinha. Chapadão do Sul-MS, safra 2012/13. Fundação Chapadão, 2013. 1- Testemunha 2- Opera+Assist 3- Opera+Assist 4- Opera+Assist 5- Opera+Assist 6- Opera+Assist ------------------Piraclostrobina+Epoxiconazol Piraclostrobina+Epoxiconazol Piraclostrobina+Epoxiconazol Piraclostrobina+Epoxiconazol Piraclostrobina+Epoxiconazol Dose (ml.pc.ha-1) -----750+0,5% 750+0,5% 750+0,5% 750+0,5% 750+0,5% 7- Opera+Assist Piraclostrobina+Epoxiconazol 750+0,5% 8- Opera+Assist Piraclostrobina+Epoxiconazol 750+0,5% Tratamento Ingrediente Ativo Momento de Aplicação --------V8 Pré Pendão Pré Pendão+15 V8 >Pré Pendão V8 >Pré Pendão+15 Pré Pendão >Pré Pendão+15 V8 >Pré Pendão >Pré Pendão+15 p.c. Produto Comercial. >Aplicação seqüencial. O equipamento utilizado para a aplicação foi um pulverizador costal com pressão constante tipo CO2, com seis pontas de pulverização, pressão de 3,0 bar e volume da calda referente a 150 L ha -1, e condições climáticas favoráveis a aplicação como segue na Tabela 2. [3] Tabela 2. Dados das pulverizações. Estádio (+dias) V8 Pré-Pendão Pré-pendão + 15 Data 01/02 14/02 01/03 Horas 17:30 15:45 15:20 T (0C) 28 29 26 UR (%) 69 61 63 Bicos XR 11002 XR 11002 XR 11002 Pressão 3,0 bar 3,0 bar 3,0 bar Volume 150 L ha-1 150 L ha-1 150 L ha-1 Resultados e Discussão Na Tabela 3 são expressos os dados de área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) em função de avaliações realizadas nas duas folhas abaixo e acima da inserção da espiga, e produtividade (sacas ha-1). Tabela 3. Área Abaixo da Curva de Progresso da Doença (AACPD) da Mancha de Cercospora e produtividade (sc ha-1). Chapadão do Sul-MS, safra 2012/13. Fundação Chapadão, 2013. 1- Testemunha 2- Opera+Assist 3- Opera+Assist 4- Opera+Assist 5- Opera+Assist 6- Opera+Assist 7- Opera+Assist Dose (ml ha-1) 750+0,5% 750+0,5% 750+0,5% 750+0,5% 750+0,5% 750+0,5% 8- Opera+Assist 750+0,5% Tratamento Estádio (+dias) no momento da aplicação V8 Pré Pendão Pré Pendão+15 V8 >Pré Pendão V8 >Pré Pendão+15 Pré Pendão >Pré Pendão+15 V8 >Pré Pendão >Pré Pendão+15 95,75 a 6,00 d 9,50 c 35,00 b 0,75 d 13,50 c 23,50 c Produtividade* (sc ha-1) 135,52 b 148,40 b 146,70 b 142,92 b 160,10 a 150,05 b 163,37 a 0,25 d 162,75 a 25,67 2,43 AACPD* CV(%) *Médias seguidas das mesmas letras não diferem significativamente entre si (Skott-Knott, 5%). Os valores da AACPD obtido nos tratamentos químicos diferiram-se significativamente em relação à testemunha, sendo que os tratamentos que iniciaram a aplicação em estádio V8 apresentaram o menor progresso da doença, em relação aos demais, exceto o tratamento seis, devido ao maior intervalo sem aplicação de fungicida. Estes dados corroboram em parte com os obtidos por Silva e Schipanski (2006), nos quais foi alcançado maior nível de controle da doença quando a intervenção com fungicida foi feita no estádio de pré-pendoamento, entretanto também foi alcançado controle eficiente no florescimento, quando comparado com aplicação realizada em V8. Isto se dá, pois o [4] presente trabalho teve condições climáticas favoráveis para a ocorrência da doença nos estádios que antecedem a fase reprodutiva. Girotto et al. (2012) obteve controle eficiente de cercospora quando utilizou a aplicação de produto composto por triazol e estrobilurina, independente do número de aplicações (2 ou 3) iniciados em V8. O mesmo foi observado por Koguishi (2011), que ao realizar aplicações de fungicidas em diferentes estádios fenológicos da cultura do milho, observou melhor eficiência de controle de cercospora com aplicações em V8. A maior média de produtividade foi obtida no tratamento sete, com uma aplicação de fungicida em pré-pendão e outra após quinze dias, mas não diferiu dos tratamentos cinco e oito. Oliveira et al. (2011), ao trabalhar com diferentes fungicidas em dois momentos de aplicação, obtiveram melhores médias de produtividade com aplicação em pré-pendão e outra quinze dias após, independentemente do fungicida utilizado. Conclusões Nas condições em que o trabalho foi conduzido, a aplicação de fungicida, independentemente do momento, diminuiu significativamente a evolução da doença, sendo que os tratamentos com aplicação no estádio vegetativo V8, seguida de aplicação em prépendão, apresentaram menores valores de AACPD. A melhor produtividade foi obtida para o tratamento com uma aplicação em pré-pendão e outra após 15 dias. Referências BALMER, E. Doenças do Milho. Manual de Fitopatologia, São Paulo: Agronômica Ceres, 2 ed., v. 2, p.371-391. 1980. CAMPBELL, C. L.; MADDEN, L. V. 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Aplicação de fungicidas em diferentes estádios fenológicos da cultura do milho (Zea mays) no controle de doenças. 2011. 60f. Tese (Mestrado em Agronomia – Área de Concentração: Fitopatologia) – Universidade Federal de Ponta Grossa, Ponta Grossa.. NASCIMENTO, M. A. do; ANDRADE, E. C. de; VRIESMANN, L. M.; CANTERI, M. G.. HelMap - Software de Treinamento dos Avaliadores das Principais Doenças da Cultura do Milho. Projeto de Extensão com o apoio da PROPESP – UEPG. 2002. OLIVEIRA, V.M.; SOUSA, L.B.; BISINOTTO, F.F. SANTOS, F.M. Produtividade de milho em função de diferentes aplicações de fungicidas. Enciclopédia Biosfera, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.7, n.12, 6p. 2011. PEREIRA, O. A. P.; CARVALHO, R. V.; CAMARGO, L . E A. Doenças do Milho (Zea mays). In: Ed. KIMATI, H. et al., Manual de Fitopatologia, São Paulo: Agronômica Ceres, 4 ed., v. 2, p.477-488, 2005. SANTOS, M.M.; GALVÃO, J.C.C.; CORRÊA, M.L.P.; MELO, A.V.; FIDELIS, R.R.; BARROS, H.B. 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